Metamorfose

 

 

Canto a natureza em sua plenitude
como se eu visse e jurasse
todas as cores do horizonte
a cada novo crepúsculo.

 

Como se a vida adormecida,
acordasse na poesia
refletida nas águas límpidas
de um lago.

 

Com a caneta nas mãos
o que calo na alma se dispersa...
Mesmo que cotidianamente
não existam frondosas palmeiras
hospedando sabiás...

 

E, tudo o que sou
                      são asas...
campo de magnólias
                       e trigais...

 

 

 

 

 

 

 

Nau

 

 

Todo dia
        navego em mim,
                            depois apago a luz.

 

 

 

 

 

 

 

Natureza Íntima

 

 

Sou pedra plantada.
Quando pedra, sou dura,
implacável com as palavras.

 

Sou água a correr.
Quando água, sou como um riacho sereno
a deslizar em silêncio.

 

Sou vulcão em constante erupção.
Quando vulcão, sou imaginação.
Trago na pele, no rosto e,
na alma a cor da paixão.

 

Sou cigana livre de preconceitos.
Sou nômade, vivo as margens dos rios
minh' alma tem asas brancas e vermelhas,
p'ros vôos desta vida incerta.

 

Tenho os olhos tristes e a voz embargada,
em simultâneo a alegria duma criança.
No peito trago contudo, a inabalável certeza
de amar-te eternamente.

 

 

 

 

 

 

Envelhecência

 

 

Às vezes sinto vontade
de vestir-me de ontem,
jeans surrado,
regata colada ao corpo

 

E perambular pelo amanhã
como se não houvesse senões.

 

 

 

 

 

Defeito pontual

 

Na desordem da anima
                           vendavais
talvez
conjecturas
talvez
posturas
         desiguais

 


Amiúde
são
   plausuras
           texturais
no hímen descolado
           vazão hormonal

 


Ordem esculpida
            no aconchego
das palavras
             rabiscadas
por salientes
             pardais

 

ra
  zão
      simbiose
                infrene
                        e
                        mo
                 ção

 

 

 

 

 

 

Visão

 

 

Haverá um tempo em que a emetropia
do teu corpo no meu, sem preconceitos
irá desmascarar os segredos contidos
                                      na tirania das palavras...

 

 

 

 

 

 

Pano de fundo

 

 

Às abandonadas aventuras
um copo de sonhos
entornado sobre a mesa

 

 

 

 

 

 

Reforma

 

 

Vou lançar mão da pá de cal
misturar água à argamassa
e moldar meu coração.
       re (de)senha-lo
                   re-habitá-lo...

 

Depois de cuidadosamente torneado
pintado de branco e enfeitado com debruns
em tons azuis, a ultima demão será
                                              de fina cera...

 

Reformado nunca mais sentirá pontadas
tampouco pelo pulmão será esfaqueado.
Seus batimentos nunca mais terão o som
                                               de uma cuíca...

 

 

 

 

 

 

Espiral de fumaça

 

 

Traço,
traçados sem nexo
(reflexos de meus espaços),
na intensidade de fumaça
que esvoeja no tempo
inexato de minha percepção.

 

Incito,
em brado mudo
(de onde nascem os sonhos,
florescem as fantasias!),
desaquietando espectros
passageiros de momentos
irreversíveis.

 

Por rebeldia,
em esboços abusados
extrapasso a inércia
dos sentidos.
Esculpindo-me ao lume
de mim mesma.

 

Finalmente,
repouso na Poesia.

 

 

 

 

 
 

 

Matizes



Cabelos soltos corpo esguio
Um olhar perdido no horizonte
O coração pedindo passagem
                      numa noite de luar.


O vermelho abrindo-se em flor
verdejando o amanhã em carícias
de matizes amarelas, brancas
                                       e azuis.


São pássaros...
Ou seria a minh' Alma
em sintonia com a sua...?

 

 

 

 

 

 

Efeito Cênico

 

 

No ensaio da vida,
frágeis papéis encapelados
decoram cenas de glamour a medo.

 

Impotente,
na inversão térmica do silêncio
sucumbe um grito de socorro,
preso à garganta

 

Renhido dilema
entre impressões digitais
e o orvalho.

 

 

 

 

 

 

Amanheceu

 


Tingido
         de
           cin
              za
       amanheceu o dia
Sente-se no ar cheiro
              de
                me
                   lan
                     co
                        lia
       nos olhos garoa fina

 

 

(imagens©matisse)
 
 

 

 

Andréa Motta (São Paulo-SP). Poeta, formada em Direito pela Universidade Federal do Paraná com pós-graduações em Direito do Estado e Direito do Trabalho. Vive em Curitiba-PR. Estreou em livros com as publicações digitais Fonte de meus silêncios mais profundos, Natureza íntima e Águas do inconsciente. Participou de várias antologias, entre elas, Antologia internacional terra latina (Projeto Cultural Abrali, 2005), uniVERSOS (Escritores e Poetas, 2005), Pó&teias (de poemas, crônicas e contos, 2006). É colunista do Opinião e Informação e edita o blogue Jardim de Poesia.