©robert doisneau
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

Estupefato, boquiaberto, perplexo, com lágrimas nos olhos Soren pôs-se a ler os e-mails e a cada pedido balançava a cabeça, enxugava o pranto e a noite indo alta e quente. Senhor Soren: estou grávida e gostaria de saber, vou ter gêmeos? Menino ou menina? Duas meninas? Dois meninos? Nascerão com boa saúde? Na sua opinião: devo comprar mais roupinha azul ou cor-de-rosa? Ambas? Oh dúvida cruel! Castiga essa pobre gestante pra lá de curiosa! Senhor Soren: o senhor viu na TV que caiu um prédio de 19 andares no centro do Rio, atrás do Teatro Municipal. Vendo frutas logo ali naquela esquina. É aconselhável eu ir trabalhar nos próximos três dias ou dou um tempo e vou pescar em Jacarepaguá? Senhor Soren: Odete e eu, Paulo, somos um casal, e sempre que podemos vamos a Las Vegas "tentar a sorte" com dados e máquinas de moedas. Às vezes, a gente ganha um bocado de dólares. Aí a gente faz uma festa no hotel Cesar Park, vamos conhecer os décors da série CSI, compramos entradas para os melhores shows (vimos um da Celina Dion superótimo!), trazemos óculos, lingerie e réplicas de roupas do Elvis Presley pra vender no Brasil, damos uma esticadinha na caliente Miami, essas coisas. Dessa vez estamos os dois muito sem inspiração: o senhor acha que a gente deve ir no primeiro semestre ou no segundo? Que combinação de dados o senhor acha que devemos adotar: 3-3-3-? 6-6-6? Qualquer uma, só pra dar sorte? Good luck for you too, and a big thanks. Senhor Soren: o senhor sabe muito bem que eleição aqui no Piauí é mais disputada que hímen. Já sanei uma dúvida: vou sair candidato pelo PP. O povo do Demo me chamou, mas já falaram também que Demo é coisa do diabo. PSDB? Quem haveria de? PT? Hoje é sinônimo de corrupção e incompetência. O problema não é bem o Partido. É o número sorteado pra mim, sô: 24. Com esse número, nem engolidor de espada com o rabo vai votar em mim. Tem jeito de o senhor mudar isso, não tem? Senhor Soren: se o senhor tivesse no facebook ia ver tudo: até pra digitar a frase "viajar de avião" fico ensopado de suor, tremo mais que vara verde de marmelo, entro em pânico na TV, dou diarreia na hora, espumo o canto da boca, seco a boca toda, minha mulher acende vela e faz promessa pra santo de asas, tomo calmante de quintal, fico irreconhecível. Logo eu, sô, que a vida inteira peguei boi pelo chifre, torci cobra pra laçar cavalo, enfiava as mãos em caixa de abelha pra comer favo de mel, essas coisicas de nada, sabe? Agora me borro todo, porque vou ter de ir pro casório da minha filha e só tem jeito de chegar lá de avião. Tenha dó do veio. Será que não dá pra convencer a bichana pra vir casar aqui no Jequitinhonha? Se, pode esperar uma boa junta de vaca leiteira raçuda. Vai chegar de trem. Eia! Senhor Soren: pelo amoooooooor de Deus! Me ajude! Não dou mais conta de mim nem me responsabilizo pela minha vida! Sou um fracasso! Se não passar no vestibular, vou dar cabo de minha vida inútil e burra. Preciso muito de sua ajuda. O vestibular será no dia 19, começa às 8 horas. Concentre todas as suas forças em mim. Aguardarei as respostas corretas das questões pelo ar. Ficarei também bem concentrada pra receber as respostas com a sua voz da sabedoria. Obrigado, tchauzinho, Carmélia. Senhor Soren: Namoro há dois anos. Deixo meu namorado brincar de médico comigo, mas sou virgem. Tenho muito medo de engravidar. Meu pai me expulsaria de casa. Sem mesada, como iria cuidar do neném? Acha que devo transar só de camisinha? E se a danadinha furar bem na hora de eu virar os olhos? Cheia de dúvidas, Teteca. Senhor Soren: o senhor está encarnando um Kafka pós-moderno? Um Chico Xavier da internet? Até quando o senhor resiste a pressões individuais? E se começar (ou já começou?) a haver demandas corporativas, de trustes econômicos, de empresas falidas, de governos ditatoriais? Soren seria então o novo super-herói ou haveria uma epidemia de astros da solucionática, como diria o Dadá Maravilha? E se o senhor virar capa das revistas Time, Paris Match, Science, Caras? Quantas igrejas já estão em "licitação" para contratar os seus serviços de poder mental? Seria o senhor o novo Cristo? O Enviado? O médium da mídia? O senhor é uma "visão petrificante"? É a versão da vez de Aang, Miles Straume, Piccolo, Wolverine, Hulk, Feromona, Stacy X, Jessica Drew, Feiticeira Escarlate, Tyche, Nêmesis, Ethan Nakamura, Rachel Elizabeth Dare após se tornar Oráculo, a psicocinese mágica que possibilita a habilidade de realizar o que quiser com a força do seu desejo, seja ele por pensamento ou palavras? Estariam descartadas as "possibilidades" de o senhor repassar para terceiros a capacidade de voar, de curar câncer, de controlar o tempo, de ter dupla personalidade, de sugar poderes dos outros, de produzir regeneração celular, de ver o futuro?  Será que daqui a pouco não vão "convidá-lo" para gangorrar no braço direito do Cristo Redentor pra fazer uma merchandising da Rio Tour por causa da violência e do poder do tráfico? O que devo pensar? Ou o melhor, como sempre, é rir pra não chorar?

 

 

 

 

 

 

As mazelas cotidianas, sobretudo oriundas da incompetência política e administrativa, tornam opacas, muitas vezes ou quase sempre, as informações a respeito da evolução humana. Por isso, quando vem à tona dados a respeito da revolução biotecnológica eles são vistos sob suspeita. E há também o impacto da novidade das revoluções sobre o status quo e o conformismo, alegando os leigos não raro que os avanços das ciências não se prestam senão a benefícios à elite, o que não deixa de ser uma assertiva contraproducente e errada. O fato é que enquanto o homem buscar soluções, seja através do microscópio ou do telescópio, haverá sempre (r)evolução. E essa evolução é às vezes assustadora. A evolução da biotecnologia aguça debates econômicos, políticos, científicos, filosóficos e jurídicos ao trazer à tona questões polêmicas decorrentes das novas tecnologias. Ao lidar com avanços biotecnológicos o homem se vê frente a frente com situações problemáticas e controversas, pondo em debate realidades para as quais ele não está mesmo preparado, mesmo porque, dada a rapidez da evolução, ele desconhece muitas respostas, o que amplia seu medo do desconhecido ao mesmo tempo em que amplia sua curiosidade para a ousadia.

O fato é que o Admirável mundo novo publicado por Aldous Huxley em 1932, hoje é todo real e já não causa tantos assombros quanto a hipótese de o homem desenvolver altíssima tecnologia para conquistar Marte e outras plagas cósmicas em decorrência inclusive de destruir cada vez mais e celeremente o seu planeta de origem — a Terra. O anúncio dos resultados fabulosos da biologia molecular, da engenharia genética, da nanotecnologia, da robótica, da mecatrônica, das novas práticas biomédicas resultantes do descobrimento do DNA recombinante, da inteligência artificial, da utopia transumanista traz a expectativa de o homem vir a poder incorporar à sua vida tanto a superlongevidade quanto uma felicidade plena. Isso, bem entendido, se as mesquinharias e a falta de ética não impedirem que as soluções dos problemas, sobretudo do corpo e da mente, promovam retrocesso, em vez de contribuir para o aperfeiçoamento humano. Esses problemas sempre existirão para demonizar a consciência do homem que evolui: Jeremy Riftkin no livro O século da biotecnologia, por exemplo, expressa sua ingente preocupação com o avanço irrefreável da biotecnologia, afirmando que o mapeamento de doenças genéticas poderia provocar discussões sobre a discriminação genética praticada por empregadores, companhias de seguros e escolas, além de outra questão preocupante que seria a crescente comercialização do banco de genes por empresas farmacêuticas, químicas e biotécnicas, bem como o impacto permanente dos organismos geneticamente planejados em contato com o meio ambiente.

De modo paralelo, quando não concomitante, o fascínio de desvendar mistérios, desafiador da argúcia da ciência, já está par e passo à imposição de perigosa e injustificada autoridade científica, analisa a pesquisadora Maria Helena Diniz, que acrescenta poder essa simbiose maquiavélica gerar resultados desastrosos e problemas ético-jurídicos voltados à vida, à morte, ao paciente terminal, à sexualidade, à reprodução humana, às tecnologias conceptivas, à pater/maternidade, ao patrimônio genético, ao uso de material embrionário em pesquisas, à eugenia, ao equilíbrio do meio ambiente, à criação de seres transgênicos, à clonagem, ao transplante de órgãos e tecidos humanos, à transfusão de sangue, ao mapeamento sequencial do genoma humano, à mudança de sexo, ao patenteamento da vida.

Cientistas há que confirmam que as revoluções da genética e da informática estão chegando juntas numa verdadeira falange científica, tecnológica e comercial, cuja realidade, já iniciada, terá profundo impacto na vida da humanidade nas próximas décadas. Em função de algumas soluções, como as destinadas à produção de alimentos geneticamente modificados para aplacar a fome mundial, poderá, no entanto, haver retrocesso ético, num processo que, segundo ainda Diniz, concorrerá decisivamente para liquidação da humanidade a longo prazo. Não está descartada a hipótese de, no futuro próximo o avanço biotecnológico acelerar também o processo de coisificação do ser humano. O homem, porém, tem de valer mais que todas as vantagens de um chip.

 

 

 

 

 

 

Por que alguém escolhe os perdedores? Porque raramente os que perdem deixam de ter uma boa história. São párias na teoria existencial. Não fazem parte senão pelo lado marginal e negativo da sociedade. Os perdedores têm seu próprio fascínio. O que há nos perdedores para se tornar mais fascinantes do que os frequentadores de botequim? Há entre o perdedor e o fracassado uma diferença: o desafio. O perdedor ganha experiência para vencer e luta por isso. O fracassado entrega os pontos sem luta. O perdedor corre atrás para sobreviver. O fracassado vira encosto, compromete pessoas-muletas para salvar seu dia a dia. Tudo na vida é feito para enaltecer os vencedores. O perdedor não teve ainda a devida transparência e a devida restauração de sua condição humana. Há, é claro, exceções brilhantes. O que pode um perdedor acrescentar à vida de alguém, se o exemplo dele é a priori negativo? "Saúde moral", diria Robert Musil em O homem sem qualidades. O perdedor, porém, não é um exemplo negativo. Ele é um exemplo que não pode ainda ser posto em prática pela experiência humana. Ninguém perde porque quer. Perde porque há melhores. A sociedade, as contingências, as circunstâncias, as situações estabelecem condicionamentos que tornam a competição uma guerra para justificar discriminações sociais, profissionais, sem levar em conta que os perdedores são justamente os que não tiveram oportunidade de ser melhores antes. Isso faz diferença em favor dos perdedores. O exemplo dos perdedores é permanente, porque aprendem com a perda o desafio de vencer. Então a leitura é a que aponta o perdedor ser melhor que o vencedor? De jeito nenhum. O perdedor seria, como escreveu Musil, "a contemplação na treva divina". Escreveu também que os perdedores "ficaríamos despojados de qualquer capacidade de agir e pensar, pois nossa alma foi criada para o que se repete, e não para o que é completamente fora do comum." A lição de aprender a vencer é diária. Então o perdedor seria... alguém que não teve condições de superar dificuldades e imprevistos, porque se permitiu errar sem reparar, com excessos, vícios, limitações, perigos, pobreza, irresponsabilidades, comodismos. Muito romântico? Não, pois é a partir daí que o perdedor perde a noção da persistência, a lógica de inverter o jogo do próprio destino. Porque alguém só perde quando se sujeita a competir, a ter o desejo de vencer a diferença. O fracasso é um mapa que ensina a chegar depois. Um perdedor, portanto, nunca bebe água limpa? Não. A experiência do fracasso faz com que o perdedor seja a sua própria fonte. E assim ele vai com menos sede ao pote. Em nível de psicologia de massas, não há um tanto de coitadismo no perfil do perdedor? Aquele que perde atrai mais ódio do que benevolência, mais senões do que admiração. O vencedor é épico. O perdedor é trágico. O que os distingue? A preparação. Manter a ética na competição, munir-se das mesmas qualidades do seu adversário, ver no escuro a oportunidade de brilhar, mas também de acender a própria luz. Por que se afirma que todo homem a priori é perdedor? Porque os vencedores podem ser superados, sobreporem-se àquele que vence. Quem perde tem a chance de aprender com a experiência do fracasso. Não se conhece as qualidades dos perdedores. A afirmação de todos os seres humanos serem perdedores se baseia no fato de ninguém conseguir vencer a própria finitude. A morte é o limite para ambos. O homem que não se prepara para vencer vai conviver com frustrações, remorsos, fantasmas, cobranças de sua consciência, culpas e sentimentos mórbidos. E são justamente esses deméritos do fracasso que vão torná-lo capaz de promover mudanças. Os perdedores autorizam seus próprios destinos, ainda que erráticos, vazios de sentido, de liberdade na autodestruição. "O vencedor sempre faz parte da resposta, da solução, e o perdedor sempre faz parte do problema. O vencedor tem um plano, o perdedor tem uma desculpa. O vencedor diz "deixe-me fazer isso por você"; o perdedor diz: "isso não é minha função". O perdedor diz: "talvez seja possível, mas é difícil". O vencedor diz: "talvez seja difícil, mas não impossível". Quando o perdedor comete erro diz: "não tive culpa". Quando o vendedor comete um erro, diz: "eu me enganei". O vencedor estabelece compromissos e o perdedor só faz promessas. Os vencedores enxergam o futuro e os perdedores falam do passado. Os vencedores escolhem o que dizem e os perdedores dizem o que escolhem. Os vencedores usam argumentos duros e palavras suaves. Os perdedores usam argumentos suaves e palavras duras. É isso aí.

 

 

 

 

 

 

— Ô cara! Não tá vendo que o trânsito embananou mais do que a política de Brasília? Quer passar?! Passa por cima! Pra melhorar esse trânsito só fazendo outra cidade. Essa aqui virou um autódromo de loucos, de gente mal educada. A gente conhece na rua o que a pessoa é na vida: merda. Olha só que desgraça pelada! (Será que desgraça vestida na moda seria menos desgraçada?). Haja paciência. Como não tem jeito mesmo, ouça uma musiquinha, jogue uma conversa fora, meta o pau no governo, coça o saco, ligue o celular, manda recadinho pra mamãe. Coitado do guarda! Semáforo bichado. Ninguém não tá nem aí. Lá vem uma ambulância com a sirene ligada. Vai ver que alguém teve um infarto, leva um assaltante baleado. Uma coisa posso te garantir: quem vai lá dentro é pobre. Se fosse rico, ia de helicóptero. Olha que coisa mais nojenta aquele menino no lotação Esplanada tirando uma baita duma meleca e limpando na lataria do ônibus! Numa hora dessas, se um velhinho com problema de micção incontinenti precisar dar uma mijadinha, faz nas calças. Sem perhaps nem if. Uma vez um caminhão de sacos de batata pifou bem na minha frente. Precisa dizer o resto? Povo esganado. E se numa hora dessas uma mocinha menstruasse pela primeira vez? Garanto que se fosse um ônibus de time de futebol indo pro campo e todo mundo tava arredando pra deixar os caras passar na maior, de boa! Agora, se fosse dessas boazudas que dançam em boate, elas iam sair daqui só amanhã cedo. E olhe lá! Vamos, motorista, preciso chegar logo! Sabe aqueles veículos voadores do filme  Blade Runner? Pois é. As montadoras deviam parar de produzir carros, que já têm mais de cem anos e continuam de quatro, agarrados no asfalto, e produzir aqueles aviõezinhos maneiros. Ô moço, me dá uma esmolinha aí pelo amor de Deus! Será que vai chover igual ontem? Se chover, só chegarei em casa de barco. Tem uma grávida naquele carro ali na frente. A criança pode nascer a qualquer momento. E aí, dona, arrebentou a bolsa? Se nascer no carro e for homem vai chamar Fiatílio? Se for mulher será Fiorina, Chevrolina, Fordélia? Óia o sandubinha com refrigerante! Baratim! Quando o trânsito fica assim geralmente é porque uma carreta muito pesada tombou na pista, aí vira um cu de boi, a televisão sempre aparece, todo mundo tira um sarro da situação. A situação aqui tá mais brava que pitbull em casa de bandido. Tem um espertinho falante que disse agora mesmo que pra acabar com o engarrafamento precisa usar abridor de garrafa. Esse vai ganhar pra ser vereador. Não tem jeito, não: ou o ser humano suprime o carro da sua vida, ou o carro suprime a vida do ser humano. Se fosse um carro oficial levando um figurão tentando forçar a passagem, qual seria, hoje, a reação do povão? Lincharia o cara? Incendiava o carro com ele dentro? Nessa hora, será que o figurão pensa que nosso trânsito é recordista de mortes, de acidentes, de engarrafamentos e onde o pedágio é o mais caro do mundo? Ficar preso no engarrafamento é o mesmo que ficar preso numa prisão ao ar livre. Fico pensando: porque as pessoas migram pra cidade grande? Que ilusão convence tanta gente deixar o interior e vir pastar na metrópole? Se todo mundo paga pedágio por que as estradas são um problema permanente? Viver é manter problemas sociais para que um único segmento goze de todos os prazeres? Até quando? Até que uma revolução civil desestabilize o mundo? Até que a humanidade resolva fazer justiça com as próprias mãos? E quando os bunkers começarem a ser invadidos? Porque uma coisa é certa: pobre não vai aguentar por muito mais tempo ver rico vivendo como nababo, à margem, e ele à míngua e cheio só de problemas. Não vai mesmo. Tudo é só questão de tempo. De decisão tomada na rua. Num mundo de tanta miséria acumular riqueza deveria ser considerado crime. Em papo de engarrafamento acaba se conhecendo até o CPF dos caras envolvidos, porque é a ocasião em que a circunstância faz o coração falar mais que papagaio de pirata à deriva nos mares da corrupção. É o momento em que alguém se torna padrinho ou madrinha de batismo do filho ou da filha de um desconhecido. É a hora em que os carentes de ser ouvidos derramam discursos e expõem a alma para interlocutores que não têm outra saída senão ouvir a avalanche de problemas, conflitos, angústias, decepções, fraquezas, falsas expectativas e até artimanhas para matar a mulher, a sogra, o vizinho, o amigo sacana, o patrão desumano, o dono do bar, a amante traidora, o presidente do país, Deus. Ou de se matar. Os problemas sociais são resolvidos no tapa, na base da pressão. Ou então reina a indiferença. Nada provoca mais dor em um ser humano do que dizer a alguém: "Você não faz falta. Você é inútil. Você não merece amor. Você não existe. Você é digno de pena. Você não é nada". E mais uma vez o engarrafamento comprova a impaciência de todos, a resignação forçada, a dependência de terceiros, a capacidade de refletir porque motivo a vida atrasa a vida. Que mesmo estacionada não para de existir na vida de cada um.

 

 

 

 

dezembro, 2015

 

 

 

 

CORRESPONDÊNCIA PARA ESTA SEÇÃO

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