Foi Assim

 

 

Imagino como ele chegou com aquele jeitão todo corpo, todo mente ausente e recebeu a notícia de seu pai. Imagino a sua reação — esta é fácil: nenhuma. Depois ele me contou como foi a coisa toda. "Meu pai pediu pra que eu participasse de um grupo de apoio para pessoas esquisitas como eu. Ele não disse assim, com essas palavras, é claro. Eu fiquei quieto e ele então me pediu que pelo amor de Deus fizesse isso por ele. Eu pensei que não faria diferença alguma". Ele contou também que tinha acabado de chegar em casa e encontrou seu pai com uma expressão grave, preocupada, como a de alguém que iria anunciar algo muito importante e ele ficou em pé, esperando que seu pai falasse e, enquanto esperava, não pronunciou uma palavra ou grunhido que fosse. Seu pai então ficou um pouco desconfortável. No fundo, ele sabia que era porque o pai tinha um pouco de medo dele. Ele (o pai) tinha lido aquele livro sobre psicopatas, que fez sucesso por causa de uma novela, e achava que o filho se enquadrava no perfil já que não esboçava nenhuma emoção e parecia indiferente à vida alheia. Mais tarde, ele me contou que não era bem assim. Ele sabia do temor do pai e se importava com ele, mas estava muito cansado para reagir e dizer que não, não era como ele pensava, que ele sentia sim algo pelos outros, algo entre o medo e a compaixão. Enfim, ele achou toda aquela cena muito dramática e resolveu fazer isso pelo pai. Estando ou não num grupo de apoio, para ele era a mesma coisa.

Imagino que quando chegou lá, não encontrou nada de anormal ou importante (ao contrário de mim, que fui acompanhada da minha mãe e morrendo de medo de encontrar gente muito bizarra). O psiquiatra — era um psiquiatra e uma psicóloga que conversavam com a gente — era indicação de um amigo de seu pai. Então recebeu-o calorosamente mesmo sabendo que não receberia resposta. Não dele. O psiquiatra já tinha feito uma avaliação preliminar junto ao pai dele e descartado a hipótese de psicopatia. "Não tem nada a ver. Que ideia!" Falou que o melhor a fazer era introduzi-lo num grupo de apoio para tentar fazer com que ele aprendesse a criar laços. Esse é, aliás, um dos objetivos do grupo, aprender algo que já deveríamos ter crescido sabendo fazer: lidar com as nossas emoções, relacionar com outras pessoas. Eu ainda não fazia parte do grupo quando ele chegou, mas sei que encontrou todo o tipo de gente. Não só os tímidos e os fóbicos sociais, mas também gente bem-sucedida, gente tímida, gente distraída, idosos deprimidos, deprimidos de qualquer idade, ex-presidiários em plena reinserção social, etc. Não que ele tenha analisado tudo isso, mas eu fiz parte do grupo, entrei pouco depois e sei quem fazia parte dele. E, como eu ia dizendo, não eram só os fóbicos sociais e os tímidos, havia também os idosos deprimidos, os deprimidos, os ex-presidiários e também aquele cara, de quem eu me recuso a dizer o nome para que ele não conte vantagem depois, que falava até demais. Até a chegada do 4, ele monopolizava todas as conversas e deixava todo mundo cansado, ansioso ou nervoso. Um dia, bem mais tarde, eu e os meus amigos começamos a ler sobre todo tipo de doença mental e desvios de personalidade no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) IV para tentar encaixar os nossos colegas de grupo, assim de brincadeira, só de zoação, uma pontinha de maldade talvez, e nunca dava cem por cento certo, sempre tinha as contradições, mas aí também, nós não somos psicólogos, era só uma brincadeira mesmo. Pois bem, tudo isso para contar que todos nós enquadramos o Sr. Contador-de-vantagens-verborrágico no Transtorno de Personalidade Histriônica. Todos nós, não teve um que não concordou e não riu ao ler a descrição. Mas sabe como é, a psicologia é muito perigosa para os leigos, especialmente os neuróticos, porque queremos enquadrar todo mundo em algum lugar e aí começamos a nos identificar com coisas que nem são realmente características nossas e aí piramos um pouco. É como a astrologia, tudo serve para todo mundo e a gente acaba se encontrando e se não nos encontramos, passamos a agir como se fóssemos realmente daquele jeito. Acho que meu relato seria mais puro se eu não tivesse lido tudo aquilo porque eu não posso deixar de encaixar todas as ações de meus colegas em alguns tipos. E aí, quando aparece uma contradição, isso mexe com a minha cabeça de verdade. Mas pelo menos dois entre os meus amigos foram diagnosticados com aquilo que eu acho que eles têm. Ou que são. Não sei ao certo se eles são ou têm. Apenas o 4, eu não acredito que tenha esquizofrenia. O psiquiatra, sempre que o chamamos de "Psicose", "Louco varrido", "Doido" ou "Esquizo", nos repreende dizendo que é uma forma moderada e tal mas a gente o chama assim de qualquer jeito porque ele ficava nervoso e é engraçado quando ele fica nervoso. Quer dizer, a gente chamava, pois ele "sumiu no mundo sem me avisar" e isso é muito triste porque eu acho que poderia tê-lo amado. A psicóloga diz que não, que o que eu amo é uma fantasia, mas ele não é a pessoa mais fantástica que eu já conheci, do tipo saído de um livro de tão mágico?

Bem, tem os fóbicos, os deprimidos, o histriônico, o esquizofrênico, os de baixa autoestima, etc. Mas igual ao 1 eu nunca vi. Imagina só, se eu me achava desenquadrada, desamparada, que dizer dele? Coitado! Não que ele se importe, é claro. Mas, apesar dele ser apático, é bom explicar que ele não era arrogante. Não sei por que, mas, segundo relatos posteriores, sempre que eu o descrevia, as pessoas imaginavam um cara todo de preto, se achando superior a tudo e a todos, ironizando todo mundo. Aí depois viam aquele menino-homem desleixado, desengonçado, com cara de sono, bonzinho e pensavam "mas não pode ser! Ele é tão fofo!". E ele tentava, juro que tentava, dar um sorrizinho amarelo, bem sem graça e fazer-se de simpático para logo em seguida, sem aviso prévio, ficar mais uma vez completamente absorto em seus pensamentos até que a mesma pessoa que o tinha achado tão fofo olhava para mim e sempre com uma ponta de crítica — as pessoas sempre têm uma ponta de crítica para mim — falavam que estava explicado por que a gente se dava bem. Na verdade, acho que é porque não exigimos muito um do outro. À vezes, a gente fica a tarde inteira juntos, cada um com seu livro ou sua música. Acho que eu poderia tê-lo amado também, se ele não fosse ele. Digo isso porque ele me entende, sabe? Como ninguém mais. Porém não há magia e um relacionamento entre nós dois poderia ser extremamente monótono. E se nos casássemos? Aí eu teria que pedir pra ele me levar nos lugares, comprar cigarros para mim, fazer compras, cuidar da minha vida e aí exigiria algo que ele não pode oferecer porque não vê sentido e ele iria se afastar de mim também. Com o 4 era diferente. Acho que o 1 nem teria aproximado dele se não fosse por mim. No início eles eram um tanto incompatíveis. O 4, sabe, ele me absorvia. Eu me perdia naqueles olhos verdes estalados e naqueles discursos eloquentes. Podia ficar horas ouvindo ele falar. Era fascinante. Apesar de que, no fundo, eu acho que ele não dava muita bola se estava falando pra mim ou para outra pessoa. E aí está uma grande diferença entre os dois. O mais óbvio seria que 1, o indiferente, não se importasse se era eu ou outra pessoa que estava ao seu lado, mas ele se importa. Ele, sim, gosta de mim. Não como um amante, que fique claro. Mas acho que é porque eu sou para ele como uma ponte para o resto do mundo. Uma ponte frágil e capenga, mas ainda assim uma ponte. Não que ele seja alienado, ele simplesmente prefere o todo à parte. Ele prefere muito mais a ideia de "humanidade" do que lidar com indivíduos específicos. Ah, é difícil explicar, mas é isso que eu sinto vir dele. Ele não estaria no grupo se fosse diferente. E ele começou a frequentá-lo depois que seu pai fez aquele teatro. Frequentá-lo fisicamente porque ele ia para lá e não dizia nada, ia para longe e quando a psicóloga tentava fazê-lo participar, recebia respostas monossilábicas (uma vez ele me contou que não conseguia interagir muito bem com as pessoas porque sentia como se estivesse enrolado numa teia de pensamentos e até conseguir se liberar dessa teia, o momento já tinha passado). E um dia uma pessoa nova chegou no grupo. Uma garota que vinha acompanhada da mãe e um pouco nervosa e mais nervosa ainda quando viu aquela mulher que olhava para os próprios pés e abraçava o seu corpo como se acreditasse que se abraçasse bem forte poderia desaparecer. E viu também aquele idoso triste que a encheu de compaixão, tristeza, angústia e pavor. E o cara que usava uma máscara que causava arrepios. E todas aquelas personagens com cara de zumbi. E ele estava olhando pra ela sem medo algum, apenas taciturno, apático. Por incrível que pareça, isso a tranquilizou. Dispensou a mãe porque queria privá-la de tudo aquilo e timidamente sentou-se no fundo de sua cadeira e tentou dar um oi geral e esse oi saiu mais como um suspiro. E aí aconteceu algo: ele riu. Do mesmo jeito que ela, meio sem graça, mas espontaneamente. Esse foi o único contato que tiveram em meses, mas como a psicóloga percebera, tratou de mexer os pauzinhos para que se aproximassem. Seria bom pra ele. Quanto à garota, ela nem reparou porque não sabia do jeito inexpressivo dele. Então para ela ficou por isso mesmo. E como ela sou eu, vou falar em primeira pessoa. Talvez se eu não tivesse tomado Ritalina naquele dia, eu não teria percebido e analisado tanto os outros. Por outro lado, também não estaria tão ansiosa — efeito colateral do metilfenidato — e medrosa. Eu pensava "Deus, no que eu me transformei? Ficarei algum dia como aquela mulher que está tentando desaparecer? Ou como aquele cara com tatuagem na cara inteira (que medo dele)?". Eu tinha acabado de vir de um ano muito ruim. Anos passando tem um poder imenso sobre mim.

Se eu cheguei tímida e ninguém me notaria se não fosse o episódio raro do 1 sorrir, o 4 veio como uma bomba. Chegou, apresentou-se e começou a contar a história de sua vida como é costumeiro. Todos ficaram hipnotizados (menos o 1 que passou a sessão inteira se perguntando "O que esse cara tá fazendo aqui? Por que não o internam logo?"). E o 4 falava, fazia piadinhas, pausas dramáticas e todo mundo ria, batia palmas, havia uma lágrima ou duas na sala. Alguns suspiros, isso é certo. Uma senhorinha observou: "Parece um santo!". E aí o Histriônico quis interromper o discurso. O 4 terminava uma frase e o Histriônico falava "O pior é comigo que...".  Mas o 4 continuou falando e aí o Histriônico começou a resmungar e um dos idosos deprimidos disse pro Histriônico "Cale a boca, idiota, deixe ele falar". E o cara da tatuagem na cara (que homem estranho) completou: "É. Vamos escutar outra voz pra variar, já que ninguém aqui pode falar nada além de você. Não sabe fechar a matraca, caralho". E aí tudo me pareceu meio absurdo e eu ri e todos estavam rindo e a sessão foi considerada um sucesso.

 

 

 

 

A Rata

 

 

Esgueirava-se por entre as sombras e observava. Das coisas que aprendera pela experiência, talvez a mais importante fosse a obrigação de ser muito cautelosa. Abocanhou a sobra de comida e correu, tomando todo cuidado para chegar com segurança à sua casa, que era como ela chamava o escuro e fétido buraco no armário da despensa, onde vivia. Outra lição importante que também aprendera era a de deixar pouquíssimos rastros — nenhum, se possível — além, é claro, de exigir quase nada da vida. Contentava-se com migalhas e coisas esquecidas. Comeu aquela indistinguível massa verde que havia achado no lixo e depois permaneceu por horas sem se mexer.  Vivia no escuro, escondida e faminta, embora já estivesse tão acostumada, que mal se lembrava da fome, do fedor e do tédio que penetravam  seus dias.

O mundo a enchia de medo. Pior: terror. Mesmo assim, ela o observava de fora e o seu maior desejo era o de fazer parte dele. De seu ninho, ela via todos os outros, sorrindo, chorando, conversando, trocando ideias, experiências, toques, sentimentos. Ela via todos eles perseguindo ideais ou projetos, experimentando, errando, tentando outra vez, botando a mão na massa, sendo gente, vivendo e, no final do dia, se não estavam felizes, iam deitar-se realizados. Enquanto ela, bem, ela ficava à parte, cheia de apreensão e sem ousar se aproximar. Sabia que a sua presença era desagradável. Muito cedo, ficou ciente de que provocava asco e era a fonte de inúmeras doenças. Procurava, por isso, respeitar os outros seres, poupando-os de sua visão. De vez em quando, ela mesma olhava para aquelas patinhas curtas, para a pelugem cinzenta e, especialmente, para o seu longo rabo rosa e dava razão à repulsa dos outros. Da mesma forma, desprezava os outros ratos imundos e seguia os seus dias sozinha, sonhando com os humanos, mas sempre sozinha. Nunca conheceria respeito nem carinho. Às vezes, chegava a duvidar que tais coisas existissem ou pensava que seriam apenas ilusões criadas para esconder toda a hostilidade.

Era à noite quando não havia mais barulho, que ela conseguia ouvir a própria voz frágil, tímida, sussurrada. "Não falei com ninguém. Nada de novo. Ninguém me escuta nesta noite. Não há resposta em parte alguma. Já revirei meu quarto, procurei até atrás dos quadros, mas foi em vão".  Ficava assustada, porque não sabia como poderia atendê-la, parecia outra língua, língua de loucos. As conversas com seu duplo eram permeadas de discussões e mal-entendidos na maior parte do tempo. Ela procurava encontrar algo em comum para que voltassem a ser uma.

— O isqueiro vermelho e as flores na parede de pedra, disso você se lembra — dizia a si mesma.

— O banho de flores silvestres, a mulher que seria água pura e limpa — respondia-lhe. 

— A memória destrói e nos transforma em ratos de masmorra.

Antes de dormir, repetia todas as noites o mesmo mantra "Acordarei e serei outra. Talvez até uma pessoa". Mas o dia da transformação nunca chegava.

Talvez por isso, talvez não, de tempos em tempos, sentia uma grande inquietação. Quando isso acontecia, andava de um lado para o outro, meio sem rumo, procurando sabe-se lá o quê. Ela nunca imaginava como lidar com aquela aflição que oprimia o seu corpo como um desejo de dar à luz. Dentro dela, no entanto, só sombras.

Tinha inveja, inveja doentia, mas era natural, não havia nobreza alguma em ser rato. Às vezes, imaginava que cagava e andava no alimento daquela gente feliz. Isso não era de seu feitio, mas não impedia que em sua fantasia espalhasse as suas fezes como quem disseminasse a peste negra. Ora, era tudo muito injusto. Até aquela menina que vira nascendo já estava fazendo grandes coisas e logo iria embora dali, para uma grande cidade, aparecer na tv, casar e ter filhos, tudo isso enquanto ela continuaria no mesmo lugar. Melhor se nem tivesse nascido. Afinal, qual era a sua função no mundo? Serviria para algo além de esparramar doenças?

À medida que envelhecia, percebia que de nada valia ter esperanças. Nada tinha o poder de mudar o que ela era. Pensava cada vez mais na hipótese de suicídio — mais uma das suas ideias que nunca levou à cabo. No fim das contas, ratos não podem acabar com a própria existência. Como poderiam, se viver, ainda que  miseráveis, é a única condição que conhecem, que sabem, que são? Ainda assim, sem contrariar a sua natureza, deu um jeito de viver perigosamente, desafiando a morte sempre que podia. Isso significava, para uma roedora que tinha medo de tudo, correr entre passadas de vassouras, desafiar gatos, roer o queijo da ratoeira. Como os acidentes quase premeditados não aconteciam, ela acreditou ser um sinal para continuar vivendo. Na sua consciência de rata não conseguia entender que aquele mesmo medo que tanto desprezava em si mesma era o que a mantinha viva.

 

 

 

 

 

O rei da Pérsia

Relato psicografado com tradução instantânea

 

 

1. Ele perguntou "Onde vai assim, carregada de pedras e metais preciosos, peles, pérolas, estrelas engarrafadas, ovelhas e mel, azeitonas e trigo? Não receia vagar com tamanhas riquezas por estas terras inóspitas?".

 

Respondi "Não são minhas essas preciosidades. Pertencem ao Grande Rei, que reina sobre todos os outros e eu mesma irei ofertar-me a ele". O homem fez uma reverência e, sem dizer uma só palavra, deixou-me passar.

 

2. Nada de riso nas sete muralhas que encerram o domínio do medo. Do medo, porém, foi que brotaram o lobo, a videira, o rei. O coro: "Aqui dentro é um pedaço do céu e todos estão satisfeitos, como num contínuo orgasmo. E andam com sedas que roçam em suas faces e entre as suas coxas. Usam no braço pulseiras de ouro maciço e pesados colares no pescoço. E arrastam suas sandálias de vila em vila, bem como os cabelos compridos e perfumados".

 

3. O mordomo chupava os dedos e lambia os beiços antes de erguer a tampa onde jazia a cabeça do filho torrada com maçã na boca. O sabor forte permanecia no palato, no espírito, meu Deus!, enquanto ele arfava, urrava, vomitava e arrancava seus cabelos. O tirano assistia à cena com o pau duro.

 

4. Ao sul, a videira florescia no deserto, entre os bandidos e o sol quente, domando cavalos e lançando com o seu arco gavinhas que envolviam o mundo. Culpa dele. Graças a ele.

 

5. O que move a minha vida, ele lhe disse, é o desespero. É ele que me conduz de um dia para o outro.

 

6. A prova cabal foi o sangue que escorreu dos milhares de joelhos guerreiros, sacramentando sua lealdade ao soberano de espírito. Tombaram no cascalho os corpos de seus antigos companheiros. O coro: "Acabou-se o medo. Viva o rei! Viva o rei!".

 

7. Enquanto milhares de olhos o encaravam, lembrava-se de tudo o que passara, todas as humilhações sofridas para cumprir a profecia. Filho de uma cadela! Filho de uma cadela!

 

8. De linhagem nobre e criação selvagem, o meu rei libertou-nos do inferno, prestando as libações necessárias. E era sobre as estrelas que dançávamos e comemorávamos a nossa passagem pelo mundo. Não erguíamos pedras, não erigíamos monumentos. Éramos efêmeros.

 

9. O lobo que nasceu de uma cadela, morreu de uma cadela. Selvagem, ela uivava em seu cio macabro. Foi o fim. Os homens rudes do deserto, que costumavam se vestir de coro, banhavam-se agora em ouro, prata e outras riquezas.

 

[imagens ©vangelis kyris]

 
 
 
 
Regina Almeida nasceu no Paraná em 1985. É jornalista e cursa Filosofia na Université Paris-Sorbonne.