Meu Doce Valium Star-Light

Intro.

 

Um ósculo de latrocínio. De uma puta depravada. Deito sonhos em cigarros e anéis com câncer. Deixo florais em valas sem jarra. Nem as putas nos compreendem a anestesia! Nem Freud explicaria esta fuleiragem sitcom de não saber que após exorcizar mil demônios cada um traria mais sete amigos bandoleiros para resolver a treta… Mas firmeza. Profissionais não podem ser atingidos.

 

Tacada 1: Sardônia

 

A edição romântica de uma vida cheia promessas falidas e sonhos furados. Um espetáculo sem plateia, um show sem público, um camarim sem artistas, uma van sem groupies para lamber-nos a virilha, um blog sem comments aonde vou lapidando-me a base de frustrações dilacerantes, violência exacerbada e um frio desespero por mais um gole cortante de vida. Sem leme. Em um dos sete mares de Cabaços e Descabaçadas que me levam pelo braço, como uma acompanhante profissional à um niilismo suicida e esperançoso. À mescla de Eu Posso o Que Der na Telha e "Você não pode, pois não se encaixa nos padrões", que excita meu velho, inativo e incomensurável ódio, pois a confirmação de um dia frio para uma raça de sangue quente não é lá a melhor notícia do mundo. Não! Não me incomodo em acender um rojão de doze estrelas pipocantes dentro do elevador que aguenta no máximo oitocentos e cinquenta quilos, sorrir sardônico pro reflexo ao lado, apontar o artefato para a câmera que tira toda minha segurança e dizer abafado, protegendo os olhos com um dos braços: "Herege, eu?! Culpe a prosa poética, porra, pois juro que sou normal" — ou ao menos acredito piamente nisso.


…"BOOM". Você já viu estrelas? Pois ultimamente nem tenho olhado pra cima! Em meu mundo não vejo (e só enxergo) meu umbigo. Mas este show de horrores que os outros costumam chamar de vida me obriga a abrir Pandora Box toda madrugada, sem dó nem piedade…

 

Parcimônia e serra — elétrica. Láudano e leviandade. Toda a poesia do mundo em um só clique nesses portais recheados de Nada. Antenas que não colaboram com minha sintonia. Mato de coelhas que não caem de boca. Psico na mão de Pata. E a certeza de que os dias talvez nunca sejam melhores. Todo dia esquartejo Deus com uma faca de plástico de festa de criança. E toda noite encontro meu sossego sísmico, altamente abalado, no fato destruidor de saber que não me encaixo completamente em nada. Esse fato pulverizador, de não ser de laias, que me joga calado nos cantos dos eventos, vendo tudo que é mortal improfícuo sendo confundido com um deus da maionese, mas não vem ao caso!… Tem gente subindo pedestais de escada rolante e ainda tem a audácia ignóbil de confundir Status com Divino, Amizade com Talento e meu Dom com porra nenhuma. Mas foda-se, pois se Joyce é Deus, eu sou Jim Carey…

(Herege, eu?! Culpe a prosa poética, porra).

 

Os que realmente me conhecem sabem que sou ácido por natureza, largado por opção e um maldito paradoxo nato. Mas minhas letras andam sentimentalmente lúgubres e isso é péssimo sinal — pois ando até disparando em alvos civis durante meus surtos psicóticos. Na verdade, não perdoo nem os coelhinhos quando "tô com a gota" —. E assim, do meu jeito, eu vou. E continuo indo. Mas conto com a esperança que jaz baleada no porta-malas e com a capacidade que a vida tem em ser irônica, para amortizar a peçonha alheia quando as coisas começam a ir bem e os garranchos tornam-se cada vez mais potentes enquanto assisto o pica-pau e penso no próximo rabo onde depositarei todas minhas duras derrotas. O amargor de minhas tristezas lúdicas. E as gafes que não cometi. Para depois ganhar a rua, manter o fudismo de meia tigela vivo ao levantar o zíper com asco e voltar para o cúmulo da solidão corrosiva, onde guardo ursinhos sem pelúcia. E ouro sem quilate dentro de um quadrado azul. Juro! Juro que não gastarei mais meu tempo com tentativas que sei estarem previamente fadadas ao fracasso — caso eu extraordinariamente consiga fazer isso! —. Te juro, o cu do MASP cagou em minha face de Quasímodo e que isso bastou para que eu caísse na real e percebesse que Amar é pra quem não pensa, pros fãs de Belle e Sebastian e pra quem nunca teve uma só espinha na cara durante a imbecil adolescência… Amar?! Meu ovo!!!. Vou é lustrar as balas de diamante que descolei para alvejar qualquer porra de musa que inventar de surgir na reta dos meus amores inventados. Meus exageros Cazuzianos mais que extrapolados. Pois se mulheres só amam o que podem ostentar, eu busco apenas alguém que, se um dia eu subir na vida — pois é óbvio que fudidos não tem vez (e eu estou atualmente fôdido) —, não me "ame", só pra "mostrar" para as amigas invejosas… E que chupe gostoso, lógico!


"Nas bolas, amor. Nas bolas", pois baixaria mesmo é nascer brasileiro. E pra quem AINDA não sabe o sonho de todo Homem é possuir sua própria puta, ou retirar freira uma freira da zona. O resto é tudo uma grande viadagem lírica. Prosa pra boi dormir. Máquina de encher linguiça com links vazios de Os Ditos Eram, ou quiropatas eruditos.

 

 

Tacada 2: Pandora is Open para o submundo

 

— Chupti, chupt, chup, slupt, glupt…


"Ontem (dia 1 de maio) um policial quebrou meu violão em mais uma daquelas "batidas rotineiras onde quebram seu violão porque um de seus amigos foi pego com dum mero baseado e você não estava no melhor dia e começou a discutir com a lei fake", tá ligado?! E hoje, antes do amanhecer, fizemos as honrarias Edu Chavenses. Com duas pás que trouxemos no velho Dodge barulhento. Barata e eu cavamos um buraco em um dos canteiros centrais, dentro do terminal de cargas da zona norte de São Paulo, perto de onde ficam as putas feias e os viciados em crack. O farol quadrado iluminava o chão arenoso lamoso. Solange entornava um resto de vinho azedo, a Dri carburava uma ponta e Mister Z deitado, entrevado, na calçada (completamente possesso pelo álcool)… Peguei o Violão Atômico no banco traseiro. Primeiro alguns de seus mil pedaços, depois o que sobrou intacto… "É estranho lembrar esse fato durante o ato de receber um b…". Ninguém disse nada. Apenas pedi para que me deixassem só (ou seja: que calassem a boca)… O sol, como sempre, nasceu na hora errada".


— Chupti, chupt, chup, slupt, glupt…


"Odeio quando vou registrar apenas uma folha de sulfite apenas. E digo que registro, não pelo registro em si, nem pela 'memória ', nem porque amo a Biblioteca Nacional, mas porque tenho medo de que minha casa pegue fogo e queime tudo o que escrevi em vida. E eles riem de mim, acham que eu estou brincando. Queria poder matá-los, pois juro que estou sentindo cheiro de queimado. Cheiro de enxofre na casa toda".


— Chupti, chupt, chup, slupt, glupt…


"O bom foi que descobri logo cedo que esse negócio de fazer tipinho não funciona. Da mesma forma que descobri, logo aos cinco anos de idade, que eu nunca seria um daqueles moleques mongóis que estrelavam comerciais infantis, como minha mãe queria. E que esse negócio de gastar a megalografia da minha bic quebrada na tentativa de colocar o pau na buceta alheia não dá certo".


— Chupti, chupt, chup, slupt, glupt…


[Retrovisor].


"Odeio olhar no espelho quando estou fora de mim — Diapasão, diazepam, conhaque, maconha, colchão e tetas; tem nego que mal consegue falar na loucura! —. Odeio olhar no espelho quando 'perco os olhos' (de tanto ódio), como me disse uma Anja a quem amei sincera e ocultamente por dois anos, mas fiz um mal da porra a ela em dois dias… Mas firmeza. Minha parte conservadora pede para que eu saia daqui, urgente. Não sou nenhum angelicida".


— Vamaê? — fiz a intervenção.


— Nããão!!! Por quê??? Espera.
Deix'eu terminar antes — the bitch sayd.


— Meu amor, você não vai terminar nunca!


— Lógico que vou, olha só (chupti, chupt, chup, slupt, glupt).


— Cê não me conhece (uhh). Se deixar (uhh) eu fico aqui até seu maxilar afinar em dois (uhh) centímetros.


— Nooossa… Maaas: você não vai gozar?


— Não meu amor.


— Por quê?


— Não posso te dar esse prazer!

 

 

Tacada 3: O Nuclear Show: Consuma minhas tristezas e seja feliz por R$ 1.99


Trezentos e cinquenta nós na coluna. Três dedos atolados em ninfeta maluquete. Duas doses de mil motivos para não querer mais seguir. A vida pentatônica foi irrefutável com suas provas cabais, cheias de traumas e complexos de toda a sorte, quando disse, com voz aguda como agulha na retina, que eu não deveria ser assim tão legal. Para que escondesse essa merda de humanidade que me infla e transborda orelhas afora, caso eu quisesse ser sedado nos sentimentos, mas tudo o que consigo é ser expulso de retiros espirituais com o louvor de ser o único na festa a ter quarenta centavos de sensatez no bolso furado e não ser dominado pela histeria coletiva de idolatrar o vácuo-JPG.

 

E nisso guardo todas minhas agruras, quase dejavus eternos, no núcleo de uma célula aspirante a um câncer cheio de mágoas e vídeos de skate… Liso. Mais que liso. Nem toda obra tem fim, mas a gente tenta por ser teimoso. Eu não quero emagrecer dormindo, nem sentir saudades de lembranças imaginárias, já que tudo que aprendi na vida me faz mal, como a abstinência que trinca minh'alma neste exato momento. Liso. Muito mais que liso. Tem um buraco negro embaixo da cama engolindo minhas meias. Sei que muita gente não entende o que está entrando em seus olhos neste exato momento, mas há algo de tubarão neste peixinho idiota. E entre mais UMA e outras: entenda-me quem for capaz!…

 

 

Tacada 4: Pixote's síndrome


Praça Luiza Marilac. A mesma que está em meu livro Dançando Valsa nos Salões do Inferno, que nunca será lido (publicado e afins), pois — pois ele é foda— – segundo alguns amigos "É preciso influência e lamber sacos", ou seja: FORA DE COGITAÇÃO, pois prefiro viver na merda a "subir pelas costa dos outros". Deixa isso pros "Boy-êmios" da Vila Madalena ou para todo o resto que escreve porque "acha bonito". E pr'aquele otário dos três livros publicados, que nem faz ideia de que perdeu uma bela cadeirada nas costas só porque deus tem essa mania feia de proteger os ignorantes e os americanos. Graças a Deus, Bu(n)da ou a Mara Maravilha, todos livros que estão, hoje, em minha estante, são apenas de pessoas que gosto (e gosto de ler), conheço (meio de longe, mas conheço) e admiro pra caralho!!! Mas não vem ao caso. Mas então: a praça, né? Pode crer. Porra me perdi. Esquece.

 

 

Tacada 5: Mordendo a língua

 

Desrespeito seria olhar-te sem malícia. Sem me imaginar flanando em seu ventre de algodão. Agasalhado em sua lã de cor não lembrável. Ou punhetando o dedo em sua boca mística enquanto enrabo sua consciência de literata.
Don't let me fucking down, bitch. Há cinco gramas de enfermidade entre meu espírito (de lhe querer) e sua carne (esquentando a minha) que corrompem toda a explosão do atrito. E sem atrito, sem fogo. Só o frio das quatro e meia, seus cigarros cansativos e minhas velhas veleidades nada sóbrias.

 

 

Tacada 6: Calada trip


Tá. É lógico que não vão me chamar. Também: eu parado chamo mais atenção que uma nave espacial. Aí que ego vai me quer por perto? Mas foda-se. Noventa e oito por cento de minha tecnologia diária é autossustentável (ou seja: nada é inatingível e todos são dispensáveis, seja lá quem for). Só peço para que tenha muito cuidado por onde anda, pois todos os loucos de hoje são caretas ricos que não tomam banho ou escovam os dentes.

 

"A mina mora nos Jardins e sonha em ser uma puta gangueira. Será que só ela não percebeu que a Augusta é pop???".

 

 

Tacada 7: A tormenta


Nosso romantismo grita dos becos á lua. Das sarjetas aos palcos. Do tormento ao feijão que há no vômito na calçada. Do sofrimento às folhas do caderno. Dos banheiros às luzes. De noites às noites seguintes. Das entranhas aos copos. Dos copos à Marte. De Urano à Saturno. Do nada ao tudo.


Quem realmente tem arte na alma carrega em si o peso da maldição de mil mares de efêmero e eterno. De um triste olhar ante à felicidade. De uma loucura exacerbada em plena área administrativa.


Muitos vão antes de nós. Um dia iremos atrás. Que fiquem aqui apenas os chatos, pois certas juventudes não devem ser ceifadas pela praga da velhice.
Descobri que deus inveja suas crias. E nós, como criadores, invejamos a eternidade dele. Talvez estejamos aqui apenas para "deixar". E, no final, estamos aqui apenas para sermos lembrados mesmo.

 

 

Zero Intro

 

Um ósculo de latrocínio. De uma puta depravada. Deito sonhos em cigarros e anéis com câncer. Deixo florais em valas sem jarra. Nem as putas nos compreendem a anestesia. Nem minha mãe me conhece. Só eu posso falar por mim nessa terra, já que deus não ouve minhas gritantes preces. Um ósculo de amoníaco, sob o céu da mesma cidade. Se a vida é sofrer pra ter assunto pr'um blog… Que seja feita vossa vontade.

 

 

 

A Decadência do Céu e a Beleza do Inferno

 

Sonhos destorcidos e inlembráveis…

 

Fui acordado por um súbito quase-vômito que no reflexo defensivo do corpo, fez com que eu levantasse o tronco mais rápido que uma armadilha de ratoeira. O que subiu não saiu e voltou para o estômago, deixando em minha boca, apenas um sabor de cordinha de descarga de puteiro paraguaio. O sabor de bílis, cerveja, churrasco e gasolina… Minha cabeça pulsava mais que o coração de um bebe que acaba de ver a luz. Queimação no estômago. Sinto a ressaca de mil mares…

 

Olhei ao redor e não reconheci aquela casa: "Que porra de lugar é esse?". Garrafas de cerveja dentro do aquário, bitucas de cigarro afogadas em copos. Gente dormindo no chão. Manos, Emos e Clubbers: "Como eu vim parar nessa porra de lugar?". Não reconheci nenhum daqueles corpos que jaziam em suas loucuras…

 

Sede, muita sede… Havia uma garrafa de cerveja pela metade na mesinha de centro: "Hum, trouxa é quem se arrisca a beber!". Qualquer cara mais ligeiro sabe que ali dentro pode conter vômito, cuspe, porra ou até mijo. Quem tem a nobreza das ruas sabe como funciona…

 

Decidi levantar e procurar um banheiro. Fui em direção do corredor, pois sempre tem banheiros em corredores. Abri a porta e vi um cara boqueteando um outro e disse: "Desculpa porta errada!". Pensei: "Deus, que porra de lugar é esse? Isso é pior que sete palmos abaixo do fundo do poço!". Voltei desviando dos obstáculos humanos em busca da cozinha e logo achei…

 

Procurei um copo e não havia nenhum limpo. Lavei um com detergente e enfim: água! Pela fresta da janela da cozinha, avistei quatro conhecidos deitados no quintal dos fundos: "Agora sei como cheguei aqui!". O Gordinho e o Lascado estavam deitados em cima de uma velha mesa de bilhar, um abraçado com o outro: "Ah, se eu tivesse uma câmera digital agora; eu ia zuar eles pelo resto da vida". Mais água… Meu nariz começou a escorrer de repente e vi uma gota de sangue explodindo em cima da pia: "Que merda que será que eu fiz essa noite?".Um cara entrou na cozinha e disse: — Opa! — E aí?! — eu respondi com meu peculiar mau humor ressaco-matinal. Ele abriu a geladeira, pegou um Danone e disse:

 

— Quer?

 

— Não!

 

— Curtiu a festa?

 

— A parte que eu lembro eu curti!

 

— E qual parte você lembra?

 

— Nenhuma!

 

— Há, há, há, você é foda; quer uma cerveja?

 

— Maaano, na verdade eu quero saber onde estou. Como eu vim parar aqui e quem é o dono dessa porra? Mas mesmo com tantas duvidas vou aceitar a cerveja!

 

— Ih Nuclear, tá viajando mano? A casa é minha véio. Pode ficar de boa aí por que você é sangue bom! Aí, vou te dar uma geladinha que escondo só pros VIP. Pode se servir a "vontis" ai, por que vou voltar lá pra cima e comer o cú da Dayane de novo… Fui!

 

— Firmão!

 

Pensei: "Quem é a porra desse cara? Como ele sabe a merda do meu apelido? Quem é essa vadia dessa Dayane e por que ele esconde cerveja com tantas garrafas de bebidas caras espalhadas pelo chão?". O relógio na parede me dizia que faltavam alguns para as nove da manhã. A claridade incomodava meus olhos como se eu fosse um vampiro desamaldiçoado vendo a luz pela primeira vez após centenas de anos na escuridão… Abri a cerva e decidi sentar-me a mesa. Senti que chutei algo. Levantei a toalha de mesa e abaixei a cabeça para ver o que era e… Era! Era um lindo exemplar de fêmea dormindo embaixo da mesa. Fui para baixo da mesa e fiquei contemplando-a enquanto entornava a cevada ártica.

 

Cabelos negros curtos e lisos, narizinho altivo meio fino, lábios finos e lascivos, uma blusinha escrito Rockstar sustentava um par de seios quase fartos, barriguinha de porcelana a mostra com um piercing reluzente, uma saia curta e preta combinando com as unhas, coxas dignas de serem lembradas numa punhetinha noturna logo mais a noite, tatuagem de rosa abaixo da orelha e um transversal na orelha… Ela tinha um forte cheiro de menina banhada em champanhe. Sua densa maquiagem havia escorrido como se fossem radioativas toxinas expulsas de seu corpo através de seus poros. Em seu rosto angelical eu vi a decadência do céu e a beleza do inferno. Decidi pegar outra cerveja VIP. Voltei para baixo da mesa para contemplá-la. Retirei minha blusa e a cobri… Entornava e olhava…

 

Perdi-me em meus pensamentos melancólicos e parei de olhá-la, pois ela era o tipo exato de mulher que jamais olharia na minha cara. O tipo exato de mulher que quando passa ao meu lado, vira seu soberbo rosto para o outro lado. O tipo exato que representa tudo o que eu quero e tudo o que me despreza e num átimo, toda a sua beleza se esvaiu debaixo de meu manto de ódio de antigas decepções.

 

 

 

 

Vermelho Cor de Mel

 

Doce não lar


Reparei que nestes cálidos dias a água ferve mais rápido. Corri para fechar a janela, mas já não havia nada a fazer. Quando lembrei as roupas estavam mesmo molhadas. E o varal: sequinho.

 

 

Córdax


Perdidamente desvanecendo-se em luxúria etal. Suando estilo em bicas. Navegando Impalas no cigarro dos astros. Uma verdadeira cachoeira de toxinas despudoradas. Uma Foz de noitadas que pingam, precipitando-se, rumo ao abismo do corpo que lhe afaga os pecados, acolhe os fetiches e lhe engole o sumo do fel de amargo e vida. Não há metafísica nos elevadores. Há apenas uma película de clichê em meus olhos quando estrelo por desconhecidos corredores carpetados rumo à odes mundanas. E coletâneas, mentais, cinematográficas. Entre o feixe azul e o vermelho do luminoso que rutila lá fora e estaciona alternadamente numa das quatro paredes, encontro uma enxurrada de verbos. Um bilhão de motivos para não dizermos um A. Mais um gole desse pró seco e uma pose de gárgula, nu, diante do ecossistema de concreto e antenas que furam o rabo do céu, almejam a lua anil, cagam para a humanidade que transmitem. …O anjo caricato lixa as paredes, tropeça, cai de cara na lama, levanta, abre as asas: "A cidade é minha" e abraça a solidão. Tudo fica escuro.

 

 

Tresnoitância

Mesmo precavidamente deixando meu coração em casa, não estou livre de ferir-me em um platonismo de meia hora qualquer, ou em meras veleidades da cabeça debaixo. Dilacero a flor da minha pele com cacos de autoflagelo para lhe mostrar o tutano passional, o maldito paradoxo que compõem meu universo de dez metros disformes. Minhas tolas megalografias. Minhas inutilidades mais charmosas, como um blues sem solo. Deleito meus olhos em seu corpo, num pequeno hiato de distração sua. Mil músicas. Uma miragem. Sua miragem! Um holograma apetecente e essa dolorosa tendência de meu ombro a se deslocar. De sonhos a decepcionar. De nada acontecer quando realmente deve. Pérolas? Não, meu amigo. Aqui só mexemos com diamantes! Permita-se a tudo que Deus não permite! Grite a hipocrisia de nossa forjada sinceridade às santas autoridades. Defenda teses imbecis que só dizem respeito a si mesmo. Ligue-me às 11:34 P.M. de uma terça-feira e diga aos berros (e sem medo do Pasquale): "Aí, irmão, cê qué chafurdá no lúdico?", pois é assim que funciona a luz embaixo deste fosco spotlight. Pisando o Push que há talhado na taboa. Surfando em tubos de néon e mares de psicotropia. Pintando setes na tela noturna de casas que nos compreendem a carne. O mote de nossas vidas: Drinques coloridos, luzes extravagantes, divas fosforescentes e ardência no canal da uretra após três ininterruptas horas castigando a danada. A noite não é minha, mas minha vida é meu show. Protagonizo o nada. Coadjuvo tudo.

 

 

Teletransporte


Lavar a alma na enfudecida água da hidro. Coquetel e cópula. "Porra, tem preços no frigobar"…


— Eu sei tudo sobre você, sabia?!


— Não, não sabia — tento não parecer sarcástico (tô de saco cheio dos "sarcásticos").


— É! Eu sei tudinho sobre você — ela inclina a cabeça um pouco para a direita, passa o pé macio sobre meu peito desnudo e submerso, abre um sorriso típico de quem acha ter uma boa carta em mãos —. Você tá duvidando? Pode perguntar. Vai, pergunta. Pergunta o que quiser que respondo —– traga o cigarro com calma, faz pose de francesa esnobe —. Eu sei tudinho sobre você, seu "Escritor"… Tudo!
Os bicos de seus seios emergiram sobre as borbulhas… Nestes momentos tenho a falsa e paliativa impressão de ter ME "encontrado".


— (…) O problema é exatamente esse…


— Qual…?


— As pessoas andam sabendo mais de mim do que eu mesmo!

 

 

Retrovisando


O que o espelho reflete não é nada bom. Há um homem alto, moreno, olhos magenta-devil, entre vinte e três e vinte e cinco anos, carregando sentimentos numa valisa individualista de mesquinhez. Ele manda o mundo às favas e ateia fogo na própria áurea. Não em oblação aos deuses, nem nada. Mas por "anestesia"… Deus dever ser muito míope para não enxergar esse incomensurável S.O.S flamejante — ou ele só não liga pra nós mesmo. No backstage dos textos. Onde a vida pode sim acabar. E as pessoas têm gripe. Cometo meus pequenos e errôneos atos de meditação a tapa, a base da violência. Encontrando a desventurada redenção nos excessos da lava-louças e tranquilidade nos pisos da perversão. Talvez eu seja doido demais até para mim mesmo.

 

 

Pornografia de nossas chanchadas


A vida anda boa demais. Pensei em descer no velho poço para visitar minha afônica caixa de música, dar umas dedadas naquela bailarininha safada e colocar o pau onde não foi chamado. Quando viver torna-se pecado, o niilismo (ou uma bela 45) é o caminho para a salvação.

 

 

Escrevendo no corpo dela

 

Atravessamos toda a Paulista rumo ao além. Ela aperta minha mão em forma de protesto ao excesso de "modernismo" que há na calçada mais importante dessa joça de país. Abraça-se à meu braço. Sorri para poluída atmosfera. Seus olhos são faróis verdes. E, no além, os vultos viciados anunciam assalto (logo pra cima de muir?!). Mas o californimano aqui conhece a dialética do crime. E o que seria um assalto virou um "respeito por um desconhecido 'sangue no olho' que foi confundido com um boy". Ela pira. Diz: "Meu Herói" e eu penso: "Você ainda não viu nada… baby". Ela diz que sente-se segura ao meu lado. E eu só me sinto seguro quando estou só! Abrimos as pontas de nossas vidas sobre a mesa de jogos. Andamos feito cães desgovernados sem rumo. Tragamos grande parte da noite andando até nos depararmos com um velho casarão abandonado. "Tem coragem de entrar ali:?", perguntei. Perguntei e entendi seu silêncio pensativo como um sim. Mão na mão: o arrasto.

 

Não era pra gente tá fazendo isso!

 

Então por que estamos fazendo? perguntei ousado, dei um tapa forte em seu rabo pra mostrar quem manda e me perdi novamente. A lua é a merda de um clichê eterno. Não há como fugir de clichês eternos.

 

 

 

 

[ imagens ©slevin aaron ]

 

 

 
 
 
MaicknucleaR (São Paulo/SP, 1981) é autor do livro Meu Doce Valium Starlight (Dulcinéia Catadora, 2007) e do famosos e-books Dançando Valsa nos Salões do Inferno e As Vadias Platinadas e Seus Drinques Solitários, além de criador da lendária Revista Lasanha Literata (que conta com nomes como Marcelo Mirisola, Jarbas Capusso Filho, Angela Oiticica, Caco Pontes e mais de cinquenta escritores). Produtor musical independente, assina, solitário, os projetos musicais "Fronteira Hits", "Paulistanas Depravadas" e "Nuclear Reggae Style". Criador da produtora digital independente Fronteira Filmes (onde é roteirista, câmera, editor, diretor e produtor de entrevistas, clipes e especiais), assina os documentários e compilados: TV, A Imagem da Besta Quadrada e Conspilation Doc: A Conspilação e os autorais Auto Doc Sarau Portátil e Liberdade, Uma Prisão Sem Muro (2010). Vocalista vitalício da banda UzzmetralhA, também participa, ao lado de Bebeto Cicas, do projeto músico/literário "Verbos Curtos/Viola na Vela" e do atual I.M.L. (Incendiários MaicknucleaR e Laureatti, por Sarau Portátil "da Cesta" – USP). Autor de Terrorismo Poético, O Filme [www.ofilme.cjb.net].
 
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