Eu tô voltando

 

Eu tô voltando

pro mato, cerrado

para casa

 

Eu tô cansado

da cidade, cercado

de nada

 

Sim tô voltando

ou aqui no nada

me mato

 

 

 

 

 

Olho fechado

 

No percurso

Ando de olho fechado

Pedra no caminho

Não é meu pecado

 

Há pedras

Por todo lado

Quando tropeço

Não é meu pecado

 

Se tenho errado

É por crer no destino

Ando de olho fechado

Em desatino

 

 

 

 

 

Último brado do guerreiro

 

Estou velho e acabado

a próstata implodiu

o cu caiu

e o pau faliu

 

Corpo inútil e quebrado

sobra a memória

a história

Que merda inglória!

 

Da Força fui guerreiro

se hoje ando rasteiro

suplico

um combate derradeiro

 

Não quero ser arrastado

pro banheiro

 

 

 

 

 

Céu azul

 

A abóbada do

Céu azul e sol

De amarelo

Me liga

 

Um bobo dado

Ao céu e sol

Sem amargura

Pois amar cura

Todas as sombras

Que sofremos

Debaixo deste

Céu azul

E sol

 

 

 

 

 

Dois dias depois

 

Coração de cobra

Olho de felino

Pele de elefante

 

Em duas rodas estou

 

A destreza do falcão

A beleza do faisão

A firmeza do leão

 

Duas rodas sobre o asfalto

 

O torque do motor

A liberdade

O vento no rosto

 

Duas rodas sobre o chão

 

Vou de moto onde vou

Vou onde a moto me levou

Vou leve de mim

 

 

 

 

 

Ataque do coração

 

Queria um ataque do coração

Súbito, inesperado, fulminante

Acabar nesse instante

Minha vida de ilusão

 

Há tanta desilusão

Uma desesperança insistente

A morte iminente

Me parece a solução

 

Ou um ataque de coração

Amável, suave e de alegria

Me melhorasse o dia

 

Aumentasse a disposição

De toda essa picardia

Resta-me a taquicardia

 

 

 

 

 

Pedrada na testa

 

Simples e direta

A poesia me infesta

Uma pedrada na testa

 

Se for lindinha

não presta

Recolho-me à sesta

 

Porém, mordaz

Faço a festa

Leio, voraz

E inda peço: empresta?

 

 

 

 

 

Alma nobre

 

Para os poetas Marcos Caldas

e Willian Butler Yeats

 

Trabalhou a vida inteira

e continua tão pobre como

no dia inicial da labuta?

 

Desapoquenta e senta

aqui do meu lado

e escuta:

 

Impossível competir

sequer insistir

neste mundo filho da puta

 

Preocupar-se é besteira

se lhe resta alma tão nobre como

aquela que enfrenta a luta

 

 

 

 

 

Soldado

 

Um sujeito amestrado

e armado

Forte

Defensor de um só lado

Quase sempre

o errado

O que desconhece

é eliminado

 

De pensamento

limitado

Incapaz de evoluir

soldado

É só um coitado

fraco

Sempre o primeiro

sacrificado

 

 

 

 

 

Crítica Literária

 

Para o poeta André Espínola

 

Nunca confunda

o autor

com a criatura

 

dispa-se amargura

toda dor

de ser criticado

 

veja bem ou errado

o sabor

é igual bunda

 

 

 

 

 
 

Esperança de mim

 

Não tenha esperança

essa espera

que cansa

Aliada da saudade

que salga

o sonho doce

de viver

 

Impera a ânsia

galga, em verdade

alcançar

quem eu fosse

 

Mas

essa esperança

é uma foice.

 

 

 

 

 

Súcubo

 

Sucumbo ao súcubo

ensandecido

em sua sanha

Sanguinolenta

 

Que quer de mim, sacripanta?

 

Sacudo-me da sova

e sigo minha sina

suspeitando

estou sendo seguido

 
 
(imagens©tomas ochoa)
 

 

 

Mão Branca é o pseudônimo de um escritor que vive em Brasília, tem mais de 30 anos, conhece profundamente a perversidade humana e tenta de todas as maneiras ver-se livre das amarras da própria limitação. Gosta de Charles Bukowski e de Wander Wildner. Vive tomando umas nos bares da cidade, mas está sempre à paisana. Gosta de coisas simples, mas limpinhas. Detesta politicagem e vive mandando tudo à merda. Gosta de futebol, mulheres, roquenrou e cerveja. Acha a cachaça a bebida dos deuses. Visite o Mão Branca.