[imagem original ©governo do estado de são paulo]
Jorge Vicente
22
não quero escapar dessa cidade tão minha
e tão dentro do abismo, da vertigem, do desassossego
não quero talvez morrer como tivesse vivido,
com a serenidade roubada pelo ruído de bombas e de
pele e de estratégias e filosofias inúteis
não quero que essa cidade se incendeie
na garantia de que a poesia salva ou impede morteiros
em 22 comemos o que resta de nós
e entregamos à violência dos tanques.
Jorge Vicente
Na web
InComunidade
José Carlos Vieira
CARDIOPATIA (ou réquiem para um velho punk)
Morreu numa madrugada quente
a lua, talvez minguante
ao lado, uma garrafa de vinho pela metade
a taça em cacos jazia no tapete cinza.
Perto do travesseiro
o livro Ao sul de lugar algum,
de Charles Bukowski:
"Randall era conhecido por ser
um solitário convicto, um bêbado,
um homem amargo,
mas seus poemas eram crus e honestos,
simples e selvagens..."
morreu
coração explodiu, apesar da pouca idade
virou uma gelatina disforme, dentro da carne enrugada.
morreu
tinha uma amante mais velha que ele
a cada 15 dias, o visitava
ela gemia, urrava, suava, chorava, ria
e falava de eternidade.
Deixava sempre dinheiro
dentro do aquário vazio de água e com plantas de plástico
E ia embora para a casa do marido em seu sedã dourado.
morreu
um tumor poderia levá-lo mais tarde
uma facada de amor ao lado do baço também
um susto, um tique, um teco.
morreu
como morre um inseto
cego diante da luz de um automóvel
um anjo no chão depois do pecado.
Os anéis de prata brilhavam nos dedos já frios e entrevados...
uma caneta, uma carta de amor por começar
o papel em branco.
sim, a morte era branca como aquela folha
inútil, vaga, vazia
inexorável vácuo sem volta...
morreu
diante do espelho silencioso
de um quadro de Iolovitch
entre remédios e remorsos...
a vida é um clichê
uma mentira encenada no palco
para uma plateia de medíocres
só os medíocres sobrevivem tanto...
morreu
era uma vida de pequenos suicídios diários:
acordar, mijar, gritar o nome da melhor mulher
voltar para a cama
tropeçando em amores deixados nas gavetas do passado
aaaahhh! desespero!...
morreu
sem perdão para a culpa dos outros
não um canalha, ou um cristo, ou um buda
mas um poeta enganado, desenganado
um mito do rock sem comprimidos e seringas...
morreu
não havia vida há muito
rastejava pelos bares
vomitava palavras nos esgotos dos saraus
enfrentava o hálito da morte todas as madrugadas...
deixou cicatrizes em diversos seios
mordidas insanas em batom azul
sinais cravados para sempre
em peles lisas e perfumadas
Morreu...
O sol já vai nascer...
E as moscas lambem os olhos secos...
José Carlos Vieira
Na web
Correio Brasiliense
José Luiz Furtado
Lugares comuns
O tempo passa e os rios
Os rios se repetem, como ondas e mais ondas,
no mar,
calmos
E nada para ao sopro do ar.
A Flor rubra gira no vento
archote
em torno dos funerais.
Vinda em fogos, barbitúrica
peneirando grãos de cinza
sobre o pó e a espuma
do que somos em tumulto
vem essa Flor
desincendiando
o inferno
José Luiz Furtado
Poeta e professor de Filosofia da UFOP.
Jovino Machado
ElaSim
a poesia é torta
a poesia é gauche
a poesia é esquerda
a poesia é puta
a poesia é pura
a poesia é podre
a poesia é água
a poesia é terra
a poesia é fogo
a poesia é ar
a poesia é falta
a poesia é drible
a poesia é gol]
a poesia é socialista
a poesia é comunista
a poesia é humanista
a poesia é bar
a poesia é lar
a poesia é mar
a poesia é bella
a poesia é duda
a poesia é áurea
a poesia é bi
a poesia é trans
a poesia é viadinha
a poesia é lindinha
a poesia é raspadinha
a poesia é cabeludinha
a poesia é foda
ela sim
Jovino Machado
Na Germina
> Poesia
Juliana Blasina
Quase um Monet
A vida como um quadro impressionista
:
sem contornos
sem chiaroscuro
flores em mancha se mesclam ao muro
um corpo amorfo na paisagem e
um barco
(talvez
rumo às pedras)
nesse horizonte trêmulo.
Juliana Blausina
Na Germina
> Poesia
Julio Mendonça
O Brasil curvou-se ante o Brasil
Julio Mendonça
Na Germina
> Poesia
Jussara Salazar
duas portas me habitam
Aproximo o espelho
uma nesga de sol mergulha no café
enquanto leio
filosofando sobre sabonetes baratos do hotel
entre um e outro olhar enviesado da camareira
entre corredores monótonos
_____minha pele é uma sombra na cidade
minha pele tem febre
e caminha pela tarde
na grande avenida entre as colinas de são sebastião
entre repetições do êxtase de santa teresa
entre pilhas de livros
e demônios de louça
que riem das dez perguntas sem nexo
_____ entediar-me em cantos de maldizer o silêncio?
visto o casaco
amarro os sapatos e um fio de luz sobe pelo teto
imitações de miniaturas gregas
com seus pés de abaporu
perdidas entre infiltrações
da ferrugem dos canos
são rituais de desejo
sobre as paredes sentimentais do casarão antigo
com suas portas numeradas
escadas
por onde fugirei para a rua se a noite vier
e hás de dormir____ ah cordeiro
tua sonhada leveza
enquanto revolverei esta terra
encharcada
de nossa memória
Jussara Salazar
Na Germina
> Poesia
Justino Justino Justino
Sem título
Justino Justino Justino
Na Germina
> Poesia
Kátia Borges
Kapalabhati
O poema perfeito respira no erro
que o socorre em kapalabhati.
O poema perfeito se esconde
enquanto respira
no erro que o socorre
em onze expirações contínuas.
O poema perfeito escorre,
em sukhasana, ujjayi-pranayama.
(bhastrikas como se rimas,
estrofes como se ramas,
dharmas como se dramas)
O poema perfeito brinca
entre os ossos do crânio
Kátia Borges
Na Germina
> Poesia
Katia Marchese
Cúmulos
Nunca mais
olhou para o Céu
esse túmulo de seus mortos
[o azul é vingativo]
Girou o eixo,
a Terra paira sobre sua cabeça,
o verde pende
e agarra as mãos.
Deixa o abismo aos pés.
Katia Marchese
Na Germina
> Poesia
Leida Reis
Identidades
Os modernos se estreparam
Na encruzilhada dos 100 anos
Cem esquinas bastaram para
A revelação da revolução:
Nem foram os paulistas nem os cariocas
Uma trans de botas tortas e fios de cabelo amarelados moradora da vala de um cemitério no interior do interior do Ceará mal sabia pintar ou escrever ou mesmo tocar flauta nunca quis ser moderna e eis aí, eterna.
Leida Reis
No Instagram
@leida.reis
Leila Guenther
Poema dadaísta tupiniquim tirado de umas manchetes de jornal
Leila Guenther
Na Germina
> Poesia
Lígia Dabul
Sem título
Ela me cobra um veludo. O poema feito para comer.
Minto sobre o que vou falar. Indico até o andamento.
Empresto o metrônomo. Mas lembro que, eu mesma,
ando evitando o açúcar.
A outra quer pendurar estrofes na parede. E o cara
conseguiu uma pintura contemporânea, o conceito
dentro, e sem moldura. Observo por três horas. Digo que
gosto. Até que gosto. Combina com o sofá.
Só que estou aflita. Um poeta ressuscitou ainda agora.
Sinto algo que não conseguiria explicar. Um poema feito
para ler, imagino. While my guitar
[Do livro Som. Rio de Janeiro: Editora Bem-Te-Vi. 2005]
Lígia Dabul
Na Germina
> Poesia
Linaldo Guedes
carrossel de silêncio
meu filho fala sozinho
no meio das crianças
brinca com ninguém
finge-se de gato
imita o cachorro
au
au
au
autista
(e o mundo finge que ele não existe)
Linaldo Guedes
Na Germina
> Poesia
Lindevania Martins
Itinerário para um títere
Vamos puxar as suas cordas
e fazer você pular
cordas esticadas
vamos controlar os seus ouvidos
e sussurrar todos os dias
até você achar normal
o que antes produzia horror
nossas vozes
deitarão em seus vestíbulos
e você defenderá nossos princípios
nossos meios e nossos fins
porque alguns nascem bons
outros ruins
e é preciso construir altas paredes
para deter o ataque a seus jardins
insuflado em seus medos
você aceitará a nossa seita
porque só ali há proteção
contra todo tipo de demônio
nenhuma vida mais será sagrada
e você pegará em sua cozinha
corda, fósforos e álcool
e você acenderá nossas fogueiras
e queimará cada um dos que odiamos
e expurgará do mundo cada um
que a nós se opõe
porque será sua
a nossa raiva e ambição
e serão nossas as suas mãos sujas de sangue
e será nossa a fuligem em seu peito
e será nossa sua boca escancarada de prazer
ante o espetáculo vermelho das chamas
que consumirá deles a carne
e expandirá no mundo o ódio
de nossa múltipla respiração.
Lindevania Martins
No Instagram
@lindamartins
Líria Porto
bandoleiras
maritacas maritacam
voam em bando
bicam verdes amarelos
e no meio da algazarra
roubam caquinhos do céu
para enfeitar as asas
[Do livro quem tem pena de passarinho é passarinho. Peirópolis, 2021]
Líria Porto
Na Germina
> Poesia
Luci Collin
Meus oito anos
Luci Collin
Na Germina
> Contos
Luciano Cortez
Soneto quase imperfeito
Quando em ti me aconchego,
Nada em mim tem sucesso.
As palavras baixas que teço
Não são as que quero ou peço.
Escondido em mim não me encontro,
Só o desencanto entre voz e gesto.
Escolho perdido sempre o monstro
Que se encontra em mim indigesto.
O sem jeito com que me ofereço
Ao mundo, a ti, ou a todas,
Não tem igual, não tem preço.
Sou o adereço que guirlanda as bodas.
Ou as bolas. Que em mim se destina
O tropeço, ou a palavra que peca:
Pescar xoxotas na tina,
Ser chulo, louco ou jeca.
Ou melhor: a solidão que escalpelo
Pelo a pelo, nesses versos nus,
Arredondam-se nas coxas que peço
A Rebeca, Dolores ou Jesus, melhor,
Chupa-flor, Nada Consta, Seu Moço.
Luciano Cortez
Um dos fundadores da revista Cemflores, é poeta, artista plástico e professor da PUC-MINAS.
Luís Perdiz
Sem título
Uma flor me abriu no meio
e eu quero seu mistério.
Venho das chamas anunciar
a pressa em ser a presa
que nunca se encerra.
Luís Perdiz
Na web
Revista Primata
Luís Serguilha
PLANO-MOVENTE____13____
Um poema-animal também acontece na força tremenda do impreciso com fluidos hiperplásicos entre edemas copulares, apoptoses heteronímicas, tromboses venosas e levedurinas amebianas rés às esputações cadavéricas dos vertedouros de goivas verbais, de malhas jugulares e de fístulas vascularizadas por purgatórios ao cimo das drenagens cristalográficas: há uma dança da antropologia no espaço de conexões anfibológicas onde um fora-adentrado das herbolárias com cérebros vibrantemente etológicos resvala contra o espasmo aforístico de um lacrau ciliar: dedos entremeados, disjuntivos e acopladores de intensas camadas de equivocidades, percorrem um poema dilatados por aranhuços de cistos seminais: inseparáveis anáforas vociferantes perfuram a especiação pedunculada das vesículas vocabulares com agulhas exócrinas da vinificação: dizem: ulcerações petrológicas da ecosofia. Uma LEITORA-corvídea se capta, se rouba sem filiações estrogénicas, sem taxonomias, estorcegando linhas eritematosas até às proliferações dos múltiplos pontos de vista polimerizados por estolhos de contas elipsoidais que a atravessam policromaticamente (as partituras barrocas, alegóricas religam-se aos trespasses mucilaginosos, aos quiasmas dos endométrios secretores, às neotenias geniculadas onde as úlceras heterotróficas nutrem os azougues dos colapsos das palavras): um animal-poema torna-se um muco cervical com bolores infinitamente fractalizados contra enxertaduras anti-antrópicas e uma LEITORA enovelada por ritmicidades anicónicas faz dos verbos zonas plágicas com furúnculos luzentes ao cimo da conflagração perianal: um animal-poema dobra, condensa as córneas multicatalíticas da palavra dentro de vertiginosos garimpos, destruindo dicotomias e injunções epistemológicas com cataplasmas endorreicos: uma LEITORA com hérnias hemisféricas ao cimo das libações das farmacopeias tenta verter e extrapassar as substruções do poema em desmembramento e em contraposição labiríntica entre os engenhos ecoantes das distâncias, as áreas de silêncios sem pontos de partida e sem as bocas dos julgadores de estrofes traqueais onde se executou um crime fora de prenúncios inanimados (ADIANTAR-SE e retroceder na siderurgia do desastre e da crueldade de um tempo microperceptivo que dura incessantemente onde o ascendimento anómalo desponta pensado obliquamente no im-possível dos processamentos genéticos: politonalidades das fundagens escarvadas pela língua mudamente relacional sobre uma língua diastólica com sonoridades híbridas das brânquias): os alfabetos tacteados, farejados pelos choques súbitos-fílmicos-sanguissedentos, alucinam as vizinhanças do poema-possuído-por-si dentro das intersecções anárquicas do poema intraduzível e perseguidor de não-figurações-visionárias: dizem: carnaduras prosopomórficas no alto das eleáticas-incorpóreas, propagando prismas-das-glossolalias e escapamentos ininterruptos e dilatados por ferropeias tectónicas e por abaladuras cataclásticas (um poema-animal disjuntivamente fabulado nas tramas sintácticas das bastardias ostráceas malhadoras de ondas de excídios metamórficos onde os mapeamentos se ab-rogam, se estimulam, se fendilham entre pontos de fuga simultâneos): a transmutação sonora-molecular atravessa as géneses abstractas, os gestos poliédricos expandidos-des-articulados sobre os policristais dos apostemas tarantulares: há uma ondulação de corpos sem gramáticas que induzem a reinscrição melismática doutros corpos, arrancando simulacros às descamações dos simulacros, aberturas aos antropófagos das aberturas com enunciações de desequilíbrios verbais sobre as marchas polifónicas de uma FALA: batimentos carburantes das enxertias gésticas despontam alterados entre planos invisíveis e correntezas de temperaturas jugulares que tentam entranhar nas angulações etogramáticas para as desmanchar com sangramentos anorgânicos (um poema escarifica-se anabolicamente entre vários prismas sintomatologistas que fissuram os nutrientes da equivocidade com carbúnculos pancreáticos ao cimo dos abatedouros das hebefrenias): as zonas im-perceptíveis do poema solevam os sedimentos da ancianidade des-dita e espargida na duração cinemacromática dos animais onde uma LEITORA consagra os traços da monstruosidade uterina quase translínguistica porque arquitecta diafragmas himenais com múltiplas sonoplastias moduladores de equimoses verbais em deflagração: dizem: voragens impensavelmente reflexionadas nos escafandros das estocásticas que desabam e se repercutem nos creófagos silabários de uma FALA: há veações dos citologistas-em-avalanche esgrimista e no zigue-zague do inacabado dos metais-sem-detalhes, uma LEITORA recria os instantes de um GRITO-micro-intervalar entre chicotes flutuantes dos gestemas, alomorfias dos ossos citrinos e sincronizações desconexas das membranas cruéis (perpassar as experimentações das vastezas do corpo do animal-poema para impulsionar as escapadas dos opostos-simultâneos e quebrar os binómios com as exocitoses das curandeiras que atravessam as espessuras gérmicas da LEITORA: diastrofias de hordas verbais dissolvidas por traduções filmofânicas catapultadas pelas sangraduras da traição do insituável da palavra em ritmo intemperístico: sismicidades das infralínguas criadoras do sacrare-larvar-gangrenoso do animal que recusa a desaparição umbilical da sua pele): Uma FALA em translação flebotomiza-se com enzimas cársticas ao redor das dismorfoses cardíacas das palavras: há uma medula penível na língua já esfuracada pela oscilação orogénica que experimenta as manchas dos fórceps das turbulências por meio de batimentos noológicos do animal-poema: uma LEITORA se estranha ao voltar-se para si com investiduras deslizantes, inesgotáveis, para esponjar a diferença enérgica que desliza desabaladamente para si, sobre si, fora se si, reforçando a diérese sónica de Ulisses, a fusão cetácea de Ahab, as anisotropias, as contraposições dos semiogramas dos enervamentos das palavras onde a carnadura dos cascos bulbiformes solavanca nas lâminas dos silêncios das minerações hipotónicas dos vazios, das granulometrias lipídicas dos verbos e das cravagens insufladas por atractores de microcinemas: dizem: autofagia de uma FALA no alto de um tecido conjuntivo com rebentações félsicas: um animal-poema dedilha-se e acrescenta-se às copulações carboníferas das distâncias das azulejarias que fazem da hiemação demonológica uma equimose randomizada por antecâmeras jugulares (um animal não se prismatiza, ele é já-em-si uma adivinhação piroclástica e heteronímica engolfada por topologias dos rasgos inconscientes com parresías por vir: há uma visão polilinguística que se diferencia nas estepes fractalizadas da LEITORA que se relaciona com as necrotomias do indiscernível sobre entretempos de um animal com bunglossas em mudança por detrás da cismogénese: o que pode a LEITORA saber dentro de irradiações de partículas cosmogónicas sem influxos hereditários? Um poema-animal advém do gastrocnémio-holográfico em variação multímoda que surge depois do impensado de si-mesmo, produzido pelo desequilíbrio activo das des-proporções antes do presente futurível: aqui-agora: um roubo das cartografias etimológicas se actualiza entre fronteiras híbridas-movediças e traduções inexprimíveis: as basculações anabólicas da LEITORA atravessam a vernação do animal-poema com as espirais copulares plenas de espôndilos das efracções com os graus máximos de uma microsazonação cubista onde os esfolamentos e a putrefacção babelesca das palavras desdobram os cadáveres das distâncias com os vertedouros dos vazios: uma palavra se excisa com tecelagens alófilas para se decifrar por meio de deciframentos incisuras de coágulos da assepsia verbal: há uma LEITORA imunológica com esquivanças e epicentros nas frisagens do seu ventre de entrepausas anagramáticas onde os sopros sinapsiais se impregnam na tradução-enviesada por perfídias dos desaguadouros dos relojoeiros polilinguísticos: um poema-animal poliniza guindastes videntes com androfagias a dilacerarem-se nas hesitações cartomantes: dizem: percussionistas refractários na asseveração hipotérmica onde os chocalhos dos epifenómenos abrem os sudários dos demiurgos com os carpos das putas-IT com dicionários multizonais e arquitraves ontogénicas a cauterizarem as fricções de uma FALA nas contracturas larvares de um poema: dizem: reminiscências polinervadas por invaginações de limiares de úvulas testemunhais que sobem pela hapticidade da LEITORA até à transição oxigenada das vértebras rés à contrapeçonha da prestidigitação: nos espelhamentos cosmofónicos um animal amplia as trilhadeiras dos labirintólogos perante a genitália kairótica que espreita as ciências sulfúricas ao cimo das bússolas hidrópicas: as escoras dos palíndromos da LEITORA recuperam as subducções das artesanias dos serpentários que multiplicam utensílios diplóides nos timbres das escavações lodacentas das palavras: por vezes fotosssínteses do microcaos despontam com crueldades embriónicas que expandem as vésperas lapidificadas de um signo onde uma FALA com batimentos insaciáveis usa a plenitude da dissecação das escarpas verbais para se entrenhar nas hibernações criptogâmicas:
Há uma crisálida exercitada sobre as cornucópias à volta da sonorização molecular que se abre às inervações do poema com estendedouros da duração a decifrararem os arpões parietais dos vazios: havia alimárias transumantes nos vitrais entrançadores do poema-animal que faziam das safenas aiónicas uma hifenização de mitocôndrias com ecossons do tórax de uma LEITORA: havia ametistas dentro dos hidrofones dos batedouros de entreteceduras do cristalino onde uma hemorragia de lucarnas articulavam os abalos da glandulação verbal às salinidades das pústulas expiatórias: havia êxodos onomatúrgicos nas antecedências de uma esclera verbal onde a adubação insana da autogamia era feita por gadanhas dos vascolejamentos dos trilhadores de vulvas à volta de lavadouros de línguas com vidraças disruptivas: havia uma LEITORA com clepsidras nas excrescências helicoidais das mucosas onde um poema-animal por meio das bricolagens dos brônquios se crivava nas escavaduras patafísicas para assimilar as salmouras ováricas a expandir eclipses mineralizados sobre os esgotamentos das guinadas zoológicas: havia microfísicas ectoplasmáticas no poema-animal: dizem: fitotomias anabolizadas por híbridos sobre os nervos das vertigens: havia confessionários sintomatologistas com estames hemisféricos azuis ao cimo das segadeiras de ar que esboçavam alforrias cranianas por dentro de extravios contorcionistas onde uma palavra delirava entre entroncamentos salíferos: aqui-agora: as flutuações das síncopes assopram as nadadeiras nouménicas com as debulhadeiras ciclópicas dos fotogramas: havia uma improvisação nos palatos escafandristas da LEITORA a evaporar sedimentologias verbais rés às helioses obcecantes de uma FALA que ainda catalisa torceduras hidrológicas com ralentações exogâmicas: havia ângulos espasmódicos nas silabarias do poema-animal vascularizado pela babelização placentária onde uma FALA com arquivos plágicos faz da mineralogia um ergástulo psicodélico das palavras: havia decomposições de ventosas nas porosidades das palavras que escambavam neoplasmos através de gravitações angulosas das blasfémias: dizem: tuberculoses coalescentes golpeadas por glandes perpassadas por bocas com restevas de entrecortes dos bestiários: havia uma LEITORA com coágulos ungidos pela cibernética virulenta dos flagícios ao redor hipóxias das circuncisões de uma FALA com estacarias dos mangues rentes aos dínamos histológicos da língua: havia uma copulação metalúrgica no poema-animal com varizes esofágicas turbilhonares a alicerçarem as secagens das palavras com as anábases dos vazios a baterem nas ruínas biossedimentares dos partos: havia microtons fúngicos a ejacularem pigmentações radiais sobre um poema com lâminas das queimaduras encefálicas hibernando nas endorfinas indissolúveis: havia um acossamento de nodosidades incestuosas por dentro das palavras estacadas por sufusões de úlceras diastólicas onde uma vorticidade de tapeçarias opalescentes impulsionava uma refracção do escaravelho nos eléctrodos abotoadores de lanhos verbais da LEITORA: havia um animal-poema com crueldades da hodologia nas extremidades gérmicas esponjadas pelas antecipações citológicas da LEITORA que se extravasa(va) por meio de bisturis da vaticinação falsária onde as febres das pariduras rebentavam nos batedouros das coagulações matriciais: aqui-agora: a decantação verbal faz dos testemunhos do flagício um aradouro de rosáceas que esponjam o insituável fosfórico das putas: despontam cisões nas ampulhetas das luminárias órficas da LEITORA e o cio do vazadouro das têmperas das línguas constrói uma perturbação enciclopédica nas cabeças das falcoeiras com parresias infiltradas na carnagem: uma LEITORA mergulha na sua putrescência luteínica e com a regurgitação dos cadafalsos das catálises verbais envolve-se por meio do silêncio da ovogênese no animal-poema até atingir o bolor das escarpas do vazio em inseminação pneumatófora: sensores do vazio grafitam uma FALA até à difracção da insânia violácea.
Luís Serguilha
Na Germina
> Textos
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