[foto original da revista do esporte]
 
 
 
 
 
 

Abre-se, oficial e formalmente — para o bem ou para o mal... — a "temporada futebolística (2013-14, a estender-se por certo a 2016)". Ótima, propícia, sobretudo necessária, oportunidade de examinarem-se as relações entre o futebol e a literatura brasileira. Que existem, sim, são intensas, perenes, crescentes — ao contrário de equivocadas opiniões e interpretações, tão esdrúxulas como um "chute pra fora, cara a cara com o goleiro" ou um "gol contra"...

 

 

Em campo, com gols e 'golaços', o escritor e a literatura brasileira

 

O cenário era o Maracanã (o 'velho': inesquecível...), eu e um escritor amigo a postos para o jogo que antepunha nossos times de paixão pelo campeonato brasileiro: conversávamos, e ele, escritor de primeira, apaixonado por futebol, como eu, ambos também apaixonados pela literatura, contava-me nunca conseguir expor, expressar e transpor pelas letras, afinal seu ofício, a emoção, no caso de vitórias, ou a decepção, quando das derrotas, de seu time quaisquer que fossem os torneios, as competições, as circunstâncias...

Para ele, isso, e todas as sensações, era bastante emblemático — aliás, também acho, mas por  vieses diferentes. Dizia: "isso prova que o futebol, por ser constituído de características próprias que o tornam 'diferenciado', 'auto-expressivo', 'uma expressão em si mesma', dispensa e dilui outras formas de representação, apropriação, reinvenção e interpretação; difícil pois de ser retratado convenientemente pela literatura...".

Assim, era levado a endossar — com minha severa contestação — uma corrente de opinião que, justamente por esse tipo de 'obstacularização' experimentada por ele, argumenta a incapacidade de a literatura brasileira — à exceção da crônica, ressalvam essas vozes — captar, retratar, registrar, expressar e formalizar adequadamente o futebol, 'paixão nacional', 'entranhado na alma e no imaginário do brasileiro', etc., etc...

Meu amigo, não bastasse o 'sofrimento' em si com o fracasso de seu time, refletia — e me induziu a reiterar minha convicta reflexão — sobre uma questão que o 'incomodava' intelectualmente, e que de resto 'incomoda' a muitos dos que se debruçam sobre o tema.

A mim, não restam dúvidas: ainda que "expressão em si mesma", o futebol tem recebido e recebe — assevero — tratamento literário, é muitíssimo bem contemplado quantitativa e qualitativamente, quer pela  ficção quer pela não-ficção brasileira. E não é de hoje — claro que sob outras escalas e circunstâncias temporais.

Um recorte ou um giro pela história aponta e comprova: literatos sempre se envolveram, debruçaram-se, dedicaram escritos e comentários ao futebol, em maior ou menor grau, em ciclos cronológicos distintos, levados e induzidos por motivos e vetores diversos. O primeiro 'match', o 'kick-off' deu-se logo que o futebol, ainda anglo-saxônico e aristocrático, entrou em campo no início do século XX, o Rio de Janeiro como 'habitat' da célebre polêmica entre Coelho Neto e Lima Barreto, aquele ardoroso entusiasta — inclusive autor da primeira obra literária a citar e incorporar o futebol ficcionalmente, o romance Esfinge publicado em 1908 —este, vigoroso e irreverente crítico — primeiramente por tratar-se de um 'estrangeirismo', ser elitista e sectário, depois, o futebol já crescentemente popularizado, pela violência imperante dentro e fora dos campos (qualquer semelhança com o presente não é mera coincidência...) e, por fim, pela exclusão social e racial, definitivamente não 'perdoada' por Lima.

A verdade é que, ainda na década de 1910, impressionados com a avassaladora popularidade do futebol, seduzidos pelas próprias características do jogo, os intelectuais, e notadamente os escritores, além de jornalistas, sucumbiram à admiração pelos aspectos lúdicos e até mesmo à tentação e ao desafio de interpretá-lo — como João do Rio, Luis Edmundo, Afrânio Peixoto (médico que também era, foi o primeiro a legitimar, sob argumentação científica, o futebol como atividade 'respeitável', ligando-o ao intelecto e à educação). Logo, escritores como Coelho Neto e Olavo Bilac, por exemplo — até mesmo por sua 'índole estilística' — não hesitaram em 'literatizar' o esporte, pincelando-o com tons e matizes helênicos mitológicos, ao mesmo tempo, apregoando as vantagens 'filosóficas' de sua prática e disseminação.

Tinham todos, como esperado, a vigorosa oposição de Lima Barreto, que não os poupou de acirradas críticas em crônicas, artigos, até em contos; a ele  unidos nessa 'cruzada', Carlos Sussekind  (autor de obra hoje esgotadíssima, O sport está deseducando a mocidade brasileira), Antonio Noronha Santos, Coelho Cavalcanti (com Lima, criou  em março de 1919, uma "Liga Contra o Futebol"); e a ilustre 'companhia' de Graciliano Ramos, que lá de Alagoas, em 1916, alardeou "(...) futebol não pega, tenham certeza... Estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho... A rasteira, sim, é o esporte nacional por excelência!(...)"["Linhas tortas"]. Mas já que mencionado o nordeste, a contrapor Graciliano, o paraibano José Lins do Rego a partir da década de 1940, estabelecido no Rio, entregou-se de corpo, alma e escrita literária à inflamada paixão pelo futebol, em crônicas e no romance Água-mãe.

Em São Paulo, em 1905, o futebol já atraía grande interesse popular — a começar por Monteiro Lobato, que expunha inusitado entusiasmo em cartas a Godofredo Rangel e num inflamado discurso acerca de um jogo entre paulistanos e ingleses: "(...) O goal do Paulistano provocou a maior tempestade de aplausos jamais conhecida em São Paulo...) É desta espécie de homens que precisamos. Menos doutores, menos parasitas, menos bajuladores, e mais struggle-for-life.(...)".

Gradativamente, mesmo sem suscitar grandes paixões que extrapolassem o âmbito esportivo — como no Rio de Janeiro — intensificou-se entre intelectuais e escritores paulistas e paulistanos a atenção ao futebol, sobretudo a admiração e exaltação à plasticidade do jogo, à elasticidade das jogadas, à empolgação dos que praticam e assistem as partidas — assim foi com Amadeu Amaral, Sylvio Floreal, Hilário Tácito; com Menotti Del Picchia (registrando-o em poemas e, inclusive nos roteiros dos dois primeiros filmes do cinema brasileiro sobre futebol, Alvorada de glória e Campeão de futebol, 1931), Cassiano Ricardo, Raul Bopp, Alcântara Machado — modernistas que logo se renderam ao novo esporte. Ao contrário de Mário de Andrade e Oswald de Andrade, ambos de imediato dedicando ao futebol crítica e repúdio, ou (em Oswald) ironia ferina, depois amenizados ao longo do  tempo, mas apenas admitindo seu 'caráter antropofágico', com afirmação da capacidade brasileira de assimilação das influências estrangeiras e sua transformação em expressões genuinamente nacionais (assunto que merece reflexões — aliás, desenvolvi em artigo — sobre o porquê de não se engajarem efetivamente em sua aceitação, como elemento inerente em essência a seus ideais de nacionalidade ou, pelo menos, não o encararam devidamente como um instrumento para chegar às suas concepções sobre a brasilidade, a exemplo do que tinham feito ao acolher, por exemplo, o folclore e a música popular?

Para os que ainda cultivam dúvidas e senões, o futebol encontra expressiva acolhida em todas as searas da literatura brasileira. Se não, constate-se por exemplo o quanto a não-ficção o registra, enfoca e reflete como fenômeno multidisciplinar, estudado e dissecado pela antropologia social, pela sociologia, pela psicologia: em escritos de Sérgio Milliet, de Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Emílio Salles Gomes, Gilberto Freyre, em Anatol Rosenfeld (que no texto "O futebol no Brasil" comenta e analisa os elementos socioeconômicos do futebol, da ascensão das massas aos componentes típicos dos jogos de bola, o torcedor, o ídolo, o clube), Vilém Flusser (refutando o aspecto de 'alienação' apregoado ao futebol, enfatiza nele os vetores de engajamento e chega a formular o conceito de  "um novo homem brasileiro, um homo ludens").

A eles se incorporam, com ensaios, artigos, teses e obras, Décio de Almeida Prado, Nicolau Sevcenko, Waldencir Caldas, José Sérgio Leite Lopes, Francisco Costa, Luiz Henrique de Toledo, Fátima Ferreira Antunes, dispostos a buscar uma compreensão do futebol e uma percepção do esporte como uma ágil e poderosa forma de expressão do caráter nacional; uma codificação positivista da estrutura social brasileira.

E o que dizer da ficção brasileira, onde atua um senhor 'time' de escritores, numeroso e de alta qualidade: textos de João Antonio, Ignácio de Loyolla Brandão, Luis Fernando Verissimo, Flávio Carneiro, Glauco Mattoso, Cristóvão Tezza, Sérgio Sant'Anna, Marcelino Freire, Clarice Lispector, Paulo Perdigão, Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca, Fernando Sabino, Plínio Marcos, João Ubaldo Ribeiro, Rachel de Queiroz, Flávio Moreira da Costa, Marcos Rey, Edilberto Coutinho, Edla van Steen, Luiz Vilela, Duílio Gomes, Hilda Hilst, Ana Maria Machado, Orígenes Lessa, Ricardo Ramos, Carlos Eduardo Novaes; poemas de  Ferreira Gullar, Glauco Mattoso, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Paulo Mendes Campos, Vinicius de Moraes. E para não dizer que tudo se concentra no  chamado eixo Rio-SP, vale lembrar de Humberto Werneck (de Minas), Domingos Pellegrini (do Paraná), Sergio Faraco, Moacyr Scliar, Aldyr Garcia Schlee (um trio gaúcho), e Flávio José Cardozo (catarinense). Sem esquecer de Mário Filho, Nelson Rodrigues, Armando Nogueira que, como cronistas futebolísticos, fizeram (alta, quase sempre) literatura.

Então, como apregoar 'distanciamento' da literatura brasileira com relação ao futebol, este não tratado como deveria por aquela?

Alguns chegam a almejar por uma 'GRANDE OBRA' sobre o futebol: convêm tirar a equipe de campo, pois tal não existe em nenhuma literatura do mundo qualquer que seja o  assunto, área ou seara.

A literatura brasileira, isso sim, é pródiga em  notável, magnífica profusão de coletâneas, seletas, escritos, manifestações e expressões de diversos matizes a provar e comprovar consistente e definitivamente que, ao contrário do que se pensa, interpreta e apregoa, não há o tal 'divórcio', o diálogo é vivo, vívido, autêntico.

E cá entre nós: os da música popular também reclamam de o samba e o carnaval, do mesmo modo 'entranhados' no brasileiro, não serem devidamente, suficientemente contemplados. Pobre literatura! Tem de contentar igualitária, soberana e  olimpicamente a todos! (digo e reitero: a literatura brasileira, ficcional e não ficcional, por sua própria conceituação e essência, tem muitos temas, assuntos, searas e áreas a cobrir e tratar, e o faz muito bem...).

A realidade incontestável é que, desde seus primeiros tempos no Brasil e as querelas dos pioneiros literatos como Coelho Neto e Lima Barreto, a alimentarem um processo que o constituiria  verdadeira instituição nacional, o futebol continuou — e continua — ao longo do tempo, sua meteórica ascensão e disseminação entre todas as camadas e estratos, como 'força esportiva', 'força social', 'força cultural'. Seguiu sua trajetória eletrizando todas as camadas sociais e sensibilizando escritores, artistas e intelectuais.

O escritor, ficcional e não-ficcional, e a  literatura brasileira há muito entraram em campo, trocam belos 'passes de letra' e sedutoras tabelinhas, fazem gols e golaços e conquistam expressivas vitórias — contra os céticos, os equivocados de julgamento, contra os  — parodiando Nelson Rodrigues — 'arautos do apocalipse".

 

*

 

Duas searas de relações explícitas e interativas, com muitas 'tabelinhas' e 'passes de letra' minadas — ao contrário de interpretações e opiniões que evocam  carência e insuficiência no enfoque do futebol por parte da literatura brasileira: basta notar  a quantidade e qualidade de textos e obras publicadas, em tempos passados e atualmente, por um verdadeiro 'timaço' de escritores, em prosa e em verso, em contos, crônicas, romances, novelas, poemas, sonetos, peças teatrais.

 

 

Monteiro Lobato

 

 "(...) Essa luta tinha para a população de São Paulo um significado moral dez vezes maior do que a eleição para um presidente do Estado (...) O último goal do Paulistano provocou a maior tempestade de aplausos jamais conhecida em São Paulo (...). É desta espécie de homens que precisamos. Menos doutores, menos parasitas, menos bajuladores, e mais struggle-for-life. Mais homens, mais nervos, mais corpúsculos vermelhos, para que um Camilo Castelo Branco não possa repetir que ele tem sangue corrompido nas veias e farinha de mandioca nos ossos".

 

[carta a Godofredo Rangel, 1904]

 

 

João do Rio

 

"Tenho assistido a meetings colossais em diversos países, mergulhei no povo de diversos países, nessas grandes festas da saúde, da força e do ar. Mas absolutamente nunca eu vi o fogo, o entusiasmo, a ebriez da multidão assim".

 

["Hora de football",  1916]

 

 

Graciliano Ramos

 

"(...) O football não pega, tenham a certeza. Não vale o argumento de que ele tem ganho terreno nas capitais de importância. Não confundamos.(...) Estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho. O futebol, o boxe, o turfe, nada pega. Desenvolvam os músculos, rapazes, ganhem força, desempenem a coluna vertebral. Mas não é necessário ir longe, em procura de esquisitices que têm nomes que vocês nem sabem pronunciar. Reabilitem os esportes regionais, que aí estão abandonados: o porrete, o cachação, a queda-de-braço, a corrida a pé, tão útil a um cidadão que se dedica ao arriscado ofício de furtar galinhas, a pega de bois, o salto, a cavalhada, e, melhor que tudo, o cambapé, a rasteira. A rasteira! Este, sim, é o esporte nacional por excelência! Dediquem-se à rasteira, rapazes".

 

["Linhas tortas", 1916]

 

Lima Barreto

 

"Diabo! A cousa é assim tão séria? Pois um divertimento é capaz de inspirar um período tão gravemente apaixonado a um escritor?

(...) Reatei a leitura, dizendo cá com os meus botões: isto é exceção, pois não acredito que um jogo de bola e sobretudo jogado com os pés, seja capaz de inspirar paixões e ódios. Mas, não senhor! A cousa era a sério e o narrador da partida, mais adiante, já falava em armas...

Não conheço os antecedentes da questão; não quero mesmo conhecê-los; mas não vá acontecer que simples disputas de um inocente divertimento causem tamanhas desinteligências entre as partes que venham a envolver os neutros ou mesmo os indiferentes, como eu, que sou carioca, mas não entendo nada de foot-ball (...)".

                                                                                     

["Sobre o Foot-ball", 1918]

 

 

Cassiano Ricardo

 

O pequenino vagabundo joga bola

e sai correndo atrás da bola que solta e rola.

Já quebrou quase todas as vidraças

Inclusive a vidraça azul daquela casa

onde o sol parecia um arco-íris em brasa.

Os postes estão hirtos de tanto medo.

(O pequenino vagabundo não é brinquedo...)

E quando o pequenino vagabundo

cheio de sol, passa correndo entre os garotos,

de blusa verde-amarela e sapatos rotos,

aparece de pronto um guarda policial,

o homem mais barrigudo deste mundo,

com os seus botões feitos de ouro convencional,

e zás! carrega-lhe a bola!

"Estes marotos

precisam de escola...

 

O pequenino vagabundo guarda nos olhos,

durante a noite toda, a figura hedionda

do guarda metido na enorme farda

com aquele casaco comprido todo chovido

de botões amarelos.

E a sua inocência improvisa os mais lindos castelos;

e vê, pela vidraça,

a lua redonda que passa, imensa,

como uma bola jogada no céu.

"É aquele Deus com certeza,

de que a vovó tanto fala.

Aquele Deus, amigo das crianças,

que tem uma bola branca cor de opala

e tem outra bola vermelha cor do sol;

que está jogando noite e dia futebol

e que chutou a lua agora mesmo

por trás do muro e, de manhã, por trás do morro,

chuta o sol...

 

["Martim Cererê — Jogador de Futebol", 1928]

 

 

Paulo Mendes Campos

 

 "(...) E, se não quiserem mexer nas regras para salvar o futebol, há uma outra solução, embora utópica: acabarem para sempre com os treinadores. Sem os técnicos, talvez a rapaziada conseguisse devolver ao futebol a pureza do brinquedo".

 

["Descanso  de futebol", 1968]

 

 

Fernando Sabino

 

Justamente na hora do primeiro jogo de nosso selecionado na Europa, em 1958, realizava-se uma reunião da diretoria do banco, a que ele não poderia deixar de comparecer. Não teve dúvidas: arranjou emprestado um radiozinho transistor, com dispositivo de se adaptar ao ouvido para audições individuais, meteu-o no bolso e bateu para a reunião.

— Que é isto? — estranhou um dos diretores. — Você ficou surdo?

Acomodou-se junto à mesa: a reunião já havia começado e o jogo também. Didi passa para Mazzola, este para Pepe, Pepe novamente para Mazzola. Proposição de um dos diretores sobre o incremento do crédito agrícola. Escapada de Garrincha pela direita. Estamos certos de que nossos colegas aprovarão medidas que permitam a imediata normalização das operações.

— Aprovado.

— Aprovado.

— Impedimento!

— Como?

— Nada não. Aprovado. (...)

 

["Iniciada a peleja", 1966]

 

 

 

Ferreira Gullar

 

A  esfera desce

do espaço

veloz

ele a apara

no peito

e a para

no ar

depois

com o joelho

a dispõe à meia altura

onde

iluminada

a esfera

espera

o chute que

    num relâmpago

a dispara

na direção

do nosso

coração

 

["Gol", 2006]

 

 

 

 

Nelson Rodrigues

 

"(...) Amigos, eu sempre digo, aqui e em qualquer lugar, que o torcedor de futebol é um monstro de circo de cavalinhos. Fala-se que o amor é a mais sombria, a mais violenta, a mais cruel paixão do homem. Mentira: — é o futebol. Insisto: — o futebol desfigura o ser humano, tira-lhe todo o raciocínio, todo o senso do bem e do mal, faz dele o já aludido monstro de circo, transforma-o num Drácula horrendo".

 

["O Torcedor", 1929]

 
 

 

 

junho, 2013