©yuichi ikehata 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

CAUDAL

 

 

Singro o rio multifário

das verdades ocultas,

das hordas dissimuladas

desses homens absurdos.

Sinto-me também absurdo,

nestas águas de clausura.

E tanto — sutil paradoxo —,

que me liquefaço, inerme,

pela correnteza atroz.

Para que nasça, de mim,

um ser que resuma tantos,

como parte da carência,

como projeção em outros

tão iguais e tão diferentes

entre si, entre todos. Entre

fios de redes ancestrais,

que submetem ao destempo.

Este rio caudal, que anseia

um mar sereno (horizonte

obliterado): deságue

de seus veios transversais,

repletos de anomalias

em corpos boiando no limbo,

com a alma dilacerada

pela negação e o desdém

de seres também anômalos.

Estranho que sou, de mim.

Eles (o espelho que evito)

me cindem e me englobam.

Eles me são. Enquanto sangro,

nas vagas da incompletude.

Às vezes, em versos vãos;

noutras, em orgasmos tristes

(gestos vagos, pela ausência

de um olhar que os ilumine).

 

Esperança per se:

seres em si e nos outros.

Mãos que, assim, delineiem

um mar ainda possível.

 

 

PALAVRA EM RISCO

 

 

                            Em memória das vítimas do atentado

                            ao Charlie Hebdo

 

 

Como se houvera um tempo

em que já não fôssemos feras.

 

Como se se buscasse o alívio

de um oásis no Saara.

 

Como se a palavra em risco

rompesse o fio da espada.

 

E o veneno da serpente

não cegasse a visão da esfera.

 

E virassem brisa púrpura

as manchas no chão da sala.

 

E os traços curvilíneos

criados por mãos libertárias

 

limassem novos contornos

nos homens feitos de arestas.

 

E o tempo, enfim, que se fora,

seria o que nunca mais era.

 

 

Edelson Nagues é natural de Rondonópolis/MT e radicado em Brasília/DF. Poeta, escritor, revisor de textos e servidor público, ganhou vários prêmios em concursos literários nacionais e tem contos, poemas, resenhas e artigos publicados em antologias impressas e em diversos portais da internet, tais como: Revista Zunái, Revista Samizdat, Cultura alternativa, Revista Biografia, Recantos da Letras, Poetas S/A e Revista ContempoArtes, entre outros. Publicou, pela Editora Scortecci, os livros Humanos, de contos, e Águas de clausura,de poesia (vencedor do X Prêmio Literário Livraria Asabeça). É coautor do CD ANAND RAO, no CD ANAND RAO musica poemas de EDELSON NAGUES e organizador da coletânea Respeitável público: histórias de circo e outras tragédias (Editora Penalux).

 

 

 

 

 

 

CALA GANONE

 

 

I -      rastro à deriva

navega nos ventos

do mediterrâneo e calcário

 

II -     verde azul clareia

epiderme, fios, escama

 

III -    falésias rasgam oceano

salgando o tempo

de gosto SARDO

 

IV -    brusco impulso na pedra matéria

de textura imprecisa

dessemelhante curvatura

 

V -     dedos perfuram faces

epidérmica corrosão

onde farelos de magnésio pintam movimentos

 

VI -    músculos tencionam na ferocidade da fratura

delineando o caminho técnico-lírico-dramático

 

VII -   o flagelo é êxtase nos ossos da nuca,

no antebraço, nas entranhas

 

VIII -  entre resvalos, fendas, arestas,

a música mais intensa é o corpo

 

IX -    aderido em forma de granito, calcário ou solidificação de magma

tornando-se ROCHA

 

X -     e de cima, no cume, cheiros se misturam, o sol ofusca

o invisível se imagina e o silêncio cura.

 

 

PARTIDA

 

 

                            "Perdi-me dentro de mim

                            Porque eu era labirinto,

                            E hoje, quando me sinto,

                            É com saudades de mim".

- Mário de Sá Carneiro

 

 

Assisto ao meu nada

Em suicidar de cores

Ao perder as flores

Na contramão inventada

 

 

Marcela Cividanes Gallic nasceu em Sāo Paulo, formou-se em Direito pela FMU (SP) e é mestre em Direito Comparado pela CWSL (San Diego, CA). Exerceu advocacia nas áreas de contratos e atualmente atua como empresária na área de moda. É poeta, compositora e praticante de escalada esportiva. Tem poemas publicados em blogues, antologias poéticas e em revistas eletrônicas.

 

 

 

 

 

 

Disputatio

 

 

Avizinhava uma paróquia para qual olhava em incessante tornada então janela, lanterna, foz binocular, mas lá queria mesmo que afora só de ouvido se fez ser apaixonada pelo conhecimento tamanho da altiva emenda: — Esse tanto nada lhe acrescenta. Não aguentava! Conheceu o muro para a cena onde fronhas compunham de lado a outro tal dois bichos na linha do argumento, e mais que se aplicasse ainda pôde nunca separá-los. Mas como um mocho que olhasse a trança firme dos desentendimentos, sem o que por ou que tirar, pousou por cima da linha divisória estrebuchando em visgo até que fosse o seu invólucro. Vazia como nunca antes, a esponja suga todo o suco, aumentando à emenda altiva tanto que se fez de ser abarrotada. E preenchida agora pelo tubo lógico, urina sem cessar a então falante água: — Tão pouco lhe acrescenta nada.

 

 

Atrás-cerne

 

 

Avesso para o que via era o jeito de engolir as coisas e não conhecia outro adereço senão este: ser avesso. Buscou a cura. Falou com que o pastor lhe tirasse a malha da boca. Uma catástrofe! Mastigava, mastigava que sobre a crina dois homens irresistíveis bonitões assim calham de não ter osso para lhes coçar as costas. Um levanta: — a carne é bela, e se tu me come ossos sobrarão à vontade; mas é preciso um agradinho. Então a mão arranca para que eu a coma, para que eu me agrade, — era tudo armada!, e percebendo a prosa infinitada o pastor repõe a compostura e vai ditar a imprecação assim começa — é imersa a avessidade da matéria! — era tudo armada! Os dois homens selam acordo que coceira é nada que nem se vê que ainda é nada a avessidade da matéria se debanda em seu cavalo de onde encontra a cura mais enxuta.

 

 

Caio Graco Maia nasceu em Salvador/BA e atualmente vive em Aracaju/SE. É graduando em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe.

 

 

 

 

 

ÓFRIS

 

 

do aéreo ao mediterrâneo

sibila a orquídea 

seu voo de sépalas.

 

também a palavra

tem formato de mosca

e zune

sibila em sépia poesia-tinta

sua escritura rumorosa:

 

asa-fulva-flor

de céu interior.

 

 

VIGÍLIA

 

 

Nenhum louva-deus.

Nenhuma flor imprevista

salta das letras.

 

De madrugada, assim tão tarde

nem as tangerinas maduram

e nem o céu responde.

 

Sua metafísica monitora

o fólio, a promissória

e a minha poética insiste, azul

como anil dissolvido na água.

 

 

Iolanda Costa (Itabuna-BA), graduada em Filosofia, é arte-educadora e especialista em História Regional. Editou, artesanalmente, folhetos de poesia Às Canhas as Palavras Realizam Mil Façanhas (1990), A Óleo e Brasa (19991) e Antese(1993). Tem poemas editados em jornais, antologias e blogues.Participou do Livro da Tribo(2013). É autora de Cinema: Sedução, Lazer e Entretenimento no Cotidiano Itabunense (2000), Poemas Sem Nenhum Cuidado (2004), Amarelo Por Dentro (2009), Filosofia Líquida(2012) e Colar de Absinto (no prelo). Coordena a Coleção de plaquetes Pedra Palavra (2012 -2017).

 

 

 

 

 

 

OSTENSÓRIO

 

 

Contigo forjei

vinte-e-quatro dentes sacros

 

Arrancados um a um

chocalham no cálice de sangue

 

A pala de linho

recobre essa dádiva

 

Seu adorno é o presente

da mandíbula que nunca fecha

 

 

HÚMUS

 

 

veia cava púrpura

volta o caule

 

foi preciso ir mais longe

 

o cristal do problema

nas veias das hortas

ninhos crescem

nas calhas de chuva

aqueles de mil patas

ferem azulejos

sangram lavatórios

 

foi preciso ir mais fundo

 

o retorno do adjeto

nas tramas do fonema

cantos proliferam

nas glotes dos pardais

aqueles de mil oceanos
jogam dados

lambem certezas

 

volta o caule

veia cava púrpura

 

 

Sávio de Araújo é poeta, músico e psicólogo. Nasceu na cidade de Macaé/RJ em 1992. Trabalha com Arte desde os 14 anos, participando de diversos projetos artísticos e acadêmicos.

 

 

 

 

 

 

ALAMEDA BARÃO DE PENEDO

 

 

Ao longo do canal

nasce musgo.

Jornal embrulha

voz de peixeiro:

perna de moça freguesa!

Surdo-mudo

estende a mão úmida

e girinos nadam no copo.

A árvore, um enorme tinteiro,

mancha a calçada de jambolões.

 

Ao longo do canal

nasce musgo

Monsenhor oferta

um santo para cada dia

depois que beijarem seu anel.

Homem da bicicleta

mostra o pinto,

meninas correm de medo.

A árvore, um enorme tinteiro,

mancha a calçada de jambolões.

 

Ao longo do canal ainda nasce musgo,

usos e frutos acabam com em todo lugar.

 

 

INSONE

 

 

O abismo atrai meus pés

leopardo familiar

a manhã se aproxima.

 

Patas na vidraça

olhos em sangue

exaustiva luta.

 

Nas presas gastas,

nenhum poema.

 

Horas buscando

vísceras, e nos ouvidos

o sarcasmo da musa.

 

 

Katia Marchese nasceu em Santos/SP, é gestora pública municipal e leitora ávida de poesia desde os 15 anos. Participou de cursos literários no SESC, Casa das Rosas, Espaço Barco, CPFL. Tem poemas publicados em três antologias: Fragmentos Poéticos — Poetas Virtuais (2002), Antologia Poetrix — Brasil-Portugal- E.U.A. (2004) e Antologia Poética Senhoras Obcenas (Benfazeja, 2016). Seus poemas foram publicados na revista literária Zunai em dez/2016.

 

 

 

 

 

 

A LETRA

 

 

Noturna, a letra é chama, cinza e névoa.

Língua-enigma em ofídica metáfora.

 

O leitor, meu igual, perfume hipócrita.

Balouçar de jardim suspenso a página.

 

O súbito, um sensível esqueleto.

Lupanares as pedras ametistas.

 

Tão sob a mira prenhe dos obuses,

o olho lê, se sabendo a arco-íris.

 

 

AS PALAVRAS

 

 

Tenho tido cuidado com as palavras

que não voltam. Não por acaso, todas

(pejadas de um arquejo vivo, teso,

 

por vezes meditado), em sua ânsia

de arvorar-se no centro de algum alvo.

Enquanto isso, sob meu ego de monge,

 

cochila a disciplina — esse mestre

sequer imaginado: a seta muda,

desconhecendo a própria existência.

 

 

Guilherme Delgado é natural de João Pessoa/PB, onde reside. É bacharelando de Tradução (Inglês) na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e coeditor da revista independente Malembe.

 

 

 

 

 

TRIBUTO

 

 

Tempo que sem licença

desfia e desalinha

este tecido atávico

 

Predador sorrateiro

revestido por pele

de pelos invertidos

 

Mandíbulas que mastigam

ambrosias e principiam

febre de fibrilas

 

Quinta vértebra

Quinta década

Anunciam

o que ainda resiste

sob a pressão

dos sentidos.

 

 

REST IN PEACE

 

 

Restaram poucos recortes

na contraditória composição

deste mosaico

 

Ligação inversa

colada em papel frágil,

no fundo,

há muito instalada

 

Arquétipo falido

fragmentos policrômicos

mera modalidade

decorativa

 

Lápis- lazúli

cenas de um teatro

cotidiano.

 

 

Maria Marta Nardi, formada em Letras pela PUCC/UNIMAR, professora de Língua Portuguesa e apaixonada por poesia. Nascida em Marília/SP, reside atualmente em Rio Brilhante/MS. Colaborou em várias revistas e sites de poesia e literatura, como Zunái, Musa Rara, LiteraLivre e The São Paulo Times.

 

 

 

 

 

 

LÁGRIMAS SOBRE CORDÃO

 

 

am-

antes amigos

agora íntimos

sou especial com você

você comigo

o zigoto de uma nova humanidade

cresce sob o seu umbigo

nasce do nosso segredo

poliedro tétrico de esperas

flor de medo

um dia, talvez esfera

rememore o berço

onde cresceu encolhido

e

 

 

PARA SER TATUADO

 

 

porque você fez da tua pele minha página

quero que saiba que a aquarela de lágrimas

tem primor sobre as lâminas

sei que

o revés é severo

mas quando vier a urgência

das angústias cortantes

lembre que destilar o estilo

vem antes de estiletes e destilados

e que você está me lendo

 eu estou te amando

que ando contigo na sua pele

e se estes versos servos

não são espondeus homéreos

se são fracos, ao menos são sinceros

e eu os quero, como a página,

intactos, perpétuos.

 

 

Gustavo Vendrame, (Medianeira/PR, 1993). Graduando em Letras na Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

 

 

 

 

 

 

6 PEÇAS SOBRE A SOLIDÃO

 

 

depois do tempo / o sol escreve a pele

onde está a cabeça? / teus beijos azuis

 

o corpo erótico subtraído / anoitecer os olhos

em descalagens / poemas mortos

 

o mar / o que grita à sua pequena floresta?

cortar o céu / você vê:

toda nudez

 

 

POEMA PARA UMA PÓS-IMAGEM

 

 

a imagem-sem

 

sem nitidez

sem espetáculo

empoeirada, sem visagem ou viagem

 

a imagem-des

 

em desabrigo

desuso

desalinho

 

dura/ crua

 

que ama

vida

 

desapercebida

despovoada

 

erótica

de delicadeza improvável

 

"imperceptível  ao sol brilhante"

situ pobre, podre, frágil, incapaz

 

divindade fosca: o existente

 

nodesign, nopicture, nofilm, nosculpture, no...

 

a imagem

sem origem

tragada

e, inaceitável

 

a imagem livre da imagem

um poema livre do poema

 

 

Mari Quarentei, libriana nascida na cidade de São Paulo/SP e formada como terapeuta ocupacional, implicou-se desde os anos 80 com a desconstrução dos manicômios e a criação de dispositivos híbridos entre clínica, vida e arte. Atualmente vive em Botucatu/SP. Em 2010, retoma as artes visuais e a escrita a partir do contato com a cena artística de Curitiba, onde participa da criação do Marianas, coletivo feminista de escritoras e no SOMA atelier-galeria, com trabalhos e performances. Correm Rios... (2016) é seu primeiro livro, pelo Selo Edições Marianas. Tem poemas publicados na Antologia Blasfêmeas: mulheres de palavra (2016) e nas revistas e blogues: Mallarmagens, O RelevO, Totem e Pagu, Garibaldi entre outros. Pós-graduanda em Poéticas  Visuais – UNESPAR.

 

 

 

 

 

 

PALAFITAS DO MEDO (OU QUANDO UM POETA COME A CIDADE)

 

                            Para Miró

 

 

Miró vende a cidade a preço de poema

engata um verso no esgoto da liberdade 

enfrenta um cheiro de rio com a violência 

e parte com os lençóis da praia

uma estrofe limpa de espermas.

 

carnaval no canto do olho

no vidro do ônibus partido

na esquina do mau cheiro

na angústia do oprimido

que de tão preto e pobre 

desenha as palafitas no medo.

 

 

DESTITUÍDO

 

 

desgovernado

abro um

impeachment de mim,

 

verdade boa

seria

não temer

homens partidos,

a direita ou a esquerda
[do ser]

 

 

Bruno Gaudêncio (Campina Grande/PB 1985). Escritor, jornalista cultural, historiador e professor, é formado em Jornalismo e História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Mestre em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Doutorando em História pela Universidade de São Paulo (USP). Publicou ao todo doze livros dos mais diversos gêneros, entre coletâneas de poemas e contos, antologias, ensaios e roteiros biográficos em quadrinhos.

 

Mais Bruno Gaudêncio na Germina

> Poesia

http://www.germinaliteratura.com.br/2008/bruno_gaudencio.htm

 

 

 

 

 

 

HORDA

 

 

Ainda que invasores

retirassem agaváceas

das grotas secas

(em enlace inesperado),

uma breve luz iluminou

tribos, elementos

hipérboles e ritmos

ancestrais do tempo

Partículas de sorrateiras

e enigmáticas mulheres

ressurgiram com o vento,

sob forma de pura imitação

ritmada(ou eivada?)

Como um grande gineceu

errante a tremeluzir

início, fim e apogeu

E ainda que do gerundio

se fizesse o verbo,

e da esfinge e espera

a roda da vida libertasse

a estrela incipiente,o

nó na garganta

interditou a palavra

que se fez vertente.

Nenhum cânone ou sêmen

da invasão originada foi

indagação ou mesmo

natural resposta

à profanação do mito

e à trepanação de ossos

reduzida à simples rito.

Guarda pois em cápsulas

de cera a tua origem ou

o signo da espécie em sulcos

de memória humana solitária,

sob forma de simples geodésia,

na paisagem vegetal que te absorve

ou na dor visceral dessa egrégia.

 

 

EFÍGIE

 

 

A imagem convexa

que o espelho estanca

em lágrima e riso

(assimétrica sanca)

expõe a sombra mais

oculta do impreciso.

 

Absorve a real face

nua e opaca:

égide de metal

que reflete fria,

a carcaça insossa

sem marca especial.

 

Elíptica forma de elegia

amorfa e egressa

dos signos da noite

Luz efêmera do dia

(ou serpente devassa ?)

em forma de promessa.

 

 

Marcia Tigani, natural de São Paulo (SP), é médica , psiquiatra e divide-se entre o exercício da medicina e o prazer de escrever. Possui diversos poemas em antologias pelo Brasil e livros de poemas lançados na Bienal de São Paulo: Caminhante: prosas e rimas ao vento ( Somar,2012) e Navegações e paragens (Tachion,2014).

 

 

 

 

 

MEMÓRIA DAS MÃOS

 

Eu — que vivo em susto,

acordo tufos de seda e tule.

preparo acordes

para labirintos de renda

— os mesmos que teci

em pérola e sonho

meu vestido de noiva,

urdidura e palavra.

 

Eu — que vivo em brasa

bordo em rosa.

Dedos romeiros

atiçam memórias,

iluminam com estrelas

de janeiro

teu vestido freudiano,

divã de chatons e poema.

 

 

Marcia Friggi, nasceu em Mata/RS. Especialista em Linguística, graduada em Letras pela UNICRUZ- Cruz Alta/RS. Professora de Língua Portuguesa e Literatura do Estado de Santa Catarina. Reside em Indaial/SC. Participa desde 1999 da Associação Artística e Literária ALPAS XXI como acadêmica fundadora, com diversas publicações em suas coletâneas.

 

 

 

 

 

 

CATEDRAL

 

 

punhado de linhas emaranhadas

negro retinto da noite

 

nós entrelaçados no corpo

quebra-cabeça do tempo

 

vidraça perpendicular

silhueta em lua crescente

 

enflorescer de lavanda

universo em devaneios

 

muro áspero, sombra vagando

cacos agudos de garrafa

 

escoa o sangue pelas pernas

ponta de palavras alinhavadas

 

transpõe frases sem nexos

reflexo em janela fechada

 

 

 

 

RÃS

 

 

arrastos que a erosão destrói

lapso de tempo em púrpura

suculentas bromélias

derramam o mel extirpado

sapos em céu de estrelas

aleatórias sementes de cabala

mastigadas em saibo de sal

anestesiam linguas

onde magnólias vadiam

predadores abatem girinos

quartzo de azul citrino

fincam além das artérias

fluídos gélidos de sangue

enquanto serpentes desvestidas

escondem-se em turvas águas

 

rãs soluçam

 

 

Yara Darin nasceu em Marília/SP. Poeta e escritora, formou-se pela FMU e pela Escola Panamericana de Arte e Design. Escreve nos blogues "Família em dia" e "Amanhecer... onde tudo recomeça". Atuou por vários anos na revista literária eletrônica "Varal do Brasil" com Sede em Genebra/Suíça. Participou de saraus e recitais. Tem contos e poemas publicados no Varal Antológico 2 e 4.

 

 

 

Antologia poética dos alunos do Laboratório de Criação Poética, curso teórico e prático ministrado por Claudio Daniel via internet (Skype). A página do Laboratório de Criação Poética no Facebook está aqui: www.facebook.com/groups/1259591840737449. Quem quiser obter mais informações a respeito pode enviar um e-mail para claudio.dan@gmail.com.

 

 

 

maio, 2017

 

 

Claudio Daniel é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Curador de Literatura e Poesia no Centro Cultural São Paulo entre 2010 e 2014. Colaborador da revista CULT. Editor da Zunái — Revista de Poesia e Debates. Publicou os livros de poesia Sutra (1992), Yumê (1999), A sombra do leopardo (2001), Figuras Metálicas (2005), Fera Bifronte (2009), Letra Negra (2010), Cores para cegos (2012), Cadernos bestiais (2015), Esqueletos do nunca (2015), Livro de orikis (2015) e o livro de contos Romanceiro de Dona Virgo (2004). Como tradutor, publicou a antologia Jardim de camaleões — a poesia neobarroca na América Latina (2004), entre outros títulos. Em Portugal, publicou a antologia poética pessoal Escrito em Osso.

 

Mais Claudio Daniel na Germina

> Poesia

> Na Berlinda