"A verdade é sempre um
contato interior. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível,
extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique.
Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio
último e primeiro pulsar". Clarice Lispector
"À impenetrabilidade do mundo
exterior, a poesia aporta uma solução:
sua substituição pela evocação".
Lezama Lima
"Não pergunto pelas glórias ou pelas
neves,
quero saber onde estão se reunindo as
andorinhas mortas".
Julio Cortázar
"Uma coisa invisível
está perecendo no mundo,
um amor não
maior que uma música".
Jorge Luis Borges
"Batei, Amor, à porta, devagar. Vos
atenderá, toda molhada,
uma senhora de
gelo".
Wilson
Bueno
Na única torre do casarão colonial,
imitando água fria no búzio, K. desfere à queima-roupa a sentença
idílica: "Escutem! Pois, na verdade, uma vez mais vamos arar o
campo de Lucana de olhos claros". Ó Hölderlin, Hölderlin, quanto
mais poético, mais real. Cada palavra — matéria fina de toda
certeza — a nossa microlíngua a pronuncia e com esta matéria fina
tentamos incitar o linho que nos envolve e abisma. O Hino Homérico V (uma nota
explicativa à música dos gregos), dedicado à sibila Lucana, finca
na retina que é nossa o preceito óptico do califa al-Hakim: "Se o
sol que vislumbramos é a sombra do sol, imagine, nesse momento,
como é o próprio sol?". O Vazio do horto no verão, todo de conchas
e frutas. A linha das marisqueiras suspensa no aquático. K.
recorda uns versos de Alice Ruiz: "Pequeno/tinha um pensamento/a
selva/quando crescer. Em algum lugar/na selva/corre grande um
pensamento". Ela ressuscita, cada manhã, com os olhos abertos para
que as imagens sigam fluidas na torrente limosa e aprendeu, na
caatinga, que a língua dos mortos é de pedra. A cada momento,
Lucana, a linha molhada de cílios, cruza, aqui na Villa da Concha
(onde nada pode acontecer, a não ser a lenda), com esses fariseus
ressoantes e vazios como tambores. Fariseus presos nas sacristias
ou nos cartórios, e que só conhecem a letra fria da lei. E passa,
Lucana, sob os pórticos da pequena vila, sem o pedrento e a
conspiração. Pois esse lugar onde ela vive é Villa da Concha.
Nunca vi peixes mais escamosos que os que viçam nesse sumidouro.
Ali caules gordos abandonados no lodaçal. A pequena igreja do
Carmo, se a vemos daqui do cais de pedra, esconde eucaliptos,
figueiras, pinheiros-bravos e o vento muda de lugar, passa antigo
pelos cabelos de Lucana, até esvair-se para sempre no perau. Como
se rezasse missa n’água, atrás de um fumo leve ou de um rosário de
folhas, espio Lucana (ela ainda não me conhece) que desliza na
canoa. Villa da Concha, onde não entra nem a morte nem o
pecado, onde não entra o mal: a cloaca, o sicário. Aqui, nesse
vilarejo à beira-mar, tudo é música de Maria Bethânia, celebram-se
as bodas, e a entrega à preguiça é um suave vício. E Lucana, ali
na canoa, sua pele interior, um pouco molhada, ama o riso, o amor,
a divindade. Depois do passeio de canoa, ela encosta-se à varanda
e sorve lentamente o chá de laranjeira. Ainda não conhece K.,
porque a voz de K. vive num casarão colonial, onde passa os dias
de sua vida à beira de um túmulo florescido llorando a
mares.
A iguana em meio ao juncal é bom, o
salmo 69 não é mau. Sem ser da mesma linhagem que a do salmo,
aquela em Villa da Concha, segundo me confidenciam, é Lucana na
Casa de Água. Ela vai grafando linhas vazias no dorso escamoso da
iguana. Ela — água de chafariz — que cai aquática e ressuscita
aquática. Folheia o missal das pedras, e particularmente a brisa.
Possui a técnica de o fazer, do missal das pedras, uma gravura de
fino cristal. Lucana retorna à Casa de Água onde reside, entre
azulejos da parede, arcas-de-ferro e mandacarus do sertão. Ela e o
suntuoso vendaval. Uma neblina se dissipa. A partir de um átrio
aberto, espia-se a monotonia da Casa de Água. Jorra o cântaro a
gramática líqüida ou o fluxo solar da indecisão aquática. O peixe
principia a feder pela cabeça. Casa de Água principia a clarear
pelas telhas. Se o peixe é de pedra nunca fede. A partir de um
átrio aberto, erra a epifania, não em lavanda, mas em cacto ou
apenas arabesco de cacto. Logo na entrada se vislumbra o crânio de
uma vaca com rosas da caatinga e um árido chão. Lucana abana
moscas, vocifera claros nomes serenos. Simplificada a Casa de Água
até o rigor franciscano de uma gravura de Balthus, e onde por
único adorno, além de tomos de Xenofonte numa estante de cedro, há
cactáceas em púcaros de barro. A um recanto do living Lucana, a ler duas
folhas de prosa, aproxima da talha das abluções o lado amargo da
língua, depois vai regar o silêncio do Jardim de Pedra, vai regar
o jasmineiro, o corvo, o biombo de fino papel japonês, a âncora.
Com o viscoso lodo das palavras, com o granizo e com a nevasca das
impressões verbais, desvela-se a seqüência harmônica da Casa de
Água de Lucana, casa que é um sonho onde não se dorme, sonho vivo,
fora do sono, entrelaçado silêncio de cacto e sopro. Jardim de
Pedra que a raga indiana rega, também cheira a Vazio e viço de
alecrim. Tudo está em chamas: a retina, a coróide, a alta árvore
na audição de Orfeu. Tudo em chamas: aquele ponto, no leito dos
rios, onde remansam as águas; o cesto feito de taquara; o vinho
negro e forte; o sentimento que nasce do contato com episódios
gratuitos — seja a dor, seja a alegria — tudo em chamas. A
lâmina da morte abrasa a iguana e a reduz a cinza. Imersa em
profunda fonte fria, Lucana, na cama de chuva, os olhos macios e
perdidos, escuta, com órbita teimosa de bicho calado, que, segundo
Petrarca, "...de um polido e vivo gelo provém a chama que a
calcina e a destrói e tanto as veias resseca e a alma esboroa...",
que, invisivelmente, ela se degela. Lucana, a senhora do gelo, desvela
nos búzios que a existência do céu apenas demonstra que somos
ossos, não existimos, e só o céu dura na pura claridade
matinal.
Alguma coisa nova sempre desvendamos,
se estivermos atentos à sombra de um cacto. O espaço, aqui, é
estruturado com a sobriedade e a tenra luz de alface espraia-se
por tudo. O casarão com arcos de pedra e o lavatório com mosaicos
franciscanos; e uma porta envidraçada sobre uma sacada que tem,
como único ornato, as flores do espírito santo ondulando. As
bilhas de cobre no beiral da varanda: o salitre nunca as enferruja
se polidas com lenços. O casarão, que dá vista para o mar, na
borda de um abismo que obriga a cerrar os olhos. O que faço eu com
essa fenda de guelra na face? Aqui sofro, por detrás da porta
envidraçada, por um absurdo que me excede, a eclodir um tufão na
alma, a tamborilar o único dente, agudo e penetrante, no céu da
boca da arraia. Nesses antiqüíssimos dias de chuva, em que os
eucaliptos meditam cousas longas, eu deito sob telhas de barro,
passo os dias com envelhecidos tomos de Arcipreste de Hita e, se é
domingo, a lente bebo, que leu em Camões, e me clarifico de verde
eternidade. Coberto de sombras leves, salpicado de tufos de folhas
carnosas e lascas de líquen, o casarão onde vivo se esconde à
sombra do alto carnaubal. Um dos tomos de Arcipreste de Hita
discute a proposição de Locke a respeito de um vaso. Para Locke
"... o volume e a forma estão realmente no vaso. Já a cor, aroma,
tepidez e frio não estão". Aguardo a calígrafa Lucana, aguardo-a
com essa loucura viscosa; observo a textura do tabaco que, há
cerca de três mil anos, já fumavam os maias. Os eucaliptos,
estáticos, que cercam o casarão, desejariam ser esses leopardos
que invadem o templo e bebem a última gota dos cálices
sacrificiais. Não é mais o tempo de Offenbach e da opereta. Há
quem procure o amor de uma mulher para esquecer-se dela, para não
pensar mais nela. Esperando Lucana no bar Gallo del Viento
pressinto que, daqui a cem anos, meus olhos vão ver o paraíso,
sim, mas serão olhos apodrecidos. Lucana marcou encontro comigo no
bar Gallo del Viento, porque resolveu conhecer de perto o autor
das escrituras que esbocei no branco árido das folhas de papel.
Que estejam — as palavras — grafadas nas áridas folhas, pode ser
belo, mesmo sem pé nem cabeça alguma frase, desde arranjadas de
forma harmônica — elas — as palavras, as chuvas. Eu escrevo à
sombra dos ventos: o volturno, o ábrego, o noto, o lôbrego, o
bóreas, os monções, os etésios, os mareiros. Cito uma epígrafe de
Camões: "Que quero eu mais, que o mais não seja menos?". Faz vinte
anos estou recluso nesse casarão colonial, emparedado. É daqui que
vou sair para encontrar Lucana pela primeira vez e acariciar, em
sua alma, os arabescos antigos de uma sala de banhos
bizantina.
O primeiro encontro: K. e a banhista
Lucana — no terraço do bar Gallo del Viento — destrinçam
caranguejos e o odor do mar esgueira o muro gretado numa espiral
de avencas. Lucana não quer o reino dos amargos, porque ela é naiás, ádos: ninfa dos
cursos de água. Os únicos a morrerem, escutei por aí, são os que
demoram muito a se tornarem imortais. Os copos entrechocam-se de
leve num tinir de vidro e as grandes árvores, lá fora, dobram-se
ao vendaval. Simulando um espírito que desperta, sobe da cabeça de
Lucana um halo grosso de luz que fura todos os lençóis dos varais
de Villa da Concha, fura os lençóis com certeiros golpes de
cortante sabre e — esses furos nos lençóis — atraem um peixe de
ouro, um peixe sedento mas, para esta sede de peixe, cura não há.
As grandes árvores são orações, principalmente quando venta.
Lucana segreda a K. uma receita afrodisíaca:
Marisco para os
dias de verão
Sete
ervas
folha de hortelã alho
sumo solar de siri canoa
farinha-de-rosca
húmus marinho
marisco erva-cidreira tainha
sal
panela-de-ferro cachaça
alfavaca
limão galego
pimenta-do-reino
cebolinha cortada louça
arroz integral vinho do Porto toalha
talher
copo d’água
Comento com Lucana que eu vim a esse
bar Gallo del Viento com os três andaluzes tocadores de viola, com
a gueixa Yuki, que massageia minha nuca nas horas vagas, enquanto
provo figos que surrupiei do quintal do senhor Antônio. Eu vim a
esse bar Gallo del Viento e, se Lucana ainda não vislumbrou os
andaluzes tocadores de viola e a gueixa Yuki, é porque eles
cultuam a timidez, rigorosamente invisíveis. No bar Gallo del
Viento alguém lava os copos engordurados, dos quais clientes
sorveram o sumo azedo de cervejas. O homem é a sombra de um sonho
tempestuoso e cálido e, no íntimo, tenta evitar a submissão à
sintaxe vulgar e rígida. Sabe-se que água enferruja as proas de
barcas e todo o resto. K. confessa: "Da cacofonia fiz um
instrumento que clareia cães cabisbaixos, covas, que clareia a luz
suja de Villa da Concha". K. revela: "Li num pergaminho de
astrofísica antiga que — à página 61 de qualquer livro — há um
grego que súbito vira para trás e nos coloca na palma da mão uma
pérola de ouro". K. e Lucana marcam encontro para um outro
dia.
O segundo encontro: visita à Casa de
Água de Lucana. Estirando-se num fluxo e refluxo de ondas, o mar —
sultão lascivo — respinga nas plantas, pedras e silêncios de Villa
da Concha. Casa de Água — vagarosa, protegida com vasos de
terracota; anjos enfiam-se pelas frinchas. A varanda em duas
águas, com telha cerâmica, apóia-se sobre as cimalhas com
finalizações em recortes. Leio
Sophia de Mello Breyner Andersen: "Não trago Deus
em mim mas no mundo o procuro, sabendo que o real o mostrará".
Aqui na aquosa casa, eu, K., encontrei várias de minhas culpas,
umas mais velhas, outras mais moças, e todas ávidas que eu fosse
ao quarto escuro adormecer na alma sóbria de um copo d'água, na
alma extinta de Lucana, que sempre me pareceu a mais lânguida
culpa moça. Entre as culpas velhas, uma bruxa de mil anos que
escurece a sombra. Aqui contemplei, no quarto de dormir de Lucana,
sombras marinhas espalhadas pelas paredes lisas. Também vi Lucana
sonhando e ela sonhava que era um pássaro com três longas penas
azuis, uma árvore no vendaval, um filósofo tateando gatos brancos.
Pensava a sibila no seu curto sonho: "Por que fingir ser Lucana,
se posso ser qualquer coisa?". Depois desci à cozinha para
encontrar, em cima da tábua de cortar peixes, uma epifania escrita
em papel de pão:
Cavaquinho
Ostras no bafo vagens brotos
verdes
água no
copo
água tônica de
quinino
cavaquinho
no
sereno
a voz rouca do gramofone na sala de
jantar:
repuxo a brasa para minha
sardinha
ostras
no
prato
rosas e murtas no jardim da Casa de
Água
evohé Bakkhus
moeda de
ouro
faisões des vers
antiques
um xote para violoncelo e galinha
caipira
sala de jantar
domingueira
papagaio
na
gaiola
dessacralização da
ode
As salsas ondas do
mar cicatrizam feridas fundas. Águas de vento, aroma de canícula.
E, no maralto dessangrado, algumas ondas de fina renda, angras
corroídas pelas ondas. Às vezes, à meia-noite, nem secas nem
molhadas as salsas ondas do mar, nelas flutuando — água viva — o
torso de Lucana que guarda em si, não o cântico da sereia, mas o
que, segundo Kafka, é — dela — o mais terrível segredo: o
silêncio. Pudesse eu reter o teu fluir, ó ondas espessas de halo
salino, e minha mente atenderia mais a harmonia oculta que a
harmonia visível; eu, K., que sempre havia precisado, para
escrever, de Vazio e de belos relâmpagos. Nem que seja na
imaginação, para escrever eu preciso me sentir num dos cômodos do
Taj Mahal. Lucana esparze óleo de Santo Ignácio sobre o salso
elemento: um sono na barca transparente — as algas, os corais.
Junto aos ramos de uma oliveira tardia, ela preferiria luz de
canoa verde, mas o deus Orum quis que ela fosse um sono na barca
transparente. Lá fora chove torrencialmente e o rádio dá a notícia
que barcas naufragaram e o mar revolto lanha as costas rochosas e
as areias. Lucana: uma leoa na neve — suas cravas se agudizam.
Preferiria uma cachoeira na alma, mas a deusa Kalami sentencia:
vai ser leoa, neve. Amanhã ela vai ao cabeleireiro, ao Mercado
Municipal e ao Cemitério. Lucana silente no tronco de amarga
oliveira. Lucana inteira: dama-do-lago, açucena, o
golfo-da-flor-branca. Compra uns livros raros no sebo. Confere o
dinheiro e só tem duas moedas de ouro. No teu corpo, Lucana, tu me
pertences, sete anos de brisa no cativeiro. Foste da mesma matéria
do ópio que sorvi no cais à espera da barca. Acerco-me de ti, ó
música de loucos, para queimar o pulmão nos astros. O silêncio —
escuto-o de olhos fechados — conduz aos espinhos e bálsamos. Na
verdade, o pomar de laranjeiras só existe nos sonhos do pássaro,
que aguça o tímpano e recorda que no teu corpo, Lucana — apinhado
de estrelas — a voz sem voz habita no Jardim da Sacerdotisa, que à
noite venta, de manhã é luz.
A serenidade de um
verso latino escrito num vaso raro ou no quadrado vivo de um
quinteto de Brahms que, já nos primeiros acordes, esboça um quarto
em alto-mar.
K. escuta lundus e batuques africanos no radinho
de pilha. Escuta Brahms, como já disse, e também o barulho da
geladeira com pingüim por cima. Necessário escavar, escavar com
atenção de arqueiro cavalheiresco o minério dos livros. Se, assim
arqueiros, ficarmos em estado de óbvia distração, acertamos o
centro do alvo mesmo que não haja arco e flecha, mãos e alvo.
Necessário fugir entre árvores agarrado ao pescoço dos antílopes,
contudo mais necessário, ainda, é abraçar árvores e deitar nas
folhas da relva. Você não entende o minério mas a mente sabe do
silêncio. A mente nasceu de um silêncio de Buddah. Antes que o
primeiro Buddah sorrisse, o Buddah já estava sorrindo. Não entende
a fonte e ela escorre invisível em você. Tudo aqui é
simples. Buddah é simples. Sem pressa, observo a brancura dos
linhos domésticos e, lá no fundo do jardim abandonado, a
fragilidade das árvores providas de espinhos. No casarão colonial
angst... stirb im Gestein (o
medo... morre nas pedras), e K., se escuta orvalho no olho do
peixe, também cuida da água do aquário e da voz que ecoa no
bosque. Orvalho: aquilo que refrigera e consola. Suntuosos
vendavais circundam o casarão antigo, que está na rua do Corisco,
uma construção de grade de pau, com telhados muito imbricados e
largos beirais. O rádio alto e o homem taciturno que nele se
abandona: K. Arvoredos abandonam sombras indecisas numa das
grandes paredes brancas do casarão. O sol marinho dá nas calhas e
nas venezianas, nas louças, na moça que anda de bicicleta. K.
desce os degraus de pedras soltas, nos galhos do salgueiro vai
deixando blusa, calça, sapatos, chapéu, cachimbo num coral de
sereias. Vai recitando, em latim arcaico, um mantra marinho para
Virgílio (as palavras ele as fisga aleatoriamente de um
dicionário): Tot
praestat eu componere fluctus. Et vastos
volvunt ad littora fluctus. Mainoménon ponticas só et vastos. Akúon fluctus
rózion polijea rictus. Akúon queria par de zalássi. Thálassas
thálassas akúon fluctus. Polijea poisson akúon rozíon. Fluctus tot
praestat et vastos. Volvunt
fluctus
um componere. Et vastos rictus
fluctus. Akúon acqua akúon volvunt. Fluctus poisson copo fluctus. Et vastos volvunt ad littora
fluctus. Tot praestat componere mainoménon d'água. O casarão colonial:
esse espaçoso confim de ar silvestre, essa nuvem arquitetônica
entrelaçada ao claro vento. Nesse casarão K. pode tudo: esquecer
palavras, não procurar a verdade nem afastar as ilusões. Aqui K.
não é K., nada precisa fazer, entanto move-se quando o casarão
molha-se de asas. Vai quebrar, antes que se aproxime a noite, o
vaso mais raro. Inteiro, o vaso serve a alguém. Quebrado, serve
apenas aos deuses.
>>>
Continua
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