CENA I

 

 

Aberto o compasso

prostra-se o coração,

doído, marcado,

pelas cicatrizes

intrauterinas

entre cantadas

ao vento.

 

 

 

 

 

 

CENA II

 

 

A flacidez oscular

da retina

revolve os dejetos.

Pálpebras desconexas

calam tua boca

vermelho carmim,

esquecida

no canto do olho.

 

 

 

 

 

 

CENA III - 2011

 

 

Mudo sigo

qual girino errante

nos flúidos do cio

perdido.

Vulvas e línguas

mudas

[re]cortam lembranças.

 

 

 

 

 

 

CENA IV

 

 

A pele das mãos

enrugada.

Pintas, ferrugens

cortam e contam

passado sem te(n)sões.

 

Reúnem-se espectros

no pátio da vida.

planejam o sequestro

do tempo que resta.

 

 

 

 

 

 

CENA V

 

 

Troco teu olhar

por um verbo

teu sorriso

por um poema

ou vice verso.

 

 

 

 

 

 

CENA VI

 

 

O corpo nu

sobre a mesa:

sobremesa poética.

 

Meu verso nu

sobre a cama:

estupro poético.

 

 

 

 

 

 

CENA VII

 

 

A carne sa[n]grando

expõe verso impotente.

Do pulso cortado

jorra poesia:

navalha poética.

 

 

 

 

 

 

CENA VIII

 

 

Embrulhei meus versos

em papel de pão.

p[ã]oemei

pô (r) amei!

 

 

 

 

 

 

CENA IX

 

 

Sorvo o sangue

dos teus versos:

revagino poemas.

 

Copo e corpo

um só espaço:

verso embriagado.

 

 

 

 

 

 

CENA X

 

 

Entre tuas coxas

percebo a flacidez

do meu desejo.

Entumecidos pensamentos

resgatam antigos momentos

te buscam outra vez.

Existo só —

impotente de palavras

pleno de vontades.

 

 

 

 

 

 

CENA XI

 

 

É preciso preliminares!

Nenhum registro

nenhum poema.

Caneta estupra

a folha branca.

 

 

 

 

 

 

CENA XII

 

 

Passam-se os anos

a vida esco(l)a

entre esquálidos dedos.

Procuro vaidades

esqueço verdades

Ampulheta

— a punheta —

hediondo mercador.

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Pinheiro Neto. Nasceu no dia 29 de outubro de 1948, em Florianópolis/SC. Há 28 anos, passou a residir na Barra da Lagoa, praia localizada na região leste da Ilha, onde produz sua obra literária. Publicou os livros de poesia Iriamar (1978), Chrischelle (1980), Minha Senhora do Desterro (1981), A Rosa do Verso (1988), Ciclo dos Olhos (1998), Poemas Reunidos (2010) e o livro de contos Histórias de (a)mar e outras (2009), premiado como o melhor do ano em Santa Catarina. Participou de várias antologias literárias em âmbito nacional. Foi presidente da Associação Catarinense de Escritores (ACEs), na década de 1980, onde editou o jornal "Engenho", promoveu o I Encontro Nacional de Escritores e organizou a antologia 21 Dedos de Prosa, reunindo os  contistas catarinenses de maior expressão à época. Juntamente com Silveira de Souza, escreveu o roteiro A Honra da Casa, para o primeiro especial filmado por uma emissora de TV em Santa Catarina, a RBS, que em 1980 comemorava seu primeiro ano de operações naquele Estado.  Membro e atual Vice-Presidente da Academia Catarinense de Letras, integra a Associação Catarinense de Imprensa e a Associação Cultural Poemas à Flor da Pele. Mantém o blogue Confraria da Leitura-pn.