o impossível | maria martins | escultura | bronze fundido platinado | 178,6x167,5x90 cm coleção itaú |
masp (museu de arte de são Paulo) | são paulo | brasil | 1940

 

 
 
 
 
 


 

O poema

 

 

O amor não é a lua

iluminando o arco-íris

nem a estrela-guia

mirando o oceano

 

O amor não é o vinho

embebedando lençóis

nem o beijo louco

na boca úmida do dia

 

O amor não é a angústia

de se encontrar o sorriso

nem o vermelho

do coração dos pombos

 

O amor não é a vitória

dos navios e dos barcos

nem a paz cavalgando

cavalos alados

 

O amor é, sobretudo

a faca no laço do laçador

O amor é, exatamente

o tiro no peito do matador

 

 

 

Razão

 

 

A Genética da Coisa mora onde mora o criador. O que torna o DNA difícil e temerário. O criador está muito perto de sua obra, dentro dela, e toda a sua visão é crítica à sua invenção.

 

O poema "Cilada" (do livro Exercício do Olhar, Ed. Fivestar/2006) nasceu de um impulso, de uma explosão, de um susto, e, essas qualidades nem sempre podem ser bem explicadas. Como explicar a dor da perda, a falta daquilo que era a sua razão de vida? Só o choro convulsivo, ou o cinismo. Assim, o poema nasce do fim de um amor-eterno-daquele-que-deveria-ser-para-todo-o-sempre, como todo verdadeiro amor. Ou não? A solução para o poeta, ao invés de choramingar dores-de-corno, foi salvar-se através de certo anti-romantismo, onde, através de alguma ironia perversa, brinca com alguns elementos-clichês para jogá-los por terra, utilizando-se do advérbio ou partícula de realce, "não", que contradiz o uso generalizado do que seria o amor idealizado. Foi a maneira que inventei para me vingar da dor pelo fim do amor eterno. Palavras como lua, arco-íris, estrela, vinho, pombos, paz etc, comumente utilizados como expressões líricas da literatura romântica, têm essas qualidades negadas pelo poeta, com sua explicação vinda nos últimos versos.

 

Acontece que, muitas vezes, o amor nos deixa orgulhosos, donos do mundo e das pessoas. Somos insuportavelmente belos e felizes. Tempos depois, geralmente, cai a máscara — de vencedores passamos a perdedores, de felizes a infelizes, de amantes eternos a traídos. Ou seja, o amor é, quase sempre, traiçoeiro; quando pensamos que estamos no seu domínio, com o "laço" em nossas mãos, uma "faca" corta o nó; quando pensamos que, verdadeiramente, somos vitoriosos, "donos" de nosso destino, eis que "um tiro" acerta o peito do feitor. Cilada. Daí, o poema... Mas continuo a acreditar no amor, mesmo assim...

 

 

abril, 2013
 
 
 

Tanussi Cardoso (Rio de Janeiro/RJ). Formado em jornalismo e direito. Poeta, crítico, contista e letrista de MPB. Poemas publicados na Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, EUA, França, Itália, México, Portugal, Peru, Romênia e Uruguai, e traduzidos para o francês, espanhol, italiano e russo. Autor de "Substantivos: poema de estudos", no capítulo introdutório ao tema da morfologia, no livro Gramática Contemporânea da Língua Portuguesa (José de Nicola e Ulisses Infante, Ed. Scipione/SP, 15a edição, 1997). Está incluído em dezenas de antologias de poemas nacionais e internacionais, além de vencedor de vários prêmios literários, no Brasil e exterior. Nove livros publicados, entre eles: Del Aprendizaje Del Aire/Do Aprendizado Do Ar (Ed. Fivestar, Bilíngue: Português/Espanhol, Tradução para o castelhano de Leo Lobos e Angélica Santa Olaya, 2009); lançado no Peru, e, posteriormente, a convite da Universidade Nacional do México, na Cidade do México. Tanussi Cardoso: 50 poemas escolhidos pelo autor (Edições Galo Branco, 2010); os organizadores do evento Eu Leitor, realizado no CCJF/RJ, 2010, incluíram o livro entre os 25 títulos essenciais como sugestão de leitura de poesia; Exercício do Olhar (Ed. Fivestar, 2006. Apresentações de Gilberto Mendonça Teles e Luiz Horácio Rodrigues); lançado na Cidade do México, a convite dos organizadores do Segundo Festival Latinoamericano de Poesia; finalista do Prêmio Nacional de Poesia Cidade de Juiz de Fora/2003; Melhor Livro de Poesia/2006, no Congresso Latinoamericano de Literatura, São Francisco de Itabapoana/RJ. Viagem em Torno de (Ed. 7Letras. 1ª edição: 2000; 2ª edição: 2001, prefácio de Salgado Maranhão); Prêmio ALAP de Cultura 2000, outorgado pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro e pela ALAP; Prêmio Capital Nacional 2000 – Poeta do Ano, organização do jornal O Capital, Aracaju/SE; Beco com Saídas (Ed. Edicom/SP/1991. Prefácio de Socorro Trindad); menção especial no Prêmio Jorge de Lima, da UBE/RJ/1990; 3º lugar no II Concurso Nacional do livro de Poesia/1994, organização do Jornal Correio de Poesia, editado por Luiz Fernandes da Silva.

 

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