©ana garcia

 
 
 
 
 
 
 

 

Minha amiga V. protesta: o novo namorado passa tanto tempo se emperiquitando na frente do espelho que o casal não consegue chegar na hora marcada nos compromissos sociais, shows, teatros, cinemas...

 

Brava, pede um conselho e, ao final da conversa, desata uma gargalhada nervosa. Só rindo mesmo.

 

Põe roupa, tira roupa, prova de novo, troca o casaco, muda a meia para combinar com a camisa, testa uns dez pares de tênis e sapatos. "Uma esquizofrenia fashion do demo", presta queixa a bela comadre.

 

Sem se falar nos cremes — é um lambuzamento maluco. Com o cabelo, seu maior exercício de vaidade, ponha aí, por baixo, uns 45 minutos, o tempo de um jogo de futebol. É o que ela faz, aliás, fica vendo um joguinho do seu Corinthians enquanto o mancebo escolhe as peças do vestuário.

 

Por mais que tente se distrair na TV ou na internet durante o processo de embelezamento do seu metrossexual paulistano, V. confessa que vai largá-lo. O seu critério para a decisão é muito simples: não pode ficar com um homem que demore mais do que ela para ficar pronto e apto a enfrentar o mundo.

 

"Se pelo menos me deixasse em paz nesse momento", relata a nobre afilhada de Balzac. "Não, não deixa, mal consigo falar com os amigos no Facebook, é uma praga, ele fica me consultando para saber se um cachecol está melhor do que o outro".

 

Como se não bastasse, começa aquela choradeira de que está sem roupa — mesmo com os armários e araras abarrotados de grifes e acessórios.

 

Quando ela acha que o cara, enfim, já está "montado", pronto para a vida, o miserável confere o visual no espelho do elevador e resolve voltar para trocar a camisa. "Só matando", ela suspira. Foi exatamente neste momento em que telefonou a este cronista com o seu desabafo.

 

Sintoma da transformação masculina, o episódio narrado pela amiga é cada vez mais frequente nos lares doces lares. Acabou aquele vap-vupt, calça jeans, camiseta amassada, casaco no frio, uma ajeitadinha com a mão no cabelo, no máximo. Já era.

 

Boa sorte, amiga V., na próxima escolha do homem.

 

 

 

setembro, 2010