Em Todos os Cachorros São Azuis, Rodrigo de Souza Leão se prende solto na jaula de suas emoções. Fragmenta, em fio, as repetições enfáticas do seu mundo interno, em conexão com o mundo externo.

Seria o mundo um romance, ou a vida um hospício? Com esse toque de duas verdades dá voz à memória refletida (ficção do real), que ora alucina, e — como sombras do seu eu, se repetem em Baudelaire e Rimbaud (personagens idealizados) —, e ora se veste de memória real (ficção das lembranças), que dormem no seu inconsciente.

O autor responde, em prosa poética não linear, ao verso e anverso da existência. Retrata a contradição do louco-são, que aprisiona, reprime e define consciente, a condição da loucura alheia, em completa cegueira.

O texto é revolucionário na abordagem, no processo de encadeamento da narrativa. Os fatos sobrevivem isoladamente e no seu conjunto.

O fio condutor do texto não depende de uma lógica de entendimento e de sensação, como elemento de prazer, conforme fala Barthes.

A consciência do leitor em tentar entender o contexto à deriva das imposições externas (conceitos, definições, "certo", "errado") torna a leitura prazerosa e fruída.

O autor, que se autodefine louco, é mais um passageiro na chuva, visitando sua alma sã e doente, como toda alma, em busca da sanidade e de um porto. "Nada que eu gosto tem nome. Tudo que é perigoso tem nome".

Transparente na essência, se revela e se descobre no mundo de competições, fragilidades e carências, de todos os homens, de todos os cachorros. Mundo cão? Mundo são?

Significações fragmentadas e sintetizadas na lúcida metáfora de Todos os Cachorros São Azuis.

   

 

 

 

___________________________________

 

O livro: Rodrigo de Souza Leão. Todos os cachorros são azuis. Rio de Janeiro, 7Letras, 2009.

___________________________________

 

 

 

 

 

junho, 2009

 

 

 

 

 

Dilma Bittencourt, formada em Direito pela PUC-RJ (1972) e em Administração de Empresas pela Faculdade Cândido Mendes-RJ (1980). Auditora-Fiscal do Trabalho, aposentada. Autora de Cuba — impressões de um turista, publicado em 1989 pela Editora Revan, em duas edições.  Terceiro lugar no I Concurso de Poesia A NOVA ERA, editora Shogun Arte, 1989. Co-autora, com Lauri Prieto, da fábula futurista O visitante do Planeta Cosmos, editora TopBooks, em 2002. Primeira colocada no curso de Pós-Graduação da Fundação Getúlio Vargas-RJ, em 2004, denominado "Book Publishing, Turma 2 – Formação Executiva na Indústria do Livro".  Em 2005, concluiu na PUC-RJ o curso "A Magia da Palavra: Criatividade, Literatura e Psicanálise", em nível de pós-graduação universitária, participando, com seu professor José Francisco Gama e Silva e  colegas, da antologia A magia da palavra — contos, ensaios e poemas. É membro e uma das fundadoras do blogue Letra Falante, criado em 2007, de discussão de literatura infantil, do grupo do curso avançado de Ninfa Parreira, na Estação das Letras, de Suzana Vargas, onde fez também vários outros cursos, entre eles, "O Prazer do Texto", de Roland Barthes, ministrado por Cláudia Nina. Publicou no site Rede Reich — Orgonomia resenhas de alguns dos contos de fada dos Irmãos Grimm e no site da Editora Revan a resenha "Branca de Neve", do livro Branca de Neve e Outras Histórias, dos Irmãos Grimm, tradução de Fausto Wolff.