chanina | a mulher azul | OST, 1966
 
 
 
 
 


 

O poema

 

 

Um dia, no Museu de Londres, guardada por uma redoma de vidro, a pedra.

Uma apenas havia sido resgatada dentro do bolso, no casaco que vestia o corpo.

Única de muitas, no Museu de Londres, guardada pelo vidro da redoma.

Olhos cheios d'água, boca seca, escamas de peixe coladas na pedra do Museu.

Longe no tempo, perto do rio brincou a rainha atirando a pedra para vê-la saltar.

Rainha que viu a pedra, a pedra que viu Orlando, Orlando que viu Virgínia saltar.

Um dia, no Museu de Londres, a redoma do rio que guardava a pedra do frio.

Reflexiva, olhava os peixes que brilhavam como se escamas fossem vidro.

Manhã esquecida de Orlando.

O rio, só os peixes sobrevivem no fundo. 

 

 

 

Razão

 

 

E pensei em Virgínia e toquei a pedra.

 

Um dia,

 

Ela caminhando

 

algas nos bolsos

 

escamas de prata

 

pulmões repletos de água.

 

Eu me enxergando,

 

a enxergando,

 

os olhos do peixe vistos da janela.

 

Virgínia, eu, o aquário.

 

A Luz, o Verbo, a Treva que vêm Dela.

 

 

junho, 2009
 
 
 
 
Adriana Versiani (Ouro Preto-MG, 1963). Co-editora das publicações Dazibao. Foi co-editora da coleção Poesia Orbital e do Jornal Inferno. Pertence ao conselho editorial da revista Ato. Publicou O barquinho pelo mar, A física dos Beatles e Dentro passa.
 
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