©chad j. shaffer
 
 
 
 

 

 

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Há várias maneiras de tratar desse assunto. Duas se destacam: a religiosa e a científica. A religiosa é fácil de entender, pois basta crer. A científica, no entanto, é um pouco mais complicada, pois requer que a gente creia.

Pode parecer brincadeira, mas são as duas verdades mais verdadeiras de que se tem notícia nos últimos 4500 anos. Filósofos, sociólogos e cientistas políticos tentam criar outras verdades, mas não conseguem. A mídia vende verdades a torto e a direito, mas também não tem dado muito resultado, a não ser na última linha do balanço.

Conversando com uma amiga que está grávida, sugeri que utilizasse fraldas de pano no vindouro bebê. Dei-me ao trabalho de comentar o quanto as fraldas descartáveis eram nocivas ao meio ambiente, e toda essa história de aquecimento global, e tal e coisa. Ela foi curta na resposta: "o problema do aquecimento é o 'pum' das vacas". Se cientistas dizem que é o "pum" da vaca então é, pronto! Nós acreditamos!

Estamos diante de um conflito de crenças. Eu creio em Deus, dizem uns; eu creio na ciência, dizem outros. A maioria gostaria de acreditar que vai ter comida para os filhos no dia seguinte. E uma pequena minoria segue acreditando que explorar os recursos da natureza, de forma irresponsável, ainda é o melhor negócio.

Os dinossauros desapareceram da face da Terra sem que homo algum tivesse qualquer culpa. Hoje não! Sumiu uma espécie absolutamente desconhecida e a culpa é imediatamente atribuída aos sapiens sapiens. Valham-me deuses e cientistas! Não sei mais o que pensar. Deus se atribui a autoria do mundo e acredita piamente nisso. Darwin acredita na evolução.

Dizem as estatísticas, que algo em torno de 60% da população mundial atual vive em estado de pobreza e/ou abaixo da chamada "linha da miséria". Ciência depende de consciência e quem é pobre ou miserável, consegue, no máximo, é ter ciência da sua condição. Não se lhes culpe a crença. Resta-lhes Deus. Ponto para Deus.

Humanos caçam humanos porque humanos caçam baleias para que humanos se aproveitem de tudo quanto podem das baleias. Ouvia dizer, no último decênio do século passado, que estávamos entrando em uma nova era, a Era de Aquários. Tudo de bom para a humanidade. Uma era de paz, prosperidade, amor, fraternidade e solidariedade. Recém oito anos entrados no novo milênio e o que se vê é justamente o contrário: não há paz; a prosperidade é para uns poucos; o amor virou mercadoria a ser vendida em datas comemorativas; da fraternidade talvez poucos se lembrem o que seja. E a solidariedade? Bem, essa virou expiação de culpa em troca de umas moedas nas sinaleiras.

A conservação do meio ambiente está, definitivamente, nas mãos dos crentes. O que é bom para os não-crentes: continuarão devastando a natureza sem problema algum de consciência. Eles sabem que Deus não faz diferença entre seus filhos.

 

 

Aos que tiverem sobrevivido ao primeiro grande embate, entre religiosos e cientistas, um aviso: não resta muito consolo! A segunda grande batalha já começou. Basta olhar a quantidade enorme de e-mails que recebemos todos os dias defendendo que as pessoas parem de comer carne. Vegetarianos e espécies correlatas versus carnívoros.

Os primeiros, aproveitando a onda do aquecimento global, passaram a utilizar os prejuízos que a criação de animais causa ao meio ambiente, como argumento de luta. Não se contentam mais apenas com a defesa da saúde, como faziam até bem pouco tempo.

"Não comam cadáver!", bradam eles, diante de uma picanha. Por sinal, a picanha tem sido a peça de resistência. E nem é a parte mais nobre. Bem poderiam se utilizar do filé mignon e deixar os churrasqueiros livres para se refestelarem em meio à costelas, vazios, maminhas e, claro, picanhas. Não esquecendo que todo bom churrasco vem acompanhado de uma salada. Mas isso eles fazem questão de não lembrar.

Tenho a impressão que eles lutaram ao lado dos cientistas, na primeira grande batalha. A culpa é do pum. Das vacas, claro!

Mas o mais interessante de tudo isso, é que nós, os carnívoros, não nos metemos a enviar e-mails com fotos de alfaces para todo mundo. Por que será que essa gente faz isso? Acreditam mesmo que entupir a caixa de entrada alheia vai fazer alguém deixar de comer carne? Pois está declarada a guerra. Para cada e-mail do inimigo, mandarei como resposta a foto de uma picanha, daquelas bem mal passadas, sangrando...

 

 

março, 2008

 

 

 

 

 

Luiz AFONSO Alencastre ESCOSTEGUY (1957). Gaúcho nascido no Rio de Janeiro, mora em Porto Alegre, é Administrador de Empresas e, atualmente, desenvolve suas competências como servidor público. Ligado à causa ambiental, é membro do coletivo Faça a sua parte e desenvolve atividades em projetos ambientais. Escreve o blogue O Chato.