3

 

chorem todas as vênus e cupidos

chorem os homens sedutores

 

morreu o pássaro da minha garota

 

o pássaro

         prazer da minha garota

que ela amava mais que os próprios olhos

 

era um doce de mel conhecia

a sua dona

         como a garota conhece a própria

                                      mãe

e não saía do seu colo

mas circunsaltitava

                   daqui prali

e só piava para sua dona

 

agora segue a estrada tenebrosa

que

         — dizem —

                   nunca concedeu retorno

 

passar mal

                   trevas malditas

do inferno!

                   que devoram toda beleza

vocês roubaram este belo pássaro

que triste história

                   tadinho do pássaro

por sua culpa                    a minha garota

está com seus olhinhos vermelhos

         e inchados

         de tanto chorar

 

 

 

 

 

 

8

 

pobre catulo

                   deixe de bobagem

o que perdeu

                   aceite

                            está perdido

 

antes brilharam-te o fulgor dos sóis

quando sempre seguia a tua garota

por mim amada

                   como ninguém jamais será

                            amada

então cada prazer que acontecia

você queria e ela

                   não desquis

 

pois é

         brilharam-te o fulgor dos sóis

 

agora ela não quer

                   — você?

                            desqueira

                            impotente

não cerque quem te foge

         não viva como um pobre

aguenta obstinadamente

                   feito pedra dura

tchau garota!

                   catulo é pedra dura

não te procura

                   já não força a barra

mas você vai sofrer

                   sem quem te queira

tchau desgraçada!

                   o que te resta desta vida?

quem virá te ver?

         quem te achará bela?

quem você amará?

         quem será teu dono?

quem você beijará?

         que lábios morderá?

 

você catulo

         aguenta feito pedra dura.

 

 

 

 

 

 

11

 

fúrio e aurélio

                   amigos de catulo

se ele for parar no fim do mundo

ou onde quer que mande a vontade

dos deuses   

                   — fiquem preparados —

eu quero que anunciem  pra minha garota

         estas poucas

         poucas nada boas

 

que viva e passe bem

         com os seus putos

que num abraço só bate trezentos

sem amar unzinho sequer

                   mas estourando todos

nos seus queridos membros

 

que nunca mais encare o meu amor

por sua culpa

         ele caiu no campo feito

a última flor depois de deflorada

         pelo passar do arado

 

 

 

 

 

 

16

 

eu vou comer seu cu comer sua boca

aurélio bicha

                   e fúrio travecão

porque me imputaram

                            pelos meus versinhos

— tão delicadinhos —

                   um senvergonha

 

o poeta só precisar ser decente

ele mesmo

         e fodam-se os versinhos

melhor que tenham o seu sal

         o seu tesão

porque delicadinhos  senvergonha

pra dar um comichão

— não digo nas crianças —

                   nos marmanjos

que já perderam todo requebrado

 

mas e vocês

         que leram meus milhões de

beijos — vão querer disputar?

 

eu vou comer seu cu e sua boca

 

 

 

 

 

 

32

 

eu vou amar

                   minha doce ipsitila

minha delícia meu prazer

— anda

peça para que eu venha ao meio-dia —

e se você pedir

         só quero uma ajudinha

 

que ninguém tire a tabuleta da tua porta

e não me saia de casa logo agora

mas me espere e prepare-se

para nove contínuas fodelanças

 

pois se você quiser

                   só isso eu te peço

aqui deitado e almoçado de papo pro ar

já armo a barraca debaixo do pálio

 

 

 

 

 

 

43

 

olá

garota de nariz nada pequeno

de pés não belos

         de olhos pouco negros

sem dedos longos

          sem boca seca

sem nenhuma elegância na língua

amante do falido forminano

 

a província andou dizendo que você é bela?

ousam te comparar com minha lésbia?

que povo babaca e de mau gosto!

 

 

 

 

 

 

49

 

ó tu — o mais eloquente dos netos de rômulo

de tantos que já nasceram

                   ó marco túlio cícero

de tantos quando houverem de nascer

a ti agora faz mil graças

catulo — o pior de todos os poetas

 

e ele é tanto o pior de todos os poetas

quanto és o melhor de todos os patronos

 

 

 

 

 

 

58

 

célio

         a nossa lésbia

         aquela lésbia

a lésbia

         aquela

         a única que catulo

amava mais que a si mesmo

         mais que aos seus parentes

agora

         por entre esquinas

                         e

                         becos

esfola os netos do magânimo remo

 

 

 

 

 

 

70

 

minha mulher diz que só quer casar comigo

e que nem mesmo júpiter interessa

         é o que diz

mas o que diz uma mulher

                   ao seu amante apaixonado

é melhor escrever

         no vento

                   ou na água que passa

 

 

 

 

 

 

72

 

você dizia que só sabia de catulo

         lésbia

que não me trocaria nem por júpiter

então te quis

         não como o povo quer uma amante

mas como um pai

         olhando filhos e genros

 

agora eu te conheço

                   e queimo muito mais

por mais que você seja baixa e leviana

mas como pode?

         você pergunta

é que uma injúria dessas faz o amante

amar ainda mais

         mas bem querer bem menos

 

 

 

 

 

 

85

 

odeio

    e

amo

         por quê?

                   você pergunta

não sei — só sinto acontecer

                   e crucifico-me

 

 

 

 

 

 

92

 

lésbia sempre me agride e não consegue se

         calar

que eu morra se ela não me ama!

como sei?

         eu dou a mesma deixa

difamo sem parar

que eu morra se ela eu não amo!

 

 

 

 

 

 

93

 

eu não me esforço em nada

         césar

                   para te agradar

pouco me importa se você

         é branco ou preto

 

 

 

 

 

 

94

 

o pinto putanha

                   putanha o pinto?

é claro!         é o que dizem

cada panela abriga o seus legumes

 

 

 

 

 

 

95

 

a esmirna do meu cina

esperou nove safras

esperou nove invernos

         até ser publicada

enquanto hortênsio vomitou

num só ano

         cinquenta mil versos!

 

esmirna vai chegar às ondas distantes do sátraco

esmirna será folheada por séculos gagás de velhos

 

mas os anais de volúsio vão morrer em pádua

         onde nasceram

e servirão de embrulho para os peixes do mercado

 

eu quero os breves monumentos do meu amigo

e para o povo deixo a empolação de antímaco

 

 

[ Tradução Guilherme Gontijo Flores ]