PARA ONDE A PRIMAVERA?

 

Amo as hortências e brincos-de-princesa, perfumada Fuchsia lilás.

Imediatamente, aciono um tempo repleto em cantorias, e a infância se anima adicionando cores.

Cor é o primeiro segmento da arte em estado puro, segundo Deleuze.

Primaveras...?

Então, para onde levarei as sementes?

 

 

 

 

 

 

INVERNO

 

toda a casa é umidade

as mesas

o escritório o

ovo de páscoa...

o lap e a Poesia

quando torço

corre

um rio

 

 

 

 

 

 

SARTRELÉGIO

 

Com quantos livros se faz um frio?

Leio "A náusea" ao sonoro de

"Some of these days..." e o jazz e

a leitura...

transportam-me ao frio de Paris

*"Sou eu que inauguro a noite,

estou feliz como um herói de romance".

 

*Sartre / A náusea

 

 

 

 

 

 

O CORTE

 

Quando cortaram a primeira árvore das

casas, todas as duas perderam a

harmonia: delicada pétala de rosa.

Depois, chegou o  outono e o caos instalou-se.

Agora, estou partindo do jardim de loucos

 

 

 

 

 

 

AOS QUE SABEM VOAR

 

as borboletas pegam carona nas asas do vento

sabem que o verão está próximo

e da primavera

que é breve

em asas de borboletas

as borboletas

surfam no cinza da tarde

Iluminando em voos

o rastro do hoje

e sonham  azul

 

 

 
 

INFINITO

 

qual a palavra correta para

definir o infinito?

( talvez  um  grito )

deslizo então o grafite sobre

o pensamento

há tormentos

entre

a madrugada e o latido dos cães

gritam os grilos aos vaga-lumes:

— mais luz!

 

 

 

 

 

 

ETERNIDADES

 

essas coisas de importância

noturna

essas noturnas importâncias

sempre tão recheadas de

estrelas

quando regadas com a

 

luz do

simples

multiplicam-se em

eternidades

 

 

 

 

 

 

AMO 

 

amo profundamente

o latido dos cães entre o

silêncio da  noite  a

busca de tu  olho  entre

o vazio  dos  seres

o som

que propaga tua

respiração em

minha  memória  o

gosto  do  beijo  boêmio

 

 

 

 

 

 

A MESA

 

há corais sobre a mesa de madeira

e elefantes disfarçados em peixes

o mundo todo direciona-se para um ponto

buraco convergente ao chão

talvez um mar patinado

esconda o caminho do céu...

 

 

 

 

 

 

DAS COISAS A SEREM PREENCHIDAS

 

o BRANCO da tela

não é o mesmo

BRANCO  do papel

a tela em sua...  carência

pede tinta

já o papel

leve... voa...

voa...

 

 

 

 

 

 

O RIO DAS COISAS

 

atravessando o rio das

coisas

desce o cesto

 

as correntezas urbanas te fazem

Moyses

abres os olhos à margem vasta

do vazio e

sonoro feito

violino

a margem impregna-te

em verde

segue tempestuoso

o

rio

 

 

 

 

 

 

REFLEXÕES AO AMANHECER

 

a grama  ática

é verde

assim como a

semente do

saber

já a

palavra

compõe-se em

arco-íris

 
 
[imagens ©georgia o'keeffe]
 
 
 
 
 
 
 
 
Graça Carpes. Poeta, atriz, clown, blogueira e produtora cultural. Escreve contos, poemas, histórias infantis, roteiros e o que mais a palavra sugerir. Aventura-se também na arte da pintura, escultura e no audiovisual, pois acredita na poesia em todas as formas de expressão. Vive no Rio de Janeiro/RJ. É encontrada aqui: Pulsar Poético, Madalena Madalupe, Youtube, Myspace, Facebook.