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Malevolência
Na magnificência da tristeza, Um ardor latente em seu peito. O ressonar da madrugada, Amargura o teu ser.
Saudosa malevolência No arrepender dos olhos, Lacrimejados de rancor, O consome, o maltrata, Não perdoa sequer Um momento infame Do teu ardoroso coração.
O Ecoar da Noite
O ecoar da noite, A destreza do olhar, As mãos cálidas sobre a mesa e um ladino pensar. O vilipendiado amor, Um varão massacrado, Enveredando ao inconsciente Pela vontade imprópria. A vela, o fogo, O mórbido calejar das almas que não param de chorar.
Inconstante
Espasmo olhar Fixo, inconstante No delinear da janela. O que a poderia deixar Tão depressiva? Tuas sobrancelhas se curvam. Teus lábios no batom Maquiam uma falsa alegria Perceptiva ao teu calmo piscar. Seria angústia? Seria tristeza? Ou seria o teu modo de sorrir? Eu não sei...
Intrépido
Um intrépido saltimbanco De um lado para o outro, Fantasia teu caminhar. Já se cansa, já se cala, Não sorri e não mais ama, Tua alma já vendida. O teu perdido olhar, Os teus dias tão vazios, Teu estrado vagabundo. Tuas roupas coloridas Tão rasgadas de lutar Pelo coração partido, Pelo amor e pela dor De um dia se entregar. E assim tão muito triste, Perecerá.
Vermilhões
Famigerados dias vazios, Incrédulos, incultos, Ocultos nas devassas. Um andar engatinhado Engatilhado de podridão. Doentes, cansados, Ingratos, vedentes. Vertentes poluídas De ódio e ambição. Corroídos e exagerados, Emaranhados vermilhões Inaudíveis, inoculares, Letárgico coração.
Desilusão
Os ventos da era doce sagrada Trazem lembranças do fastio. Os sinos tocam às seis da tarde E eu me deito no jazigo. As cores do meu corpo, Os brilhos dos meus olhos São cartas que se despedem Do revoar da vida, Como um velho suicídio Ou um corpo iluminado, Um sonho transfigurado Com um cheiro podre.
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O Caminho
Os pés descalços, Impermeabilizados pelo sangue, Feridos e impotentes. Como as folhas de outono Ou o brilho da primavera. A saudade o permeia, O contradiz, o emputrece. O caminho sem volta, A plenitude do olhar Inóculo e obscuro Das pedras do caminhar.
Incrédulo
Vejo a noite pela janela Como quem vê o envelhecer da alma. Observo a calmaria, O choro dos infelizes, O brilhar da madrugada, O sopro no olhar E não vejo ninguém. A TV não sintoniza, O rádio já não fala, O cérebro não mais pensa. A luz da vela me atrapalha. México, Israel, Palestina, Iraque. Já não tenho mais notícias, Já não me importo mais. Estou cego, estou surdo. Em que me transformaram? O que eu me tornei? Já não entendo mais. Fecho os meus olhos... Adeus
Escriba
O que esperar De tintas e pontas De pena num papel Que não se pauta Como num pensar,
De olhos mordazes E pétalas de orvalho Caídas em vinho Cor de sangue Nas pálpebras De um brindar?
O levantar de um gole, A dor maleável, Que se torna tênue A um diáfano olhar.
Pétalas Negras
Oh pétalas negras De rosas deslumbradas Víis ao delirante crepúsculo Que permeia o teu olhar. Fazei das palavras Uma arma, como a poesia Que distrai os fósseis olhares Caídos e cobertos de sangue. Corroídas palavras, Nebulosas mentes E tempestuosas mãos. Guardai os sentimentos do mundo, Fazei a súplica do amor, Tornai verossímil a nossa alma.
...
Há dias difíceis Desenhados no percorrer Das lágrimas Que vão de encontro ao peito. Nos linfáticos olhos, Coração lacunar, Pensamentos fluidos. No esmaecer das horas, A lua permeia o olhar, A chuva umedece A estrada vazia E o caminho cheio de dor.
Sem título
Meus olhos estão tristes. O vermelho do sangue Parece névoa a neblinar Caminhos opostos, Horas desiguais. Não tem para onde seguir, Nem para onde olhar. A escuridão me devora, O chão se abre E as tormentas soam. Ouço a canção mais bela, O som do escuro O som do nada O som da morte O som do silêncio. |
(imagens ©regine mahaux | aflo-aflo)
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Bruno Grossi (Belo Horizonte, MG, 1979). Escreve, desenha, produziu fanzines, tocou em várias bandas e criou a Revista Nota Independente, com o objetivo de alavancar e incentivar todo tipo de expressão artística. O cinema, a ilustração e a pintura completam as áreas de atuação desse artista interdisciplinar e multimídia. Nas artes visuais, produz vídeos-arte e curtas-metragens experimentais e complexos, já premiados em festivais. Publicou O grão imastigável, em 2007. Mais informações em seu site, clicando aqui.
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