[ imagem de guttemberg guarabyra ]
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Depois de desfeito o trio Sá, Rodrix & Guarabyra, fomos cada um pro seu lado. Mas logo Sá e eu nos demos conta de que o verdadeiro motivo da desavença estava no desejo de Rodrix de iniciar uma carreira solo, e que nós poderíamos seguir juntos em dupla sem nenhum problema. Até ali, com o trio, trabalhávamos com apenas dois músicos de apoio: Luís Moreno, na bateria e Sérgio Magrão, no baixo. Sá entrava com violão e guitarra; eu, com violão e alguma coisa de ritmo; e Rodrix, com o teclado. Portanto, a primeira pendência que teríamos de resolver seria recolocar o teclado no som da banda. O Rio de Janeiro, onde residíamos, reunia um bom número de músicos tecladistas de muita qualidade que poderíamos convidar. Mas pensávamos em trazer algum instrumentista mais próximo ao nosso estilo — já apelidado de Rock Rural —, quem sabe da turma de Belo Horizonte, que ao mesmo tempo em que conduzíamos o Rock Rural, levantava a bandeira do Clube da Esquina, espécie de primo do nosso som.

Daí deu-me um clique. Pedir a ajuda de Milton Nascimento. Telefonei, expus-lhe a situação em detalhes, porém não tinha nenhuma sugestão. No entanto, dias depois ligou e aí quem teve o clique foi ele. Achava que conhecia, sim, um pianista que se encaixava no conjunto de nosso estilo. Era muito jovem, mas já tocava muito. Ia falar com ele.

Uma semana depois recebi um telefonema de Minas. Falei pela primeira vez com o quase adolescente tímido que aceitou nosso convite.

Agendamos uma data e lugar para que viesse nos encontrar no Rio. O endereço do apartamento de meus sogros numa avenida badalada e conhecida à beira-mar pareceu-nos o mais fácil de localizar.

Na tarde aprazada, Sá e eu, da janela do quarto andar, observávamos o mar e a calçada lá embaixo, curiosos em conhecer nosso convidado e novo companheiro de equipe, que já estava atrasado. Diversas vezes julgamos tê-lo localizado. Não era aquele. Até que um rapazote magrinho com uma pequena bagagem a tiracolo aproximou-se da ponta da rua, conferiu a placa de identificação da esquina e fixando os olhos à frente quedou-se paralisado pela visão do mar. Só poderia ser ele. Gritamos lá do quarto andar: "Flávio! Ei, aqui!". Venturini desgrudou-se do mar, direcionou o olhar lá para cima e nos acenou com um tímido adeusinho.

Nas fotos, o quarto andar, o mar, a placa. O local exato de nosso primeiro encontro. [20 de novembro de 2015]

 

 

 

dezembro, 2015