©tom schierlitz
 
 
 
 
 
 


 

Rapaz de interior, fui conhecer um biquíni, 50, mesmo, de vera, muito tarde. Se até mulher, mulher mesmo, para valer, só descobri já barbado, quanto mais esta minúscula peça que a enfeita. Ora, nos banhos de açude no Sítio das Cobras (Santana do Cariri), as meninas timbungavam de roupa e tudo, brejeiros corazones e biquinhos de peitos, pitombinhas lindas de nada capazes de nos fazer sonhar Amarcords, ah, belos banhos no Penedo, no poço do riacho, na Telha e no marzão de Tatajuba.

 

No nosso juízo de meninos matutos, que conheciam Copacabana pela televisão preto e branco da praça pública de Nova Olinda, um enigma balançava, qual a obsessão de Brás Cubas, nas nossas cabeças lindas e chatas: como um ser humano nas condições normais de testosterona e desejos qualhados no juízo pode ver uma coisa daquelas, sim, uma mulher naqueles trajes tão econômicos, e não se armar todinho, num passar vexame diante dos outros, em plena areia de uma praia de cidade grande?

 

Era impossível para nós, amigos e primos que nos divertíamos com burras, jegas, bananeiras e  cabritas, que um homem pudesse segurar a onda diante daquelas gostosas com peças tão mínimas.

 

A primeira vez que vi um biquíni, essa mística peça que ora completa mais de cinquent'anos, foi no Treze, um clube de Juazeiro, onde penetrávamos escondidos, pulando o muro. Tinha eu uns 12 recém-completos. Aquilo foi motivo para que minhas mãos ficassem mais peludas do que as de Monga, as de King Kong, todas as mãos possíveis do Planeta dos Macacos. Depois vi outros no Caldas, balneário de Barbalha, e quando dei fé, minhas primas do Crato, minhas paixões de férias, lá já estavam biquinizadas também... Maryanne, meus Deus, como era perfeitinha dentro de biquíni azul marinho.

 

Depois... ah, depois foi só safadeza. Do Cariri ao Recife foi um pulo. Mas que mau gosto aqueles biquínis fios dentais, aqueles biquínis asa deltas, lembram? Ah, mas tudo bem, como cantava Luiz Gonzaga à época, "deixa a tanga voar, á á á á...".

 

Corta para a praia do Janga, onde um dia quero reinar barbado, vara de pescar na mão, como um Hemingway lesado e decadente, uma boyzinha em cada perna, outra boiando nos meus mares nunca dantes, mais uma tirando a areinha do biquíni, eta que a maré levou o biquíni da mais santa da área, eu só vou sair daqui, Zero Quatro, quando ela sair da água, a danada cobre as vergonhas com as mãos como se tivesse tentáculos de um polvo, mais uma cachaça, caldinho de sururu, um balde de ostra, sim, ostra de Itapissuma, as melhores da costa caliente, um real a dúzia, com tudo que tem direito, limão, sal, cominho, azeite, faz favor, mais uma, no capricho, pois esses beijos salgados me deixam mais hipertenso, passado, leso e futuro não-sabido, vai lá, pirraia, aproveita que tu tá em pé e me vê mais uma cerva, agora acende mais um, de Cabrobó, Francisco de Assis França, pra gente tirar onda, pra boyzinha ficar fodendo melhor!

 

 

março, 2008