Um dos representantes mais ativos do poema visual e do poema processo, correntes literárias que se distinguem por valorizar as imagens, pelas quais tentam transmitir suas mensagens, o poeta Hugo Pontes é autor de vários livros no gênero, entre eles Poemas Visuais e Poesias. Mineiro de Três Corações, há anos vivendo em Poços de Caldas, Pontes diz que o movimento, surgido há mais de três décadas, continua interessando à nova geração de escritores. "Existem vários autores ainda buscando o experimental e usando hoje também a computação gráfica e digital, para fazer seus trabalhos", disse o poeta. Em entrevista ao repórter Carlos Herculano Lopes, anuncia ainda livro de pesquisa histórica sobre os movimentos separatistas em Minas.

 

 

 

 

 

Carlos Herculano Lopes — Que espaço o poema visual tem hoje na literatura brasileira?

 

Hugo Pontes — Como todo movimento experimentalista, o poema visual continua buscando o seu espaço. Acredito que, pelo tempo em que o movimento existe — cerca de 35 anos — já conseguimos ampliar bastante a divulgação de nosso trabalho, com a colaboração dos jornais, na mídia alternativa, referências e estudos em ensaios e artigos em revistas e suplementos literários, além de estudos acadêmicos, como monografias e dissertações de mestrado. O balanço é positivo, pois estamos ainda no começo da caminhada. A internet também se presta muito como veículo de divulgação.

 

 

CH — O que diferencia o poema visual do poema processo?

 

HP — O que separa os dois é uma linha bastante tênue. O poema processo caracterizou-se pela recusa radical à discursividade, propondo mudanças pela eliminação da palavra e conceituando ações como performances, passeatas, ou um objeto gráfico estético desprovido de letras ou palavras. Por seu lado, o visual caracteriza-se por manter a palavra como apêndice da imagem ou a imagem como apêndice da palavra. Dessa forma, uma é complemento da outra. O que conta é a mensagem passada ao leitor, aquele que vê e lê ao mesmo tempo. Importante destacar que o poema visual é uma decorrência natural do poema processo.

 

 

"O visual caracteriza-se por manter a palavra como apêndice da imagem ou a imagem como apêndice da palavra. Dessa forma, uma é complemento da outra. O que conta é a mensagem passada ao leitor".

 

 

CH — Quando você começou a se interessar pela poesia visual?

 

HP — Desde o momento em que tive contato com o poema concreto e, mais especificamente, com o poema processo. O interessante é que, com o grupo VIX de poesia de vanguarda, em 1963, na cidade de Oliveira (MG), Márcio Almeida e eu realizávamos alguns experimentos semelhantes ao visual, mas na época não tínhamos noção clara do que fazíamos. Outros poetas do grupo, como Waldemar de Oliveira e Márcio Vicente Silveira, de Sete Lagoas (MG), também não. Esse tipo de criação só vem ganhar um nome ou rótulo específico em 1972.

 

 

CH — Esse gênero ainda desperta o interesse de novos escritores?

 

HP — Sim, a partir de 1972 vamos encontrar alguns nomes novos realizando experimentos com o poema visual, notadamente porque o movimento não admite — por natureza — grupos fechados, ou mesmo um único idealizador. Dessa maneira, temos jovens poetas buscando o experimental. E hoje utilizando-se da computação gráfica e digital para fazer seus poemas e tendo a internet como veículo de divulgação. Cito, para ficar em alguns nomes, Dani Morrealle, José Aloise Bahia (MG); Fátima Varella, Marcelo Sahea, Washington Assis (SP); Raissa e Yuri Bruscky (PE); Al Chaer (GO); Gabriela Marcondes (RJ) e Jeanete Ecker Kohler (RS). Os poemas de todos podem ser vistos em www.poemavisual.com.br.

 

 

CH — Que trabalhos você vem desenvolvendo atualmente?

 

HP — Como professor, leio e estudo os autores cujas obras têm muita importância para a literatura que se forma neste início do século 21. Há excelentes nomes na poesia, poema, conto, romance e na crônica. Posso citar, ficando apenas em Minas Gerais, Luís Giffoni, Adolfo Maurício Pereira, Vera Casa Nova, Iacyr Anderson Freitas, P.J. Ribeiro, Romério Rômulo. Com relação a meu trabalho, dedico-me ao poema visual, procurando administrar meu acervo já publicado e selecionando poemas mais recentes para novo livro. Voltei-me à pesquisa histórica. Tenho oito livros sobre temas relacionados à história de Poços de Caldas. Agora pesquiso um tema mais abrangente: Os Movimentos Separatistas em Minas, livro que sairá daqui a dois anos.

 

 

 

[Publicada, originalmente, no caderno "Pensar" do jornal Estado de Minas, em 28 de julho de 2007]

 

 

 

 

 

 

 

setembro, 2007
 
 
 
 
 
Hugo Pontes (Três Corações-MG, 1945). Foi muito cedo para Conceição do Rio Verde, onde foi criado. Sua trajetória na vida literária inicia-se, no ano de 1963, em Oliveira, junto com Márcio Almeida, Waldemar de Oliveira e Márcio Vicente S. Santos no Grupo VIX de poesia de vanguarda.Desde o começo, revela-se um poeta preocupado com o espaço branco do papel, tanto que cria o primeiro poema (visual) símbolo do Grupo. No final dos anos 60, integra o movimento do Poema/Processo. A partir de 70, volta-se para o Poema Visual e desenvolve intenso trabalho, ntegrando o movimento visual brasileiro e a Arte Postal (Mail Art) no exterior. Reside, por opção, na cidade de Poços de Caldas. É Supervisor Pedagógico da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura de Poços de Caldas e professor na Unifenas — Universidade de Alfenas — Campus de Poços de Caldas. Casado, tem dois filhos. No Jornal da Cidade edita, há 15 anos, a página ComunicARTE, dedicada ao Poema Visual.
 
 
 
 
 

Carlos Herculano Lopes (Coluna-MG, 1956). Jornalista, vive em Belo Horizonte e trabalha no jornal Estado de Minas. Já publicou vários livros, participou de inúmeras antologias e recebeu alguns dos mais importantes prêmios da literatura brasileira, entre eles o Guimarães Rosa e o Lei Sarney, como autor revelação de 1987 (A dança dos cabelos. Romance. São Paulo: Record, 2001, 10ª edição), o Cidade de Belo Horizonte (Memórias da Sede. Contos. Belo Horizonte:  Editora Lemi, 1982), e o da Quinta Bienal Nestlé de 1990 (Sombras de julho, São Paulo: Editora Estação Liberdade, 1991; Atual/São Paulo: Editora Saraiva, 2003, 14ª edição).
 
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