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         Francisca Vilas Boas fez parte do grupo de autores que com pioneirismo criou em Guaxupé/MG, no início da década de 1960, o miniconto, num movimento que envolveu também Elias José, Sebastião Resende e Marco Antonio de Oliveira. É ela a única remanescente da fértil literatura que pude resgatar em duas publicações a fim de se fazer justiça histórico-literária: A minificção do Brasil — em defesa dos frascos & comprimidos, pela Editora do Autor, 2010; e Pioneiros do miniconto no Brasil — resgate histórico-literário, 2012, edição do autor.

         Felizmente para os leitores, a autora está de volta com o bilíngue livro de (mini)contos Das ilusões e da morte (Scortecci, 2014), com tradução experiente de Miren Josune Oqueranza — após um período de carência ficcional de décadas, uma vez que O sabor do humano é de 1971 e Roteiro de sustos, de 1972. Nesse ínterim, contudo, teve o reconhecimento crítico de Assis Brasil, Duílio Gomes, Laís Corrêa de Araújo, Euclides Marques Andrade, Stella Leonardos, Murilo Rubião, José Afrânio Moreira Duarte, Menotti del Pichia, entre outros. Já àquela época, sua linguagem havia sido comparada à de Clarice Lispector e Nélida Piñon, pelo "talento surpreendente" como a de um "Guimarães Rosa de saia". Revelava-se, então, uma mestra do realismo mágico "abeirando-se ao novo barroco dos modernos ficcionistas latino-americanos", a cujos textos a autora conseguia também dar "uma significação telúrica e uma contextura poética", sendo estes diferenciais incisivos em sua obra, inclusive no livro recém-lançado.

         Em entrevista a mim concedida, publicada em Pioneiros do miniconto no Brasil... (2012), Francisca Vilas Boas confessa o aprendizado literário com a obra de Clarice Lispector, que conheceu pessoalmente; Kafka, Camus, G. Rosa, Michel Buttor, García Marquez, Júlio Cortázar, Sartre, Samuel Beckett, Machado de Assis, Graciliano Ramos e com a sua própria experiência criadora (mini)contística.

 

 

Novo livro traz as marcas da mestra

 

 

         Das ilusões e da morte é um livro que vai surpreender mesmo leitores muito exigentes. E vai arrancar do seu leitorado muitos ótimos comentários, porquanto é merecedor do reconhecimento crítico para fazer jus a uma autora séria, criativa, ostinato rigore de seu próprio estilo, donde uma linguagem apurada, diferenciada posto que personalíssima.

         Neste livro encontram-se marcas muito peculiares de Francisca Vilas Boas: a intensidade descritiva condensada, míticas referências históricas, o questionamento existencial, a procura de uma identidade dos personagens, o desejo transgressor não raro inibido por traumas das personagens; "a contemplação extática de um mundo cru, não humano e silencioso, ao mesmo tempo [no] limite da narrativa à beira do inenarrável", personagens que vivenciam situações contundentes com "olhos emprestados"; o estranhamento das situações criadas, o ser humano na selva dos símbolos, na carne do nada, no olhar cego da incomunicabilidade que grita em silêncio sua fragilidade e insignificância, no ethos que perdeu o pathos, no tempo que já pesa mais que o porvir, a tentativa de resgatar a existência na existência, por ser ela mediadora da relação humana e por permitir antever a verdadeira existência do outro; a surrealírica postura do dizer e do sentir como o pensar no saber vivenciado das personagens, o realismo mágico.

         Com esses diferenciais a autora mineira-carioca tem tudo para oferecer o máximo nos 21 (mini)contos que compõem Das ilusões e da morte. Além de ser fiel às suas origens, aos seus leitores de cabeceira e às próprias leituras, sem copiar ninguém, Francisca Vilas Boas avança na linguagem como quem busca sempre o inusitado não pela surpresa em si, mas para oferecer ao leitor a comovência da própria linguagem, o que é hoje raro na Literatura.

         Inclusive seus personagens são incomuns posto que não se sujeitam a um cotidiano trivial e que mesmo em meio ao caos existencial preservam uma ética, um estado de espírito, um modus faciendi. Chabert toca pela solidão. E pela secura comovente camusiana.  Em "Sigma-c--zero" a linguagem wittgensteiniana leva o leitor a um imaginário profundo de si mesmo. Um conto produzido para ser um clássico. Sentenciante interfere na consciência pelo fantástico. Bila surpreende e envolve pela coragem de ser "antiga". Jeremias por ser a história de desistência consciente de muita gente que escreve. Rufino porque, justamente como no Sartre da epígrafe, "o homem deve ser inventado a cada dia". Labirinto porque provoca uma baita aflição, sobretudo no leitor que fizer uma leitura sinestésica. Em "Espelhos", "Faces do silêncio", "Portas", "Voo em sonho", "Do arcaico e dos arcanos", entre outros, por exemplo, tem-se a extensão concentrada da maestria de uma autora que sabe mesmo contar uma história. Povo sentado é exemplar em realismo mágico, não no sentido de submissão a um cânone, mas uma literatura enraizada no povo como mescla étnica de influências nativas creolla, mameluca, cafuza, negra et alii, no conteúdo da exploração econômica e humana. Um autêntico e fértil roteiro para um bom filme de fronteiras.

         Das ilusões e da morte é por tudo a comprovação de uma autora que se consagra para leitores que exigem, hoje, contos genuinamente bem escritos, muito interessantes, em estilo competente e raros.

        

Onde comprar o livro: Grupo Editorial Scortecci | Caixa Postal 11481 | São Paulo/SP | CEP 05422-970 | Tel.: (11) 3032-1179 | editora@scortecci.com.br

 

 

 

 

 

©millôr fernandes

 

 

"O Brasil era um país doente. O país morreu, ficou a doença". (Olavo de Carvalho)

 

São assustadores os recordes negativos que o Brasil apresenta na atualidade. Não obstante ser hoje o maior país católico do mundo, o Brasil é recordista mundial de desgraças, infortúnios, problemas crônicos que se avolumam na mesma proporção do cinismo e da hipocrisia de seus políticos que não têm soluções para nada e expõem a nação a vexames de toda ordem em comparações planetárias. Mas o povo também tem (muita) culpa em tudo o que acontece nesse país. Sem a utopia do ufanismo e a maldição do pessimismo, é preciso no entanto que o povo tome consciência de que esse país "bonito por natureza" vive uma situação feia, um momento agônico, perplexo e muito difícil, mesmo porque, apesar de toda torcida a favor, Deus não é mesmo brasileiro.

         Os problemas existem, são muitos e as soluções não virão com milagres, do céu ou de uma hora para outra. E se hoje os problemas já são recordes mundiais, o que se poderá, com todo realismo que a vida exige, esperar do Brasil no futuro? Vamos aos fatos: também no Brasil, o álcool mata mais que a Aids e a violência, diz relatório da OMS, mesmo porque o abuso aqui da taxa de consumo chega a 12,5 litros per capita, inferior apenas ao de alguns países da Europa. Doenças como cirrose hepática, hepatite, fibrose, câncer, anemia, entre outras, podem ser geradas pelo uso abusivo de álcool e há uma preocupação maior com o consumo pelos jovens brasileiros, com altíssimos registros de dependência. O Brasil é o país mais assassino do mundo, amargando o 1º lugar no ranking de homicídios, seguido pela Colômbia e pela Venezuela. O Brasil é considerado um dos países mais burros do mundo: jovens brasileiros são os que menos leem dentre 65 nações com apenas 1,8 livro ao ano. O país nunca se sai bem no ranking das 100 universidades com melhor reputação e em nível de ensino está atrás da Colômbia, Tunísia, Azerbaijão, Qatar e Quirguistão. O Brasil é um dos maiores usuários de drogas injetáveis do mundo, o 3º no ranking da prostituição mundial e o 4º de pedofilia, conforme dados da Polícia Federal. O país é também, segundo o IBGE, o recordista mundial em divórcios. O suicídio, segundo o portal educação.com.br, já é a terceira causa de morte no Brasil e vai contra a tendência mundial. O Brasil é campeão também em violência no trânsito: são mais de 60 mil pessoas mortas por ano no país, 165 mortes por dia, como noticiou O Globo. Como é campeão de infidelidade no casamento. É o país onde se paga mais impostos do mundo e onde se tem as mais altas tarifas telefônicas, além dos juros mais caros para todas as operações bancárias.

         O Brasil é o 1º na lista dos países mais perigosos do mundo para turistas estrangeiros. E aqui está a fantástica fábrica de leis e normas que esmagam o cidadão: segundo um site, para regular a vida da população nacional, o poder legislativo brasileiro já publicou, desde 1988, 4,35 milhões de regras legais, cerca de 518 leis e normas por dia, sendo a área tributária a preferida dos legisladores. O país é também o campeão no uso de remédios para emagrecer, segundo relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes, órgão das Nações Unidas (ONU). Também é imbatível em cirurgia plástica sem necessidade, ou seja, com mera finalidade estética: somente no ano passado, informa a Veja, foram 350 mil procedimentos cirúrgicos. O Brasil tem a maior taxa de depressão entre os países em desenvolvimento no mundo: pesquisa realizada ano passado demonstrou que 18% da população estava deprimida. O Brasil tem um dos piores salários mínimos do mundo e o óleo diesel de consumo do brasileiro é analisado como um dos mais degradantes do planeta. O Brasil tem um dos piores índices de proficiência em inglês do mundo, uma das piores leis de direitos autorais, que dá margem a muita pirataria. E para encerrar: o Brasil é o terceiro país no mundo com maior índice de fraudes eletrônicas de acordo com levantamento da Global Fraud Report e da The Economist Intelligence Unit, que declararam que 90% das empresas brasileiras terem tido problemas com cibercriminosos. O campeão mundial é a China. 

         Acrescente-se que o investimento estrangeiro direto de qualidade destinado à participação no capital das empresas brasileiras registrou recordes negativos nos últimos anos. Que o saldo negativo nas operações comerciais com o exterior chegou a US$81 bilhões e que a carga tributária recordista no país é responsável pelos maiores índices negativos no setor da indústria.

 

 

 

 

 

©angeli

 

 

         Pesquisa realizada pelo Datafolha, entre os dias 7 e 8 de maio, em 174 municípios e com 2844 entrevistados, apontou que 61% dos eleitores entre 18 e 70 anos, obrigados por lei a votar, são a favor do fim do voto obrigatório no Brasil. Segundo os números, 43% dos eleitores de Dilma Rousseff não sairiam de casa para votar caso o voto fosse facultativo. Dos eleitores de Aécio Neves, 58% não votariam, e 62% dos eleitores de Eduardo Campos não compareceriam às urnas. Hoje o voto facultativo é liberado apenas para analfabetos, pessoas com mais de 70 anos e os que têm 16 ou 17 anos de idade. Os maiores índices de oposição à obrigatoriedade do voto estão entre o eleitorado mais maduro, de 45 a 59 anos, cuja opinião desfavorável passa de 68%. No grupo dos que têm entre 16 e 24 anos, a rejeição é de 58%. Entre os que têm ensino superior, a rejeição é de 71%. Segundo os analistas, as principais causas são o descrédito nas instituições e a associação indevida entre interesse pelo voto e satisfação com os governos. Se adotado como regra o voto facultativo para toda a população, segundo também os especialistas eleitorais, Dilma Rousseff seria apontada como a maior prejudicada, ela que na última pesquisa apresentou 37% das intenções de voto, seguida por Aécio Neves com 20% e Eduardo Campos com 11%.

         O Brasil é ainda um dos raros países democráticos a impor o voto. O importante é o debate ampliar a consciência crítica da cidadania. Não votar implica em ter uma decisão de responsabilidade maior que exercer o voto sob pressão. Sabe-se, contudo, que o voto obrigatório é uma forma de opressão tal como o são o coronelismo, o autoritarismo e todos os regimes de exceção, o paternalismo e o elitismo antidemocrático. Obrigar a votar é uma forma de autoritarismo.

         Os defensores do voto obrigatório o fazem em função de um constrangimento legal, que tem por função impor a participação política como modo de estabelecer legitimidade para a democracia representativa. Só que hoje não existe nenhuma democracia representativa que adote o voto obrigatório. "Se o eleitor não é capaz de entender a importância de votar, é porque não tem maturidade política e não será a obrigatoriedade do voto que conseguirá amadurecê-lo à força", declarou Jutahy Magalhães. Também deste senador são as palavras de que "democracia à força, como reserva de mercado de eleitores, nada mais é do que o alicerce viciado e retrógrado sobre o qual se erige o edifício da incompetência e da corrupção. É a terra fértil onde germina a indústria e o comércio eleitoral, paraíso dos grandes currais eleitorais e de candidatos movidos a dinheiro, manhas e velhos acordos".

         Se o voto obrigatório, por um lado, é um poder-dever em que a maioria dos eleitores participa do processo eleitoral e torna o exercício do voto fator de educação política do eleitor, por outro o voto facultativo é adotado por todos os países desenvolvidos e de tradição democrática, melhora a qualidade do pleito eleitoral pela participação de um eleitorado consciente e motivado e acaba com o mito de o voto obrigatório gerar cidadãos politicamente evoluídos. Ainda que não acabe com o "voto de cabresto", o voto facultativo reduzirá a níveis ínfimos a quantidade de votos nulos ou brancos. Pesquisas já mostraram que deduzindo-se do total do eleitorado a soma das abstenções com os votos nulos e brancos, em grande parte decorrente de erro dos eleitores durante o ato de votar, ter-se-ia praticamente o nº de eleitores que votaria se o voto não fosse obrigatório. Paulo Henrique Soares analisa que "o eleitor que comparece às urnas contra a vontade, apenas para fugir às sanções previstas pela lei, não está praticando um ato de consciência; nesse caso, ele tenderá muitas vezes a votar no primeiro nome que lhe sugerirem, votando em um candidato que não conhece, fato que estimula a cabala de votos na boca das urnas, promovida pela mobilização de aliciadores de votos que o poder econômico propicia — ou a votar em branco e anular o seu voto". O fato de o eleitor comparecer à seção eleitoral não significa que ele está interessado nas propostas dos candidatos e dos partidos políticos.

         "Voto é direito. Exercita-o o cidadão consciente e discernido. O eleitor, ao participar do processo democrático, exerce um ato de liberdade. Se quiser protestar, protestará votando bem", diz Soares. Nações que adotam o voto facultativo não são consideradas menos perfeitas por isso, caso dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da França. Votar à força, por obrigação, leva o eleitor a interagir com o processo de deterioração do sistema político-eleitoral, anula a participação popular e o seu sentimento cívico espontâneo, impede o exercício pleno da cidadania, privilegia somente a classe política, mantém sem solução definitiva a quase totalidade dos problemas brasileiros.

 

 

 

 

 

©genildo

 

 

         Tem plena razão o oliveirense Ivan Sátiro ao afirmar que o coronelismo do século 21 é feito por um governo federal centralizador e totalitário através de programas como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, Seguro Desemprego, Mais Médicos, Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), entre outros, manipulados à vontade pelo petismo como forma de dar e manter sustentabilidade ao Partido e rechaçar, ainda que seja com inverdades, a oposição que se arvore às contradições e incompetências da presidenta Dilma Rousseff.

         Esses programas compõem o que Nietzsche denomina "metafísica de carrasco", que premedita e sugere condições predisponentes a necessidades que requeiram a interveniência de salvadores, de deuses e de líderes providenciais. O PT se encarregou de disseminar essa prática no Brasil, que coaduna com as mesmas políticas centralizadoras populistas e supostamente revolucionárias presentes em países entravados da América Latina, como Venezuela, Bolívia e Cuba. Se antes o coronelismo cooptava através do voto de cabresto mediante a compra do sufrágio através da botina, da conta de farmácia ou de armazém e do gás, p.ex., agora isso é feito através de programas ditos sociais. Com o volume de gastos e investimentos do governo federal, a máquina administrativa cria um aparato de sustentação que a priori torna inviável qualquer concorrência eleitoral com ele. O governo federal trabalha com a lei de Gerson: tem de tirar vantagem eleitoral de tudo. Somente no ano passado essa máquina administrativa utilizou a mão de obra de 984330 servidores para fazer funcionar com resultados pífios seus 39 ministérios, consumindo R$611 bilhões. Os Estados Unidos governam o mundo com 15 ministérios. E aqui, por conchavos políticos de rabo-preso, nem se fala em fazer reforma administrativa.

         O programa Minha Casa, Minha Vida já gasta mais que 30 dos 39 ministérios. Com menos de 5 anos desde sua criação, esse programa habitacional já consome mais dinheiro dos cofres públicos que dos ministérios e secretarias especiais. O Bolsa Família é uma verdadeira mina de ouro eleitoral. Tão grande que recentemente o governo federal assinou decreto que atualiza em 10% os valores do programa, que é recebido por 36 milhões de brasileiros beneficiados pelo programa Brasileiro Sem Miséria. O Bolsa Família pode render tamanhos dividendos eleitorais que Aécio Neves, entendendo que o programa é de Estado, e não de governo, propôs incluí-lo na Lei Orgânica de Assistência Social, como permanente para população de baixa renda. E o candidato do PSB, Eduardo Campos, defendeu ampliar em 10 milhões de pessoas a clientela do Bolsa Família. Só que esse programa, segundo o analista Gustavo Patu, da Folha de S. Paulo, gera custos que serão acumulados no próximo governo.

         Mesmo sob informação de que faltam no mundo 4,3 milhões de médicos e enfermeiras, o que penaliza 1 bilhão de pessoas, e inclui o Brasil, o programa Mais Médicos é polêmico por vários motivos, sobretudo por importar profissionais que recebem menos de 10% do que foi anunciado, cidadãos proibidos de expressar seus sentimentos, sob a tutela de um país socialista com regras fascistas. O programa é considerado "iniciativa empulhadora", imposto por "governantes desonestos e de inépcia inabalável", que "promoveu nos últimos 5 anos, o fechamento de 286 hospitais ligados ao SUS e deixou de utilizar, em 2012, R$17 bilhões dos parcos recursos a eles destinados, valores com os quais teriam sido construídas e equipadas 18 mil unidades básicas de saúde". Ainda assim, com as ações dos marqueteiros de plantão, o Mais Médicos também fatura muitos votos pró governo federal e engrossa o ibope eleitoral da situação, junto do povo mal informado e fácil de ser manipulado.

         A verdade é que tem programas do governo federal criando uma geração de desocupados compulsórios, cuja renda mensal os permite ficar de papo pro ar sem se incluir na população economicamente ativa, com amplo espectro nacional de gente que se acomoda cada vez mais com as benesses mantidas por políticas públicas. Esses programas, com toda certeza, rendem milhões de votos e são objeto de propaganda eleitoral por parte da presidenta, que por vezes já foi inclusive multada por causa de seus arroubos decantatórios com o dinheiro do povo que paga imposto. Na semana que passou ela caiu 4 pontos no ranking de preferência do eleitorado, Aécio Neves subiu e 75% dos petistas pedem Lula de volta a Brasília. São sinais dos tempos. Como o Brasil perdeu a Copa, mesmo com o peso da máquina administrativa, o quadro de sucessão presidencial poderá ser outro.

 

 

 

 

 

©erasmo

 

 

         A Copa do Mundo, as greves concomitantes e outras manifestações populares de insatisfação com as consequências do chamado "padrão Fifa" puseram na ordem do dia, mais uma vez, para ampla discussão com a sociedade antes das eleições, as reais condições e os desafios da sustentabilidade do país. O crescimento nacional está condicionado à geração de mais energia, ao efetivo melhoramento de infraestrutura em estradas, aeroportos, ferrovias, terminais de transporte e uma gama de obras cuja execução dependerá — e muito — de interferência no meio ambiente. Além dos problemas comuns, tem-se a informação de que apenas 5% dos brasileiros se preocupam, de fato, com o desenvolvimento sustentável, como apurou pesquisa da Conferência Rio+20, em 2012.  E a questão, diz Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, é que o Brasil não está mais no tempo de perguntar "se" é necessária uma economia verde, inclusiva e ética, mas de perguntar "como" adotá-la, o que significa saber extrair soluções plausíveis de como reduzir, reutilizar e reciclar, os três Rs da sustentabilidade. Somente com essas práticas será possível se pensar em sobrevivência inclusive do planeta.

         Tudo isso significa reduzir o consumismo, comprar bens e serviços de acordo com as necessidades para se evitar desperdícios; usar racionalmente a água; economizar energia e implantar a alternativa da energia solar; economizar combustíveis e diminuir a poluição do ar; reutilizar tudo o que for possível; promover reciclagem quase como uma obrigação para transformar matéria-prima que renove o ciclo produtivo; além de fazer valer toda a legislação ambiental de que o Brasil é farto desde a época do Império para coibir abusos, penalizar infratores e garantir a sustentabilidade. E de se tomar consciência crítica de que a pobreza ainda é um obstáculo para as adaptações às mudanças, que custam muito dinheiro escasso ou faltante na maioria dos países, cujo repasse pode ser pulverizado pela corrupção, como assevera José Marengo, do Inpe, representante do Brasil no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

         O contexto amplo e profundo do desenvolvimento sustentável embute como principal agente de transformação o ser humano, e isso implica em se manter a chamada sustentabilidade social com justiça social, não em função das leis de mercado ou dos interesses políticos da classe de representação pública. Mesmo porque, segundo especialistas, gente mora em cidades e as cidades serão o grande desafio do Brasil na área da sustentabilidade, porque já estão sujeitas também ao impacto das mudanças climáticas. Basta dizer que inundações sempre provocam cenários críticos urbanos. Donde o professor Paulo Gusmão, da UFRJ, afirmar que a municipalidade precisa de equipes permanentes, e não de profissionais de passagem. E isso implica em a sociedade dar mais valor participativo às iniciativas ecológicas que fortaleçam a relação homem/natureza, esteja ele onde estiver. Em nível micro será preciso, também conforme a visão dos especialistas, aprimorar as "técnicas" para a sustentabilidade através da indústria criativa, da hospitalidade e da tecnologia. É preciso diminuir ao máximo a violência e ampliar, também ao máximo, o sistema público educacional de qualidade. Em nível macro o Brasil já vem avançando numa proposta de metas de redução dos gases-estufa até 2020 para apresentar na reunião do clima em Copenhague, no final deste ano. O país precisa, por sua dimensão continental estratégica para o mundo, dar exemplo no estabelecimento de metas globais de redução de emissões e de apoio ao mecanismo de redução de emissões por desmatamento e degradação.

         Não será, todavia, com desculpas, omissões, jeitinhos e abusos de poder que se vai conseguir um desenvolvimento sustentável. Enquanto houver declarações públicas de que "o lixo está no meio do caminho das pessoas e as moscas já invadem minha casa", como a de uma moradora de BH; de que o desmatamento aumentou depois da entrada em vigor do Código Florestal há dois anos; ou que se diga que Minas é o Estado campeão de desmatamento da Mata Atlântica de todos os 14 onde ele está presente — a sustentabilidade será utopia.

         Especialista no assunto, Amanda Montanari questiona como é possível conciliar uma conduta capaz de harmonizar o modo de vida contemporâneo e a natureza, sem abrir mão do conforto mínimo e sem sacrificar o desenvolvimento social e econômico. E, como diria Shakespeare — esta é a questão.

 

 

 

 

 

©rafael balbueno

 

         Casa Branca ajudou o ator Leonardo Di Caprio a ver a Copa. França marca gol até depois do apito final: 5X2 na Suíça. Copa tem onda de assaltos em hotéis de Salvador. Fifa teme manipulação em Brasil X Camarões. Costa Rica bate a Itália e despacha a Inglaterra. Torcedor pode ficar sem defesa no Mineirão. Na capital dos botecos — Belo Horizonte — gringos gastam só com bebida. Hulk fica entre os reservas e treino coletivo é coisa rara na Granja Comary. Uma cena chamou a atenção do mundo: o choro do volante da Costa do Marfim Serey Die durante a execução do hino marfinense antes do jogo contra a Colômbia. Calor é arma contra europeus. O Tribunal Regional do Trabalho atendeu a um pedido do Ministério Público e obrigou a Fifa a realizar paradas técnicas para hidratação dos jogadores que disputam a Copa do Mundo sempre que a temperatura chegar ou ultrapassar os 32 graus. Yaya e Kolo Touré, estrelas da Costa do Marfim, abandonaram a concentração dia 20 em Água de Lindoia (Sp) para comparecer ao velório do irmão mais novo, Ibrahim, morto de câncer, na Inglaterra.

         Aeroporto e rodoviária, no Rio, viraram hotel para torcedores com orçamento apertado. Orangebus, ônibus de holandeses, quebra em Minas Gerais e obriga trazer peça da Europa — um eixo traseiro não encontrado no Brasil. Seleção alemã ganha torcida extra de milhares de índios pataxós, após equipe dançar com os índios. Viagem no tempo fascina turistas em Ouro Preto. Chilenos invadem Maracanã e 27 serão deportados. Espanha perde de 2 a 0 para o Chile e é eliminada da Copa com apenas um gol marcado e sete sofridos.

         Falsa deficiente entra em cadeira de rodas para ver Brasil e México no Castelão e assiste ao jogo de pé e isso é trapaça, afirmou Thierry Weil, diretor de marketing da Fifa. A federação mexicana pode levar uma punição da Fifa por causa do tradicional grito de "puto" que os torcedores emitem quando os goleiros adversários cobram tiro de meta. O técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari não conversou com o colunista do jornal Folha de São Paulo Mário Sérgio Conti. Quem falou ao jornalista foi um sósia de Felipão, Vladimir Palomo. O jornal paulista pediu desculpas pelo ocorrido e tirou do ar a notícia. Lixo do mundial para uns, oportunidades de negócio para outros. Sentimento dividido entre o otimismo e o pé no chão. A Copa do Mundo está tão boa que ninguém quer ir embora. Invasão na Cidade do Galo por um autógrafo de Messi. Rivais podem se encontrar. A atuação da Espanha foi desastrosa. Pena que acabou o grande time da Espanha. Vai deixar saudades. Joelho tira Cristiano Ronaldo mais cedo do campo de treinamento. Andressa Urach, modelo que jura ter tido um caso com Cristiano Ronaldo, foi expulsa do treino de Portugal no Moisés Lucarelli, em Campinas.

        Sobram lixo e fedor no reduto dos torcedores. Troca de moeda estrangeira cresce 300%. Frango na Copa fica por conta do goleiro Akinfeev, da Rússia. Ochoa, goleiro do México: em terra de atacantes, quem tem bom goleiro é rei. Mexicanos ocupam Fortaleza vestidos de Chapolim Colorado e personagens do "Chaves." Transporte é alvo de reclamações. Argelinos assadinhos: na mira dos torcedores da Argélia, as mulheres brasileiras. Povos diferentes, empolgação igual. Muita gente que não gosta de futebol aproveita os dias de jogos para fazer compras, lazer ou para passear com cachorros. "Pelada" padrão Fifa: jogo de Nigéria e Irã estreia 0X0 na Copa. Polícia Militar põe 14 mil homens para garantir segurança com rigor total, em BH. Navio trouxe 3,5 mil mexicanos. Felipão: se  alguém pensa que vai entrar em campo e encontrará facilidade, está enganado. Em um jogo pode acontecer um imprevisto. Brasil é o favorito no bolão. Torcida germânica leva a melhor sobre a portuguesa nos bares de BH. Homens do Exército brasileiro tietam Sturridge e Welbeck, da Inglaterra. Fora do campo há greve, protestos e calamidades. A polícia civil pediu à Polícia Militar imagens da câmera instalada dentro do veículo da corporação em que a repórter Vera Araújo, de O Globo, foi conduzida à delegacia após receber voz de prisão porque estava filmando um policial que prendia um argentino que estava urinando na rua. Mais um garoto invade o campo de treinos. Benzema deita e rola no dia em que a tecnologia ajudou. Viemos aqui para ficar juntos. Copa permanente: o impulso que falta para o Brasil deixar de ser esta vergonha e passar a ser nação.

 

 

 

agosto, 2014

 

 

 

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