© loredano
 
 
 
 
 

 

O  auge veio a ser atingido nos primeiros anos da República, mas na verdade o  regime monárquico, extinto em 1889, já vivenciava a plena dominação do capital financeiro e a passagem do que se denominava 'mundo político' para o universo da desenfreada especulação financeira. Machado enfatiza isso em diversas crônicas da década de 1890, na série "A Semana" (conforme exposto nas obras Machado de Assis e a Economia: o Olhar Oblíquo do Acionista, que organizei  junto com Gustavo Franco, em 2007, e em Machado de Assis e a Política: Crônicas, que preparo para o Senado Federal), registrando enfaticamente, quer dizer, com o máximo de acidez crítica, o poder crescente do dinheiro e da dinâmica especulativa sobreposta à própria atividade política e à 'lisura ética' de ordem social e comportamental, a prática da corrupção praticada nas até então vigentes e preponderantes 'relações de dependência e favor', lastreadas na moeda e no dinheiro, característica da sociedade brasileira do século XIX e início do século XX, agora de forma institucionalizada no exercício do poder financeiro no âmbito público definitivamente 'monetarizado' — esta, aliás, a mais autêntica e essencial mudança de regime, infinitamente mais significativa que de monárquico para republicano. O mundo do capital financeiro, mormente de caráter especulativo, sobrepõe-se e sobrepuja concomitantemente os mundos econômico e  político, até então baseados nas relações de "dependência e favor".

 

Os contos pós-1880 abrigam exemplar e emblematicamente o quanto as relações entre as pessoas no Brasil das décadas finais do século XIX são cada vez mais determinadas, gerenciadas e intermediadas pelo dinheiro — e seu quase indestrutível poder corruptor (e nesse aspecto, indubitavelmente o mais representativo, além de inserir-se entre as obras-primas contísticas machadianas, é "Conto de escola", de 1884, já veiculado aqui, entre os "Contos políticos").

 

dezembro, 2008