ATRAÇÃO

 

o que me atrai na mulher

é essa sua capacidade de poetizar a vida

com suas pernas abertas

a atrair meu pênis para suas funduras oceânicas

onde poemas em ovulação

 

 

 

 

 

 

A UMA DAMA CRIOULA

 

debaixo do coqueiro

sol das dez e mar calmo

você passa

diante de meu ócio voyeur

amorenada

como se adiante alguma certeza

talvez um homem

ou mesmo uma mulher, desejados

 

e você passou

mas seu corpo negro e exuberante

saliva meu pênis

aquecem meus lábios, seus caldos

(sinto um pentelho

perdido entre meus dentes)

 

 

 

 

 

 

ORGASMO

 

o ar quente

pós-coito no ouvido

o pinto mole

na umidade do intróito vaginal

os corpos

rejuntados pelo suor

e a poética...

um sutil orgasmo sussurrante

 

 

 

 

 

 

GOZO

 

se deixo nos lábios o poema

é para morder de leve a rigidez de seus seios

se acrescento sabores ao poema

é para agitar com mel a chama de seu gozo

 

 

 

 

 

 

UMIDADES

 

toco seu corpo

como se tocasse o barro úmido

nele traço sulcos

como se desenhasse estradas

em água

paro os dedos em seus lábios

descubro-os úmidos

aproximo meu falo de sua vagina

tudo está quente

e nos afogamos nessa umidade poética

entre os uivos e os gritos

das palavras

 

 

 

 

 

 

COMÉRCIO

 

e na penumbra

de um quarto vagabundo

onde se via

— enquanto havia luz —

uma cópia rematada de um quadro

de Salvador Dali

a mão tomou vulto e, chumbada,

pariu calor e dor nos lábios de uma qualquer

 

foi o achego de um beijo

que abortou o gozo e acordou o ódio no homem

: puta quando beija, está a amar

e se o homem pagou, foi para evitar as ardilezas

dos enamoramentos

 

 

 

 

 

 

FEMININO

 

e o homem

plantou o gozo dentro da mulher

que nua

permaneceu na brisa do prazer

mão estendida na direção de seu homem

que colocava as meias e calçava os sapatos

como se o sexo não passasse

do expelir daquele sêmen que dela vazava

em solidão

 

 

 

 

 

 

DIFERENÇAS

 

táctil

cutâneo

amoroso

odoroso

difuso

o sexo

 

atrito

fricção

reco-reco

volatilização

raspão

o orgasmo

 

 

 

 

 

 

BEIJO

 

da vida

a prostituta faz uso de sua boceta

dos lábios, do cu e das pernas abertas

não dando nada a quem paga

além do orgasmo

 

o beijo

carregado do táctil, cutâneo e difuso

oferecerá a quem o merece

somente a ele

doará os poemas amorosos que a mulher

abriga

 

 

 

 

 

 

FÊMEA

 

o poema

deseja gozar junto as estrelas

quer o corpo

nu e exposto na areia

procura a continuidade do orgasmo

quer ser fêmea

a um macho efêmero, transitório

 

 

 
 
 
 

POERÓTICO

 

separo os lábios

como se abrisse um fruto

— morango com perfume de ambrósia

ou um figo —

onde a língua passa carnosa e úmida

o nariz a explorar os odores

de uma fêmea que se contorce lesma

entre gemidos

e jorramento de palavras obscenas

 

 

 

 

 

 

PROCRIAÇÃO

 

me enveneno

com os suores vazantes de seu gozo

e lanço o sêmen

nos mistérios vulvuterinos

: quem sabe

procriaremos um poema?

 

 

 

 

 

 

FÊMEAS

 

Hora do fugaz,

das cores efêmeras,

das fêmeas saírem

em blasfêmias.

 

Hora de rasgar

a castidade,

roçar a nudez

proibida,

do cair das

máscaras.

 

 

 

 

 

 

SURREALISTA

 

cabelos escorridos

caprichar nos bicos

seios rijos

rechear as coxas

apetrechos

 

nos pêlos negros

encaracolar

desejos

escorrer uma fina

depressão

uma dala erótica

um rego

 

palavras

lavras e cheiros

de fêmea-faminta

lambuzada de um mel

selvagem

da abelha mais nobre

a queimar a língua

a criar um delírio-macho

 

caldo provado

tornar chamas caladas

derreter

em cinzas

 

sermos sulco-sumo

uno

fêmea-macho

sem artimanhas

procriadores de efêmeros

nadas

abraçados no pescoço

surrealista de minha poesia

 

 

 

 

 

 

MORRER

 

língua

não rima com nádega

mas desliza

saliva

escorre vadia

lambe a maçã do amor

 

línguas

se enrolam úmidas

aflitas

são engolidas

em desejos movediços

 

seu corpo oscila

pêndulo

a movimentar segundos

ponteiros

deslizar de seios

 

ressoam

gritos-gemidos

meu falo abraçado

corpo inteiro

sugado

suado de prazeres

fragrâncias

que impregnaram o quarto

 

chuleio com os dedos

suas pregas

as nádegas

num remanso molhado

calado

corpos decantados

espraiados

 

ouço ruído

de navio que parte

pássaros arrebentam-se

na janela

gozam a primavera

 

morremos para o mundo...

 

 

 

 

 

 

MAÇÃ-DO-AMOR

 

abrir pétalas com

a língua

explorar

seus cheiros e sabores

 

levar seu néctar

para além desse momento

para colméias

perdidas no inconsciente

 

nos momentos em que

nada valer a pena

ou quando você não estiver

mais presente

minha língua

lamberá a lembrança

como lambemos aquela

maçã-do-amor

 

lembra-se?
 

 

 
 
 
 

ANIMAL

 

seu perfume

acende todas as vielas

esquinas e avenidas

de meu instinto animal

 

sem camisa

deitado sobre a vida

à espera

de um incidente qualquer

         convulsiono...

         irresponsavelmente...

                            animal.

 

 

 

 

 

 

PRESO

 

caem

os cabelos encaracolados

como água ao vento

 

olhar

de quem pensa tudo

saber

e nada temer

 

ao redor

olhares ferinos

cheiros e sabores aguardam

a presa

num falso olhar de quem observa

a vida calmamente...

             pelo retrovisor

 

 

 

 

 

 

AMANTEPOESIA

 

tê-la

silhueta e essência

em claros-escuros

sem ser a outra

 

atrair

meus minutos vazios

em sensuais

signos-fascínios

 

aprisioná-la

ao redor de mudas

máscaras-vozes

amarras

 

suas unhas absorvem

ontens

aderem hojes

rompem o amanhã

 

um sol espreita

seus passos

serem roubados

pelo mar

 

para amantepoesia

não há lugar

quando é dia

 

 

 

 

 

 

SEDA

 

enquanto nascem

pêlos

mulheres tecem a lã

e cabelos

 

disfarce táctil

fácil

escondem gozos

 

uma tênue como seda

esconde o pecado.

 

 

 

 

 

 

SUMO

 

tê-la inteira

na sensação palmar

dos seus seios;

deixar eriçados

os desejos,

borbulhante a paixão.

 

em seu suculento

momento

sou suco-sumo,

um corpo friável,

deslizante sensual.

 

e você

folheia Joyce

na manhã em que

escuros

deixam claros

gozos,

ecoados na

escuridão do quarto.

 

 

 

 

 

 

GOZO

 

silencioso...

 

solto

disperso

aberto

 

delicioso...

 

desprendido

desatado

desobrigado

 

viver...

 

sem rumo

sem nada

sem ter

 

em regozijo

    num gozo intenso
 

 

 

 

(imagens ©robert x)

 

 

 

  

 

Carlos Pessoa Rosa, poeta e contista, escreveu Cor e a textura de uma folha de papel em branco, prêmio Ficção Nacional, UBE/CEPE; Poemas viscerais, prêmio Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, entre outros. É editor do site Meiotom Poesia & Prosa. Assina o blogue Meiotom.
 
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