Para ler um poema — mais que a estreia de Erivan Santana na literatura — constitui uma boa-nova poética repleta de lições.

A 1ª delas diz que a leitura do poema deve estar acima dos conceitos e pré-conceitos, dos ideologismos e formalismos condicionados pelo bom gosto ou impostos pelo zelo linguístico.

Afinal, a recepção do poema precisa envolver — mais que preparo técnico – sensibilidade, sentimento e, até, uma pitada de felicidade. Porque a recepção estética pressupõe o encontro entre leitor e texto — no caso da literatura — e público e objeto — no caso da pintura —, para ficarmos nesses dois exemplos.

A 2ª lição, à maneira da anterior, sinaliza que autor/obra, criador/criatura e subjetividade/objetividade precisam superar os ismos formais e/ou conceituais e se realizar dentro do humanismo que transcende todo e qualquer reducionismo ético ou estético e, portanto, harmoniza texto e contexto, liberta homem e circunstância.

Outras tantas lições podem ser extraídas de Para ler um poema, mas essas duas se destacam porque dizem respeito aos aspectos metapoético e intertextual deste trabalho de Erivan Santana. A leitura do poema em questão não deixa dúvida quanto a isso, na medida em que dialoga com o leitor e, também, com o fazer poético. Por isso, ele foi escolhido para representar toda a obra.

Os demais poemas — de modo explícito ou velado — também dialogam com o leitor e, sobretudo, com os grandes autores da arte nacional e internacional. Literatura, filosofia, artes plásticas, música, amor, natureza, política, aqui e agora – tudo se torna objeto, em maior ou menor monta, da apreciação do poeta Erivan Santana. Felizmente, nada do que é humano lhe é estranho ou alheio...

Portanto, o leitor está convidado a compartilhar essas e tantas outras lições que se apresentam, às claras ou às ocultas, nesse trabalho poético de estreia. Ele é passatempo, mas também descoberta. Mergulho, mas também viagem. Representação, mas também alimento.

Eu experimentei e gostei, fui às origens e retornei iluminado, mas poderia não ter gostado nem retornado. Mas, por ter tentado, tive o privilégio de assistir à transformação da palavra em texto, do verso em poesia, do simbólico em icônico. Essa, com certeza, foi a maior das lições.

 

 

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O livro: Erivan Santana. Para ler um poema.

São Paulo: PerSe, 2018, 80 págs.

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março, 2019

 

 

Almir Zarfeg é poeta e jornalista. Preside a Academia Teixeirense de Letras (ATL).

 

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