Sim, o caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria, como disse o poeta, um romântico inglês de marca maior, William Blake. Em muitas ocasiões, porém, vale o verso. Em uma, em especial, pode ser um desastre. Palavra de homem, confesso.

 

Sabe quando ela tenta ser sexy ao extremo? Aí é que mora o perigo. Fica tão caricato, meu Deus, que nos broxam, afastam. Elas ficam parecendo manequins de sex shop: modelão over, minissaia, decote, lingerie, perfumes apurados, coreografia ensaiada, beicinhos fora de hora…

 

Até parece que fizeram um curso rápido e artificial de strip. Não é por aí, calma.

 

Se a gente vai para a casa delas, deus mio, pior ainda: lá está o incenso exagerado e enjoativo, a luz ensaiada, os sais fervilhando na banheira — se for o caso de uma dama bem de vida — e todo um circo que nos tira do prumo.

 

E haja caras de "sexy", coisa de quem aprendeu, passo a passo, nas páginas de revistas que "ensinam" as mais novas posições para um orgasmo infalível! Como se o velho e bom kama-sutra e os seus mil e um bambuais fossem pouco.

 

Mulheres, esqueçam o kit sex shop. É mais importante uma safadeza, um charme, um suspense no olho durante um jantar, do que a extravagância propriamente dita. Se cuidar, ficar bonita, é de lei, claro, sem problema; mas não carece carregar nas tintas do desejo.

 

Não que tenha que acreditar na canção do Dorival Caymmi, esse gênio baiano, que aconselha a Marina não pintar sequer o rosto, que é só seu… Isso é poético, mas uma pintura, um jeito no cabelo, apreciamos, nada mais lindo, pinte sim este rosto que eu gosto e que é só seu. Pinte com todos aqueles lápis que lhe fazem uma criança brincando de colorir o desejo.

 

Nada como reforçar a chance que Deus lhe deu com os novos milagres da cosmética e da beleza, como naquele velho receituário de Ovídio, um poeta que sabia, em tempos romanos antes de Cristo, da arte de amar e dos remédios para o rosto da mulher.

 

O que não pode é exagerar da cabeça aos pés, com roupas, acessórios e badulaques que, em vez de sexy, podem estragar o encontro, a festa, a grandeza da vida, virar uma máscara contra toda e qualquer naturalidade.

 

O exagero entrega muito rapidamente o jogo para o homem, elimina um certo suspense, aquela coisa de saber até que ponto ela está ou não cote ao salto, que nos resta de imaginação?

 

Nada mais sexy que algo guardado, o suspense que falei acima, o jogo, nem que seja falso, nem que você já tenha chegado toda dele e quase para sempre. O sempre possível, digo. O sempre que pode.

 

 

& MODINHAS DE FÊMEA

 

Sobre o termo balzaquiana e o uso adequado do mesmo no ano da graça de 2010: onde lia-se uma mulher de 30 anos, como na época do velho e bom Honoré de Balzac, leia-se uma mulher de 45 por diante.

 

Além do avanço da cosmética e da beleza para o rosto da mulher, o espírito, mais livre, é infinitamente outro.

 

 

 

março, 2011