Edward Hopper | Chair Car | OST | 127x101,6 cm | New York | 1965 | Coleção Particular 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Escrever sobre Edward Hopper (1882-1967) leva-nos à citação de Degas: "É muito bom pintar tudo o que se vê, mas pintar o que ficou na memória é muito melhor". As transposições de Hopper podem ser descritas (observação do próprio pintor) como a "morte total", que faz lembrar o simulacro total, tão bem descrito, estudado, analisado e refletido no livro América, de Jean Baudrillard, na década de 1980.

 

Aguça a matiz da memória aquilo que a solidão impera de maneira explícita: a morte da ideia original.

 

O realismo do artista americano e seus contextos fechados na autonomia do quadro estimulam e reelaboram as percepções dos observadores em torno da questão da morte total, pois observa-se a partir da geometria, na imagem da tela acima, uma aparente calma preenchida por isolamento, nos quais se destacam artifícios e personagens "abonecados", cujos rostos desbotam-se nas sombras.

 

O trato com a luz, diálogos com a fotografia e o cinema, congelam as figuras, dando uma sensação de retraimento, uma presença ausente, oximoro e simulação encharcadas de verde: um branco encardido bate à porta sem a fechadura, trazendo na bagagem as janelas e o estrondo do Modernismo. Mesmo assim, qualquer observador poderá perguntar que isolamento é esse?

 

Um tipo de (in)sensibilidade/(in)diferença que contrasta o motivo em relação às cores; o não intercâmbio do claro-escuro previamente definidos; a intervenção assinalada num palco mudo de um mundo já totalmente sem esperança, asfixiado, e padecendo da falta de comunicação; a morte da ideia original de uma civilização atormentada na sua contraditória tranquilidade.

 

Hopper é o pintor das ilusões perdidas. Além de meras representações com status diferenciados, muito além, seus quadros sempre atuais revelam o entorpecimento e a carência do homem moderno e contemporâneo. Reelabora o real pela força da sua imaginação e memória, atravessando o tempo/espaço com uma visão pictórica tensionada pelas ideias da sociedade de consumo e uma crítica sensível sobre as cenas do cotidiano.

 

Não tem como não concordar com Clemente Greenberg: "Hopper é, muito simplesmente, mau, mas se fosse melhor pintor, não seria provavelmente um artista tão bom".

 

 

 

dezembro, 2017