A noite cai.
As montanhas ao longe,
Cobertas de bruma.

Paulo Franchetti. Professor de literatura na Unicamp. Autor de estudos sobre literatura brasileira e portuguesa dos séculos XIX e XX, dedicou-se por vários anos ao estudo do haicai japonês e seu aproveitamento pelas literaturas modernas do Ocidente. É autor, além dos vários artigos que versam sobre o assunto, de Haikais (São Paulo: Massao Ohno / Aliança Cultural Brasil-Japão, 1994) e Haikai — antologia e história, com Elza Doi e L. Dantas, contendo: organização, introdução e notas por P.F.; tradução dos poemas por E.D. e P.F.; estudo de história do Japão por L.D (Campinas: Editora da Unicamp, 1990, 1ª edição; 1991, 2ª edição; 1996, 3ª edição). Além de ter publicado livros de ensaios, de haicais e de contos, é crítico e colaborador de jornais e periódicos científicos. Desde 2003, dirige a editora da Unicamp. Mais na Germina: Encarte, Contos e Na Berlinda.
Tarde de inverno:
Sobe do fundo dos vales
A sombra das montanhas.

O lago da montanha —
Termina do lado leste
A tarde dos patos.

Patos selvagens.
Por que iriam dois para o norte
E dois para o sul?
Até os pernilongos
Vão ficando silenciosos —
Como os anos passam...

Os grilos cantam
Apenas do meu lado esquerdo — Estou ficando velho.

Do fundo do vale
Coberto de névoa,
O latido de um cão.

A chuva parou —
Na voz do pássaro,
Que frio!
Quando me canso da paisagem
Do leste, viro a cadeira
Para oeste

Quando a chuva pára
Por uma fresta nas nuvens
Surge a lua cheia.

Mesmo com fome,
Não se apressa como as outras
A galinha manca.

Pelo espelho do carro,
Os campos que outrora foram
A casa do avô.

©fumiko kimura