cântico dos cânticos

pan

entre a relva
e o jardim

das oliveiras

hei
de coroar-te

os pentelhos

 

 

 

1
renascer

as mãos criam
perspectivas

as coxas,
dobras

o saber,
este olho

um modo
de expor

corpos

 

 

 

2

dublar
palavras

com a língua
cumprir

ao sabor
do dia

as rosas
já colhidas

 

 

 

3

antes o pau
que o tesouro

quero

antes a fúria
que o decoro

para a bem-aventurança
dos pica

flores

 

 

 

4

os modos
de compor o corpo

alevantam a pica
como as mãos

mais alevantam
a alma

dos varões
sanhudos.

 

 

 

5

sobre os ombros
a perna

retém o sexo
seu fogo

acicata
o fragmento

forja
a majestade

dos homens

 

 

 

6

o absoluto
que nos domina

a vicissitude
que nos impele

à vida
bebamos

depois

deixa
que a boceta

baixe sobre este
cacete

com impudicícia
e vigor

 

 

 

9
de waldeck

corramos, porquinha,
corramos

enganchado
te dirijo

pelo quarto
em desabalada

foda

 

 

 

9
de giulio romano

e essa faixa de pano
em sua mão,
colhudo

já não me tem
a pica

no cu
na cona

 

 

 

11

a vizinha faladeira
espreita da janela

que importa?

além de olhar
o pente

cabeludo

o caralho
até o cabo

afundo

 

 

 

14

no meio do caminho
um cupido torto

puxava tanto a carriola,
bia

nossos cabelos voavam
tanto

que
nos consumia

o braseiro

 

15

assim

sobre este pau
o vasto xixibeu

cruzados os pés

em torno às costas

a cabeça deslocada
pra trás

te fodo

andando
por onde queira

 

 

 

(imagens ©paulina)

 

 

 

  

 

Oswaldo Martins nasceu em Barbacena, Minas Gerais, no ano de 1960. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1978, para cursar a Faculdade de Letras, na PUC-RJ. Cursou o mestrado na UERJ e atualmente faz o doutorado, na UFF. Tem três livros publicados pela 7 letras: Desestudos, em 2000; Minimalhas do alheio, em 2002 e Lucidez do oco, em 2004. Prepara, para 2008, o lançamento de seu quarto livro, cujo nome é Cosmologia do impreciso. Os poemas aqui apresentados fazem parte do Minimalhas do Alheio. Foram escritos a partir do livro de poesias eróticas de Pietro Aretino, que em 1527 teve seus poemas ilustrados por Giulio Romano e Marcantônio Raimondi. Como as gravuras haviam de Giulio e Marcantonio haviam desaparecido, o conde de Waldeck, francês, resolveu recriá-las. O I Modi se faz nesta lacuna, isto é, na tentativa de suprir os poemas para as pranchas de Waldeck.