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o brasil vai de mal a pior

 

 

O Brasil vai muito mal. As crises da água, energia, educação, desemprego, corrupção, inflação, defasagem cambial, juros exorbitantes, do crescimento zero, além da política que privilegia só os políticos, mas não o país, comprovam porque a presidenta Dilma Rousseff se abalou com a vertiginosa queda de popularidade. Agora seu marqueteiro vai tentar reverter a situação, contando novas mentiras para o povo, patrocinado pelos contribuintes. A presidenta é, mais do que nunca, uma grande decepção. A pose de empáfia que escancara para ingênuos uma imagem positiva do Brasil caiu por terra. E a governança cada vez convence menos mesmo gente do seu grupo político. Falta transparência, honestidade, poder de decisão, ousadia para se promover mudanças radicais, reformas pragmáticas, arrocho nas finanças, mais soluções técnicas e (bem) menos mandonismo político, compromisso dos governos e competência para sanar desafios. Sobra populismo barato, esbanjamento de despesas e de desperdícios, ajustes escorchantes de taxas de serviços, fortes prenúncios de recessão e razões muito concretas para se apurar consequências de tudo o que pode levar o Brasil à bancarrota e a presidenta ao impeachment.

Rumo ao abismo, o país convive com problemas em todas as áreas: além do caso desavergonhado da Petrobras, cuja operação Lava-Jato repercute mundialmente como reflexo da péssima administração política, sobretudo federal, o Brasil parece ter enfim tomado consciência de estar imbuído numa séria e comprometedora crise hídrica e energética da qual mudam-se os mandatários afinados com Brasília mas permanecem as mazelas sem as devidas soluções. Por causa da deficiência de sua estrutura logística, o país exige continuidade de obras de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e novas usinas hidrelétricas, metrôs e outros meios de mobilidade urbana e, especialmente, soluções urgentes para a escassez de água e energia. Em nível do setor privado, o país carece de mais investimentos com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir inovações e melhorar a competitividade sobretudo da indústria brasileira. O governo não tem $ para saúde, educação e segurança, mas quer, assim mesmo, ter o respeito da população.

A administração política brasileira tem sido um equívoco caro cujas consequências já se fazem sentir de modo violentamente negativo. Não basta os pares do governismo ou seus inconformados opositores dizerem que sobra energia no país, quando o que importa é provar isso e convencer os usuários dos serviços para reverter a situação de risco sem ser preciso pagar por custos absurdos de aumento nas tarifas energéticas e hídricas. O nº de consumidores que não conseguem pagar as contas de água e energia em dia cresceu 8,4% entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, de acordo com o SPC Brasil. Por falta de educação econômica sabe-se que a água tem no país desperdício que chega em média a 30%. Outro equívoco é Dilma não ter entendido até agora ser imprescindível afastar a Petrobras da ingerência política. É preciso registrar contra o ufanismo petista que metade da população do Brasil considera hoje a presidenta desonesta, falsa e indecisa. Reverter essa opinião pública obriga o governo a informar ao povo da nação, com sincera honestidade, o que de fato acontece no país, o que de fato será feito para debelar os muitos problemas e quais serão de fato as consequências reais que por certo exigirão mais sacrifícios populares. Tudo isso, que falta equacionar como realidade tangível no Brasil, expõe a profunda insatisfação popular ante o fracasso de um modelo político-administrativo desgastado que teima em repetir erros, em manter gente incompetente nas áreas de decisão, políticas públicas que só pioram a situação e imposições que prevalecem contra o bom senso.

É de tal gravidade a realidade brasileira (acumulada em fracassos sobretudo nos últimos 12 anos) que é comprovada a assertiva de o país ter crescido menos do que as demais nações emergentes e menos também do que o resto da América Latina, com baixíssima ou quase zero taxa de crescimento e progressiva piora no mercado de trabalho. Tudo porque se tem no Brasil uma máquina governamental ineficiente, burocrática, com tímida fiscalização, cooptada em troca de favores por um "presidencialismo de coalização" que desonra a representatividade eleitoral. Preocupados somente com suas benesses e a própria imagem blindada com a impunidade, os políticos brasileiros não justificam o Legislativo. Metáforas do engano e da safarnagem, esses políticos permitiram levar o Brasil a um infortúnio social e econômico que demandará muito tempo, competência e honestidade para vencer seus problemas. Eles erram feio e o povo paga a conta. Até quando?

 

 

 

 

o desinteresse pela cultura e pelas artes

 

rua felipe schmidt - centro - florianópolis/sc

 

 

Há pouquíssimos anos, a artista plástica Márcia Silvestrini tinha 60 alunos de pintura, hoje não tem nenhum. A Casa de Cultura Carlos Chagas não mantém mais cursos de artes ou artesanato por absoluta falta de demanda. Informa Márcio Guglielmelli, componente da banda oliveirense, que são raros os interessados em aprender música na sede da lira. Mesmo professores de violão, como Leandro Luz e Edvar, ressentem a redução drástica de alunos, quando nem mais professor(a) de piano dispõe a cidade. A questão do patrimônio histórico e artístico, dado o fosso existente entre tombar e não ter dinheiro para preservar imóveis antigos, tornou-se muito mais um imbroglio e polêmica do que propriamente um bem comunitário. Lançamento de livro limita-se hoje a uma reunião com amigos do autor do que um evento cultural de interesse público. Apresentações de peça de teatro restam confinadas a uma única e reduzidíssima plateia.

O fenômeno é nacional. Pesquisa recente do DataFolha e da FGV apontou que em S. Paulo, Estado que mais consome cultura no país, metade dos entrevistados não vai a cinema, teatro, museu ou show. Agente cultural e ator de teatro constatou em Manaus o "crescente distanciamento do povo daquilo que oficialmente se classifica como arte". Adorno já havia previsto que "na época atual, a fatalidade de toda e qualquer arte é ser contaminada pela inverdade da totalidade dominadora". O arquiteto e escritor Almandrade em "O descaso pela arte" reflete que "suas condições de produção se encontram dentro de um campo social e político, sujeito a um conjunto de pressões". E concluiu: "Tudo passa pela ideologia do poder e pela estética do espetáculo, pois a cultura foi relegada a uma coisa mundana, uma espécie de conhecimento ornamental que serve à mídia e ao jogo social. A arte é uma imagem carente de sentido, e renunciar à sua inteligibilidade é renunciar à história. Por isso é preciso devolver à arte seu território perdido, caso contrário a proliferação de um produto designado como arte e do discurso estético, sem a arte, pode significar o desaparecimento da própria arte".

Que causas justificam o desinteresse pelas artes e a cultura? A principal é a de que artes e cultura são hoje produtos de consumo. Outra é porque a arte institucionalizada tornou-se privilégio de segmentos mais favorecidos da sociedade, que dominam seus códigos interpretativos e o acesso a galerias, museus, site e livros. Outra seria a sustentação da arte em paradigmas internacionais, dissociada dos vínculos com a cultura do país. Ainda outra o fato de diretorias de marketing das grandes corporações terem a palavra final sobre financiamento da produção cultural. Outra seria a forte influência de soluções imediatistas da internet. E também porque a mobilização atual em torno de artes e cultura se faz em função da força midiática, mas não pelos critérios da meritocracia. Causa maior do desinteresse popular está na falta de ações educativas que promovam a formação para e pela arte, assim como de programas direcionados ao segmento jovem. Também falta, apontam pensadores do setor, valorização por parte de instituições e artistas dos códigos brasileiros de expressão artística para se comunicar de maneira mais direta com a população. Outra causa apontada diz respeito à reprodução do discurso que por sua vez reproduz a ideia bastante conservadora do senso comum de que o desinteresse geral pelas artes deve-se aos artistas e suas obras 'incompreensíveis', ou a uma determinação de classe social. Também é causa o desestímulo comercial mantido pelo mercado existente ou a falta dele, para motivar uma produção mais aberta, interativa e maciça das expressões artísticas em um meio em que é hoje cada vez mais cara a sobrevivência humana. É preciso constituir informações desse naipe, que possam subsidiar pesquisas e essas definirem as políticas públicas culturais e artísticas de modo a democratizar o acesso às manifestações. Para isso, entende-se, será preciso recuperar o público a cada evento, envolvendo-o efetivamente nas artes e na cultura como um processo de crescimento comunitário. Sem fazer resistência ao conformismo, sem diálogo permanente, sem investimento de 1% do orçamento dos municípios, sem entrar em vigor o Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, previsto para substituir a Lei Rouanet, sem a reativação do Conselho Nacional de Políticas Culturais, sem a implantação de mecanismos contemporâneos de deliberação on-line, sem parcerias efetivas, sem ampla acessibilidade, sem definição de políticas públicas para o setor, artes e cultura estarão fadadas a vir a ser nada no contexto de uma sociedade cujo imediatismo consumista privilegia o fácil, o digestivo e o besteirol, que não acrescentam coisa alguma à vida de ninguém.

 

 

 

a atrasada produção científica no brasil

 

 

Ainda falta muito para o Brasil vir a tornar-se um país respeitado em nível científico, dependendo bastante da vontade política no repasse de investimentos a serem aplicados em ciência & tecnologia para garantir a ele ter uma economia inovadora, aumentar a acanhada produção de bens com valor agregado e garantir competitividade no mercado mundial. O Brasil se destaca na pesquisa com energias renováveis, na produção de conhecimento na área de saúde, na criação de soluções para a sustentabilidade da economia de base agropecuária, sendo, neste sentido, responsável por 5% do que é publicado, cientificamente, nessa área em revistas especializadas internacionais. Na medicina, um exemplo da pesquisa brasileira está do Captopril, medicamento mais difundido, em todo o mundo, para o combate à hipertensão arterial, produzido à base do veneno de jararaca pelos cientistas do Instituto Butantã, de São Paulo. Contudo, afirmam os especialistas, se o país mantiver a atual taxa de crescimento em pesquisa e desenvolvimento (p&d) serão necessários 20 anos para alcançar o patamar já atingido pelos países europeus e pelos Estados Unidos. São várias as causas. No Brasil, 45,7% do investimento em p&d é feito pelas empresas enquanto nos Estados Unidos, Alemanha e Japão esta proporção chega a 70%. A má colocação brasileira no ranking mundial se deve também à ineficácia dos incentivos a p&d; o baixo investimento público e privado nas áreas de inovação; a desarticulação das áreas que têm interferência direta na geração de conhecimento científico e tecnológico (ministérios da Ciência e Tecnologia, Educação, Saúde, Finep, CNPq, INPI, governos estaduais, entre outros); a qualidade dos trabalhos científicos medida em nº de vezes que cada estudo foi citado por outros cientistas, cujo impacto despencou.

A super conceituada revista científica "Nature" acusa o Brasil — afirma o físico da Unicamp Rogério Cezar de Cerqueira Leite —, de produzir mais lixo do que conhecimento em ciência. O "segundo golpe humilhante", diz o físico, se refere à eficiência no uso de recursos aplicados à pesquisa: dentre 53 países analisados, o Brasil está em 50º lugar. Enquanto o Brasil publicou 670 artigos em revista de grande prestígio, o Chile publicou 717. Enquanto o Brasil despendeu US$30 bilhões em ciência, o Chile gastou apenas US$2 bilhões, sendo 15 vezes mais eficiente que o nosso país onde existe o chamado "distributivismo demagógico". Outro problema apontado é o "obsoleto regime de trabalho que regula a mão de obra do setor de pesquisas em universidades públicas e instituições de pesquisa". Ainda outro problema se refere à gestão burocrática de universidades e instituições de pesquisa. Para o físico citado, a "organização social" pode ser a fórmula para resolver todos esses problemas, mas "a resistência dos medíocres e parasitas e a falta de coragem das nossas autoridades impedem a solução". Coteja a biomédica da Unifesp, Helena Nader, que no Programa para Avaliação Internacional de Alunos, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, entre 65 países o Brasil ocupa a 58a posição. No ranking do Fórum Econômico Mundial, quesito "qualidade da educação primária", estamos no 126º lugar entre 144 países. No ranking de inovação da Organização Mundial de Propriedade Intelectual, o Brasil ocupa a 61ª posição. Em matéria de produtividade, segundo dados da Conference Board, estamos em 15º lugar na América Latina. Todo o fracasso do desempeno brasileiro é explicado pela baixa qualidade da nossa educação. A neurocientista Suzana Herculano Houzel, da UFRJ, publicou que não pode convidar estrangeiros para nos visitar, coisa aliás, dificílima, por causa da burocracia: enquanto aqui a diária concedida pelo CNPq é de míseros R$320,00 para hotel, alimentação e transporte, em Hong Kong, além de passagem e hotel pagos, ela foi recebida com um cartão de débito pré-carregado para qualquer despesa em supermercados, restaurantes, lojas de conveniência e transporte público, além de não exigirem qualquer recibo de gasto e de receber um "kit de sobrevivência" no qual tem até celular pré-pago. Houzel pergunta, então, como é possível praticar, no Brasil, ciência internacional de verdade: "Como sequer pensar na ciência que poderia cruzar fronteiras quando precisamos fazer malabarismos para conseguir trazer os cientistas?" Para pensar: "A vida sem ciência é uma espécie de morte" (Sócrates). "Existe uma coisa que uma longa existência me ensinou: toda a nossa ciência, comparada à realidade, é primitiva e inocente; no entanto, é o que temos de mais valioso" (A. Einstein).

 

 

 

a mediocridade é uma doença

 

Toda pessoa de bom senso sabe que a mediocridade é um fator inerente ao Brasil. Em todas as áreas, oficiais ou não, a mediocridade é o parâmetro para mensurar o que se faz no país. Ninguém desconhece que o país convive com uma aberrante corrupção, com inflação alta e crescimento muito baixo. Quase tudo que acontece no Brasil é, na média, ruim ou comprometedor. A violência urbana está fora de controle e gerou uma sociedade absolutamente amedrontada. O transporte público é péssimo, além do sistema viário ser uma lástima. Houve diminuição na miséria, isso relativamente, mas aumenta a pobreza da população. Já quase ninguém morre de diarreia, mas o SUS não consegue atender os enfermos do coração e do câncer. Não há mais crianças fora da escola, mas elas não aprendem o suficiente para superar as taxas mínimas de aprendizado. Aumentou de modo considerável o investimento nas universidades públicas, cotas, bolsas e crédito educativo, mas é pífia a qualidade da maioria dos cursos, além de as vantagens de ter um diploma serem cada vez menores. O que se vê, diz Simon Schwartzman, é uma forma de protecionismo da mediocridade, entraves burocráticos, má qualidade da infraestrutura física, a ausência de uma população bem-educada e capacitada, a condição de vida precária das cidades e a incerteza por um sistema político desmoralizado. Para livrar o país da armadilha da mediocridade, segundo o colunista da Folha, é preciso redirecionar a política econômica e social, mas também olhar em volta, para os países que conseguiram superar essa barreira, e verificar o que têm a nos ensinar sobre educação, saúde, proteção à velhice, gestão dos espaços urbanos, política ambiental e energética, modernização do Estado e reforma do sistema político. É preciso também equilibrar as contas públicas, fortalecer a capacidade regulatória do Estado, abrir as empresas à competição internacional, criar regras claras para o uso de incentivos públicos e garantir ao setor privado a segurança jurídica necessária para seus investimentos. O que existe como resultado da atual "nova matriz macroeconômica", analisa por sua vez Alexandre Schwartsman, é que antes do regime de política econômica vigente no Brasil, caracterizado pela total desorganização, é que a taxa de câmbio flutuava, o superávit primário realmente existia e o Banco Central perseguia a meta anunciada de inflação, em vez de procurar desculpas para seu próprio fracasso.

A mediocridade é uma doença. E se chama, cientificamente, normose. Ela é provocada pelo nivelamento por baixo de tudo que caracteriza a normalidade em demasia. A normose é uma doença universal. moléstia da civilização. Medíocre ou normótico é aquele que flerta com o fracasso porque vive do empobrecimento do seu espírito. É o que se alimenta de mesmice. Segundo Breno Rosostolato, a normose diminui, altera, camufla e distorce a perplexidade dos fatos, tornando-os, com o tempo, algo habitual. A questão complica-se quando o hábito passa a ser tradição. A normose cria o indivíduo de emoções castradas, sem iniciativa, sem desejo próprio, avesso ao conhecimento. Isso porque a mediocridade está em manter a atrofia mental. Resultado da massificação, a normose justifica a mediocridade pelo que há de pior numa sociedade. Segundo Antonio Pires, autor de "O caráter contagioso da mediocridade", o medíocre é subserviente, apega-se à conquista aniquilante de regras morais que ele não exige de si, mas do próximo. Seu cenário é a transigência e a tolerância, pois falta-lhe a estatura do discernimento. entre o certo e o errado, entre o moral, o imoral e o amoral. O medíocre atinge os cimos da insensibilidade, corporificando-se na inação. O medíocre é o agente funerário da cultura exígua. É a sociedade dos batráqueos travestidos de águias. O medíocre avança sem refletir. Encastela-se na preguiça mental. E tem caráter contagioso. A ignorância, a asneirice e a mediocridade fundem-se numa mesma realidade que tem como resultado a boçalidade.

Pense-se na "cultura" sertanoja, na "música" baiana (salvo honrosas e justas exceções), na imprensa de 25 centavos, na profusão de programas de TV produzidos justamente para não fazer pensar, nas ações desastrosas dos políticos de plantão, em tudo que lembra o silêncio conivente e a estupidez, na pedantocracia que cultua ídolos vazios e valores antiéticos e contrários à ecologia, na incrível subserviência religiosa sem consciência crítica, no futebol e nas novelas. Vive-se num Brasil onde o medíocre é, segundo Pires, defensor do cruzamento da abelha com vagalume para produzir mel à noite". Trombeteiro da frivolidade consagrada", o medíocre brasileiro é aquele que se vangloria por confundir Platão com o guarda de plantão. É, segundo Vergílio de Melo Franco, "o homem de vista curta, inteligência mesquinha e vaidade imensa". Do jeito que vai, ninguém de bom senso vai se assustar se dia desse o slogan "ordem e progresso" da bandeira nacional passar a ser caos, estagnação e mediocridade. O Brasil merece.

 

 

 

je suis charlie

 

 

No dia 7 de janeiro, grupo fundamentalista islâmico, assumido pela Al Qaeda, entrou na sede da revista satírica Charlie Hebdo, em Paris, e matou impiedosamente 12 pessoas que trabalhavam numa imprensa livre no país que legalizou o sentido da liberdade. O ato, comparado ao 11 de setembro de 2001 ocorrido em Nova Iorque, comoveu o mundo pela violência, e fez por aproximar as civilizações em si e as que professam com convicção extremada uma fé religiosa. O governo francês convocou 88 mil militares de elite, muito bem treinados, e também impactados pela tragédia e em menos de 60 horas os terroristas foram mortos, expondo a vingança como forma de acusar o radicalismo no país que convive hoje com milhões de fiéis de religiões diversas, algumas radicais.

Para se conhecer realmente a causa desse ato terrorista é preciso que cada um se pergunte: porque as charges de Maomé causam tanta revolta e extremam atitudes humanas rigorosamente absurdas, non sense, energúmenas? Os muçulmanos entendem que Maomé ou Alá não pode ser retratado em imagem feita por mãos humanas. Com base no Corão, a crença islâmica leva a crer que o culto a imagens conduz à idolatria, no sentido de que uma imagem, e não o ser divino que ela representa, passa a ser objeto de adoração e veneração. O hadith - histórias das palavras a ações de Maomé e seus companheiros, proíbe explicitamente imagens de Alá e de todos os principais profetas do cristianismo e judaísmo. De modo mais amplo, a tradição islâmica desencoraja a retratação figurativa de criaturas vivas, sobretudo de seres humanos, donde a arte islâmica tender a ser abstrata e decorativa. O mundo islâmico vem protestando desde 2005, quando o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou 12 charges de Maomé junto com editorial que criticava a autocensura. Muitas dessas charges, mesmo em nome da livre expressão, mostraram-se deliberadamente provocativas, como uma que visualizava Maomé carregando na cabeça, em vez de turbante, uma bomba com o pavio aceso e uma declaração de fé muçulmana.

Os muçulmanos viram nessas charges a crescente hostilidade e medo na Europa contra os adeptos do islamismo, considerando as sátiras decorrentes também ultrajantes. Em 2011, a sede da Charlie Hebdo foi alvo de ataque a bomba, depois de ter mudado seu nome para "Charia Hebdo", trocadilho com "Sharia", ou lei islâmica, numa edição em que se fazia convite a Maomé para ser seu editor-chefe. Em 2012, a revista publicou edição com diversas charges mostrando Maomé nu, enquanto trailer do filme "Inocência dos muçulmanos", colocado no Youtube, provocou uma série de protestos e episódios de violência em várias regiões do mundo, com centenas de mortos. Tem-se, por conseguinte, que a barbárie do dia 7 de janeiro na sede da revista se deu em consequência de novas provocações. Sensato, essa causa levou o papa Francisco a declarar aos jornalistas que o acompanhavam à viagem às Filipinas: "Existem limites à liberdade de expressão quando as crenças dos demais estão envolvidas". Apesar de condenar com veemência o ataque à Charlie Hebdo, disse o papa: "Matar em nome de Deus é uma aberração, mas a liberdade de expressão não dá direito de insultar a fé do próximo. Acredito que tanto a liberdade religiosa quanto a de expressão são direitos humanos fundamentais. Todos têm não apenas o direito mas a obrigação de dizerem o que pensam pelo bem comum. Podemos fazer isto sem ofender. Consideremos nossa própria história: de quantas guerras religiosas a Igreja Católica participou? Até nós fomos pecadores". Contardo Calligaris, da Folha, emitiu a opinião seguinte: "Charlie Hebdo é uma publicação cretinofóbica, porque acha cretino qualquer um que adira a uma crença sem a capacidade de rir dela e de si mesmo enquanto crente. Por isso, seria exato dizer que, para Charlie Hebdo, nada é sagrado".

Religiões provocam a consciência crítica. Não é mais possível — nem desejável — ser um religioso cego pelo radicalismo. Religiões levam tanto ao radicalismo como à paz, à harmonia. A resistência inapelável que publicações críticas como a Charlie Hebdo faz contra os excessos da fé ainda vai provocar muita guerra e a ocidentalização definitiva do radicalismo islâmico. Mesmo sem ter nenhuma culpa e de não morrer de rir pelas ações jocosas e letais dos homens, Deus está acima da pasmaceira violenta que ainda faz por obrigar o ser humano a pensar como louco e desvairado. Deus, tenha ele o nome que tiver, não merece religiosos fanáticos agindo em Seu nome. Sejam fiéis ou cartunistas.

 

 

 

viva bem

 

 

Com direito a um primoroso acontecimento social e cultural, inclusive com banda de música, o lançamento da revista VIVA BEM [www.revistavivabem.com.br], da Viva Comunicação & Marketing, editada por Luciano Soares e Samira Marra, na casa recém restaurada de Nem Campos, dia 28 de fevereiro, veio constituir parâmetros novos e muito positivos para Oliveira e leitores de publicações que demandam mais bom gosto, acuidade crítica, escolhas rigorosas. Em nível de espaço, a casa do século XVIII, tombada pelo IEPHA, passa a ser a melhor opção de espaço para a realização de eventos que valorizam a cultura e o patrimônio arquitetônico da cidade. Ali poderão, doravante, serem realizadas, com muito requinte colonial, exposições plásticas, lançamentos de livros, performances musicais, encontros artísticos intimistas, num ambiente de muito aconchego e de extrema empatia com manifestações culturais que têm por foco a preservação da vida. A funcionalidade da casa de Nem Campos para eventos é um achado técnico inteligente, com a vantagem de permitir a interação pública rápida e muito próxima das pessoas em torno de um ambiente todo ele artístico e voltado à contemplação do valor estético da vida.

A revista VIVA BEM, por sua vez, é um empreendimento feliz. Traz a marca da desprovincianização de Oliveira em nível editorial, compatibilizando a publicação com o que há de mais consentâneo no gênero publicado hoje no país. Nas devidas proporções midiáticas, sobretudo em relação à distribuição, que será a priori regional na geografia do Centro-Oeste e Campo das Vertentes, VIVA BEM iguala-se em qualidade temática a publicações como Corpo a Corpo, Saúde, Ciência e Saúde, Revista Brasileira em Promoção de Saúde, Viva Saúde, Dieta Já, Corpore, Saúde em Debate, Saúde em Revista, entre outras. E, sem ufanismo, mas com responsabilidade profissional, pode-se registrar para os leitores seus diferenciais. Confiram.

A revista cria uma referência para materializar a mídia regional. Fomenta, publicamente, a ideia de pertencimento, de vida útil e qualitativa interiorana. Ou seja: reforça a boa ideia de que viver no interior é ter uma sintonia universal com a qualidade de vida. E isso não é pouco. É uma riqueza de opção. A revista amplia a dimensão territorial de Oliveira e região como foco irradiador de informação científica,  ecológica, entretenimento, além de ser agora uma nova referência cultural para reconhecimento dos valores regionais.

VIVA BEM reconhece e valoriza profissionais oliveirenses de áreas as mais diversas, como referências da qualidade de vida, envolvendo também segmentos da população que optam por ter hábitos saudáveis como forma de um viver correto. Comprova a profissionalização da atividade jornalística através da mídia revista com os mesmos diferenciais das melhores publicações similares cotejadas no Brasil, que aliás comparecem em VIVA BEM como cliping de matérias relevantes. Mantém, ao longo de suas 70 páginas coloridas, matérias sobre saúde e cultura com redação também saudável, objetiva, dinâmica, útil.

A revista mantém também  independência ideológica e conteudística, o que permite à editoria pautar matérias de abrangência ampla com liberdade de expressão. Não trabalha com press-releases, levando o corpo de colaboradores a pesquisar assuntos diversos e interessantes e emitir opiniões sensatas, sem depender também de conteúdos "viciados" pinçados da internet. VIVA BEM não mantém qualquer vínculo político ou com instituição privada.

Há na revista predomínio da editoração de matérias não datadas e sem foco em modismos de ocasião, com abrangência de assuntos palatáveis para qualquer tipo de leitor, com base na abordagem de um "newmaking" específico, ou seja, "a lógica dos processos pelos quais a comunicação é produzida e o tipo de organização do trabalho dentro do qual se efetua a construção das mensagens" (Wolf, 1999), não apenas em período isolado do tempo, mas com as perspectivas de longo prazo — a revista tem periodicidade bimensal.

VIVA BEM mantém definição reduzida de "gatekeepers" da revista (selecionadores do corpo editorial)  como zonas de filtro com especializados, mas sem o culto à personalidade de "especialistas" de renome que via de regra dão o tom de uma publicação e a torna presa de determinados conceitos e "fórmulas mágicas", sobretudo no que diz respeito à saúde.

Que VIVA BEM seja sempre bem-vinda e que tenha vida longa.

 

 

 

março, 2015

 

 

CORRESPONDÊNCIA PARA ESTA SEÇÃO

Av. Américo Leite, 130 – Centro

35540-000 – Oliveira/MG