©albert pocej
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Bebamos! Nem um canto de saudade!

Morrem na embriaguez da vida as dores!

Que importam sonhos, ilusões desfeitas?

Fenecem como as flores!

José Bonifácio

 

 

I

 

 

Caio fumava na varanda do apartamento. Mesmo com o céu nublado, ele conseguia ver algumas estrelas. Sua taça de vinho estava vazia.

— Quer mais um pouco? — Antonia aproximou-se dele.

— Sim, obrigado.

— Está quente hoje.

— Abafado. Pelo menos aqui fora dá pra sentir a brisa fraca do mar.

— Se quiser eu ligo o ar na sala.

— Não precisa. Não foi minha intenção. Não era uma indireta.

— Eu sei, Caio, não precisa ficar nervoso. Aqui fora está mais gostoso mesmo. A gente podia continuar o sarau na varanda.

— Acho que vão preferir ficar lá dentro. É mais confortável. Onde Jim está?

— Por que você o chama assim?

— Porque ele pediu. Ele gosta. Seu namorado é meio doido.

— Essa mania dele de ficar igual ao Jim Morrison é tão ridícula.

— Deixa ele se divertir.

— Ele não se parece em nada com Jim Morrison. Mesmo com aquele cabelo, nada. Fica lendo os poemas do Morrison, depois lê os dele, que são plágios descarados, fica tão bobo.

— Antonia, não liga. Se ele se diverte, é o que importa.

— Você é tão diferente dele, nem sei como são amigos.

— Ninguém precisa ser igual a ninguém pra se gostar. Eu gosto dele.

— Eu sei. Não foi isso que eu quis dizer. Pra mim você é muito mais Jim Morrison do que ele.

— Como assim?

— Você sabe o que estou querendo dizer. Suas poesias são originais. Você tem paixão quando as lê pra gente. É diferente.

— Obrigado, Antonia. Vou aceitar como um elogio. Apesar de considerar tudo nessa vida um grande clichê. Não há nada original, nem mesmo isso que estou dizendo, e meus poemas, então, muito menos.

— Mas foi um elogio, Caio. E discordo de você. Ou discordo em parte, vai. Mesmo que tudo nessa vida seja um grande clichê como você diz, existem pessoas que trabalham melhor os clichês do que outras.

— Você acabou de dizer uma verdade. Quer um cigarro?

— Aceito. — Ele acendeu um cigarro para ela e outro para ele. — Tenho que contar uma coisa pra você.

— O que é, Antonia?

— Sonhei com você outro dia.

— E como foi?

— A gente fazia sexo. Foi maravilhoso.

— Nem brinca com uma coisa dessas.

— Eu sei. Eu sei. Não devia ter falado. Mas está difícil, Caio. Estou completamente apaixonada por você.

— Você é namorada do meu amigo. E eu estou com a Cíntia.

— Você não está com a Cíntia. Hoje é a segunda vez que vocês saem juntos.

— Então. Segunda vez.

— Eu termino com ele se você quiser.

— Não faça isso, Antonia. Ouviu? Não faça.

— Eu quero você, Caio, eu estou doida. — Antonia beijou a boca de Caio, que se desvencilhou.

— Que merda, garota! Você é maluca. Vou ao banheiro.

Caio entrou no apartamento. Cíntia estava na sala com um casal de amigos. Ao passar pela porta da cozinha, viu que Rogério, seu amigo arremedo de Jim Morrison, estava lá.

— Onde vai, Caio? Me ajuda aqui a abrir mais garrafas.

— Não dá. Tenho que ir ao banheiro. Já volto. Chama o imprestável do Ricardo.

Caio entrou no banheiro e tirou o pau de dentro das calças. Precisou sentar na privada para mijar pois o pau estava duro. Que filha da puta, pensou. Antonia vai me meter em confusão. Que beijo foi aquele? Seu lábio parecia derreter na minha língua. Pior que ácido. Imagina a boceta. Eu não posso pensar nisso. Como vou mijar assim? Minha piroca está mais dura que concreto. Vou ter que bater uma aqui nesse banheiro. E mais tarde quando eu for comer a Cíntia? Até que é bom, levo mais tempo pra gozar.

— Demorou, hein! — Disse Ricardo, que aguardava do lado de fora. — Estava cagando?

— Não. Bati uma punheta pensando na sua mãe.

— Rá-rá. Boa, filho da puta. Agora deixa eu entrar.

Caio sentiu-se aliviado. Pensou nunca ter visto tanta porra saindo do seu pau. Lamentou-se que Cíntia não teria oportunidade de beber aquele tanto de esperma. Ele sempre perguntava para as garotas que saía se elas gostavam de toddynho, e elas nunca entendiam a pergunta. Sou mesmo um filho da puta, pensou Caio. Riu. Vou acabar perdendo o amigo.

 

 

II

 

 

O sarau continuou. Beberam mais garrafas de vinho. Rogério fez novas performances como Jim. Ricardo quis ler Noite na taverna, mas só o deixaram ler um breve trecho. Cíntia estava com uma edição bilíngue de As flores do mal e leu alguns poemas, primeiro a tradução, depois o original. Ao ler em francês, Caio ficou novamente excitado. Antonia, que não tirava os olhos dele, percebeu. Suas bochechas ficaram vermelhas, com ciúmes.

— Por que você não tira a blusa pra ler, Cíntia? — Antonia interrompeu a leitura de um dos poemas, era o La beauté. Cíntia olhou para a amiga e percebeu emoções contraditórias em seu rosto. Os demais mantiveram-se em silêncio, sem entender. Cíntia esquadrinhou a sala, terminando em Caio. Olhos no olhos, ela entendeu. Dente por dente, então é isso, pensou.

— Tudo bem, Antonia. — Respondeu. — Rogério, enche minha taça, por favor. — Ele encheu e Cíntia virou tudo em um gole. Depois levantou a blusa, soltou o fecho do sutiã e tirou o acessório. Caio deu vivas a Federico Fellini. Os seios de Cíntia eram grandes, mas isso todos sabiam. Seus mamilos também eram grandes e escuros. A barriga, proeminente. Era o oposto de Antonia, pequenina, delicada. Cíntia era cheia, selvagem, por pouco não era grotesca. A leitura feroz que veio a seguir deixou a todos, menos Antonia, que estava mordida, bastante animados. Alessandra, a terceira mulher presente no apartamento, namorada de Ricardo, também queria tirar a roupa para ler um poema, mas Ricardo não deixou. Os dois brigaram, depois que ela argumentou que ele ficara por demais entusiasmado com o nu de Cíntia.

— Vou chamar a fada verde, crianças. — Disse Caio.

— Quem? — Perguntou Alessandra.

— Vou abrir a garrafa de absinto. Já bebeu?

— Não.

— Então vai provar.

Caio foi pegar a garrafa na geladeira. Antonia foi atrás dele.

— O que você está fazendo, Caio? Vai embebedar todo mundo. E por que permitiu que a Cíntia tirasse a blusa?

— Ora, Antonia. Como você mesma disse, é a segunda vez que saio com ela. E mesmo que fosse minha namorada, não sou como Ricardo. Ela não é propriedade minha, faz o que bem entender. Além disso, foi ideia sua.

— Que merda!

— Que merda o quê? Relaxa, menina! Você hoje vai conhecer uma fadinha bem divertida. — Disse ele, sorrindo e se aproximando do ouvido de Antonia. — Quando você me beijou na varanda, fiquei de pau duro. Tive que ir ao banheiro dar um jeito. — Cochichou Caio e saiu da cozinha, deixando-a só.

Na sala, Rogério se preparava para ler outro de seus poemas imitação de Morrison. Caio interrompeu-o:

— Nada disso, meu querido Jim, que agora é a minha vez. Ainda não li nenhum, mas antes minha amiga fada quer lambê-los na língua. Bebam, bebam, amigos! — Disse Caio, e entregou um copo com absinto para cada um. Alessandra parecia criança e Ricardo ainda estava emburrado. — Você também vai beber, Ric, e vai mudar essa cara. Não seja um chato, meu amigo. Beija a fada, vamos ser felizes.

— Conheço muito bem sua felicidade, Caio. Não enche.

— Então não beba. Chato.

— Me dá isso aqui. Eu vou beber. — Ricardo arrancou o copo da mão de Caio e virou toda a bebida de uma vez.

— Não brindou. Vai ficar sete anos sem foder. — Disse Rogério, rindo. Todos riram em seguida. Antonia, que voltava da cozinha, não havia escutado o gracejo e não riu.

— Vai se foder, Rogério. — Disse Ricardo.

— É Jim, eu já disse. Me chamem de Jim.

— Jim é o caralho. — Disse Ricardo.

— Para com isso, amor. — Pediu Alessandra. — Estamos nos divertindo. Não seja estraga-prazer.

— Vamos brindar. — Disse Caio, enquanto servia Antonia de absinto.

Todos brindaram, até Ricardo, pois Caio encheu novamente seu copo. Depois de beberem, Caio leu um poema.

 

Que desvio foi este dos caminhos errados que escolhi renunciar,

trilhar esta rotina correta que me conduz para oeste [...]

 

Quando terminou, foi Cíntia quem quebrou o silêncio:

— É seu? Achei-o tão triste.

— Não é meu. É um pouco triste, sim, fala da morte. Sempre é triste.

— De quem é? — Perguntou Antonia.

— É de um poeta obscuro, acho que dos países baixos, não sei ao certo.

— Como não sabe? — Perguntou Rogério.

— Sabe como é, outro dia entrei num sebo, estava folheando um livro, gostei do poema, estava sem grana e arranquei a página. Procurei na internet mas não encontrei nada. Na página arrancada só dizia: "o ponto cardeal definitivo é o poente". Acho que é o nome do poema. O poente, onde o sol se põe. O fim. A morte.

— Isso a gente entendeu, Caio. — Disse Ricardo — Então você estragou o livro? Ainda por cima de um sebo? Sebo costuma vender livro velho e barato.

— Que se foda o sebo, o livro e você. Gostei do poema. Peguei.

— Sim, isso é você.

— O que você está insinuando?

— Não estou insinuando, estou dizendo.

— Vocês querem parar com isso? Que merda! — Disse Cíntia.

— Você não tem nada seu aí? — Antonia mudou de assunto.

— Tenho dois versinhos inacabados aqui no bolso.

— Leia então pra gente. — Pediu Antonia.

— Tudo bem.

 

Da memória embebida em negro torpor

já não me engano de enganos,

mas de verdades inteiras.

 

— Só isso? — Perguntou Rogério.

— Gostei. — Disse Antonia.

— Eu também. — Disse Alessandra.

— Pelo menos quando escreve poesia é sincero. — Completou Ricardo.

— E o outro? Leia também! — Disse Antonia.

— Ok. Lá vai.

 

Tocava Johnny Cash na vitrola

enquanto o verde vivo da manhã

mostrava-lhe um sorriso de escárnio.

 

E agora que ela foi embora? Perguntou-se.

Uma dose de Jack Daniel's antes do meio-dia

é tudo que lhe resta.

 

Tão clichê a poesia quanto a vida —

sou eu, o poeta, ou o amor

que não presta?

 

— Seu pilantra, salafrário. — Disse Ricardo. — Você não presta, mas é um poeta de mão cheia.

— Se isso foi um elogio, posso dizer que também gostei. — Disse Cíntia.

— Eu também. — Disse Alessandra.

— Vamos parar com isso. — Rogério falou.

— Não gostou? — Perguntou Antonia.

— Gostei, sim. Gosto da poesia do Caio. Mas também não vejo necessidade de tanta melação.

— Está com ciúme. — Cíntia provocou.

— É inveja. — Murmurou Ricardo. Rogério não ouviu.

— Ciúme? Por quê?

— Nada. Esquece. — Respondeu Cíntia.

— Porque ele é muito melhor que você. — Falou Ricardo.

— O que você disse? — Rogério perguntou.

— Você ouviu o que eu disse.

— Não ouvi. O que é melhor?

— Esse absinto que é melhor do que o vinho que a gente estava bebendo. Estou com um calor filho da puta. Vou lá pra fora fumar.

— Eu também. — Disse Caio.

Os dois saíram até a varanda. Acenderam os cigarros. Caio falou primeiro:

— Você hoje está impossível.

— Eu? Eu estou impossível? Tem certeza que não está falando de si mesmo?

— É você quem está soltando farpas pra todo lado.

— Farpas? Você acha que eu sou cego? Que eu não vejo a Antonia atrás de você a noite toda. E aquele tapado do Rogério, uma hora ele vai perceber. Até idiotas como ele uma hora percebem. Aí depois ainda vem com aquela história de fadinha. Eu conheço você muito bem, Caio. Achou o quê? Que eu ia deixar minha mulher mostrar os peitos também? Por você já estava todo mundo aqui nu, um comendo o outro e de preferência você comendo as três mulheres.

— Não é má ideia, meu amigo. Você não comeria a Cíntia e a Antonia?

— Vai se foder, Caio. E fica longe da Alessandra.

— Estou brincando, Ricardo. Não leve tudo tão a sério.

— Não está brincando, não. Se todos topassem, você ia adorar. O pior é que a sua lábia ainda convenceria o pobre coitado do Rogério, e aí você comeria as duas e ele ficaria lambendo os beiços.

— Seu receio é "e se Alessandra topasse também".

— Acho melhor parar por aqui.

— Tudo bem. Não falo mais nada. Você é meu amigo.

— Você não presta, Caio. Vou embora.

— Está cedo.

— Não, não está. E não faça merda. O Rogério adora você.

— Ric, espera! — Disse Caio, e Ricardo se virou. — A história do sebo eu inventei, aquele poema também era meu.

— Boa noite, Caio.

Ricardo voltou à sala, avisou Alessandra que era hora de irem, ela protestou, mas sem muita convicção, sendo vencida rapidamente. Eles se despediram dos demais e partiram.

 

 

III

 

 

Caio propôs outra rodada de absinto.

— Vamos brincar, fadinha. Vamos sorrir, fadinha. Vamos dançar, fadinha. — Disse ele, enquanto rodopiava no meio da sala, com o copo de absinto na mão levantada acima da cabeça. — Música. Música, Antonia. — Pediu.

— Vamos colocar The Doors. — Falou Rogério, correndo até o aparelho de som. Ninguém contradisse. Antonia e Cíntia se levantaram do sofá e se juntaram aos dois. Começaram a dançar. Caio passou outra rodada de absinto, pegou seu copo e saiu para fumar mais um cigarro. Cíntia o acompanhou.

— O que está acontecendo entre você e Antonia? — Ela perguntou.

— Nada. — Respondeu ele, dando um trago.

— Nada o cacete. Não sou idiota como o Rogério. Olha, Caio, não somos nada um do outro. Se não me quiser, basta dizer.

— Eu quero. Estou com um baita tesão. Vamos foder hoje.

— Você quer me foder, mas também quer foder Antonia.

— O que você está propondo?

— Mas é um filho da puta mesmo, nem disfarça.

— Disfarçar por que, meu amor? Vamos foder como cães sob essas estrelas. As nuvens se foram, vê?

— Você bebeu demais.

— Não o bastante. Uma pena que não temos lua hoje. Mas essa sua bunda redonda e carnuda pode ser a minha lua por algumas horas.

— Está me chamando de gorda?

— Estou dizendo que você é gostosa, tesuda, e que quero foder você hoje. Estou com o pau duro, sente. — Caio pegou a mão de Cíntia e trouxe para perto da sua calça. Ela deixou e sentiu o volume.

— Me chupa agora, aqui.

— Você está doido, Caio!

— Estou doido, sim. — Ele disse, e abriu o zíper da calça. Colocou para fora o pau e beijou Cíntia na boca. Ela começou a bater uma punheta nele.

— Você é doido. — Ela disse.

— Me chupa, tesuda. — Caio sussurrou, mordendo o lábio inferior de Cíntia.

Antonia chegou na varanda e viu os dois agarrados. Cíntia parou e Caio guardou calmamente seu pau, deixando que Antonia o visse completamente duro. Ela estava sem graça. Pediu um cigarro. Quando Rogério apareceu na varanda, tudo já parecia normal. Antonia terminou o cigarro e disse:

— Acho que vou pra cama. Você vem, querido?

— Vou. — Respondeu Rogério.

— Vocês podem dormir no quarto de hóspedes. — Disse Antonia.

— Obrigado. — Respondeu Cíntia.

— Boa noite, então. — Disse Caio.

— Boa noite. — Disseram Rogério e Antonia juntos.

Depois que os dois entraram, Caio puxou Cíntia pelo pescoço e a beijou.

— Vamos entrar. Nada de foder sob as estrelas à vista de todos. — Ela disse. Foram para o quarto também. Desta vez, Cíntia abriu o zíper da calça de Caio. — Vou chupar você, como queria.

Os dois foderam. Caio demorou para gozar. Não muito, mas o suficiente para Cíntia ter alguns orgasmos. Ele quis gozar atrás e ela deixou, como na primeira vez que saíram. Ele tinha gostado disso. O prazer de Cíntia parece genuíno, pensou. Quando acabaram, ele a chamou para irem fumar, mas ela não quis. Ficou deitada. Ele foi até a varanda da sala. Acendeu seu cigarro. Escutou passos e se virou para ver. Era Antonia.

— Rogério dormiu. — Ela disse.

— Acho que Cíntia também.

— Me dá um cigarro. — Ela pediu. Ele acendeu um para ela e outro para ele.

— Estou na merda, Caio.

— E quer me levar junto, já percebi.

— Falo sério, estou apaixonada por você.

— Você sabe que não vai dar certo. Sabe que eu vou ceder, a gente vai trepar por um tempo, provavelmente bem curto, eu vou perder o amigo, você o namorado e pronto.

— Você não pode ter certeza.

— De qual parte, Antonia?

— Que vai ser curto o tempo da gente.

— Do que acabei de dizer, você se prendeu nisso? Saiba que vai ser exatamente assim. Talvez o restante não. Talvez eu não perca o amigo e só você perca o namorado, embora o mais provável, em se tratando de quem estamos falando, seja eu perder o amigo e você não perder o namorado.

— O que a gente vai fazer?

— Você já sabe o que a gente vai fazer. Eu já sei o que a gente vai fazer. Está bem na cara.

— Não vou fazer nada com você agora. Está com o cheiro da Cíntia. Ouvi vocês.

— Gostou de ouvir?

— Não brinca comigo, Caio. Odiei. Odiei ouvir vocês fazendo sexo.

— Rogério ouviu também? O que ele disse? Não ficou com vontade?

— Ele apagou assim que deitou na cama. Você encheu ele com aquela bebida verde. Você encheu todos nós com ela.

— Tem gente que não aguenta a fadinha. Então vocês não fizeram nada hoje?

— Não.

Caio agarrou Antonia pela cintura e tentou beijar sua boca. Ela virou o rosto, mas não se afastou dele.

— Não faça isso, Caio.

— Faço. — Disse ele. E segurando a nuca de Antonia com uma das mãos a beijou. Um beijo estúpido, de quem faz as coisas sem razão. Antonia começou a chorar e ele parou.

— O que foi?

— Eu vou odiar você Caio. Acabei de descobrir que eu vou odiar você.

— Eu sei disso, Antonia. E eu vou amá-la. Eu vou amá-la do meu jeito, mas saiba que eu vou amá-la de verdade. Daqui a vinte anos você vai se lembrar de mim e do que eu disse esta noite aqui fora nesta varanda. Eu vou amá-la, Antonia.

Ela entrou no apartamento e foi para o quarto. Rogério dormia profundamente. Ela deitou ao seu lado e chorou mais um pouco, baixinho. Caio continuava na varanda, acendeu outro cigarro, estava novamente de pau duro.

 

 

setembro, 2016

 

 

Rodrigo Novaes de Almeida é autor de Rapsódias — Primeiras histórias breves (contos, Multifoco, 2009), Carnebruta (contos, Oito e Meio e Apicuri, 2012) e A construção da paisagem (crônicas, com Christiane Angelotti, Sapere, 2012). Tem textos publicados no Le Monde Diplomatique Brasil, Jornal Rascunho, Observatório da Imprensa, Jornal Relevo, TriploV, Cronópios, Jornal Opção, entre outros. Site: www.rodrigonovaesdealmeida.com.

 

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