©guido iafigliola
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

                     

 

Leitor(a), por favor, leia as "chamadas" a seguir publicadas nas redes sociais: "Duda Nagle posta foto com a filha e Sabrina Sato se declara. Isabelle Drummond conta com quem foi o 1º beijo. Bruna Lizmeyer fala sobre casamento com namorada. Fátima Bernardes enfrenta medo e aprende a nadar. Michele Obama arrasa com bota ousada. Casamento real: veja as melhores fotos. Os presentes de Natal para a garota de cada signo. Ana Maria Braga comete gafe e Louro José a corrige. 15 segredos que poucos sabem de Fred Mercury. Irmã de Kardashian está entre famosos mais ricos do ano. Saiba o significado do novo anel de Meghan Markle. Veja looks de Gisele, Marina Ruy e famosos em festa. Nasce a neta do narrador esportivo Galvão Bueno. Filho revela fim do romance entre Faustão e Selena. Neymar e Gio Lancelloti curtirão réveillon na Bahia. Larissa Manoela é proibida pela Netflix de ir à Globo...".

Agora, com toda sinceridade, responda: o que fizeram essas pessoas para melhorar a qualidade de vida do Brasil? Elas só comprovam a babaquice da famosidade ocupar o espaço de reflexão nas redes sociais, onde as cidadãs e cidadãos comuns não passam de imbecis adoradores de gente com poder econômico e influência na mídia. Pondo o dedo na ferida, convenhamos: internautas são pessoas que sofrem influência da internet e, por isso, justificam a amplitude do complexo de vira-lata latente no país. E olha que a babaquice envolve doutores, acadêmicos, líderes comunitários, profissionais liberais, inteligentinhos basbaques, além da patuleia metida a besta que acha o máximo invejar o sucesso alheio, em vez de correr atrás e se impor com méritos próprios. Expressão criada por Nelson Rodrigues em 1950, o sentimento de vira-lata impede a capacidade de resolver problemas, superar barreiras psicológicas, sobretudo as de complexo de inferioridade; de enxergar além da ordem do existente. O bombardeio de conhecimento inútil provocado pelas redes sociais também impede o lado criativo de funcionar livre da (o) pressão da mídia sob impacto do marketing de relacionamento e o impacto mercadológico invasivo desde o uso renitente do celular. Em vista dessa realidade irrefutável, predomina então o que Leonard Mlodinow chama de "cognição dogmática" — uma tendência de processar informações de maneira que reforça a opinião prévia ou a expectativa do indivíduo. E, assim sendo, analisa o professor da USP Elias Saliba, mantém-se a "mentalidade de principiante, ou seja, a capacidade de a pessoa reconhecer situações rotineiras como se fossem inéditas, sem suposições automáticas baseadas em experiências passadas". Prova cabal do complexo de vira-lata está num fato universal para o qual o país nunca teve reconhecimento: o Brasil nunca arrebatou um prêmio Nobel. Na única vez em que houve indicação à Academia da Suécia, em 1921, os colegas de Carlos Chagas fizeram tamanha campanha de descrédito, movida por seus pares em razão de inveja e ciúme de sua genialidade. O complexo de vira-lata recai também no estágio de knowledge worker preconizado na década de 1950 por Peter Drucker no qual o trabalhador domina o conhecimento e se torna menos suscetível aos efeitos devastadores do desemprego, contenta-se com pouco e sente-se satisfeito quando recebe atenção de autoridades. Daí resultam, na análise de Humberto Mariotti, o "complexo de inferioridade" reforçado na atualidade pela impotência ante sucessivos escândalos de corrupção; um nacionalismo cultural que inclui aversão à leitura, ao refletir e discutir ideias com outros. A concepção da formação de um povo brasileiro passa pelo sincretismo antropológico e sociológico desde quando, em 1845, o conde Arthur de Gobineau chamou os cariocas de "verdadeiros macacos". Depois passa pelo sentenciamento subalterno de Nina Rodrigues, Oliveira Viana e Monteiro Lobato. Esse último chegou a publicar que o brasileiro "é um tipo imprestável incapaz de continuar a se desenvolver sem contar com o concurso vivificador do sangue de alguma raça original. Outra referência alusiva ao complexo de vira-lata se refere ao "entreguismo", alusivo à prática político-ideológica de os governos brasileiros entregarem recursos naturais para exploração de empresas de capital internacional, de onde vem a desnacionalização dos setores que mantêm a sabedoria do país. O vira-latismo piora quando faltam autoestima, sentimento cívico, diálogo do poder com o povo. O complexo é tamanho que o historiador Capistrano de Abreu propôs em sua época um único artigo na Constituição Federal: "todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara". Já Eduardo Gianetti, em seu livro O elogio do vira-lata, defende que o brasileiro tem "o dom da vida como celebração imotivada, o doce sentimento da existencialidade de que fala Rousseau". Em síntese: as redes sociais são um canil eletrônico e somos todos vira-latas à procura de nossa consciência. Ou do próprio rabo.

 

 

 

 

Perfumes, odores, aromas, emanações, eflúvios, bálsamos, essências, pomânderes, fragâncias — tudo se resume numa palavra cheia de fetiche: cheiros. Como os diamantes, eles são eternos e caracterizam a identidade do nariz, justificam o sentido do olfato, contam histórias da vida, fazem com que experiências sejam perenes. Os cheiros estão presentes em tudo e o tempo todo no ciclo evolutivo das civilizações como uma marca indelével no sentir. Eles produzem expressões idiomáticas como "bafo da onça", "mau hálito", "não fede nem cheira", "tomar banho de perfume", "cheiro de gambá", "cheiro de chulé", "cheiro de corpo". Há um cheiro que sempre se declara culpado e nunca se sabe quem é o seu autor: o pum. A expressão "marca-barbante" caiu em desuso, mas por séculos significou perfume ou cerveja vendidos com rolhas de cortiça amarradas com barbantes para evitar o impulso da fermentação. "Cheiro de palavras" é designativo de oficina literária de criação com Michel Yakini sobre a imaginação, criatividade e memória das mitologias africanas e sua influência cultural e linguística no Brasil. "Cheirar a bispo" quer dizer comida esturricada.

O olfato humano pode distinguir até 10 mil cheiros diferentes, enquanto o paladar, um dos mais desenvolvidos sentidos, pode avaliar somente 5 gostos. A aromacologia, ramo que estuda as reações do cérebro decorrentes do sistema olfativo, diz que o nariz é uma pequena máquina do tempo, que permite aos humanos, além de recordar fatos do passado, transportar-se de volta a situações marcantes provocadas por cheiros. Segundo a engenheira química Sonia Corazza, um cheiro nunca é esquecido. Para a especialista, o sentido do cheiro influencia de maneira intensa o comportamento humano e provoca reações psicofisiológicas inconscientes de calma, agressividade, saudade, medo, estímulo sexual, entre tantas outras. Para Sonia Corrêa, a memória olfativa é uma das mais duradouras e justifica: "O bulbo olfativo, responsável por processar os aromas, está em uma região do cérebro mais próxima do local onde são acionadas as memórias e emoções". Alguns cheiros são os mais preferidos dos povos: o de terra molhada, sobretudo depois daquela chuvinha no final da tarde; o de café torrado, que é como um petisco diáfano, o de alho e cebola fritos, que dão sabores especiais à culinária; o de livro, cujo papel gera verdadeiro fetiche em leitores compulsivos; o cheiro de nenê, característico por lembrar o que é fofo, terno, puro, envolvente em carinho e necessidade de proteção; o de pão quentinho, aquele que quando chega derrete manteiga, além do cheiro de chocolate, paixão mundial, alimento sobre o qual alguns dizem que é melhor que sexo. Dia desse o arquiteto e flautista Allison Silveira e minha ultrassensível leitora Juliana Andrade me disseram haver também o cheiro de avô. Cheiro de vovô lembra experiência de vida, muitos desafios enfrentados com suor, sabedoria e paciência. É o cheiro de quem fez resistência e superou todas as adversidades, todos os ossos do ofício. Vô tem cheiro de luta, de exemplo, do pólen de todas as primaveras, do sêmen de todas as esperanças. Vovô tem o cheiro fértil da eternidade.

A diva do cinema Marilyn Monroe, que foi amante do ex-presidente John Kennedy, dizia que dormia vestida apenas com 5 gotinhas do perfume Chanel nº 5, lançado em 1921 e até hoje um dos mais vendidos no mundo. Na década de 1970, surgiu nos cassinos de Las Vegas a técnica do marketing olfativo, recurso utilizado para manter os apostadores mais tempo nas mesas dos jogos. No Brasil, essa técnica começou a ser usada na década de 1990 como estratégia para atrair consumidores aos segmentos de cama, mesa e banho de shopping centers e lojas de roupas íntimas. O pior cheiro do mundo, na opinião dos cientistas, é uma mistura malcheirosa de cadaverina, substância responsável pelo odor dos cadáveres em decomposição, além do ácido butírico, encontrado em vômitos.

 

 

 

[o jaguardate]

 

"Escrever o animal é desenhar os limites de sua natureza, inscrevê-lo em algum lugar, riscar a linha que vai nos separar dele, permitindo, assim, que saibamos o que é ser humano" leva a inteligir que por essa leitura 'o mundo como não pensamos é território de surpresa e sonho, portanto facilmente penetrável pela fantasia, aberto ao onírico que ousa dizer o nome'". Maria Esther Maciel, O animal escrito

 

"As novas gerações de escritores deverão retomar, cada qual na medida do seu talento, a inventiva tarefa que começou com Esopo, ou mesmo antes dele, de reunir os animais que pela Terra andam e hão de andar perenemente". Augusto Monterroso

 

Palavras estranhíssimas foram caindo nas ruas, dentro das pessoas, vindas de lugar nenhum. Eram palavras-raízes. Poderiam vir de Zelem, Maggid, Poiel, Seraqaet, Merkabah, Huwawa, Xamã, Hariel, Antropos, Shekinah. Seriam algumas "bestas agrestes sobre a esteira sarcófaga das pestes/magnetismo misterioso/quimiotaxia, ondulação aérea/fonte de repulsões e de prazeres, sonoridade potencial dos seres/estrangulada dentro da matéria", como escreve Augusto dos Anjos? Outras voavam ríspidas, riscando o ar de veneno. Impossível dizer sua origem e pela aparência semântica todas pareciam ser perigosas, imprevisíveis e dissimuladas como são certas pessoas. Políticos, por exemplo. Segundo a xamã esquimó Nalungiag, "em tempos ancestrais, quando pessoas e animais viviam na Terra, uma pessoa podia virar um animal que quisesse e um animal podia virar um ser humano. Todos falavam a mesma língua [porque] naquele tempo as palavras eram mágicas. A mente humana tinha poderes misteriosos. Uma palavra dita ao acaso podia ter consequências estranhas. De repente ela ganhava vida e o que as pessoas queriam que acontecesse, acontecia. Só o que era preciso era dizer". Por isso Derrida, analisa Maria Esther Maciel, cunhou o neologismo animot, homófono de "animaux", mas também de "animal + mot" (palavra) em francês, com o que a autora mineira justifica que a animalidade não é nada além de linguagem. Muitas palavras eram coloridas, as mais assustadoras, como lookstyle, que sem qualquer pudor trocavam de roupas nas vitrines a toda hora e chamavam a imprensa para "cobrir" o evento que deixava os maltrapilhos das cracolândias sem chão. Outras palavras tinham a aparência de ser animalescas e seus tentáculos metiam muito medo e admiração simultânea mesmo à distância: os jaguadartes eram alguns desses bichos, classificados depois do pânico como da espécie lewiscarrolliana, como as lesmolisas, gramilvos, pintalouvas e momirratos traduzidos por Augusto de Campos. Esses animais competiam com os álefes borgianos, cuja função tétrica era pôr pessoas em labirintos extremamente complexos como quebra-cabeças sem lhes dar qualquer chave do enigma. A questão é que a todo momento caía ou voava uma palavra-terror deixando o povo ignorante dos seus significados. Num dado momento histórico do tsunami vocabular apareceram as baratáteis, grudentas como a voz de Kafka num castelo, incrivelmente demolidoras de qualquer equilíbrio existencial, filhas de pai opressivo, uma autêntica praga de Praga. Em matéria de meter medo na vida psíquica dos pobres mortais as baratáteis competiam com as geagases, baratas de uma autora de sobrenome Lispector, amada pela parte inteligente de uma humanidade mais acostumada com o bestiário. Diziam algumas lendas que essa animália na vida do gentio de poucas palavras provinha de invencionices de acadêmicos gagás próximos da morte, que ocupavam o tempo final vingando dos falantes e escreventes que não eram aprovados no ENEM. Estes eram vítimas dos bichos-pacóvios. Um zoom no zoo do bestiário e lá estavam os dragões que "sofreram com o atraso dos nossos costumes"; e Teleco, o coelhinho murilubiano "transformando-se seguidamente em animais os mais variados" e do qual "escorriam lágrimas que, pequenas nos olhos miúdos de um rato, ficavam enormes na face de um hipopótamo" por pura intrusão brutal do inexplicável no quadro da realidade. Cortázar comparecia à festa das feras com mancuspias, mistura de coelho com canguru, e anunciando: "a gente não fica contando às pessoas que de vez em quando vomita um coelhinho". Albha Myllena afirma que mancuspias, seres imortais, já foram gatos, passarinhos, o cachorro de Vidas Secas.

Wilson Bueno liberou em "Um zoo de signos" nada menos que 34 seres inconcebíveis, como os ivitús que mitigam a dor da saudade nos índios; os microcães guapés, que fazem ninho em oco de árvores; os giromas, criaturas esféricas cheias de olhos; os agôalumem, raça de monstros marinhos que desperta angústia e medo em marinheiros, descrevendo esses animais através do peso, altura, coloração, hábitos sexuais, alimentares e capacidades físicas, situados nas florestas brasileiras, província do Chaco, Islândia e Indostão.

Também veio o bestiário de Eustáquio Gorgone em A fortaleza do feno integrando a alegoria montanhesa mineira, catrumana, como seres de esgueira que pensam, praticam religiosidade, ensinam coisas aos humanos, têm repertório próprio de proseado. Nele o frei é Cervo, Grilo; a madre é Cotia; o boi é dançarino e tem sapatilha de ferro; a tartaruga Taia é antevista como um futuro cinto ecologicamente predatório; o cavalo que fica bom na foto causa inveja no corvo; o macaco leva na coleira o Livro das Confidências e morre enforcado em cordas de pura tripa; o galo, por medo de um presságio apocalíptico "quando os sinos soassem suas línguas de bronze", esconde-se numa meda, que é queimada com o galo dentro; o tatu Nai-Nai roda mundo num caderno de garatujas; morcegos querem saber por que Clara, a bordadeira, veio ao mundo e por que o padre Castilho ordenou "que lavassem as torres com creolina e sabão de cinzas"; ou por que um ganso tem uma oficina onde são encontrados "um furador de vaivém, duas glosas inglesas, um serrote com dentes de flores usado para dividir o mundo em partes desiguais". Barrocontemporâneo. Revisão da tradição. Religiosidade como código cultural, realismo mágico, crendices, dimensão metafísica, semiótica regionalista, achados linguísticos e semânticos criadores do estranhamento, da perspicácia do inusitado, superação da superficialidade das palavras, ironia. Bichos de cabeça. Ratos de biblioteca. Interinvenções antes do arraso da traça no papel.

Bastante impressionante foi a queda de uma leva de jitanjáforas, porque desprovidas de significado em si mesmas. Sua origem (soube-se depois) foi dada a Afonso Reyes, que a cunhou em 1929, tomada de um poema do cubano Mariano Brull. Uma jitanjáfora é "filiflama alabe cundre ala alalfera alífera alveolea liris salumba salífera", adorada pelos dadaístas. Algumas palavras vestidas de cai-n'águas foram aparecendo em várias línguas como shlimazi, radioukacz, altahman, gezellig, selathirupavar. Da fauna luso-brasileira apareceram acrimônia com seu azedume; comina, com sua ameaça de castigo; eflúvio, com seu perfume letal; prolegômeno, com seu jeito bem rudimentar; vitupério, com seu ultraje a rigor; besugo e seu acantopterígio vulgar; homizio, escondida no refúgio de sua própria significação; irrupção e sua entrada violenta sobre o planeta. Juntas e conforme o contexto, essas palavras eram o báratro a provocar no povo a alogia por causa da pobreza de discurso; a dislexia no distúrbio da fala e da escrita; a presunção da sofomania, quando se sabe que ninguém sabe nada mesmo.

Como se não bastasse o horror daquele dia-dicionário, ainda apareceu Drauzio Varella a falar da miíase humana — bernes e bicheiras que devoram o material em putrefação das feridas, além das moscas domésticas e dos vermes necrófagos. Das palavras-parasitas, talvez o trypanosoma cruzi, descoberto por Carlos Chagas em 1909, seja o mais "bonzinho", se a gente considerar que 25% da população tem dentro do intestino a ascaris sp; que é um perigo eminente "pegar" cryptosporidium spp, transmitido pelo consumo de água contaminada, ou a taenia solium, uma baita lombriga com até 10 metros infectada por meio da carne de porco. O dia das palavras-bichos parece não terminar nunca. E mesmo quando o ser humano está em silêncio elas ruminam o pensamento. Isso porque, no zoológico da vida, o homem é um primata bípede da espécie homo sapiens. E, quando evolui, leva os bichos para o futuro. Alliens. Stephen Hawking antecipou em Breves respostas para grandes questões: não é possível tirar o elefante da sala.

 

 

 

 

O jovem autor oliveirense Felipe Soares lança a novela Lua negra sobre trilhos vermelhos pela Portal Editora e em nível literário não faz mais do mesmo. A história de aventura e mistério envolve um cenário sobrenatural e policialesco ao estilo de Sherlock Holmes, de Conan Doyle, aliado à exposição de personagens incomuns, situados no século 19, um deles semelhante ao lobisomem. Samuel Ludovic, um Engenheiro Real, investiga ameaças de natureza tecnológica contra Siril, nação que se caracteriza como um mundo fantástico, durante uma viagem do trem Expresso 32, no qual alguém está de posse de uma fórmula secreta "capaz de transformar até os puros de coração e monstros sanguinolentos". O vilão é um licantropo, lobisomem ou lobo que protagoniza também livros de Janayna Bianchi, Sabine Baring-Gould, Glen Duncan, entre outros, que estendem à pós-modernidade o encanto maldito dessa espécie simultaneamente assustadora e fascinante. É ele a forma híbrida entre ser humano e animal. Predador mais temido na Europa, o licantropo de Felipe Soares também mete medo e apronta peripécias, significando perigo para os viajantes do Expresso 32. Ele constitui, segundo o psicólogo junguiano Robert Eisler, a teoria de uma "memória ancestral" da humanidade com relação à figura do lobo. A primeira referência a um homem transformado em lobo talvez venha da mitologia grega, quando Zeus, enfurecido com o imortal Licaon, o condenou por ter comido carne humana. A mais antiga referência vem meso da Grécia, citada no Satyricon, no século I d.C. O desejo de o humano se transmudar em lobo mereceu inclusive a criação de uma oração de São Cipriano. Lua negra sobre trilhos vermelhos insere-se, estilisticamente, no gênero steampunk, abreviatura de "tecnologia a vapor", associado ao futurista cyberpunk, marcado por uso de tecnologias como máquinas a vapor, fabricações em madeira, cobre e bronze, amplo uso de engrenagem, tudo ambientado no cenário da Revolução Industrial, com personagens trajados com indumentária vitoriana (1837-1901) e descrições de passagens por teorias conspiratórias e sociedades secretas. Este gênero remonta às obras pioneiras de ficção científica de Júlio Verne, Albert Robida, H.G. Wells, Mark Twain e Mary Shelley, esta, inventora do Frankenstein. Ao usar em seu livro um trem movido a vapor, Felipe Soares mostra a influência literária do chamado "boy inventor", subgênero de ficção científica personificado por Tom Swift. Em nível de cinema, há vários filmes plausíveis para o ethos steampunk, como Viagem à lua, de Georges Méliès, Viagem ao centro da Terra, Assassinato no Expresso Oriente, Guerra dos mundos, As loucas aventuras de James West, Blade Runner, De volta ao futuro III, Sucker Punch — mundo surreal, 9, a salvação, entre tantos outros. No Brasil, Bruno Accioly e Raul C. Ruiz são outros autores do gênero, criadores aliás do Conselho Steampunk, com lojas em diversos Estados, destinadas a agregar mais seguidores através, por exemplo, da revista "Vapor Marginal".

O autor parece resumir o objetivo do livro em trecho à página 9: "Um pouco de entretenimento leve e útil para a mente e, apesar do público alvo, a história contém usos criativos da matemática para resolução de problemas de forma". Siril, Val, Forças Aladas, Ordem dos Licantropos, Fórmula Talbot, matriz energética, armas de fogo exóticas são alguns ingredientes fictícios que invadem o mundo de Lua negra sobre trilhos vermelhos para o leitor usufruir com prazer de uma narrativa leve, criativa, envolvente e enriquecedora do imaginário.

 

 

 

 

Com respeito à saúde, uma simples doença pode nos mandar pro beleléu. Por mais que a tecnologia avance, o corpo humano é sempre uma caixa de surpresa. O excesso ou a falta de alguma coisa detona a vida em segundos, quando não a torna um sofrimento maior que é repassado a todos da família. A tecnologia vai a mil, mas não é capaz de eliminar do homem o seu inferno: a dor — essa "eterna melancolia", na leitura de Chateubriand. Para monsenhor Bougaud, a dor é "o primeiro grito da alma", sobretudo quando o ser humano se pergunta: por que eu sofro? Com a dor há também o infortúnio de que padece o ser humano. Tudo em volta é consolo. Ninguém se esquece de que Deus pôs seu único filho a padecer em dor máxima. Um poeta francês escreveu: "Tu fazes o homem, ó dor!". A dor, portanto, é responsável pela grandeza do sentimento. Ela aperfeiçoa a alma como o escultor a sua obra de arte.

A dor não escolhe em quem doer, é eclética, pluralista, universal, sem gênero, age sob a voz da coralidade, mas é pessoal em cada sentimento, esculpe arte indelével na pedra da consciência. Faz-se delicada ou grosseira, atinge fundo o corpo e a alma. Observem-se suas marcas: ela surge quase sempre das inquietações da alma, não erra nunca seu alvo, e, se puder atingi-la, atingirá seu corpo ou sua alma arrastando consigo o medo, a angústia, a melancolia e outros sentimentos negativos. "Só a dor robustece o espírito" escreveu Proust.

Ainda que Bougaud considere que "a vida é um crisol em que as almas se formam para o céu", ninguém escapa à dor. Ela é o alicerce do amor, fortaleza do bom senso e sempre lição de vida. Não se sente dor sem pensar em Deus, é ela que tem o poder de iluminar, purificar, santificar o ser. A dor leva a crer na infinitude do humano. Ela tem sinais manifestos como trovões e raios, lágrimas e sangue, luzes e trevas; ela tem uma "perfeição indizível". Pode parecer meio piegas, mas na verdade, quando Deus nos leva a pensar na dor Ele está a nos punir, para que procuremos a cabeça ensanguentada do nosso Salvador. A dor é ela a própria função divina -"o sentido sublime da morte". Suprimi-la  é impossível. Pode-se, com o uso da medicina e da reza, livrar o ser humano da dor latente, dotando-o de purificação através de medicamentos e orações. Contudo, na permanência do seu ápice, a dor é a destruição de todos os sonhos, de todas as ilusões, para cristãos e ímpios. A dor amadurece a sabedoria e a fé, esta que é metafísica importante na vida: "Um Deus morreu mesmo pelo homem se salvar depois de tanto sofrimento humano?" Mesmo os que rejeitam a Cristo não estão livres da dor. Ela não se dissipa, ainda que seja imenso o orgulho do homem.

Bougaud vai mais fundo: "Só morrer para viver, mas seria doloroso se devesse viver sem a presença daqueles que amei". Cantada em prosa & verso, a dor é mesmo objeto de reflexão: "o poeta é um fingidor/chega a sentir que é dor/ a dor que deveras sente", imortalizou Fernando Pessoa. Shakespeare escreveu: "todo mundo é capaz de eliminar uma dor, exceto quem a sente. Chorar é diminuir a profundidade da dor. Nunca houve um filósofo que conseguisse suportar com paciência uma dor de dentes".

Chico Buarque canta a dor com amplo e profundo conhecimento social da vida: "A dor da gente não sai no jornal"".A dor é inevitável, o sofrimento é opcional", filosofou Martha Medeiros. "Não há dor que dure para sempre" (minha mãe Nilza). "A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana", escreveu Vinicius de Moraes. "Sentimos a dor, mas não a sua ausência", filosofou Schopenhauer. "Para onde vá levarei o teu olhar/ e pra onde caminhes levarás a minha dor" (Pablo Neruda). "Não há dor que doa como a dor da saudade" (Patativa do Assaré). Bougaud questiona: "Não haveria outra vida em que as nossas alegrias seriam elevadas à altura das nossas dores?".

 

 

nota da editora: márcio almeida é convidado para publicar

livro e participar de evento mundial de poesia na europa

 

 

Por manter diálogo fértil com muitas das principais instituições culturais do Brasil e do mundo, além de ter cada vez mais reconhecimento por sua produção literária séria, criativa e intransigente, o poeta Márcio Almeida foi convidado para publicar livro inédito de poesia, intitulado Vesânia, na Moldávia. O livro foi publicado em dezembro de 2018. O convite foi feito por Diana Gasitoi, editora da Just Fiction, sediada naquele país, com impressão ecologicamente correta denominada POD (print-on-demand). O livro será lançado no mercado mundial, envolvendo 80 mil livrarias e três mil lojas on-line, com preços que variam entre 20 e 90 euros. Além disso, a capa de Vesânia será colocada em todos os principais catálogos como MoreBooks, Amazon, Barnes & Noble, Libri, entre outros. Oferta do livro será feita a departamentos de aquisição de influentes distribuidores como Lightning Source, Ingram, Baker & Taylor, Mattews Medical, Nacscorp e Bertrans. Jornalistas e resenhistas literários influentes, que escrevem em publicações de grande circulação no mundo, receberão o livro para análise e indicação aos leitores.

Pelos mesmos motivos, o poeta oliveirense foi convidado por Dumitru Ion e Carolina Ilica para participar da "23a Edition of the Festival International Poetry Nights", de 10 a 16 de julho de 2019, na cidade de Curtea de Arges, Romênia, em promoção da Fundação e Organização Cultural Academia Oriente-Ocidente. O certame reunirá 75 poetas de 35 países, em cuja ocasião será lançada a Antologia 23, bilíngue, quando também serão entregues seis grandes prêmios.

 

 

 

março, 2019

 

 

 

CORRESPONDÊNCIA PARA ESTA SEÇÃO

Av. Américo Leite, 130 – Centro

35540-000 – Oliveira/MG