Desde que o mundo é mundo, há quem acuse determinadas mulheres do chamado "golpe da barriga". Como todos sabemos, quem aplica esse golpe seriam aquelas que engravidam "de propósito" de homens famosos, ou ricos, ou poderosos, ou tudo isso junto, para ganhar fama e/ou dinheiro e/ou poder. Em tempos de DNA, o golpe estaria mais vivo do que nunca. O teste de DNA é um dono-da-verdade: ele falou, tá falado. Não tem mais discussão.

 

Mas longe de mim apontar o dedo para quem quer que seja. Se a mulha engravidou do famosão, ele que faça a parte dele como pai. E se a mulha ficar famosa e capitalizar em cima disso, por mais ridícula que ela seja, é direito dela — e pior para o público se a mulha acabar  engrossando a fila de pseudo-celebridades famosas por serem famosas que pululam nas caras e bocas da vida. Esse clichê é mais velho do que andar para a frente. Nada de novo no front.

 

Então a pessoa está lendo o livro Neusinha Brizola sem mintchura, de Fábio Fabrício Fabretti, em parceria com Lucas Nobre, e no meio do impagável relato de uma vida desde sempre sobressaltada e trepidante, se depara com o anti-golpe-da-barriga.

 

De acordo com os depoimentos de Neusinha, nos quais o livro todo se baseia, o babado é o seguinte: quando ela morava em Nova York, foi ver o show de uma banda que adorava, e cujo vocalista considerava "o mais irado da Inglaterra". Acabou fazendo a groupie: se infiltrou no camarim, ganhou um autógrafo no peito e começou um affair com o ídolo. Dias depois de vê-lo pela última vez, ficou sabendo pela mídia de seu envolvimento com um evento da Anistia Internacional, instruído por ela, durante os papos com ele.

 

Dois ou três meses depois, descobriu que estava grávida. Não teve dúvidas de ser o ídolo inglês o pai de seu filho Paulo César, embora estivesse vivendo um namoro sério com um baterista da banda de Belchior, na época, e que assumiu a paternidade.

 

Quando Paulinho era ainda um bebê, a tal banda internacional veio tocar no Rio de Janeiro — era o verão de 1982. Neusinha relembra em seu depoimento que o show vinha para quebrar o total marasmo reinante no Brasil na época em termos de shows internacionais. Ninguém vinha tocar aqui nessa época, salvo Kiss, Rick Wakeman e um ou outro metaleiro ou banda progressiva. Mas ídolos do rock/pop inglês moderno? Sem chance. Neusinha também comenta que a banda não era ainda muito famosa no Brasil. Bem, basta consultar o sr. Google para descobrir qual foi a única banda inglesa, com vocalista galã e apoiador da Anistia Internacional  a tocar no Rio no verão de 1982, rsrsrsrsrs e muitos, muitos rsrsrsrs.

 

Seguindo com a leitura, Neusinha diz que foi ao show com o filho Paulo nos braços. Sua intenção era apresentá-lo ao pai. Tentou falar com o bonitão no camarim, mas ele mandou dizer que não a conhecia. Neusinha então deu de ombros: "não preciso dele para nada". Com o apoio da família, seguiu como mãe solteira, ou melhor, separada do segundo relacionamento.

 

Um pouco mais à frente no livro, Neusinha comenta (in)discretamente que tinha um pôster de Sting no quarto, e que sempre o contemplava com saudosos sonhos eróticos.

 

Pensaram que Neusinha havia parado de causar após a piada sem graça que foi sua morte prematura? Ledo engano. A causação não tem fim. Basta ler o livro. E viva Neusinha!

 
 

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O livro: Lucas Nobre e Fábio Fabrício Fabretti. Neusinha Brizola sem mintchura.

Belo Horizonte: Interface Olympus, 2014, 430 págs. 

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agosto, 2014
 

 

 

 
Johann Heyss é autor de Iniciação à numerologia (publicado também nos EUA e Alemanha), O que é numerologia e O livro dos números (publicado também na Alemanha, Rússia e República Tcheca) e O oráculo dos números. Além de escrever sobre numerologia, Johann lançou o pioneiro livro O tarô de Thoth, que apresentou ao público brasileiro o famoso tarô de Aleister Crowley.