A poesia de lírica amorosa parecia ter se esgotado no fogo de um tempo onde o amor furtivo e o sexo casual estão cada vez mais em voga. Parecia, mas ainda bem que existem poetas como Fernando Kroposki, que mesmo tocando em temática tão abordada na poética moderna, conseguem alcançar enorme êxito e fazem uma renovação e uma revalorização dos modos de escrever a paixão e o relacionamento entre homem e mulher nos dias atuais. Em tempos onde é fácil dizer que ama, mas é difícil encarar de uma forma séria tudo aquilo que o amor dá e tudo aquilo que tira. Encarar a solidão a dois. Desmascará-la. Enfrentar o fogo que arde sem se ver. Aceitar-se enamorado e apaixonado.

O que existe por detrás de cada pensamento encantado? É isso que está no livro Nunca fomos tão felizes quanto agora. Este que o leitor está abrindo nesta hora pontual, no dia certo, no mês correto e sempre oportuno. E então, estará conhecendo alguns aspectos peculiares da contemporaneidade daquele sentimento que não muda. Ou muda?   

Há muito que o homoerotismo vem fazendo um upgrade do tema. Porém faltava tratar a questão com o vigor e o viço da atualidade: mais especificamente no âmbito da relação homem e mulher. Vinicius de Moraes, o poeta da Paixão com P maiúsculo, é uma das influências, não sei se tão angustiadas de Koproski. Mas o projeto do novo poeta paranaense vai além de seguir os passos do mestre. Ele trabalha a linguagem de uma forma diferente e mais próxima do momento em que estamos vivendo. Fragmentação. Descontinuidade. Fugacidade. Tudo isso é tratado de maneira dionisíaca e apolínea. Ora, como se pudéssemos e estivéssemos namorando com nós mesmos. Em outro momento, entregando-nos de forma irremediável ao verdadeiro encontro.

Decerto que Fernando Koproski tem como projeto literário (vide seus livros anteriores) tratar de questões amorosas. Mas também é claro que ele o faz de maneira ímpar. O opúsculo tem poemas em prosa de uma beleza rara e de uma inegável qualidade literária, que está em versos belos como, por exemplo: "minhas asas mutiladas / não sabem ferir / o que eu sinto". Mentira ou verdade? O poeta finge a dor que deveras sente? O leitor que decida. Enquanto se apodera da grandeza de sua poesia. [N.A.: texto que compõe as orelhas do livro]

 

  

 

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O livro: Fernando Koproski. Nunca seremos tão felizes quanto agora.

Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, 120 p.

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junho, 2009

 

 

 

 

 

Rodrigo de Souza Leão (Rio de Janeiro, 1965), jornalista. É autor do livro de poemas Há flores na pele, e de Todos os cachorros são azuis (Rio de Janeiro: 7Letras, 2008) entre outros. Participou da antologia Na virada do século — poesia de invenção no Brasil (Landy, 2002). Co-editor da Zunái — Revista de Poesia & Debates. Edita o blogue Lowcura. Mais na Germina.