Beat

 

 

não vou fazer amor

vou fazer um poema beat

 

vou escorrer pelo ralo

metamorfose kafkaniana borboleta barata

 

como o poema que não houve

como o leitor que não soube

como a besta estatelada no cartoon

 

vou deixar de fumar por um momento

apagando meu hálito no seu

 

você vai dizer que é importante

vou dizer que é vão

 

você vai pegar um vapor para Londres

vou sonegar meu adeus

 

vou escarrar num estranho minha insatisfação

vou virar gangrena

você vai me amputar nem que não queira

 

cadafalso cada passo

sigo comigo sem direção

perdôo sem esforço seus erros e meu perdão

 

danço um Gardel no caminito

pago ser de outro lugar

 

minha sombra veste preto e

num último tango se desfaz

 

 

 

 

 

 

Medias Lunas

 

meus passos bêbados

caem de Buenos Aires

 

a canção funk fode meus sentidos

explodindo numa bola de chiclete

 

a pedra que atravessa meu caminho dança um rap

e o Rio continua maravilhoso

 

mas tu permaneces num café inventado à luz de velas

onde nos comíamos medias lunas

 

quando eu amava Guns e odiava a Guerra

invadia tua vida e te estragava o dia

 

sonhavas ainda e eu fingia

e só um de nós era imoral

 

já me adivinhavas e sabias

quem praticava sozinha todo pecado capital

 

 

 

 

 

 

Doravante Dora

 

 

Na noite escura

A luz é Dora

Dourada Dora

Mulher não és

Rabit, Dora?

Entre os sinais

Sinaliza Dora

Entre os espelhos

Já é Senhora

Sem mãe, sem pai

Sem história

Simplesmente Dora

Dourando ao sol

Dura luz

De Dezembro

É Dora

Café pequeno

No Café Concerto

Entre borboletas

Mariposa é Dora

DuraDoura

Contra a luz

No chafariz

Moeda morta

Meretriz

Menina insiste

Do fundo do fosso

Canção blue

Tema livre

Dora em declive

Teto Escarro Vão

Na noite escura

Luz difusa

Mariposa descontinua

Alguém chora

No beco escorre

Para sempre, Dora

 

 

 

 

 

 

Buceta de subúrbio ornamentando a rua

 

 

ela agachou no meio fio e aliviou

 

indiferente às buzinas

aos cuspes

a todas as latrinas

 

ela fumava um fino ainda

e tinha um resto de dente no sorriso

 

fazia contorcionismo

para ver a fumaça que fugia

da calçada

 

mijo quente pedra fria

 

tanta gente passava

ninguém (h)a via

 

 

 

 

 

 

*

 

 

um anjo soletra

meus versos

 

ao pé, duvido

 

 

 

 

 

 

*

 

perdi o canto e a cor

descolibri

 

 

 

 

 

 

Ato fálico

 

extraio da tua seiva

memórias de alcatira

sabores de ariticum

 

 

 

 

 

 

*

 

 

engoli num sebo

toda literatura

 

de um só gole

golpe de martelo

 

estufou

feito sapo bandeira

 

e nunca mais voltou

pelo gargalo

 

 

 

 

 

 

Sealand

 

 

Vou me'mbora para Sealand

Sealand já está no e-bay

 

ilha fiscal sem pedágio

do grande irmão me livrarei

 

não há ágio ou senado

gatos não terei

 

no impeachmant

no management

só vou falar inglês

 

plantando Bandeira em Sealand

entre duas torres serei rei

 

 

 

(imagem @iciio)

 

 
 
 
 

 

 
 
 
 
 

haicai é vício

no ábaco dos dedos

versos paridos

 

para Alexandre Brito

 

 

 

 

olhar vadio

sem a pressa das horas

pousa na rosa

 

 

 

 

plátanos mortos

sustentando videiras

vivem ainda

 

 

 

 

no chão voando

lá vai o leitor tão só

leminskiando

 

                para Leminski

 

 

Sandra Santos: gaúcha, artista-plástica, poeta, nerd. Sou cria do homem que sabia javanês, mas sou escrita em JAVA. Não tenho assinaturas nem acredito em biografias. Minha arte é efêmera. Site: A Gata por um Fio.