infâmia
um rio
nasce espontâneo
brota do ventre da terra
escorre solto nas
pedras
rasga seu leito estreito
ganha corpo
correnteza
leva cardumes inteiros
atravessa as
florestas
as campinas as veredas
um rio
recolhe às margens
o canto das lavadeiras
a alegria dos
pássaros
o corpo d'algum menino
canoas anzóis as redes
o
riso das cachoeiras
sua vida serpentina
até se jogar ao
mar
quando cumpre seu destino
há homens
pensam-se deuses
violam as águas do rio
arrancam-lhe as
riquezas
desviam-no da sua trilha
transformam-no em mijo
seco