Não tive culpa. Nem tava pensando nisso. O tema me persegue.

Tenho umas glebas de terra, no burgo de Barbacena. Medem algumas jardas que, um dia, pretendo vender à população ribeirinha, por parcas rúpias.

Lá, tenho um galpão onde armazeno miudezas que curto a granel e amiúde.

E não é que deu rato?

 

Ratos enormes, do tamanho de um bonde, melhor, do tamanho de um boi alagoano.

Os tenazes roedores comeram meus jornais velhos, meus panos idosos e minhas tralhas da terceira idade.

Odeio ratos. Ratazanas também. E camundongos, Mickey Rooney e Mouse.

Assim, não me fiz de rogado e fui até o empório de secos e molhados, à guisa de adquirir um veneno que aliviasse meu tormento.

OPTei pelo raticida "Fenômeno", que contém amargante, é dose única e granulado. Cor de rosa... Prestem atenção...

Reza a embalagem que é eficaz, tiro e queda...

A caixa é vermelha (prestem mais atenção) e o peso líquido, de 100g.

Cuidado! Veneno!

 

Antes de usar leia com atenção as instruções do rótulo.

Li tudo, depois de ter usado erroneamente o produto, claro. Hélas!

A composição desse veneno que mataria Baudelaire e o Gilberto Braga de inveja é: 0,005% de Bromadiolone e 99,995% de Inertes e Atrativos...

O que o rótulo não diz, mas o vendedor libidinoso me contou: é que o raticida (veneno), para atrair suas vítimas, tem o odor da vagina das ratas...

Não tive culpa. Nem tava pensando nisso. O tema me persegue.

Comprei a Playboy, da Mônica "Calheiros" Veloso, pra ler a entrevista com meu amigo Diogo Mainardi.

Aliás, só compro a Playboy pelas entrevistas...

Como é gostoso o Diogo Mainardi, viu?

 

Que bunda!

Que peitos!

E aquela tatuagem no final das costas, um coraçãozinho que entra na bundinha...

Se eu fosse o Renan, além de engravidar o Diogo Mainardi, pagaria pensão pra ele. Mas não com meu dinheiro, que não sou bobo.

Mas não quero falar das curvas escorregadias do Diogo.

O negócio é uma minientrevista na página 34: "Eau de Parfum de Pererec — Empresa alemã lança colônia com aroma de... hum... dela (vagina). O nome da fragrância não poderia ser menos sutil: Vulva Original. A preciosidade custa 39,90 euros e pode ser comprada no site da empresa: <www.vivaeros.com>.

 

Entrevistamos Guido Lenssen, diretor de marketing da Vivaeros.

— Pra que isso?

— Os homens podem usar o perfume para se estimular durante a masturbação e as mulheres podem passar na pele para intensificar seu cheiro durante o ato sexual.

— Qual é a fórmula do perfume?

— Espero que compreenda que não podemos dar nenhuma informação a esse respeito. Gastamos um ano e meio e muito dinheiro para desenvolver a fórmula.

— Por favor, vai.

— Só posso revelar que há "substâncias orgânicas".

 

Não tive culpa. Nem tava pensando nisso. O tema me persegue.

Na mesma semana dos ratos e das pererecas, vi, finalmente, o filme Perfume — A história de um Assassino (mais um título estúpido), adaptação do livro O Perfume, de Patrick Süskind.

Em busca do perfume perfeito — o de Mulher, né Al Pacino? — o perfumista Grenouille (rã, perereca em francês) mata várias belas e gostosas para, numa alquimia maluca, extrair o extrato delas...

Aí, sem mais delongas; culpa, pensamento e perseguição temática; misturei tudo num caldeirão e mergulhei nele como um Obelix.

Meu lado rato gostaria de avisá-los que, numa boa e sem medo, eu cheiraria uma calcinha envenenada da Luana Piovani. O escorpião da Bruna Surfistinha também.

 

Quanto ao perfume de perereca, já até entreguei, acima, a fórmula secreta: basta fazer como Grenouille: espremer a batráquia (perseguida), como gomos de mexerica, até pingar o supra-sumo pontífice...

Agora, bizarro seria alguém, por engano, usar o perfume Vulva Original, no lugar e hora errados...

Imaginem se o cara tem uma reunião de negócios e confunde o frasco com spray pra combater hálito de onça...

 

E o padre que esquece de Pôncio Pilatos e vai dar a hóstia...

E a dentista que descobre, ao chegar no consultório, que suas luvas acabaram...

E se o tarado tá lá, no cinco contra um, descascando a República das Bananas, deixa o vidro se esborrachar no chão e o aroma infesta a casa, pouco antes de sediar a reunião de condomínio...

E dentro do elevador, todas as consciências pesadas cheirando os dedos; disfarçadamente, pra descobrir quem foi; vestindo a carapuceta, perdão, carapuça...

 

O gerente do Vivaeros não explicou direito em que parte do corpo as mulheres passam o perfume para "intensificar seu cheiro durante o ato sexual". Na panturrilha? No cotovelo? Na nuca? O parceiro estranhará o perfume da gardênia dela, digamos... no joelho... Vai pensar que a mulher tá com corrimento!

Lembram daquele outro filme, baseado em outro best-seller, A insustentável leveza do ser? O personagem do Daniel Day Lewis trai a mulher e não toma banho. Ao voltar pra casa, o porco infiel deita-se ao lado da patroa... Ela dá um beijo de boa noite nele e de repente começa a fungá-lo até descobrir o perfume da perseguida alheia, na testa do marido... Deu uma briga...

 

PS: Por isso, lá em casa, nunca falta querosene... Aguarrás também.

 

 

 

 

 

 

 

 

Nos primórdios do Casseta & Planeta, em 1987, a TV Bandeirantes exibiu um especial de fim de ano chamado "Vandergleison Show", com Luiz Fernando Guimarães e Pedro Cardoso. Vandergleison era o maior baixo astral; a cara do Pedro de Lara. Ele aparecia no programa, com a inserção "Vandergleison e Seu Órgão". Calma gente, órgão musical! A porta de um elevador abria-se e lá estava o cara tocando "música de elevador". Num restaurante, daqueles bem ordinários, voilà nosso herói, dedilhando "música de churrascaria". Mas a mais engraçada entrada, de Vandergleison com seu descomunal órgão, foi num acampamento. Em volta da fogueira um infeliz lembrava sua triste infância: "Minha mãe fugiu com o leiteiro, meu pai fugiu com o padeiro, desde então, nunca mais tivemos café da manhã lá em casa". Aí entrava Vandergleison, ao vivo, com seu colossal instrumento e o mote: "música para sofrer".

 

Desconfio de que minha coleção de discos e músicas tenha várias participações funéreas de Vandergleison.

 

Lembro-me, às lágrimas que, quando garçom na Santa Ceia, tive uma Messalina que, depois de terminar, literalmente, comigo me jogou na cara que quando era minha namorada só ouvia música triste. E, claro, a culpa era minha, por ter lhe aplicado quilos de Chico Buarque, Vinicius, Tom Jobim entre outros mestres; como se fossem a Maysa cantando suas lamúrias de corna ou Vicente Celestino cantando "O Ébrio".

 

Pelo jeito, hoje, ela deve curtir músicas (sic) mais animadas, como Ivete Sangalo e Netinho; Bonde do Tigrão, Cumpadi Washington, Alexandre Pires, Belo, Alexandre Pires, Frank Aguiar, qualquer nome "dos teclados", Kelly Key, Latino, Leonardo, Bruno & Marrone, etc.

Tô meio desatualizado nessa rica seara da MPB, mas o Brasil continua um valhacouto de pagode, sertanejo, axé, funk; entre outras maltas, cujo vício justifica e permite até a eutanásia.

 

O tempo passou e continuei com a estranha mania de ouvir música boa. A última vez que, aqui citei Chico Buarque, a amiga Júnia só faltou xingar o Chico Buarque de Lula: "Se livre do Chico. Cara chato. Até a Marieta parou de mandar beijo para os seus, ou dele e resolver beijar muuuuito. Sem aguentar as pernas trocadas do bêbado do Chico, que, no final das contas, virou esportista, até com personal trainer".

 

Júnia tá perdoada porque só gosta de Mozart; uns réquiens da pesada pra animar velório.

 

Mas numa coisa tenho que concordar. Essa MPB antiga, pré-Bossa Nova, é de dar depressão em Prozac, Rivotril e Lexotan! É um tal de ninguém me ama, ninguém me quer; de eterno e infinito enquanto dure, mesmo que o negócio tenha mais nada de duro; meu mundo caiu; meus peitos caíram; meu membro tropeçou e por aí vai.

 

E quando Tom Jobim compôs "Tema de Amor de Gabriela" (com Sônia Braga traindo Marcello Mastroianni, o Seu Nacib, até com os jumentos), criou estes versos de matar capivara a cuspe: "Casa de sombra, vida de monge; quanta cachaça na minha dor. Volta pra casa, fica comigo; vem que eu te espero tremendo de amor". 

 

Sombra, vida de monge... Pelamordedeus! O cara perde a mulher, leva vida de padre, chifre e ainda vira alcoólatra epilético!

Ainda falta coragem, mas vou tentar esvaziar meu iPod que mais parece um vale de lágrimas, um muro das lamentações, mil âncoras no Mar Morto.

Melhor reciclar minha fitoteca, antes que eu corte os pulsos com uma corda, ao som de Tim Maia em "Me dê motivo"; Reginaldo Rossi gritando por seu "Garçom" ou Oswaldo Montenegro torturando com sua "Agonia", que tem título autoexplicativo.

 

E a primeira música que vou baixar no iPod é aquela, alucinante de alegria e ritmo, do Teodoro & Sampaio: "Alô mulherada mal-amada, recalcada, malcasada, que perdeu o seu marido. Se precisar é só dar uma ligadinha. A gente faz uma festinha e fica tudo resolvido. Alô mulherada aposentada, encostada, isolada, que ainda tem a manha. Se precisar um pouquinho de calor. Fale aqui com o professor que eu tiro a teia da aranha".

Bonito texto, né?

 

Que tal uns rap para piano, violino e orquestra também?

Mas, tenência! Senão acabo com vocação pra forro descartável de assento sanitário em toalete feminino.

Já sei, vou comprar e decorar todos os discos do Padre Fábio de Melo e pegar umas beatas!

Padre Fábio de Melo é aquele que canta, com voz de cotovia e patativa, a singela canção "Rouxinol": "Rouxinol tomou conta do meu viver, chegou quando procurei razão pra poder seguir".

 

PS: Melhor não. Rouxinol.... Hummmmmmmm. Este padre tem cara de Kassab... Aposto que é solteiro e sem filhos...

 

 

 

 

 

 

 

Escrito nas Estrelas é filme bacana sobre encontros e desencontros amorosos, com o final feliz que só acontece no cinema. É pra ver com a namorada. Pra ver se ela se toca... Ou pra tocar a namorada... Socar não, por favor!

 

Enquanto o casal não entrega seu destino ao destino, a mocinha gostosa, Sara (Kate Beckinsale), pergunta ao herói, Jonathan (John Cusack), qual seu filme favorito. Era Rebeldia Indomável (1967), com Paul Newman...

 

Coincidências são como o Brasil, não existem, mas, revi Escrito..., no dia em que Paul foi pedalar nas estrelas assoviando "Raindrops and a Piano Keep Falling on my Head".

Outra?

 

Esse texto, antes das estrelas e de Paul, era sobre meu filme favorito...

Casablanca (1942). Quando eu acreditava que Papai Noel amava suas renas, sem malícia. Mas, por causa daquela vagaba da Ilsa (não, o nome não é um anagrama...) parei de brincar, senhor juiz, porque ninguém mais me tira pra dançar um tango argentino com cítara, zabumba e a orquestra de Manuel Bandeira.

 

Ilsa (Ingrid Bergman) dá pro Rick (Humphrey Bogart) enquanto o corno do marido, Victor Lazlo (Paul Henreid), estava na guerra matando nazistas de vida fácil. Desconfio que Ilsa tenha dado, emprestado e vendido até pro Sam, o pianista. Reza a lenda que, quando Ilsa pede: "Toque, Sam, toque pelos bons velhos tempos", não é bem o clássico "As Time Goes By" — música que enterneceria até Osama bin Laden — o que ela queria... Ilsa era insaciável. Pra mim, transou também com o (Ugarte) Peter Lorre que vivia de porre, o capitão Renault (Claude Rains), que trocava vistos de saída do Marrocos pro Iêmen por hímens complacentes, e com todos os figurantes. No final feliz, Ilsa volta pro marido, vai pros EUA e Rick vira gay no meio da bruma. O que é um desperdício, porque bonita e deliciosa mesmo era a tão esnobada namoradinha do Rick, Yvonne (Madeleine LeBeau).

 

Hoje, com a crise nas bolsas, minha película predileta não é Rambo V, juro. Estou mais pra Alfie, o Sedutor. Não, não é porque sou a cara do Jude Law. Nem pela canção-carapuça "Old Rabitts Die Hard". Ou seria "Old Habits Die Hard" (Pau que nasce torto vira bengala), com Mick Jagger? Sei lá, é tudo tão estranho...

 

O buraco é mais embaixo...

 

Alfie era mesmo um sedutor (mulherengo, galinha, canalha!). Comia todas e depois sumia na bruma, sem virar gay. Pelo contrário, continuou abatendo todas as mulheres do Martinho da Vila, chifrou o melhor amigo, quase fica broxa e acaba como azeitona na empada da piada de português. Santa comparação, Batman!

 

O importante para Alfie é C.P.B. (cara, peitos e bunda). E também o terno Gucci, camisa rosa e sapatos Prada. Perfume sempre abaixo do pescoço e no "Big Ben porque nunca se sabe como vai terminar o dia". O terreno de Alfie é Nova York, porque lá estão as mulheres mais lindas do mundo, "cada uma única, especial, como flocos de neve". E que pletora de beleza e diversidade! "Como o homem pode querer ficar com uma só?", defende-se Alfie, adotando a filosofia de vida europeia: "Minhas prioridades são vinhos e mulheres. Mas mulheres e mulheres são a melhor opção...". E a nota mais alta que ele dava às perfeitas era "A".

 

A posição sexual favorita de Alfie era a do presidente John Kennedy: o mínimo de esforço e o máximo de prazer... Entre outras, Alfie leva pra cama, banco das limusines que dirigia, mesa de bilhar ou banheira sua semifixa (quase namorada) Julie "sem sal, boazinha" (Marisa Tomei), Liz "panela velha é que faz comida boa, devassa" (Susan Sarandon) e o monumento louro e suculento, Nikki (Sienna Miller).

 

E é falando dela, pensando sobre ela, que entendemos a verdadeira filosofia de vida e morte de Alfie. A cena é perfeita. A doidona Nikki, vestindo apenas minúscula calcinha e fumando, esquarteja um pepino com uma machadinha, na cozinha. Alfie, frente à maravilhosa cena, lembra de um passeio a um museu de Londres, quando se apaixonou por uma escultura de Afrodite, perfeita, mas que de perto mostrava-se danificada pelo tempo. E é aí que ele confessa à plateia do filme: "Você sabe que tem problemas (de relacionamento), quando uma imagem dessas não o prende". Traduzindo para bom javanês, até caviar de beluga, com champanhe, todo dia enjoa... Tem dia que a noite tá mais é pra sardinha ou mortadela Sadia...

 

E assim caminhou a promiscuidade do Don Juan Alfie, sempre fugindo de compromissos, esperando a mulher perfeita.

 

PS: E assim terminou Alfie, na bruma, sozinho, sem nada. Estava escrito nas estrelas.

 

 

 

 

(imagem ©ed tricerri)

  
 

 

 

 

Walter Navarro: natural de Barbacena/MG, de onde saí aos cincos anos. Mudei-me para São José dos Campos e Campinas, onde fiz meus primeiros estudos e vivi 15 anos — um ano na primeira, 14 na segunda, porque meu pai era advogado da Petrobras. Em 1985, quando meu pai aposentou-se e voltou para Barbacena, vim para Belo Horizonte, onde diplomei-me jornalista e publicitário pela PUC/MG 1985-1989. De julho de 89 a 1995, vivi em Paris, onde fiz um curso de doutorado na Sorbonne I, em Cinema, Televisão e Audiovisual — não concluído porque Paris não é lugar para estudar, mas para viver e se divertir, sorry, devo não nego, termino o curso quando puder. Volto a Belo Horizonte em fins de 1995 e, em 1996, na inauguração do jornal O Tempo, começo a exercer as funções de cronista e colunista social, com o primo Paulo Navarro, também no jornal Pampulha e agora, mais recentemente, na revista Encontro. O escritor só surgiu este ano, depois de ser convidado pela Editora Dimensão para fazer parte da coleção Fora dos Trilhos (é o segundo volume). Autor de O Canalha Amoroso (Belo Horizonte: Dimensão, 2009) que foi lançado dia 29 de abril de 2010, em Belo Horizonte e traz uma compilação de minhas crônicas de 2001 a 2009, no jornal O Tempo, na revista Star e também algumas inéditas, escritas especialmente para o livro. Aprecio literatura, claro, cinema e artes plásticas, incluindo aí as mulheres e os drinques...