Instinto

o plástico que lhe protege
na pele que me arrepia

a aurora no banho de espasmo
que nossas bocas copulam

diversos ventres entre
os afagos e guilhotinas de plumas

cortando cardando o plástico
chegando ao teu átomo

o indivisível dizível entre
paredes de quatro

 

 

 

 

 

 

Calcanhares

a voracidade do sexo
meus dedos dos pés nos calcanhares
de todas as luas cheias

e se abrindo um crepúsculo
o músculo do infinito
entre algumas pedras que se abrem


abismos ou grutas onde só me perco
quando encontro
a calmaria total de quem silencia

e feito uma onda plácida
deixa que surfe
no caos enquanto me engole

 

 

 

 

 

 

Arrepio

Entre meu priapo
E o teu vaso
Dilatam amparos

Poros entre o púbis
Pelos pêlos
Datilografia

 

 

 

 

 

 

A boca

Ponta na boca da boca
Boca na boca da boca

Lume no vão do ventre
No ventre vário varo

Intumescida, a vulva
Clama em ser senhora

Da boca no lábio dela
Recebe o que fala o falo

 

 

 

 

 

 

Varal

Rubro o bico do seio
Mamilo que mame o desejo

E entre o que mamo mama
O meu falo entre o desejo

Que agride aquela nuvem
Que o teto fecundou em ti

Tu sabes que meu sonho
É varar-te no varal da manhã

 

 

 

 

O fogo

O corpete negro
Em cima do cimo

A nesga nua
Da lua que range

Os olhos brilham
Sulcando o gozo

Como quem chora
E se abre ao fogo

 

 

 

 

 

 

Morango

Segura o que digo
Quando que Rodrigo é falo

E assim dentro de ti
Meu membro é raro

O objeto do desejo teu
O homem que lhe cabe enfim

A nata o creme
E o morango dentro do jasmim

 

 

 

 

 

 

Fêmea

Entre nesgas te mastigo
Onde miro o infinito

No teu olhar de retiro
Sei que se abres exata

No orgasmo de estrela
No pincel do esteta

Algo em mim te afeta
No teu luar de fêmea

Ó clandestino suspiro
Da minha com a tua

Nuca na noite espera
Tua vulva flutua

Dentro de uma quimera
Azul sou tua

 

 

 

 

 

 

Unhas

Arranha-me e beija-me o braço
Morde o músculo do Amor
Faça do meu o seu orgasmo

E as mãos rasgadas na dor
De outras mãos que as unhas
Urdiram

Urde de mim uma flor
Um tesão lascivo e fúlgido
Que possa pôr trovões no céu

E lhe faça engolir meu umbigo

 

 

 

 

 

 

Nosso Sim

Quando do silêncio
Perfaz o meu esgar
Que comprime o fim
De mim no início

Do seu sim

Súbito o eixo
Que nos separa ao meio
Urde um meridiano
E beija o pomo

Do meu sim

Enfim cabe em mim
O seu sorriso prece
Anjo que floresce
Do início ao fim

Do nosso sim

 

Rodrigo de Souza Leão (Rio de Janeiro, 1965), jornalista. É autor do livro de poemas Há Flores na Pele, entre outros. Participou da antologia Na Virada do Século - Poesia de Invenção no Brasil (Landy, 2002). Co-editor da Zunái - Revista de Poesia & Debates. Edita os blogues Lowcura e Pesa-Nervos.

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