©hannah scott
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

XVI

 

 

Nua és um comício.

Grandiloquente vagina,

promessas tão lícitas.

 

 

 

 

 

 

XVII

 

 

Ela banhando-me no rio.

Fora d'água, um peixe

quer ser coração.

 

 

 

 

 

 

XVIII

 

 

Uma andorinha

em cada pulso resgata-se:

tua mão na minha.

 

 

 

 

 

 

XV

 

 

Nesse palmo único

imposto entre nossas bocas

quantos anos-luz?

 

 

 

 

 

 

XVI

 

 

No banco em que sentamos,

olha que distância temos!

 

Minha alma ficou por Terra;

a dela, depois de Vênus.

 

 

 

 

 

 

XX

 

 

A fauna chorando:

te abraço e nunca me abrasas.

 

A floresta em extinção.

 

 

 

 

 

 

XXVIII

 

 

Casso na memória

a estampa desta madame.

 

O inverno foi embora.

 

 

 

 

 

 

XXIX

 

 

Anjos usam óculos.

A vida oito graus acima

vi, fora de foco.

 

 

 

 

 

 

XXXVI

 

 

Tão longe amada,

a corda ao pescoço acorda

uma flauta amarga.

 

 

 

 

 

 

L


Há uma nobre razão pra morrer,

japonesa,

quando faço parte de ti.

 

Delicioso haraquiri.

 

 

 

 

 

 

LI

 

 

O olho da mulher má

ateia a chama (azar de quem?)

 

Inferno de amar.

 

 

 

 

 

 

LVII

 

 

Tão linda e tão besta,

a moça que passava

não passa de um coice.

 

 

 

[Poemas do livro Sob o amor. São Paulo: Patuá, 2013]

 
 
agosto, 2014
 
 

 

Antônio Mariano (João Pessoa/PB). Graduou-se em Artes Cênicas e é funcionário público de carreira. As primeiras publicações viriam antes dos 20 ao vencer o I Concurso de Poesia do SESC da Paraíba, aproximando-se, na sequência, da Oficina Literária, grupo coordenado pelo poeta Antônio Arcela. Com o nome literário de Mariano Nanton sairiam os seus primeiros textos nos boletins da Oficina, na revista Presença Literária e no Correio das Artes. Aos 22 anos, foi o único vencedor do Prêmio Jovem Escritor, promovido pelo Correio das Artes e pela SECETUR (PB). Apresentou pela TVC o programa Páginas Abertas. Idealizou o Clube do Conto da Paraíba. Coordenou o projeto Tome Poesia, Tome Prosa. Editou o Correio das Artes. Preside a AMA-SEIXAS, associação de moradores do bairro onde reside. Publicou os livros de poesia O gozo insólito (1991), Te odeio com doçura (1995), Guarda-chuvas esquecidos (2005), Sob o Amor (2013) e o livro de contos Imensa asa sobre o dia (2005).
 
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