©tina modotti
 
 
 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

Avenca

 

 

                    

                     a longevidade grave                    com teus cabelos de vênus

    com que amplias os poros da terra                     em esteios sobrepondo

                  dilatando as beiras das                           vozes úmidas de suor tácito

          raízes tuas já tão alísias                                     na beleza única

      são vértices giratórios                                         com que brotas e despencas

no dorso do vento                                                  és como água benta

 

                                                            esmerando as folhas plácidas 

  

 

 

 

Nimbo

 

 

orgânico diadema em negra dama

da noite o perfume jasmim noturno

e a lágrima de garoa passada

sob o rosto calado de névoas

 

nu-vens auréolas brumas prateadas

com suas vértebras veias águas

no osso desmesura, força torrencial

coluna espinhal de chuva óssea

hóstia sacra em corpo de mulher

 

Euá de todas as gotas

dança a chuva de mil faces

Euá serpenteia a coluna do céu

sob o véu misterioso do instante

 

e daqui chuva distante

a noite calada entre lumens

com-densado o corpo da chuva

desorvalha as densas nu-vens

 e

nu-vens negra com – denso corpo

nu-vens passageira e precipitável

nu-vens gélida e musical

nu-vens seca, vestida de garoa

nu-vens à toa nunca vens

nua e no ar inunda o agora

 

a despir-se desce

desmedida a pele

grita o instante

uma centelha de Euá

 

 

 

Silvia Nogueira é tradutora, revisora e escritora, mestre em Psicologia Social, autora do livro de contos Imagens da Rua (Open Press, 2006), com ensaio, contos infantis e poemas em diversas publicações e revistas virtuais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vlemex

 

 

Auitwan a vloar

Savaro calendovas

Silvospretz je su tand

Jiasende fricta valiyer

 

Verjem mesvargines

Verjem vesírios

 

Sébilam draptuo

Vórax avermdâmoras

 

Itarubegê circoy-vchwiera

Parenomalia statio firajande

 

Queso vase per me dara

 

 

 

 

 

 

Algum Beijo

 

 

Língua mariposa

no teu pouso entrecortado

deste acre-veneno-batom
é que me despejo neste suspenso instante
amora molhada em mordido eucalipto
Carnação dos desencontros
da libido do que nos tornamos
E que na esquina dum leito de noite
se colidem na sombra do ciso
escoando num diminuto som
concha do tempo

 

 

 

Victor Brum Calaça é advogado em São Paulo. Como poeta, tem publicações em revistas literárias eletrônicas como Triplo V, Overmundo, Zunái, Cronópios.

  

 

 

 

 

 

 

 

Condenado aos aflitos

 

 

inquieta-se feito cão

lambendo líquido

no limbo

sem deuses ou demônios

mistura-se à escória

e se escora

na coluna do tédio

ambicionando um tempo

fora do seu tormento

experimenta

um momento

com gosto de

tese e antítese

 

(

substrato do abstrato

               em trâmites

                                 )

 

uma estimativa de

        síntese

resseca-lhe a garganta

sua boca

paralisa

na outra aberta

suga até a última

gota

de ca-

 

fumegante

 

o pensamento

materializa-se

 

 

 

 

 

 

A viagem

 

 

a noite sorveu o dia

não restam resquícios

do pôr-do-sol flambado

que na ceia apetece

 

serve-se em nova jornada

ruas de janelas fechadas

mergulha nessa viagem

respirando algas marinhas

avança nesse sentido

sem pressa de chegar

com olhos de gato e mãos meãs

costura a malha pontilhada

 

sem linha no fundo da agulha

             trepida na pista

que se estreita:

a menina malabarista 

     — de pés nus —

e o parasita dança

na cabeça embaraçada

 

a luneta gira no olho cego

observa na escuridão branca:

o atormentado se debatendo

num temporal de lorotas

um trio fritando no asfalto frio;

esperam socorro rápido

 

congela as imagens;

fotografa pensamentos

desalinhados, costurando

o trânsito —  pinta de luto

a notícia no site —

 

 

 

Maria Alice de Vasconcelos nascida em Bela Cruz/CE e residente em São Paulo, possui curso superior em Serviço Social e pós-graduação em Recursos Humanos. Iniciou como poeta em 2007 nas oficinas de criação e cursos regulares de linguagem poética e literatura em geral da "Casa das Rosas — Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura", onde continua em cursos e coordena e organiza o "Sarau Poetas da Casa".

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*

 

Na calçada suja

O mendigo e o cão repartem

cobertor e pão

 

 

breve arco-iris

a menina nas nuvens

desenha sonhos!

 

 

no céu da Paulista

entre uma muralha de prédios

A lua intrometida

 

 

construção do metrô

ferros, andaimes, galerias

assobios, cantorias

 

 

na longa caminhada

os gerânios na paisagem

pouso e repouso

 

 

olhando o ipê

num sorriso de menino

caminha o velhinho

 

 

 

Maria Fátima Araújo Vieira nasceu na Ilha da Madeira de onde saiu aos oito anos para residir em São Paulo. Formada pela PUC-SP, hoje é professora da rede estadual de ensino, responsável por projetos didático-pedagógicos como "Poesia e Utopias" e "Haicai — Estética e Ética". Em 1997, ficou em 7º lugar no Encontro Brasileiro de Haicai e, neste ano, na 21ª edição do evento, alcançou a primeira posição.

 

 

 

 

 

 

 

 

*

 

 

se for aquilo que se foi que volta

ao paraíso o pecador que torna

em torno desse próprio posto à prova

sentir o sabor de outra boca à boca

é outro o velho gosto que se arrota

sentir o sabor de outra boca à boca

em torno desse próprio posto à prova

ao paraíso o pecador que torna

se for aquilo que se foi que volta

 

 

 

 

 

 

*

 

sorrisos e suspiros

sorrisos e sussurros

atraem nossa atenção

reflexivamente

 

insensível

a rocha chora a

chuva

 

olhar porque olham

olhar por olhar

pelo es pelho

quase sem causa

não é pleno

 

quando

sorrimos sorrimos

intimamente

 

 

 

Luiz Ariston Dantas, nascido em Salvador, residente em São Paulo, formado em Psicologia, é letrista de música e poeta. Publicou Reflexos do Chán — Poesia Budista Brasileira (2008) e poemas nas revistas virtuais Zunái e Cronópios.

 

 

 

 

dezembro, 2009
 

 

 

 

O Laboratório de Criação Poética é um programa elaborado pelo poeta Claudio Daniel, com o objetivo de apresentar conceitos teóricos sobre a poesia e desenvolver exercícios práticos de criação, com a aplicação de conceitos de Edgar Allan Poe, Charles Baudelaire, Stéphane Mallarmé, Ezra Pound, Vladimir Maiakovski, Haroldo de Campos e Paulo Leminski, entre outros autores. O curso, que pretende estimular os alunos a pensarem a poesia de maneira crítica e aprofundada, é dividido em vários módulos, em sequência continuada, e inclui bibliografia e apostilas, com apoio da internet para a divulgação de avisos e resumos das aulas, na página http://labcripoe.blogspot.com. As aulas acontecem na rua Indiana, 238, Brooklin Novo, São Paulo (SP), mas podem ser ministradas também em outros espaços culturais que tenham interesse na proposta. O Laboratório de Criação Poética desenvolve ainda outras atividades além do ensino, como a organização de eventos literários (como o Festival Artimanhas Poéticas, que aconteceu nos dias 12 e 13 de junho no Rio de Janeiro), palestras e consultoria sobre projetos na área da literatura (livros, revistas, sites, blogues etc.).

 

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