©angie toh
 

 

 

 
 

 

 

 

POEMA DO AMOR ARDENTE

 

 

Meu corpo brilha

Meu coração sangra flores

De fogo

Não consigo comer

Nem dormir

 

 

 

 

 

 

AO AMADO

 

 

Fazer da tua boca

Meu cálice

Do teu peito

Meu leito

Do teu hálito

Meu alento

 

 

 

 

 

 

CANTIGA DO AMIGO

 

 

Abre alguns botões

Da tua camisa:

Meu coração é um pássaro

Vermelho

Que quer fazer ninho

No teu peito

 

 

 

 

 

 

PALIATIVOS

 

 

Enrolo o coração

Em arame farpado

E deito sobre as brasas

Pra disfarçar a dor

Mastigo o vidro

Do teu tigre de gelo

E engulo o grito

Pelo avesso

— moça educada não grita —

AAAAAAHHHHHHHHH

 

 

 

 

 

 

MARCA

 

 

Você está entranhado

em mim

Pelo lado de dentro

Lavo

Esfrego

Coço

Cuspo

Arranho

VOCÊ NÃO SAI

 

 

 

 

 

 

MAL-DE-AMOR

 

 

A paixão

É uma maleita

Dá febre

Alucina

Depois passa

 

 

 

 

 

 

CRISE DE ABSTINÊNCIA

 

 

Porque o problema

É ser viciada

Nas substâncias químicas

Que o estado de paixão

Destila no corpo

 

 

 

 

 

 

AMOR ALVEJADO

 

 

Caminhou cambaleante

Por kms a fio

Arrastando uma asa ferida

Empapada de sangue

Deixando um rastro vivo

No chão de neve denunciando

Sua presença aos inimigos

 

 

 

 

 

 

PINÓQUIA

 

 

Agora

Que a cama

Tão pacientemente tecida

Pelo amor

Foi roída pelos ratos

E eu clamo nua

Deitada no chão

Com um buraco negro

No meio do peito

Chupando um drops

Pra adoçar a minha

Solidão

Fumando cigarros

Só pra ver

A espiral dançar

Já não penso em você

Já não penso em você

Já não penso em você

Mamãe sempre dizia

Que fui uma menina

Muito mentirosa

 

 

 

 

 

 

PIRA

 

 

Minha língua

É uma pétala de fogo

E eu vou lamber

O teu coração

Até o incêndio

Depois vou guardar

as cinzas

Na urna do meu corpo

 

 

 

 

 

 

ENXOVAL

 

 

Preciso urgente

Lençóis de água

Para minha pele

Ardente

 

 

 

 

 

 

MULTIPLICAÇÃO

 

 

Regar cada rosa

Do jardim

Com 9 lágrimas

De amor

 

 

 

 

 

 

TEOREMA

 

 

Decidi abdicar

Do amor

Como de um problema

Insolúvel

 

 

 

 

 

GAZAL DO AMOR INCENDIÁRIO

 

 

Você

Joga gasolina

No meu tédio

E ateia fogo

FOGO!

Cabelos

Em desalinho,

Camisola chamuscada,

Caminho descalça

Sobre as brasas.

Coração inflamável:

CUIDADO PERIGO

Labaredas vermelhas

Lambem

Minhas pernas.

Grito

SOCORRO!

Mas não quero

Ser socorrida.

Você me acende por dentro

Como mil tochas

Iluminando um palácio.

E meu desejo é consumir

Meu corpo na chama

Crepitante de você.

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Daniela Pace Devisate nasceu em São Paulo, capital, em 20 de julho de 1970. Comete poemas desde os 11 anos, mas começou a mostrá-los em 2012 , nas redes sociais e em grupos literários. Com vontade de publicar um livro e não encontrando editor, resolveu se autopublicar em livros artesanais manuscritos e ilustrados, que vende pela internet ou em feiras de publicações independentes. Leciona arte e filosofia na rede estadual paulista e mora na praia, com marido, filho, cachorra e um casal de gatos que se odeiam. Tem um filho adulto, tatuador e poeta, que mora longe.