©ralf mood
 
 
 
 
 

 

 

 

Geográfica

 

desesperar resposta

desesquecer o tapa

rosto dói

mói a faca

mão à força

 

sumir do mapa

 

 

[Lírica caduca. Belo Horizonte: Por Ora, 1999] 

 

 

 

 

 

 

Perna de Pau

 

sonha

o drible o gol

a torcida

 

acorda

o verde-amarelo

da camisa

agora, pijama

 

ri

o poeta

não pode

o poeta

não deve

 

pelé é

para poucos

 

 

[Pelada poética. Plaquete-antologia organizada por Mário Alex Rosa e Welbert Belfort,

Belo Horizonte: Scriptum, 2006]

 

 

 

 

 

 

Lacuna

 

matéria da qual não somos feitos

artéria de memória

história fugidia.

 

forma

em transe

em tudo

se transforma.

 

revista,

a vida

nega,

disfarça

o poema

que não houve.

 

palavras páginas

anexos

sem nexo.

 

 

[Poesia-Revista. Plaquete-antologia organizada por Mário Alex Rosa, Belo Horizonte:

Editora Revista, 2008]

 

 

 

 

 

 

Alfabeto sonoro

 

blá blá blá

tum tum tum

soc pow pimba

 

hora do recreio

super heróis

supra sumo

 

infância remix

DJ de mim

 

 

[Altitude tropical. Revista editada por Milton César Pontes. Ouro Preto/ MG, 2008]

 

 

 

 

 

 

Poema para ser lido bêbado

 

Abri uma pepsi

Tomei todo

seu conteúdo

Lembrei de tudo

que nosso amor

representou

Como ele não foi nada

Simplesmente

arrotei

 

 

 

 

 

 

Esboço

 

Silêncio e reticência

ódio ao ponto final

fins não justificam

meios

meus medos

modos mudos

 

A dor não cabe no cartão-postal

 

 

 

 

 

 

Riso

 

Dou-lhe uma

Dou-lhe duas

Quem dá mais?

 

Coringa ou Batman?

 

cara de um

focinho do outro

 

nem tudo que reluz

é ouro

 

 

[Poemas do livro Portuguesia contraantologia: Minas entre os povos da mesma língua, antropologia de uma poética. Organização Wilmar Silva, Belo Horizonte: Anome Livros, 2009]

 

 

 

 

 

 

Palácio da Liberdade 

 

tempo estável

sujeito a trovoadas

miro o muro

e nada

 

 

 

 

 

 

São Domingos

 

de repente,

o mundo

é

um

sorvete

 

 

[Poemas do livro Sintaxe urbana, inédito, no prelo. Belo Horizonte: Anomelivros, 2010.

Como os demais, enviados pelo poeta Wilmar Silva.]

 

 

 

 

 

dezembro, 2009
 

 

 

 

Alécio Cunha (Boa Esperança/MG, 1969). Formado em jornalismo pela FAFICH/UFMG em 1990. Atuou na revista Istoé Minas e no Jornal de Casa. Desde 1995, era repórter da Editoria de Cultura do jornal Hoje em Dia, em Belo Horizonte, onde também exercia as funções de cronista e crítico literário. Publicou os livros Lírica caduca (Belo Horizonte: Editora Por Ora, 1999) e Mínima memória (Belo Horizonte: Editora Scriptum, 2007). Participou das antologias Cinema em palavras (1996), O achamento de Portugal (2005), Pelada poética (2006) e Terças poéticas (2006), dentre outros. Foi professor de Cinema na PUC Minas Arcos. Era casado com a jornalista Márcia Queiroz e pai de João Antônio. Morreu em Belo Horizonte, em 29 de novembro de 2009.
 
De acordo com o jornalista Itamar de Oliveira, professor na UFMG, Alécio Cunha foi um dos alunos mais brilhantes de sua época. “Era um aluno incrível e destacado, o que já anunciava o profissional brilhante do jornalismo mineiro contemporâneo”. Já o músico Juarez Moreira destaca sua importância como agitador cultural e como crítico. "Não tenho palavras para expressar a qualidade do trabalho do Alécio e a importância que ele tem como agitador cultural e como crítico sempre antenado com o de melhor em cada área. Aprendi muito com ele e acho que o jornalismo cultural em Minas acaba de ficar um pouco mais pobre", aponta o músico.

"Tenho muito orgulho de ter pintado um retrato do Alécio Cunha em 2001", destaca o artista plástico Carlos Bracher, outro dos diletos amigos do jornalista. "Trata-se de pessoa absolutamente impressionante e extraordinária, tanto pela qualidade de seu trabalho quanto pela multiplicidade de interesses na criação e na tradução através de suas matérias jornalísticas de rara sensibilidade. Era um artista plural, atencioso com tudo e com todos, um ser humano privilegiado, um interlocutor extraordinário e com uma formação cultural que alcançava ampla gama de conhecimentos, da poesia à arquitetura, ao cinema, à filosofia, às artes plásticas". Para Bracher, sabedoria e generosidade são as características mais marcantes do trabalho e da personalidade de Alécio Cunha. "Perdemos um jornalista de talento único e um intelectual generoso, pródigo na difícil e muitas vezes incompreendida missão de relatar e enaltecer os feitos alheios. As pessoas sempre ficavam melhores do que eram e mais importantes em suas belas reportagens", observa o artista. "Perdemos, sim, um mediador como poucos e um ser humano de primeira qualidade", afirma.

"Era um trabalhador incansável da literatura e da arte das palavras. Deixa uma lacuna, um vazio para seus tantos leitores e seus admiradores de grandezas variadas", lamenta Lyslei Nascimento, professora de literatura da UFMG. "Trabalhamos juntos em diversas ocasiões e sempre impressionava a todas as pessoas seu talento e uma intensidade que nunca vi em nenhum outro jornalista. Ele acompanhava tudo, sabia tudo, estava sempre presente em todos os lançamentos e estreias. Talento e intensidade são palavras-chave para definir Alécio Cunha". [Fonte: Jornal Hoje em Dia]

 

Mais Alécio Cunha na Germina
>
Poemas