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Elitismo & o pobre Salieri, ou Confutatis Maledictis

 

Elitista.

 

Ouvi essa palavra mesmo quando preparei e apresentei, há uns sete anos, um projeto de revisão curricular de literatura para o ensino básico e secundário, considerando a verdadeira desgraça que o ensino de literatura (o ensino, em geral) tem sido no país. Quem disse aquilo provavelmente não parou para pensar — o que teria sido muito aconselhável — que se o projeto se destina a TODAS as pessoas nas escolas, não pode ser elitista, e tem o propósito oposto, nomeadamente, o de transformar algo que caracterizava uma elite em coisa generalizada. Mas quem interpelou o meu programa elitista achava que já estava de bom tamanho se lessem um livro de Paulo Coelho. "Pelo menos vão ler alguma coisa", ele disse. Sei.

 

E depois sou eu o pessimista no que tange à proverbial estupidez humana.

 

A elite é isto: um pequeno grupo que recebe privilégios ou de quem emana algo raro. Quanto à primeira espécie, qualquer monóide com um mínimo de poder e boa-vontade resolve (embora eu careça de exemplos do caso), é uma diferença injusta e socialmente inventada; quanto à última, não há porque querer extirpá-la da experiência humana, como não há porque extirpar pessoas muito belas do convívio das outras nem tanto. Então, por que há, recentemente, essa hipersensibilidade quando se declina a palavra elite?

 

A resposta é a seguinte: de capitalistas a comunistas, ninguém discute que somos todos iguais perante a lei. Mas desse artigo jurídico que promove (ou deveria promover, e sabemos que não o faz) a igualdade de oportunidades, tirou-se uma lei mais tácita, genérica e conveniente que desconfia de qualquer coisa que não possa ser imediatamente compreendida e consumida por todos: deve ser algo nocivo, perverso, antidemocrático. Percebi mesmo que muitos leitores, em encontros literários, supõem que qualquer um pode ser escritor e que não existe e não deve existir, portanto, nenhuma maneira de se julgar arte.

 

Por cruel (ou elitista) que isso possa soar, existe. E aqueles capazes de produzir arte minimamente importante foram, são e serão bem poucos. É claro: olhando à volta há uma quantidade imensa de gente publicando livros, sendo recebida de braços abertos pela crítica e tagarelando a sério em encontros de literatura. Sempre foi assim, mas se você olha para três ou quatro décadas atrás, perceberá como são poucos os que ficam. Em um século, dois de distância, menos ainda.

 

Obras relevantes são muito poucas, e normalmente não são as que desfrutam de toda atenção quando lançadas. Por quê? Porque condensar a experiência de toda uma época em palavras inesquecíveis é um dos serviços mais difíceis que existem, e, por ser coisa difícil, é percebida com dificuldade também. É muito simples saber se se acordou de bom ou mau humor e arrancar uma tirada mais ou menos espirituosa disso; outra coisa é escrever Mensagem.

 

A faixa de pessoas capazes de reconhecer de imediato uma obra-prima é reduzidíssima (Mensagem ficou em segundo lugar num concurso, todos lembramos), e é menor ainda a quantidade capaz de gerá-la. É aquela pessoa de posse da técnica necessária — o cultivo da arte e a criação de novos modos —, da percepção pronta, e de um negócio indefinível, que catalisa a experiência. Ajuda também vir depois de um terreno lingüístico ter sido preparado por gerações para acomodar aquele novo turbilhão que moverá todas as partes flexíveis, e deslocará as inflexíveis. É a velha história de que conhecer o que vai numa sinfonia de Mozart não fará ninguém escrever uma sinfonia como Mozart. Não adianta saber apenas a lista de ingredientes.

 

É óbvio: isso gera uma ciumeira violenta. Poetas (ou artistas de qqer tipo) muito bons são hostilizados pelos outros, porque todos têm medo de seu poder ofuscante. Normalmente as pessoas, ou seus pares, confessam, pessoalmente a ele ou ela, que apreciam seu trabalho, por desencargo de consciência, mas ajudam como puderem a criar um volumoso silêncio público em relação a sua obra. Foi o que Milos Forman quis demonstrar com o seu Amadeus (1986), no multifacetado personagem de Salieri, justamente célebre na interpretação de F. Murray Abraham.

 

Ou seja: mesmo que concordemos sobre o tal elitismo, não é algo lá muito agradável se ver cercado de pessoas que usam no esquema privado a máscara cômica, e, em público, a máscara trágica. Ninguém deseja ser vítima de se tornar parte do elitismo gerado pela exclusão natural do meio autoprotetor dos normais, mas uma vez que aconteça, nada se pode fazer: o Mozart de Forman morrerá prematuramente, imbuído da própria música e da consciência de sua grandeza, e ignorante da malícia e mediocridade que se esforçavam por fazer ignorá-las sob a face amistosa e gentil da inveja.

 

 

Um modo de responder a "Como?"

oferecido a Cristiane Moreira

 

Uma vez você me perguntou como se escreve um poema, e fiquei de responder da melhor maneira que soubesse, para servir do modo mais profundo e agradável possível, como convém e é seu merecimento.

 

Não foi o descaso o que me impediu de escrever prontamente sobre o assunto, mas a dificuldade para explicar algo que alguém se esforçou para esquecer. "Para esquecer?", sim, para esquecer: o poeta é uma pessoa que entra pela porta da frente no mistério, tranca a porta e joga a chave fora.

 

De modo menos metafórico: digamos que a poesia, como coisa mais ou menos vaga e sutil, é uma potencialidade humana. Alguns treinam essa potencialidade com a leitura do quanto puderem de poemas, e com a curiosidade de tentar apreender o modo como se tornaram objetos de linguagem. Lêem em voz alta, repetem, imitam, traduzem, parodiam, dialogam com, e talvez percebam, em determinado ponto, que o que fazem se diferencia do que aprenderam, mais ou menos bem, daquele amor inicial.

 

Uma força de aglutinação passa, daí, a singularizar e sintetizar a percepção e os pensamentos nesse sentido, como um engenheiro olha para um edifício e tem imediatamente a intuição da distribuição de peso, da resistência dos materiais, etc. Para um poeta, a percepção articula uma dimensão mítica do pensamento, que condensa suas referências em forma, o que chamamos linguagem, e presumo que todas as artes se assemelhem nesse ponto.

 

A poesia, na maior parte das vezes, realiza essa síntese em palavras. Digo "a maior parte das vezes", porque existe a poesia visual, que é quando alguém trata objetos como figuras de linguagem. E escrever poesia é, como evidencia esse gênero, a poesia visual, tirar as coisas de seus lugares habituais, inconscientes, de uso, e trazê-las para um espaço consciente dentro de um organismo de linguagem, o chamado poema. As pessoas passam a vê-las como se nunca as tivessem visto antes, e a poesia gera esse encanto, esse impacto e esse estranhamento de vermos e ouvirmos (e mesmo pensarmos) as coisas como se pela primeira vez.

 

Escrevi "consciente" lá em cima, e estou consciente de que não revela toda a verdade. Isso tem a ver com o que disse no começo, sobre jogar a chave fora: em determinado ponto — ou quando o poeta é efetivamente aquilo que diz ser —, a linguagem se torna uma segunda natureza, e isso se dá após ter lido e praticado sua arte. E a segunda natureza significa o que disse do engenheiro e sua intuição num lance de olhos sobre uma estrutura. O poeta, por exemplo, ouve sons que imediatamente se conectam a determinada sensação, com uma memória específica, e o que aprendeu sobre o peso, a distribuição e mesmo a cor das palavras, se articula num novo objeto autônomo. Ou como um pintor ou um fotógrafo ainda podem perceber instintivamente como organizar sua matéria visual segundo a section d'or.

 

O trabalho consciente, no sentido que atribuímos a essa palavra (o de cuidado atento, objetivo em relação a qualquer finalidade), vem depois. Pode eliminar ou acentuar repetições, desenvolver imagens ou melodias, relacionar formas dispersas no primeiro jato de escrita, impor uma estrutura regular ao todo (caso já esteja esboçada originalmente) ou renunciar a ela, seguir o impulso de um ritmo, ou reinventar seu meio para reinventar a própria realidade, etc.; enfim, com o intento de servir, como puder, à construção daquele organismo de linguagem.

 

Se for um bom feiticeiro, como alguns são, resultará disso um organismo vivo, e da página surgirá um pássaro (ou qualquer outra coisa viva, incluindo a morte).

 

 

Mais poetas novos

 

Há coisa de dois anos escrevi aqui sobre meia-dúzia de novos poetas que seria inteligente, oportuno e justo considerar. Há mais outros três que gostaria de chamar a atenção para, neste Ano do Senhor de 2006. Tinha, em 2004, pudor de apresentar gente com pouco mais de 30 anos, mas, depois de ver o que as revistas consideram a nova poesia neste país, ou seja, poetas que escrevem há mais de 30 anos, relaxei.

 

Brincadeira: no final das contas, alguém precisa continuar utilizando as palavras com o sentido que têm.

 

Que dizer deles? São todos muito bons, por razões diferentes, e, jovens, estão escrevendo esses poemas admiráveis, espertos, maduros. O que distingue os novos poetas de quem vou falar brevemente, para deixar o curiosíssimo leitor com alguns poemas, é o fato de que seus versos são versos de inteligência, auto-irônicos, muito bem escritos e aparentando uma facilidade de escrita que é índice apreciável de maestria.

 

Acho que, de certa forma, correspondem àquela esperança que eu tinha, de fundo, de que as mais novas gerações se beneficiassem com um distanciamento razoável das encrencas dos últimos 30 anos e pudessem aproveitar o terreno bem revolvido para encontrar respostas mais seguras de forma, e propor novamente uma poesia versátil e estimulante de se ler.

 

Estamos trabalhando para isso acontecer. O que estou dizendo? Pelas barbas do profeta, como se pode sofrer a influência maligna do período de eleições.


Angélica Freitas

 

Embora seu blog a tenha tornado notória no meio, é ainda inédita em livro, mas parece que por bem pouco tempo — o que significa (hosana nas alturas) que o meio editorial ainda não está totalmente anestesiado.

 

Angélica Freitas tem uma poesia cheia de hábil ironia, às vezes de linguagem que incorpora humoristicamente o clichê, lembrando o estilo de Laforgue contra o típico poema sentimental, como lemos em "a insone senhorita eneida" (que se apropria da estrutura do soneto)

 

cai a noite e eu me deprimo
pois fico aqui a pensar
naquele endinheirado primo
com quem não quis me casar

cai a noite e eu me deprimo
a cidade não quer conversar
o telefone não toca estridente
schlaf gut! azar

o meu que tenho insônia
que tenho medo de levantar
e ir ao banheiro - que vergonha!

só retorço na cama, em agonia
e quando enfim raiar o dia
talvez eu possa babar na fronha.

 

e tem também um registro suavemente melancólico em outros poemas, além de um caráter episódico de conversa casual que se inicia e se interrompe, ou imitando os movimentos do pensamento solitário, o que por vezes a aproxima dos melhores poemas de Ana Cristina César, e que começa portanto a estabelecer relação frutífera com o melhor de uma geração recente de poetas.

 

Trocadilhos com outras línguas, referências pop, gírias aproveitadas sem frescura podem ser lidos nessa poesia ímpar, e sem nenhum receio de divertir, também (lembrar do velho e bom ut delectet), como em

 

o que passou pela cabeça do violinista

em que a morte acentuou a palidez ao

despenhar-se com sua cabeleira negra &

seu stradivárius no grande desastre

aéreo de ontem

 

mi

eu penso em béla bartók

eu penso em rita lee

eu penso no stradivárius

e nos vários empregos

que tive

pra chegar aqui

e agora a turbina falha

e agora a cabine se parte em duas

e agora as tralhas todas caem dos compartimentos

e eu despenco junto

lindo e pálido minha cabeleira negra

meu violino contra o peito

o sujeito ali da frente reza

eu só penso

mi

eu penso em stravinski

e nas barbas do klaus kinski

e no nariz do karabtchevsky

e num poema do joseph brodsky

que uma vez eu li

senhoras intactas, afrouxem os cintos

que o chão é lindo

& já vem vindo

one

two

three

 

Talvez nos poemas que escolhi para esta página não fique tão claro (embora eu ache que sim, principalmente na engraçadíssima última seqüência de terminações "ski"), mas numa leitura dela que ouvi na Casa das Rosas se percebia nitidamente seu uso extraordinário da rima, que nunca ou quase nunca é o que esperamos.

 

Ricardo Domeneck

 

Aqui na Germina ele já apareceu, meses atrás, com entrevista, um texto sobre a literatura contemporânea, poemas escolhidos. Brasileiro que mora em Berlim, publicou um livro de poemas (Carta aos Anfíbios, Rio de Janeiro, Bem-Te-Vi, 2005) e tem outro em preparo (A Cadela sem Logos). Tradutor, DJ, etc.

 

A poesia de Domeneck tem pontos em contato com a de Angélica Freitas, no domínio de um jargão pop, do estilo conversacional como uma espécie de monólogo interior. Também irônico, e de uma ironia veloz, fragmentária como seus poemas inteligentes (ou mesmo intelectuais), pode-se perceber que é cuidadoso com o uso técnico de ecos, com o aspecto atômico da língua, que faz ressoar "auto-devastar-se" em "art we master", ou espalha os estilhaços de amar nos versos lingüisticamente astutos: "ah! amar é/ inter-/ ferir,/ salvar/ se de si", em um poema entre os meus prediletos:

 

Que bom para você. Que bom para ele. Quem bom para todo mundo.

 

A-

pós

a noite

em claro com

Antonioni / Plath / Radiohead

você pergunta-me

pela vida humorosa?

(cf. O. de A.)

auto-devastar-se

a única

art we master,

só nos entendendo

via subtração,

nossos encontros

fantásticos!, cavalheiros,

como anseio

por ele

que piora tudo;

horas

para arrumar-se

e no fim

este trapo?

ornam,

combinam,

caem

tão bem;

aguardo o dia

em que tudo

o que disser-me

o ventríloquo

seja a citação

de alguém algures,

como desaparecer

completamente;

nosso amor durou

quinze hematomas e

a incubação

da escabiose,

minha herança!;

quando acordei,

cada coisa em seu

lugar onde

eu, eu, eu

deixara;

ah! amar é

ah! amar é

inter-

ferir,

salvar

se de si

 

com uma piscadela para Dom Casmurro em "nosso amor durou, etc.", o amor-humor do Oswald diante da desesperança de Antonioni, Plath e do Radiohead; e há também uma verve crítica vazada nos próprios poemas com notável domínio, impedindo que se amplie demais e se autonomize, ou que perca o interesse propriamente poético (perceber também o trabalho sintático que acomoda as intervenções de matéria diversa num desenho contínuo pelos versos). Vejamos:

 

Proposições contra a música-ambiente

 

Narinas abertas ao

cheiro do

ambiente, mas

eu não me esqueci

da busca do suficiente;

Christopher Hahn

em minha cama com dois

pés. 19 de fevereiro

de 2005. Veja

bem, de certa

forma, Bonnie & Clyde,

mas não

Lampião & Maria Bonita.

Proximidade, distância,

questão de desejo.

Exponha o imposto.

Relação de pessoa e núcleo, pessoa

e fonte.

A

propósito

é

ex-

tensão.

Perdeu-se. Mas se necessário,

retornar ao início e não

à última

conexão, ela soube que

jamais atingiria o mesmo

de novo. Entre. Nunca

o mesmo

duas vezes.

Condição e conjuntura.

Alhures, nowhere & ici.

Quando

entoou a voz para

o vocativo, interrompeu-se

logo

após o oh!

à procura de um

nome,

o próprio ou algo

em comum

com outro. Aqui

onde?

Expressar o que à

interpretação do

outro, que sou

eu, e todos

em comum.

 

Para encerrar, pode parecer mero detalhe, mas o leitor e a leitora devem ter notado os títulos peculiares de seus poemas. E isso não é mero detalhe porque títulos, para alguns poetas, são um problema maior do que o poema em si, ou se tornam de uma banalidade imbecil. Não para Domeneck, é evidente: ele encara os problemas atuais de linguagem poética e se sai com uma resposta complexa e pessoal. Incluindo os títulos.

 

Ana Rüsche

 

Publicou recentemente o livro Rasgada (Quinze & Trinta Edições, 2005), coordena o projeto Identidade e a FLAP anual. Tem uma poesia variada formalmente, léxico flexível e específico usado com categoria. Rasgada é um desses livros de estréia que o crítico com algum bom-senso entende ser incomum.

 

Delicadeza

 

meus desejos,

que me imobilizasse

com fitas brancas de cetim

para que elas me deixassem

talhos e cortes na carne.

mas ele me amarrava

com cordas grossas e ásperas

e me largava com nós frouxos.

 

meus desejos,

que me espancasse

com uma vareta de marfim

e quebrasse todas as minhas costelas,

não eram dele mesmo?

mas ele me macerava,

no chicote macio de couro

que me marcava com lanhos engraçados.

 

meus desejos,

que me esquartejasse

com quatro alvos corcéis

e me desfizesse em pedaços.

mas ele me penetrava,

me xingava,

fazíamos amor e

suspirando, dormíamos sem sonhos.

 

O título opera uma parte nada trivial da leitura, assim como o delicado modo de compor as estrofes, a calma superciliosa em ajuntar situações sem pressa, em adjetivar com propriedade e detalhar materiais. Um poema que exige que se saiba ler poesia.

 

Talvez por isso Ana Rüsche seja uma das raras poetas que sabem escrever um epigrama perfeito, conciso e contundente. Vamos ler dois:

 

entorpecentes

 

dos vagabundos aos homens de terno

todos agarram

essa solidão macia na rota de suas quedas.

 

rotina

 

o tempo

num envelope grande, pardo, lacrado.

 

assim como também demonstra fôlego para poemas mais longos, sem afrouxar os versos

 

Lugar Comum 10: Salomé

 

E ela dança.

 

Seus guizos ainda molhados,

olhos de cocaína e peito

arfando. E ela brada:

—Tragam-me a cabeça de João Baptista!

 

Trouxeram-lhe na bandeja de prata, os cabelos de mendigo escorriam na palidez arroxeada dos anjos decepados.

 

Anticlímax e luzes brancas no palco. Algum expectador tossiu, sacos de pipoca.

E por não haver palavras suficientes, inventou-se o beijo:

 

Cravo com ódio os lábios naquela boca de impropérios.

 

E ela suga — os lábios duros com o resto da última saliva,

a língua do morto solta como pedra forrada de veludo.

Ela acaba e olha ao redor.

 

Salomé em luz, com o vestido branco pela lua falsa, com a cabeça horrenda a escorrer pela mão.

E por não haver palavras suficientes, os aplausos vieram:

 

No início o balir como rebanho lerdo, depois exultantes, o exército de mãos brancas, ante a plasticidade romântica da cena.

 

E ela dança.

 

Quando ninguém mais esperaria ler algo novo sobre o lugar-comum de Salomé e o simpático Iokanaan, ou nada que interessasse à nossa vida urbana e aborrecida. Poderia comentar uma porção de coisas, mas fico com o achado do "expectador", que expectora (lt., "põe pra fora do peito") sua tosse naquela cena romântica, junto do saco de pipocas.

 

 

 

 

novembro/dezembro, 2006