Em uma carta a Fernando Pessoa, a 03 de fevereiro de 1913, Mário de Sá-Carneiro mostra-lhe o "perigo para o seu triunfo a sua demora em aparecer como poeta". Com efeito, aconselha ao seu maior amigo não perder energias "em longos artigos de crítica", uma vez que se fazia necessário conhecer o artista Pessoa, não somente o crítico (por mais brilhante que fosse).

Notadamente, Cleberton Santos traça um caminho inverso. Daí, vale ressaltar que há muito o poeta já materializou sua arte poética numa trajetória em plena ascensão. Sua obra inaugural, Ópera urbana (2000, Edições MAC — Feira de Santana-BA), patenteou a lucidez com a qual o escritor moldura seus versos feitos de memória e das mais diversas experiências do ser no mundo.

Cultor de um diapasão lírico capaz de transubstanciar o cotidiano em poesia de indiscutível qualidade estética, Cleberton mostra-nos que a arte é concebida como um exercício de sensações e gnoses a serem compartilhados. Eis uma maneira perspicaz de seduzir o leitor a visitar esta Estante Viva, uma reunião de leituras literárias que o levam a apreender o inapreensível. Neste livro, de crítica rápida e certeira, o autor amalgama a sensibilidade do poeta à experiência de professor-pesquisador ainda em formação.

Nesse contexto, cumpre sublinhar o desdobramento alquímico de uma dupla-face: o poeta-crítico e/ou o crítico-poeta. Certamente, ao se tratar deste sergipano de Propriá, radicado na Bahia, a ordem não implica na qualidade crítico-teórica dos catorze textos que compõem a obra. Nela, à maneira da crítica de jornal, o escritor preza pela lisura acadêmica ao abordar temas fulcrais da velha e nova geração de autores da Literatura Brasileira Contemporânea.

Disso resulta um trabalho que exorta estudantes e docentes a verticalizarem a pesquisa sobre poetas como Reynaldo Valilho Alvarez; Carlos Ayres Britto; José Geraldo Wanderley Marques; Myriam Fraga; Helena Ortiz; Roberval Pereyr; Florisvaldo Mattos; Elder Oliveira; Moacir Eduão; Nívia Maria; João de Moraes Filho e Wesley Barbosa Correia (Bahia). Excetuando os dois textos que encerram o livro: o penúltimo trata de um breve estudo sobre A riqueza do detalhe (crônicas), de Moacir Saraiva, e o último fala a respeito da Memória da vida literária baiana: década de 60 (historiografia literária), do Professor Doutor Benedito Veiga.

Desse modo, este livro que nos brinda com curtas e prodigiosas leituras, fruto do pathos e do logos formadores do homem, do poeta, do pesquisador e do professor Cleberton Santos, é uma salutar vivência de um decifrador de enigmas. Em suma, transitar pelo universo dos signos verbais desta Estante viva é um exercício sempre prazeroso e oportuno.         

 
 

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Prefácio do livro Estante Viva, de Cleberton Santos.

Lançamento em 27 de setembro de 2014, às 17 h,

na Feira do Livro de Feira de Santana - BA

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setembro, 2014
 

 

 

 
Adriano Eysen é poeta e professor assistente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).