mauro silper | intracenas | vista 6 | acrílica sobre cartão flexkot | 66x33 cm

coleção particular | belo horizonte | mg  | 2012

 
 
 
 
 
 
 


 

O poema

 

 

para Vicente Franz Cecim

 

 

outrora falamos de ventos

desses que sussurram idiomas estranhos

apontando espectros

na carne exposta duma memória que flutua

 

pela sala nostálgica ao lado

aguardam-nos signos irmãos

fontes renováveis da memória incansável

dos dias que atravessamos sobre águas

 

tantas vontades de abrigar o uno

ecoam agora por essas alamedas brancas

donde percebemos aquela mesma árvore

movimentando-se sutilmente ante nossos olhos despertos

 

no sopro contínuo desse caminho

somos o próprio corpo das escrituras vivas

tocamos o solo com o afã das escutas serenas

para depois nos reunirmos num mesmo homem

 

 

 

Razão

 

 

Sempre tive a sensação de que tudo em nossa existência está amalgamado por um sentido de unidade. Então, olho o mundo e sinto que tudo sempre esteve nele. Mesmo que a humanidade tenha vivido suas mais distintas eras, percebo que em essência nossos sentimentos e ações percorrem vias cíclicas num vaivém constante. E essa percepção de alguma perenidade nossa também não rechaça a mudança, a renovação. Além dessa atmosfera, o poema "Travessias" contém um forte componente filosófico, especialmente marcado por alguns diálogos meus com o poeta e amigo Vicente Franz Cecim. Diria que a própria obra do Vicente, com seu caráter mítico e imaginativo, serviu de motivação à minha intenção de escrever o poema. Das nossas conversas, surge também uma remissão ao conceito do Uno do filósofo Plotino, sobretudo no tocante à busca daquilo que está dentro de nós mesmos, da nossa verdade íntima e pessoal. Nessa jornada, marcada por profundas imersões, a capacidade de perceber a transcendência das coisas é algo deveras especial.

agosto, 2014
 
 

 

Fabrício Brandão (Ilhéus/BA). Poeta, escritor e editor da Revista de Literatura e Artes Diversos Afins. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Espírito Santo. Integra a coletânea Diálogos — Novo Panorama da Poesia Grapiúna (Ed. Via Litterarum/Editus, 2010, 2ª edição).