©kindra nicole

 

 

 
 

 

 

 

JORNADA

 

 

Lance seu barco na água.

Se o vento é leste ou se tem calmaria.

Se estiver triste, se sentir medo.

REME!

 

Vá com o sexto sentido

segure o leme, aprume a quilha

Se as águas são turvas,

se as nuvens são negras

se as ondas são bravas.

REME!

 

Vá com o instinto, alerta.

Lance seu barco no rio

oceano ou lagos.

Se tiver nevoeiro, cautela

mas não desista

siga, olhe para frente.

REME!

 

Não importa o destino

corrija a bússola

a ordem do dia é o destemor.

REME!

 

Se guie pelas estrelas

siga o albatroz e os golfinhos

busque um farol.

Se anoitece, logo amanhecerá

REME!

 

Há um porto ou uma ilha à sua espera

permita-se aportar com suas qualidades.

Jogue a âncora, descanse.

Use não só os adornos do corpo

mas também os atavios da alma.

Da união com a Natureza nascerá

a nova definição de si mesma.

 

 

 

 

 

 

VIAGEM

 

 

Passam cidades e casas e eu,

passageira num caminho de flores,

passo anônima pela estrada.

 

O rio que passa tecendo curvas

abrindo grotas entre fronteiras

ignora moedas e bandeiras, rasgando emblemas e preceitos.

Admiro o contorno das montanhas

a variedade do verde, o voo da gaivota

a mansidão do mar.

 

Sinto estranheza com tantos idiomas.

 

No saguão do hotel, no caos das bagagens,

pessoas acotovelam-se à procura do Wi-Fi

e se atropelam em busca do melhor ângulo para a selfie,

celebrando a autoimagem exibida

em fração de segundos nos Zaps.

 

Indivíduo e virtual confundem-se nas redes sociais

realçando a necessidade de afirmação da existência.

 

No quarto de hotel as cores sumiram.

 

Sob o sol em brasa, não suo nem sou. Só sou.

 

Longe do burburinho, há sossego dentro de mim,

à parte do desfile de Narcisos,

fecho a janela da alma e me sinto estrangeira entre os meus.

 

 

 

 

 

 

GÊNESIS

 

 

Caos, trevas, nada.

Ser réptil, ser humano.

Evolução Darwiniana? Criação Divina.

Ser Eu, ser você

Ser nada, ser cada

Ser inércia, ser poder

Ser ele, ser nós

Ser tudo, ser pó

Ser sombra, ser voz.

Ser fêmea, ser macho

Ser água, ser fogo.

Ser vento, espaço.

Alegria, sufoco.

Ser bicho, ser flor

Ser essa, aquela

Ser música, ser dor

Ser cabeça, coração

Ser Terra, ser Marte

Ser Mulher, ser vulcão!

No círculo da vida, ser uma semente

solta ao vento, saída do ventre

da mãe Terra.

Em busca da água da Fonte

para germinar, crescer e se reproduzir.

Ser energia, ser luz!

 

 

 

 

 

 

SAUDADES

 

 

Em que jardim foste recolher novas flores?

Em qual pomar saboreias novos frutos?

Em qual vitrine, colorida, prendeste o olhar?

Em qual pôr do sol inspiras novas poesias?

Em qual fonte sacias a curiosidade pelas questões existenciais?

Nos perdemos por novos rumos

a bússola aponta outro norte

o magnetismo quebrou-se

nos fragmentos da amizade

resta, apenas, a saudade...

 

 

 

 

 

 

A FONTE

 

 

Veja: está brotando a água

numa mistura de cores!

Venha, minha menina,

a porta do coração está aberta,

deixe entrar a luz.

Venha, minha criança,

que essa água vai banhar

todas as feridas e

abrandar a dor.

Veja: a escuridão se foi,

a luz do Universo

inunda nosso coração!

Deixe a porta aberta

permita que a leveza

nos conduza num banho

numa dança suave

com os raios do sol.

Venha, minha menina,

dancemos juntas.

A fonte cuida de nós!

 

                  

 

 

 

 

 

 

 

 


Heloísa Helena Capinan foi uma poeta e psicóloga nascida em Pedras, no município de Três Rios (BA), em 24 de abril de 1949. Faleceu em 13 de dezembro de 2015, de traumatismo craniano, em Salvador (BA). Irmã do poeta e compositor José Carlos Capinan (membro da Academia Baiana de Letras) e tia do poeta e comerciante Castro Rosas (membro da Academia Teixeirense de Letras). Sua obra está sendo organizada para sair em livro.