Armando Freitas Filho (Armando Martins de Freitas Filho), nasceu no Rio, em 1940. Foi pesquisador na Fundação Casa de Rui Barbosa, secretário da Câmara de Artes no Conselho Federal de Cultura, assessor do Instituto Nacional do Livro, no Rio de Janeiro, pesquisador na Fundação Biblioteca Nacional, assessor no gabinete da presidência da Funarte, onde se aposentou.

Sua obra literária tem merecido a atenção da crítica especializada destacando-se entre outros, os artigos, resenhas e prefácios de: José Guilherme Merquior, Heloísa Buarque de Hollanda, Luiz Costa Lima, Silviano Santiago, Ana Cristina César, Flora Süssekind, José Miguel Wisnik, Sebastião Uchoa Leite, Carlito Azevedo, Sérgio Alcides e Ronald Polito. Poeta édito há 39 anos, publicou os seguintes livros: Palavra, 1963; Dual, 1966; Marca registrada, 1970; De corpo presente, 1975; À mão livre, 1979; Longa vida, 1982; 3x4, 1985; De cor, 1988; Cabeça de homem, 1991; Números anônimos, 1994; Duplo cego, 1997 e Fio terra, 2000. Em 2001 lançou Três tigres, com arte-final de Vladimir Freire e Sol e carroceria, com serigrafias de Anna Letycia. Em 2003 a Nova Fronteira publicou Máquina de escrever — poesia reunida e revista (1963–2003), onde comemora 40 anos de carreira. Recebeu, em 1986, com o livro 3x4, o prêmio Jabuti e em 2000, com o livro Fio terra, o prêmio Alphonsus de Guimaraens, concedido pela Biblioteca Nacional. Em 2001 ganhou a Bolsa Vitae de Artes.
Participou de diversas antologias estrangeiras: tem poemas traduzidos para o francês por Serge Bourjea (Anthologie de la nouvelle poésie brésilienne, Ed. L'Hartmattan, Paris, 1988); para o alemão por Ingrid Schwamborn (Brasilien land der extreme, Ed. Haremberg, Dortmund, 1990); para o inglês por David Treece e Mike Gonzalez (The gathering of voices — The twentieth-century poetry of Latin America, Ed. Verso, London/New York, 1992); por Fritz Frosch (Manuskripte, Forum Stadtpark A8010, Viena, 1993); por David Treece (Modern poetry in translation, New series/nº6/Winter 1994-95 Special feature: Modern poetry from Brazil, King's College London, University of London, 1994); para o chinês por Zhao Deming (Antologia da poesia brasileira, Ed. Embaixada do Brasil em Pequim, Departamento Nacional do Livro, Fundação Biblioteca Nacional, 1994); para o italiano por Giampaolo Tonini, sob a curadoria de Sílvio Castro (Poeti brasiliani contemporanei, Ed Centro Internazionale della Grafica di Venezia, 1997); para o espanhol sob a coordenação de Consuelo Triviño (Norte y sur de la Poesía Iberoamericana, Editorial Verbum, Madri, 1997); em Vozes poéticas da lusofonia, organizada pelo Instituto Camões, sob a coordenação de Alice Brás e Armandina Maia (Ed. Câmara Municipal de Sintra, 1999); para o inglês por David Treece (Journal of Latin American Cultural Studies, vol.9, number 1, march, 2000); para o alemão por Ellen Spielmann (Reisende diebe, Brasilianische Gedichte 1970-1990, P. Kirchheim Verlag, 2001); para o espanhol por Adolfo Montejo (Correspondencia Celeste — nueva poesia brasileña(1960-2000), Ediciones Ardora, 2001); para o espanhol por Aníbal Cristobo (Puentes/Pontes — Poesia brasileira e argentina contemporânea, Fondo de Cultura Económica de Argentina SA, Buenos Aires, 2003).

Em dezembro de 1995, Cabeça de homem foi publicado, em edição bilingüe, pela Ed. Hiperión, de Madri, com introdução e tradução para o espanhol de Adolfo Montejo Navas. Em 2001, foi lançado, pelo Instituto Moreira Salles, um CD, com uma antologia de poemas, na voz do autor. Fio terra foi lançado, em fevereiro de 2002, em edição bilíngüe, também com tradução de Adolfo Montejo Navas, pela DVD ediciones, de Barcelona. Duplo cego, foi lançado em novembro de 2002, em edição bilíngüe, em catalão, com tradução de Josep Domènech Ponsatí, pela Llibres del Segle, Catalunha. Este ano sai em Portugal, Uma antologia — 84 poemas escolhidos pelo autor, pela Editora Quasi, e Numeral/Nominal, em catalão, edição bilíngüe, traduzido por Josep Domènech Ponsatí e Ronald Polito, pela editora 1984 edicions.

Mais informações, no site da Biblioteca Virtual de Literatura, disponibilizada pela UFRJ.






© edward weston
SOBRE UMA FOTO DE EDWARD WESTON

Nua, anônima, 1923. Vinte anos presumíveis
branca, em decúbito dorsal, com o tronco
arqueado (talvez pela respiração presa
no instante único da foto, ou melhor:
foi a foto que a sustou, a suspendeu
para sempre), e mais o cheiro, parado
do grosso cabelo preto do púbis
do pouco que aparece nas axilas não raspadas
que saboreio, degusto, engulo em seco
sinto o gosto, agora, porque a pele
do corpo é de hoje, setenta e oito anos depois
e brilha, lisa, morena de sol, sem nenhum sinal
de vida, porém. Teus olhos fechados te encerram.

MONROE

Marilyn, de memória, 1949
clicada pela mão de Tom Kelley
em local desconhecido, sem nada
“exceto o rádio ligado”, sem nem
o futuro véu de chanel nº 5, nua
absoluta, sobre veludo vermelho molhado:
mancha de leite elástica, corpo veloz
em ascensão, muito antes de depois
da queda, boca aberta, chama
despenteada, extática no vento da música
com os cabelo
s, entre o louro e o cobre.

SOBRE UMA FOTO DE ANA C.

.......................................................para Helô

O verbo colear cabe aqui, justo
em todas as suas flexões, e cola
exato, no músculo puro e nu
que se movimenta assim, escaldante
na velocidade de cobra ou de mercúrio:
de zero a cem, cobre o espaço do corpo
sem sentir a força da aceleração
nem a volta, serpentina, à inércia
do anel inicial. Nos dois estágios
cai como uma luva, veste-se somente
de si, com sua pele mais fina e final.

FOTOGRAFIA

Não amava o amor. Nem as suas provas.
Amava sua engrenagem. A urdidura
do palco, o holofote cego
com a possibilidade da luz.
A cortina caindo em pano rápido
na boca de cena, sob o coração imaginário
artificial e monitorado, diverso
daquele que batia dentro de si:
sem controle — na bela e na fera.

ATRÁS DA MÁQUINA

.....................................................para Andréa Garcia e José Góes

Delineador de luz, de luar
feito à mão, fora da série
atmosférica e do registro do mar.
Dentro do escuro seco do estúdio.

Fotografar é ver de novo, envernizado.
É dar linha ao corpo para que ele voe
saia, desde o novelo, com todo o élan.

Para que ele se revele e entre
entre o preto e o branco, em foco:
flou, firme, na superfície, em face
do espaço, e se configure até o fim.

 


Poemas do livro Numeral / Nominal que abre Máquina de escrever — poesia reunida e revista, publicado pela Nova Fronteira em 2003.