RL – Virna Teixeira, qual é a relação da sua poesia com a fotografia?

 

VT - Muito próxima. Gosto muito de fotografia. Muitas vezes eu construo um poema a partir de uma imagem. Alguns poemas do meu segundo livro, Distância, surgiram da observação direta de trabalhos fotográficos, como os da americana Nan Goldin.

 

 

RL - Sua escrita é minimalista?

 

VT - Minha escrita é concisa, objetiva. As palavras são depuradas, para criar um efeito máximo. Se fosse definir esteticamente minha escrita como minimalista, penso que seria algo como "minimalism with a heart". Tenho, aliás, dilatado um pouco os versos em poemas mais recentes, enriquecido as imagens, porém continuo concisa.

 

 

RL -  Você é tradutora. Traduzir é re-criar?

 

VT - Depende do que você quer dizer com re-criar, com a liberdade desse processo. Traduzir é um ato de criação, de certa forma. Eu prefiro sempre ser servil no meu trabalho como tradutora, procurando respeitar ao máximo a prosódia, o ritmo e a sintaxe dos poemas que traduzo.

 

 

RL - Qual a importância da poesia americana para a sua formação?

 

VT - Sempre li muita poesia americana: Emily Dickinson, Elizabeth Bishop, Gertrude Stein, Marianne Moore, Robert Creeley, Lorine Niedecker, para citar alguns nomes. Diria que a poesia norte-americana sempre teve um papel mais central na minha formação, apesar de ser uma leitora regular de poesia brasileira. Mais recentemente, tenho lido muita poesia britânica, que é em grande parte, com exceção talvez dos poetas românticos, desconhecida no Brasil.

 

 

RL - O que o fato de ser neurologista ajuda ou atrapalha a poeta que é?

 

VT - Um bom neurologista deve ser detalhista, e ao mesmo tempo objetivo e conciso. O sentido da visão também é essencial nesta especialidade, que escolhi justamente por gostar de observar. O exame neurológico começa no momento em que o paciente entra na sala de consulta. Percebo que também aplico essa metodologia na minha escrita. Então eu diria que ajuda, complementa. Há também a liberdade de me deslocar entre estas duas atividades, o que me permite talvez um olhar diferente, de fronteira. O que atrapalha mesmo é o tempo, que é curto para conciliá-las.

 

 

RL - Walter Benjamim dizia que o cinema era a maior das artes. Qual é a maior das artes para você?

 

VT - Pergunta difícil, pois sou uma grande apreciadora de cinema. Creio que a maior das artes ainda é a pintura.

 

 

RL - Você foi muito bem no Prêmio Funalfa. Conseguiu ser uma das finalistas. Qual a importância dos concursos literários? Como foi sua experiência?

 

VT - Inscrevi-me no prêmio Funalfa como uma tentativa de publicar meu livro. Visava principalmente esse objetivo. Até conseguir um espaço junto a alguma editora, o que leva tempo, você tem que financiar o seu trabalho, se quiser publicá-lo. Fui uma das cinco finalistas do prêmio Funalfa de 2004. Não consegui a publicação, mas a experiência funcionou uma espécie de termômetro, de avaliação da minha escrita. Fiquei contente com o resultado.

 

 

RL - Com quantas metáforas se faz  um poema? Fale de seu processo criativo.

 

VT - Com um mínimo de metáforas. Meu processo criativo começa com uma observação externa que capta o meu olhar, ou com uma imagem interna, como uma memória, por exemplo. A partir desta observação traço um diálogo, que pode ser descritivo ou narrativo e que procura ao mesmo tempo deixar margens para a interpretação do leitor. Dentro desse processo eu incorporo: fotografia, cinema, artes plásticas, música, percursos urbanos, um pouco da paisagem. Estar em lugares diferentes, viajar, sempre estimulou esse processo. Representa a possibilidade de regular o olhar de longe, como um foco: daí parte da idéia de Distância.

 

 

RL - Você está lançando seu livro em diversas cidades do Brasil. O poeta tem de ir onde o povo está?

 

VT - Gosto de viajar e de conhecer pessoas, de me deslocar, fazer contatos. Lançar o livro em várias cidades foi também uma forma de unir o útil ao agradável. Ir onde o povo está, por quê não?

 

 

RL - Para quem daria um Nobel de Literatura?

 

VT - Daria um Nobel de Literatura para o poeta escocês Edwin Morgan: pela impressionante versatilidade e habilidade técnica e temática da sua escrita. Além de poesia, escreveu ensaios, escreveu e traduziu peças de teatro e traduziu poemas de mais de doze línguas diferentes para o inglês, sempre com uma qualidade excepcional, com muita originalidade.

 

 

RL - Qual a epígrafe ou mote que acompanha pela vida?

 

VT - Gosto muito de citações. Uma delas é de Tennessee Williams: "Time is the longest distance between two places".

 

 

RL - Poesia tem função? Qual o papel do escritor na sociedade? 

 

VT - Há coisas mais importantes do que a poesia, como diz o poema de Marianne Moore. Mas nela há lugar sobretudo para o que existe de genuíno: este é o seu papel.

 

 

 

 

 

 

Virna Teixeira nasceu em Fortaleza em 1971. Mora em São Paulo há vários anos, onde trabalha como neurologista. Publicou os livros Visita (2000) e Distância (2005) pela Editora 7Letras. Tem colaborações em várias revistas, suplementos literários e e-zines como tradutora: Oroboro, Inimigo Rumor, Zunái, Suplemento Literário de Minas Gerais, Pop Box. Traduz, principalmente, poetas de língua inglesa: Robert Creeley, Mina Loy, Edwin Morgan e Delmore Schwartz (Escócia), entre outros; além de poetas de língua espanhola (Alejandra Pizarnik) e francesa. Possui o blogue Papel de Rascunho, onde publica seus poemas e traduções.

 

 

agosto, 2005
 
 

 

Rodrigo de Souza Leão (Rio de Janeiro, 1965), jornalista. É autor do livro de poemas Há Flores na Pele, entre outros. Participou da antologia Na Virada do Século — Poesia de Invenção no Brasil (Landy, 2002). Co-editor da Zunái — Revista de Poesia & Debates. Edita os blogues Lowcura e Pesa-Nervos. Mais na Germina.