intervenção
de rookery a., na tela "um homem segurando um copo e uma
O
que inicialmente me chamou a atenção no
livro Cegueira moral, de Zygmunt
Bauman/Leonidas Donskis (Zahar Editora) é de como a modernidade líquida
transforma em banalidade o próprio mal. Modernidade líquida é como
Bauman chama
a pós-modernidade, marcada pela flexibilidade, que provoca certa
fragilidade no
que tange nossas relações sobre as pessoas e as coisas; líquida porque
é
comparada à água, que tem capacidade de alterar sua forma conforme seu
recipiente, para significar que hoje perdeu-se o aspecto durável e
sólido das
coisas e que tudo é passível de mudança. Os autores mostram como as
instituições europeias demonizam essa questão, registrando ser preciso
recuperar a sagacidade e a dignidade para a multidão de extras que
constituem a
civilização ameaçada, para que não seja ela transformada em "anônima
global". Os
autores discutem as causas que levam à
perda da sensibilidade, que se acha ligada ao qualitativo moral. Daí
vem o
conceito de adiaforização, que é a exclusão do domínio da avaliação
moral, que
tem como padrão da relação consumidor-mercadoria, sendo portanto
instrumento de
advertência, alarme e ativação para a sociedade se analisar. Bauman/Donskis
colocam haver hoje
"ansiedade da influência" e "ansiedade da destruição",
respectivamente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, concluindo a
propósito que "um homem decente pode abrigar dentro de si um monstro".
Para os autores, "privacidade, intimidade, anonimato, direito ao
sigilo,
tudo é deixado de fora da sociedade de consumidores ou rotineiramente
confiscado pelos seguranças". Afirmam que perdendo a memória, as
pessoas
se tornam incapazes de qualquer questionamento crítico de si mesmas e
do mundo
à sua volta, perdendo também os poderes da individualidade, além de
privadas de
sua sensibilidade básica em termos morais e políticos. Acrescentam que
o
direito de questionar de forma crítica a história é o alicerce da
liberdade. A
banalização da violência leva a uma condição em que as pessoas param de
reagir
aos horrores da sociedade, como as guerras, restando disso uma espécie
de
"dignidade dos degradados". Reforçam os autores que o termo
"adiafórico" não significa desimportante, mas irrelevante,
indiferente, por serem atos dispensados por consenso social da
avaliação ética,
conduzindo a uma "insensibilização do discernimento". Falam também de
"mediocridades agressivas", "intelectual cigano",
"intelectual não afiliado", concluindo disso que se corre o risco
sério e real de se dar adeus à universidade como alicerce da cultura
europeia.
Bauman cita "hóspedes calculados", conceito criado por George Steiner
para causar impacto e obsolescência instantânea na forma-padrão de
comunicação
inter-humana. O que querem dizer? Que se na Europa, um dos berços da
civilização, a situação, hoje, está periclitante, como não estaria no
resto do
mundo. Aponta
Bauman o livro "A possibilidade
de uma ilha", de Michel Houellebecq, como um dos mais importantes para
a
compreensão da sociedade líquida. Para o sociólogo, a tecnologia
ultrapassou a
política: se a pessoa estiver off-line, deixa de participar da
realidade. Para
Bauman, as redes sociais são também uma forma de vigilância. E, nesse
contexto,
os líderes falam hoje de "escândalo político, caos monstruoso, anarquia
catastrófica, tragédia apocalíptica, hipocrisia histérica". Outro
conceito caro aos autores é o de
"precário" — "ser mantido pelo favor e à disposição do outro,
logo, incerto". Contudo, asseveram que "nenhum tipo de impotência
política e econômica deve permanecer impune e que isto quer dizer que
não temos
mais o direito de fracassar." Importante reler o que pontua Bauman
sobre
política nas páginas 103, 104, 113, 136: "Os partidos políticos só
sobreviverão se começarem a agir como os movimentos sociais e se
ligarem a
eles". E previnem: "O medo usa várias máscaras. O medo alimenta o
ódio e o ódio alimenta o medo". Existe uma cultura do medo constituída
por
três razões: a ignorância de não saber o que vai acontecer em seguida e
o
quanto somos vulneráveis a infortúnios; a impotência e a humilhação
como
ameaças constantes à nossa autoestima e autoconfiança. Sobre
cultura: "É o sedimento da tentativa
de tornar suportável a vida como a consciência da mortalidade". Outro
conceito utilizado pelos autores é "imagólogos" — engenheiros da
imagem e da opinião pública, na acepção de Milan Kundera. Sobre a
memória é
importante (re)ler sobre as páginas 152/154, 162: "Nós perecemos ao
esquecer" (M. Kundera). Discute Bauman as expressões de S. Bertman
"cultura agorista" e "cultura apressada": as diferenças
entre adquirir e acumular/descartar/substituir. Discute também as
"relações
puras", aquelas sem compromisso, de duração e alcance indefinidos,
baseadas na ficção. Outra obra considerada pelos autores de importância
à
sociedade líquida é A decadência do
ocidente, de Oswald Spengler, por constituir um paideuma da
cultura. Cegueira moral é um livro
fértil em
ideias e reflexões que pode contribuir muito para a compreensão do
mundo atual,
portanto, da humanidade hoje. Duas
publicações recentes, de máxima
importância, contribuem não apenas para a valorização do patrimônio da
cidade
de Tiradentes como também para o engrandecimento do legado colonial de
Minas
Gerais, uma vez que a qualidade das obras soma-se à bibliografia que
enaltece a
responsabilidade da pesquisa competente no trato relevante dos valores
históricos atrelados à tradição do que a mineiridade tem de mais
genuíno: sua
herança religiosa representada nas artes de gênios que plasmaram a
identidade
do Estado. Sob
a chancela do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES),
os livros, de caráter quase didático e de fácil assimilação, contribuem
para a
preservação e manutenção de patrimônio para zeladores, envolvendo
conservação,
restauração, zeladoria e segurança. Para os profissionais ligados à
defesa do
patrimônio histórico e artístico os livros são imprescindíveis,
porquanto
resultam, além de pesquisas sérias, do aprendizado em oficinas que são
ministradas para segmentos diversos que hoje dão suporte à preservação
patrimonial de Tiradentes. A pedra, a madeira e a terra são esmiuçadas
como
técnicas construtivas tradicionais, constituindo o "esqueleto, músculos
e
carne" das edificações que hoje são motivo de orgulho para todo o país,
por isso preservadas em suas funções mediante o apoio de saberes
compartilhados
que testemunham a permanência do referencial da tradição. Por
outro lado, e concomitantemente, os
livros, de modo objetivo e acessível, orientam leigos e turistas no
conhecimento específico do patrimônio, inclusive com o glossário que
resulta do
trabalho efetivo de uma equipe que dá a vida profissional para que
Tiradentes
mantenha-se como referência sustentável pelo exemplo de ação permanente
impetrado em benefício de sua arquitetura e artes congêneres. Ambos
os livros são úteis, publicados com
competência técnica, por isso axiais para mestres de obras,
marceneiros,
carpinteiros, entalhadores, pintores, oleiros, pedreiros, canteiros,
zeladores,
sineiros e estudiosos que com talento e convicção concorrem para haver
uma
Tiradentes-modelo distinguida historicamente por sua pujança
barrocolonial, a espelhar
exemplo como sói a Ouro Preto, S. João del Rei, Mariana, Congonhas,
Prados,
para citar alguns dos modus vivendi da cultura mineira. No
Manual
de preservação e manutenção de patrimônio, autoria dos
competentes e
experientes Luiz Antonio da Cruz, Maria José Boaventura (ilustradora de
3 livros
meus) e Márcia Heliane, tem-se somatória de experiências in loco
arregimentadas
ao longo de décadas, que resgatam técnicas construtivas e documentam,
inclusive
iconograficamente, seus processos, valorizando em cada etapa os ofícios
responsáveis pela preservação do acervo e dos monumentos constitutivos
da
herança incomensurável na antiga Vila de São José. O livro é
enriquecido com o
inventário dos sinos de Tiradentes, onde eles existem desde 1747,
reunindo e
disponibilizando informações sobre os toques, repiques, sineiros (de 12
a 70
anos), cuidados, localização, identificação e as características da
campana, em
projetos que além do BNDES envolveu o Instituto Histórico e Geográfico daquela cidade. Em
Glossário
do patrimônio, dos mesmos autores, acrescido da pesquisadora
Suelen Lopes
da Cruz, tem-se completa taxonomia dos termos-referências que
constituem o
trabalho dos profissionais do patrimônio, com conteúdos
interdisciplinares
relativos a esse legado histórico, que esclarecem de modo objetivo o
que seja,
de A a Z, a identidade de cada nome dado aos elementos arquitetônicos e
ornamentais formadores das construções seculares, bem como as
habilidades
humanas, ofícios, ferramentas e técnicas para erguê-las e preservá-las.
São,
como se lê na Introdução, "palavras para transmitir a história da
cidade
às gerações futuras e fortalecer a consciência de seu próprio valor".
Presta-se o livro, reitera-se, a pesquisadores, estudantes e público em
geral.
São duas obras merecedoras da leitura de todos que se respeitam
culturalmente e
encontram no patrimônio histórico e artís tico uma resposta para sua
própria
identidade. Os
interessados nas publicações poderão
solicitá-las ao Instituto Histórico e Geográfico de Tiradentes [Rua da
Câmara,
124 - Centro - CEP 36325-000]. Agradecimentos aos amigos Agostinho
Toledo e
Walquir Rocha Avelar Jr., que me trouxeram os livros autografados por
seus
respectivos autores. "O
meio é a
mensagem".
(M. McLuhan) Integrar
- conviver
com as diferenças e crescer com a relação da
cidadania cultural. Completar um todo com as partes que faltavam. Fazer
com que
alguém ou algo passe a pertencer a um todo. Melhorar a situação de
todos os
habitantes e grupos sociais em um dado local de cultura. Ter/reconhecer
interesses comuns. A integração não é estática e permanente, mas é
fluída,
móvel, pluralista. Não é uma imposição inocente, nem uma apropriação.
Ela tem a
ideia real de pertença entre comunidades com o que é de importância
entre si,
na região e nos planos nacional e mundial. Programas
de
integração
- têm por objetivo gerar o mais estreito relacionamento entre grupos
sociais
constitutivos de comunidades produtivas de cultura mediante a
construção de vínculos
de confiança e de cooperação entre os segmentos do povo e como
catalisador da
integração municipal e do seu desenvolvimento, com vistas a promover
aproximações identitárias e agentes de integração conscientes e
dinâmicos,
envolvendo atividades de manifestações populares em níveis de artes e
ciências,
expressões tecnológicas, valores, cursos, palestras, eventos, mostras,
fóruns,
seminários, intercâmbios, integrados com órgãos oficiais existentes,
ONGs,
empresários, representação pública de todos os poderes e todo agente de
desenvolvimento do município e consoante a legislação estabelecida no
país
(Constituição Federal, Lei Orgânica Municipal, Sistema Municipal de
Cultura,
Plano Estadual de Cultura, Fundação Casa de Cultura Carlos Chagas,
entre
outras). Modos
de integração —
do cidadão consigo mesmo (consciência crítica de uma dada realidade
local,
regional, nacional e/ou planetária); —
do cidadão com seu grupo social e sua comunidade; —
das comunidades entre si — do município com a região — da região com o
país; —
do país com o mundo. —
da criança com a criança — da criança com adolescentes e adultos —
da população com atores com necessidades especiais — da população entre
si —
da população com manifestações regionais, nacionais e mundiais. Reconhecimento
interrelacional entre os valores culturais comunitários existentes e
promoção
do seu aperfeiçoamento e do sentimento de pertença mútuo —
fatores e formas sociais que favoreçam a integração cultural; —
prevalência do elemento popular a partir da contribuição da mentalidade
dos
jovens para esse esforço integrador;
—
prevalência das formas de origem social popular como favorável à adoção
de
medidas verdadeiramente integradoras, desde povoados ao distrito, dos
bairros
ao município; —
superação de preconceitos, formas repressivas e dos privilégios de
certas
minorias; —
movimentos demográficos sob formas migratórias rurais e outras; —
as diversas trocas entre mentalidades, crenças, opiniões,
comportamentos sob
influência do rádio, televisão, cinema e internet; —
fortalecimento das experiências democráticas através da cidadania e do
lazer
com interesse pela natureza e preservação do meio ambiente através das
instituições religiosas, da terceira idade, dos valores individuais,
das
expressões artísticas e científicas, dos estudantes, dos desportistas,
dos
movimentos LGBT, dos empresários, dos poderes constituídos, entre
outros
segmentos. Outras
questões
para reflexão —
realização da integração de maneira progressiva e irreversível com
preservação
da identidade cultural de cada comunidade que leve em conta o passado
histórico, as influências geográficas e sociais, a composição das
populações,
os sistema de produção, as distintas maneiras de enfrentar as relações
comunitárias; —
respeito à diversidade; —
superação de focos de resistência do imobilismo comunitário; —
análise dos projetos culturais e sua devida adaptação por parte das
organizações comunitárias; —
resgate permanente da memória coletiva; —
respeito e difusão da alteridade: incluir as diferenças; —
análise do que se ganha com a promoção da integração; —
estabelecimento de harmonia entre apoiadores/detratores de uma política
municipal de patrimônio histórico e artístico; —
fortalecimento das experiências democráticas através da cidadania e do
lazer
com interesse pela natureza e preservação do meio ambiente, pela busca
de
sistemas alimentares que não deteriorem a saúde, por combater o consumo
de
drogas, tabaco e álcool incluídos, por viagens e conhecimento mais
profundo da
realidade nacional, procurando a população envolvida promover a
transformação
da história com soluções práticas de interesses comuns, conhecendo-se a
fundo
as relações entre as comunidades para se criar uma consciência madura e
com
capacidade operativa que a torne eficaz em todos os sentidos; —
tentar determinar a origem e as modalidades da dinâmica das mudanças
culturais
e a incidência sobre elas da globalização da cultura mundial como causa
da
modernização das comunicações e da pressão da mídia; —
observância sistemática das reivindicações/propostas oriundas das
comunidades. São
muitos e em todas as partes do mundo os
autores que consideram haver um "universal cultural" de qualidade de
vida, independente de nação, cultura ou época, quando o importante é
que as
pessoas se sintam bem psicologicamente, possuam boas condições físicas,
estejam
socialmente integradas e sejam funcionalmente competentes (Bullinger).
Esses
autores, com base sobretudo em suas próprias experiências existenciais,
deixaram um legado cujas palavras têm perenemente a força
transformadora da
vida. Seja através da literatura, da religiosidade, da filosofia, das
ciências
e de artes correlatas, tudo contribuindo para aumentar a longevidade
sadia e a
forma de ser feliz. Alcançar
a plenitude na vida é também uma
forma de pensar o bem da vida e praticar com convicção aquilo que a
torna
íntegra em todos os sentidos. Na Carta de São Paulo aos filipenses, por
exemplo, lê-se: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Que a vossa bondade seja
conhecida de todos os homens. Não vos inquieteis com coisa alguma, mas
apresentai as vossas necessidades a Deus. E a paz de Deus, que
ultrapassa todo
o entendimento, guardará os vossos corações e pensamento em Jesus
Cristo (Fi,
4,4-7)". São Francisco deu a dica: "O que temer? Nada. A quem temer?
Ninguém. Por quê? Porque aqueles que se unem a Deus têm três grandes
privilégios: onipotência sem poder, embriaguez sem vinho e vida sem
morte". Chico
Xavier pensou: "Lembre-se (não
se esqueça de que o maior inimigo de suas realizações mais nobres, a
completa
ou incompleta negação do idealismo sublime que você apregoa, o
arquiteto de
suas aflições e o destruidor de suas oportunidades de elevação — é você
mesmo". William Shakespeare aconselhou: "Plante seu jardim e decore
sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E aprende
que
realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida". Sarah
Westphal também incentiva a dinâmica da vida: "Gaste mais horas
realizando
que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando". Pensamento
muito antigo da cultura ibérica,
Fernando Pessoa atualizou: "Navegar é preciso. Viver não é preciso. O
que
é necessário é criar". Um desconhecido escreveu: "Viva hoje! Faça
hoje! Não se deixe morrer lentamente". Olavo Bilac "salvou" a
vida dos existencialmente inconclusos: "Vidas que não têm vida,
existências que invento". E Mario Quintana arremata: "Como a vida é
bela! Como a vida é louca! É um dever que trouxemos para fazer em
casa".
Vinicius de Moraes alertou: "São demais os perigos dessa vida para quem
tem paixão, principalmente". Henry David Thoreau foi ecológico: "Viva
cada estação, enquanto elas duram, respire o ar, saboreie a fruta, e
deixe-se
levar pelas influências de cada uma". Clarice
Lispector admoestou: "Mas há a
vida que é para ser intensamente vivida. Há o amor, que tem de ser
vivido até a
última gota. Sem nenhum medo". Augusto Cury: "Ser feliz é deixar de
ser vítima dos problemas e se tornar autor da própria história. É
agradecer a
Deus a cada manhã pelo milagre da vida. É não ter medo dos próprios
sentimentos. Duvide de tudo que compromete a vida. Duvide do controle
que a
miséria, ansiedade, egoísmo, intolerância e a irritabilidade exercem
sobre
você". Um outro desconhecido esculpiu: "O segredo não é correr atrás
das borboletas. É cuidar do jardim para que elas venham até você".
Racional, mas humano, demasiado humano, Steve Jobs postulou: "Não há
razão
para não seguir seu coração". E Mahatma Gandhi, sábio, aconselhou:
"Viva
como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se fosse viver para sempre".
Simples e profunda, a goiana Cora Coralina escreveu: "Nada que vivemos
tem
sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Feliz aquele que
transfere o
que sabe e aprende o que ensina". Victor Hugo: "Não faça com o
próximo o que não quer para si mesmo".
Curto
e grosso: "Tua vida é resultado
de tuas escolhas" (Augusto Branco). Curto e fino: "Para viver de
verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena,
é
preciso ser amado, e amar e amar-se. Ter esperança, qualquer
esperança".
Mais um desconhecido genial: "Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o
que
você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma
chance
de fazer aquilo que se quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la
doce.
Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E
esperança
suficiente para fazê-la feliz". Uma
grande lição de vida está neste excerto
de Alfredo Ciervo Barrero: "É proibido chorar sem aprender. Não
transformar sonhos em realidade. Ter medo da vida e de seus
compromissos. É
proibido não criar sua história. Não sentir que sem você este mundo não
seria
igual". Pablo Picasso, por sua vez, pintou essa preciosidade vital:
"Jogue fora os números não essenciais para sua sobrevivência. Isso
inclui
idade, peso e altura. Deixe o médico se preocupar com eles. Não deixe
seu
cérebro desocupado. O nome do diabo é Alzheimer. Curta coisas simples.
Ria
muito e alto. Lágrimas acontecem. Aguente, sofra e siga em frente. A
única
pessoa que acompanha você a vida toda é você mesmo. Seu lar é seu
refúgio.
Aproveite sua saúde. Não faça viagens de remorso. A vida não é medida
pelo
número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você
perdeu o
fôlego de tanto rir de surpresa, de êxtase, de felicidade". Arnaldo
Jabor:
"Nada de drama". William Blake foi da nano ciência à infinitude:
"Veja o mundo num grão de areia. Veja o céu em um campo florido. Guarde
o
infinito na palma da mão. E a eternidade em uma hora de vida".
"Chorar não resolve", disse Charlie Chaplin. E Paulo Coelho: "De
nada adianta apressar as coisas, tudo vem a seu tempo". Maurício
Almeida nasceu em Oliveira em
1955, onde também morreu em junho de 2006. Autodidata, foi artista
plástico, diretor,
autor e ator de teatro, fundador do Grupo Protozoários Contadores de
Casos e do
Bloco Pelo Amooor de Deus. Funcionário público, trabalhou na Casa de
Cultura
Carlos Chagas, foi professor de alfabetização do Mobral, ambientalista,
presidente por mais de dez anos da Associação dos Congadeiros Geraldo
Bispo dos
Santos, articulista da Gazeta de Minas. Inovador, avesso a padrões
estabelecidos, cultor da reflexão, da transcendência, tinha fortes
influências
orientais em seu comportamento capricorniano. Como pensador da vida,
deixou um
legado de Agendas onde registrou ao longo de quatro décadas reflexões
profundas
a respeito do processo da arte, das agruras da vida, de sua geração
cheia de grilos e porralouquice.
Expôs suas
obras em diversos salões, deixando um acervo considerável, viajou muito
pelo
país, sempre tirando proveito das experiências existencialistas do seu
comportamento irrequieto, dessacralizador e moralizante. Cultivava
amizades
como sendo esta uma forte característica do seu caráter. Seu exemplo
insuma a
história de Oliveira como um genuíno criador inventivo, que veio dos
revolucionários anos 60 à atualidade lutando pelos ideais das artes e
em função
do seu semelhante. Maurício
Almeida viveu profundamente tudo
que tocava seus sentidos. Era um ser humano notável, despojado, feitor
do bem.
Etéreo e telúrico, cósmico, pensador, epistolar. Aliás é nas cartas que
projeta
suas constantes transformações e fantasmas, reflete sobre o
homossexualismo, a
sexualidade, sobre sua doença, a cultura universal de que se serve para
contextualizar-se e garimpar referências de sua vida de sagrada orgia e
aprendizado perene. Seu legado escrito evidencia que tudo era como se a
loucura
fosse policiada pelo excesso de lucidez. É como se, por carência,
transbordasse
de amor pelo sem fim de amigos(as) que manteve para adubar sua solidão.
Essa
vertente mauriciana é merecedora de um estudo à parte. Ela contém, além
dos grilos, os problemas de uma
geração
encucada, jovens rompendo preconceitos, desafiando tradições e tabus,
impondo-se
pela e com a diferença, derruindo amarras domésticas, entre ser hippie
e yuppie
ou de simplesmente ser, afrontando a caretice e a hipocrisia da
sociedade,
revolucionando a si mesmos com parâmetros novos eivados de suspeições e
incertezas. Maurício é o primeiro a ousar registrar esses grilos e o primeiro a assumir um estilo
de vida contrário às
convenções, porquanto pautado em atitudes que comprovavam sua
tenacidade para o
trabalho. Por isso é preciso ler Maurício Almeida como se faz uma
leitura do
mundo: work in progress. Espírito
evolutivo, mente escancarada para o novo, experiencial como Aldous
Huxley e os
poetas da beat generation, frágil
como borboleta, Angelus Novus de Paul Klee, poderoso como os
sábios, benevolente com os necessitados, ácido com os arrogantes,
solidário com
todos que elegeram a vida — assim era Maurício. Ele tinha plena
consciência de
assumir um ser-em-conflito, de vivenciar um hedonismo infeliz e fugaz,
de ser
tolerante com suas próprias frustrações, de lutar todo o tempo para ser
"emocionalmente desenvolvido" em meio a rejeições, astrais
angustiantes, limitações pessoais, contatos com desejos mórbidos,
círculo
vicioso e viciado, apelações baratas, comprometimentos emocionais,
loucuras,
"prazeres passageiros de vagas lembranças e imagens a que minha solidão
me
condena", escreveu. Sempre havia em sua vida um amor bandido para ser
amado, um alguém puxando o coração pela boca num domingo de chuva e com
cheiro
de baseado no ar. Havia um Maurício Almeida na cola de seus amigos como
nossa
mãe Nilza, dos cantores Elis Regina, Milton Nascimento, de Paula
& Bebeto,
Túlio Mourão, Tutti Maravilha, Sebastião Pedrosa Pereira, Rodrigo
Patrus
Almeida, Lázara Pires, Márcio Gato, Soninha Salgado... Havia um
Maurício
excelente cozinheiro, macrobiótico, devoto de santos fortes, Elza, de
todos os
botecos e de muitas imprecações. Havia um Maurício Almeida Sabará
Horrorosa de
um Pelo Amooor de Deus revitalizador do carnaval oliveirense,
responsável pela
mais legítima coesão sociocultural da terra de Carlos Chagas, pela
projeção
nacional do município como ponto turístico. Há um Maurício na fonte
luminosa da
Praça XV. Presente em todos os lugares, corações e mentes de tanta
gente que o
amava e que conserva esse sentimento como valor perene. Há um Maurício
Almeida
que vive na memória do nosso povo. No
ensejo, agradeço de público a Márcio
Gato pela comovente homenagem prestada a Maurício Almeida no carnaval
deste ano
pelos Loucos Varridos e a Tal Cia. de Teatro na qual prevaleceram a
criatividade, a coerência, o desprendimento e a competência deste que
hoje é um
baluarte da cultura, e a diretora Ana Maria Barros Assis, pela
exposição do
homenageado em tamanho natural, no hall da Casa de Cultura Carlos
Chagas. março,
2016 CORRESPONDÊNCIA
PARA ESTA SEÇÃO Av.
Américo Leite,
130 – Centro 35540-000
–
Oliveira/MG |