*

 

Com os sufixos -um ou -im,

de Cinzas até Fenix, voilá!

Revivo o latim!

 

Com adubo e sementes de alecrim,

de Jesus até Jesus, voilá!

Revivo o meu jardim!

 

Com surrealismo insanidade...

Já brinco de Deus

desde os 9 anos de idade!

 

 

 

 

 

 

*

 

e a gente brinca no balanço

tem muito sol e pouca sombra

e sua pele clara me cega os olhos

 

na palma da minha mão coloco

delicadamente o seu sorriso de criança

e que me alcança o coração

 

menina, me deixa cuidar

e montar com cautela

o nosso castelinho

 

enquanto isso, apanhe flores,

conchas e sementes,

e todo amor que guardou

 

 

 

 

 

 

 

*

 

Eu cuido do meu canteiro

E planto flores de brita

Cubro com cimento

E observo pela janela

 

É um cinza meio mórbido...

Não chega a incomodar.

Com sorte, crescerão saudáveis,

Oh, minhas bonitas pedrinhas!

 

Há um jardim de inverno,

Em outro plano, outra vida

Este faz crescer lindos azulejos

Únicos e insubstituíveis...

 

No vaso da estante planto pessoas,

São poucas, é difícil podar

Rego com sangue e suor

Não adianta, sempre morrem

 

 

 

 

 

 

*

 

Com os dentes, rasguei o teto

e rapidamente, tudo caiu sobre mim

era real, era pesado

e não soube administrar aquilo

 

Então pedi ajuda

Vieram todos os desconhecidos

E com seus dentes imundos

O rasgaram mais

 

Oh, e o que eu podia ter feito?

Rasgaram também meu sofá,

aquele que ganhei em meu casamento

E as cortinas amarelas de algodão

 

Resolvi ir embora

Disse adeus ao cachorrinho

"A vizinha vai te alimentar, totó"

E pintei o rosto com tinta aquarela

 

"Não vão me reconhecer mais"

Entrei em uma caixa e desci a ladeira

Caí no rio, me desfiz em 20 pedaços de teto

Rasgado.

 

 

 

 

 

 

*

 

Em mim, todo o conteúdo do frasco

Transbordando pela boca

Gritando em tons pastéis

 

Queimei em fogo baixo

Lentamente, cada pedaço meu

Me sirva em uma bandeja prata

 

Será uma grande festa

Banquete farto

Cheio de mim

 

 

 

 

 

 

*

 

Rasgo minha semi-voz

Falo com uma quase garganta

Entre meios prantos

 

Me amarga uma dor

sobe pulsando, cronometrada

Para tocar ao sino da meia-noite

 

Estará me esperando

carruagem negra,

rodas de madeira

 

 

 

 

 

 

*

 

Acho que estou ficando louca

Ainda ouço sua voz rouca

A sussurrar delírios em mim

 

Derrame esse copo de amor

Não queira mais uma dose

A garrafa está vazia

 

No seu porão tem uma caixa velha

Por que não me devolveu?

Dentro dela, meu coração não bate mais

 

 

 

 

 

 

*

 

Desce a ladeira do bairro

De saia curta, rodada

no pescoço um lenço vermelho

muita pose, toda descabelada

 

Não se sabe muito sobre sua origem

Nem o que faz ou o que fez

Morena de nariz empinado

Será que ela tem namorado?

 

 

 

   

[imagem ©ryan mcvay]

 

 

Flávia Lages (Belo Horizonte/MG, 1990). Poeta.